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WhatsApp Image 2022 08 22 at 12.35.33"Meu filho tinha muita luz”. A frase enternecida é de Mausy Schomaker, mãe de Alex Schomaker Bastos, estudante de Biologia da UFRJ assassinado em uma tentativa de assalto próxima ao campus da Praia Vermelha, em 2015. Um grupo de jovens pesquisadores decidiu celebrar a memória do colega batizando uma nova espécie de vaga-lume, um animal que emite luz própria, como Amydetes alexi.

A iniciativa partiu de um grupo de pesquisadores do Laboratório de Entomologia do Departamento de Zoologia do Instituto de Biologia da UFRJ. O animal foi descoberto na região do Parque Estadual da Pedra Branca, na Zona Oeste do Rio. A descoberta foi registrada no fim de julho pelos pesquisadores brasileiros em um artigo na revista Zookeys.

“O meu filho amava a UFRJ e o Colégio de Aplicação. Amava a Ciência. Agora o nome dele está ligado à Ciência e à UFRJ. Ele e o pai [Andrei Bastos, o pai de Alex, faleceu em 2018] devem estar rindo lá em cima”, disse Mausy, que nunca se recuperou da dor pela perda do filho. Ela foi avisada da homenagem antes mesmo da publicação do artigo.

“O Alex acreditava que era preciso lutar pela Educação e pela Ciência. Ia fazer mestrado na área de Educação. Eu tenho uma tristeza imensa de viver em um país em que a Ciência, a Pesquisa e a Educação estejam tão relegadas”, ela acrescentou, criticando a política de cortes promovida pelo governo Bolsonaro. “Se essas áreas fossem tratadas com importância, a violência diminuiria, porque a Educação dá oportunidade para as pessoas serem melhores”, disse a mãe, consternada.

A ideia de homenagear Alex partiu de Stephanie Vaz, amiga do estudante e doutoranda em Ecologia, que também assina o artigo. Ela faz parte do grupo de pesquisa que descobriu a nova espécie de vaga-lume. “Eu fiz dois semestres de faculdade na Unirio e lá eu estudava insetos. Quando me transferi para a UFRJ eu me afastei da área. E foi o Alex que me apoiou a voltar para Entomologia”, contou a Stephanie. “Eu não gostava de Genética, que era a área dele, e ele não gostava de Zoologia, minha área. Nós brincávamos um com o outro com essa diferença”, lembrou.
Embora não fossem do mesmo período, Stephanie e Alex ficaram amigos logo depois que se conheceram, durante uma saída de campo do curso, em 2013. “O Alex era monitor, e me ensinou técnicas importantes naquela ocasião. Ficamos amigos ali mesmo”, contou Stephanie.

A escolha da espécie para homenagear Alex não foi por acaso. A doutoranda contou que já tinha decidido fazer a homenagem desde 2015, e começou a trabalhar com catalogação de novas espécies em 2018. Mas havia dois requisitos que deveriam ser cumpridos para a escolha da espécie certa. “Eu criei dois critérios na minha cabeça: ela tinha que ser do Rio de Janeiro, como o Alex, e tinha que ter bioluminescência (a capacidade de emitir luz própria)”, contou. “Eu vejo por trás disso uma simbologia. O vaga-lume é um ser lindo demais de ver no campo, que está no nosso imaginário afetivo. Prestar essa homenagem para o Alex foi uma honra, porque ele também era especial, e me inspirou a voltar a estudar insetos”.

A IMPORTÂNCIA DOS VAGA-LUMES
O pesquisador Lucas Campello, que faz parte do grupo que identificou e catalogou o Amydetes alexi, é mestrando e estuda Entomologia no programa de Biodiversidade e Biologia Evolutiva do IB, em 2017. Ele explicou que o diferencial da nova espécie é a combinação das suas características com a localidade em que ela foi encontrada. “Boa parte do nosso trabalho é descrever novas espécies e estudar o relacionamento entre as espécies, por isso vamos muito a campo”, explicou Lucas.

O estudo dos vaga-lumes ainda é um campo pouco explorado no Brasil, especialmente por considerar que o país, por suas características ambientais, abriga diversas espécies do inseto. Isso significa que há ainda uma enorme oportunidade de desenvolvimento de novos conhecimentos sobre o animal. “Vaga-lumes podem ser uma nova fronteira do conhecimento, e ajudar a desenvolver outros campos científicos”, explicou Lucas. “Recentemente, estudos sobre bioluminescência de uma espécie de vaga-lume serviram para ajudar a criar um tipo de teste para a detecção de covid-19”, contou o estudante.

Para o professor José Ricardo Mermudes, coordenador do Laboratório de Entomologia do Departamento de Zoologia, é muito gratificante poder ver o desenvolvimento da pesquisa dos alunos. “O grupo de estudos de vaga-lumes hoje tem um panorama muito bacana. Alunos como a Stephanie, o Lucas e o André [Diniz], que também assina o artigo [e descobriu a espécie], ajudam a promover esta linha de pesquisa”, celebrou o professor.

Mas a fronteira para a pesquisa desse tipo de inseto ainda está distante. “A diminuição dos recursos para pesquisas nos últimos quatro ou cinco anos reduziu muito a quantidade de novas espécies descritas. Seria possível descrever cinco, talvez dez novas espécies por ano”, explicou o professor José Ricardo, que fez questão de elogiar os pesquisadores do seu laboratório. “São excelentes coletores, estão sempre fazendo pesquisa de campo”, contou.

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