facebook 19
twitter 19
andes3
 

filiados

Kelvin Melo e Beatriz Coutinho

No Centro de Ciências da Saúde, a salubridade do ambiente acadêmico deveria ser um princípio básico. Mas a realidade é outra, como mostra esta segunda parte da série de reportagens do Jornal da AdUFRJ sobre os problemas de infraestrutura da universidade.
Risco de incêndio, biblioteca interditada por contaminação de fungos, infestação de cupins, salas sem ventilação adequada, goteiras e banheiros fechados desafiam o cotidiano da comunidade acadêmica. Ao indigesto cardápio de obstáculos, soma-se a insegurança nos estacionamentos em torno do prédio. Enquanto trabalhava na terça-feira, dia 10, um professor teve o carro arrombado. O estepe foi levado. A decania do CCS respondeu sobre os estacionamentos, mas não atendeu aos demais questionamentos da reportagem.

Estacionamento: furtos, buracos e escuro

WhatsApp Image 2022 05 13 at 18.44.29Professor do Instituto de Biologia, Fábio Hepp é uma das vítimas mais recentes da conhecida insegurança dos estacionamentos do Centro. No dia 10 de maio, enquanto o docente trabalhava, seu carro da marca Kwid foi invadido e o estepe, furtado. “É horrível a sensação de alguém ter entrado no carro”, disse.
Como o estepe precisou ser desaparafusado e o interior do carro estava mexido, o docente acredita que o furto levou um certo tempo. A área, perto do Banco do Brasil, é mal iluminada. “A pessoa entrou no carro e conseguiu fazer tudo com calma, porque não havia iluminação adequada”, afirmou. “Estou muito frustrado. O estacionamento está uma bagunça. Está difícil de lidar com a quantidade de carros e as pessoas estacionando de forma irregular”, completou.
Michelle Melo, pós-doutoranda de Farmácia, concorda. “Dependendo do horário que você chega aqui, não tem vaga”. A estudante tem evitado se deslocar de carro para o Fundão. “Primeiro pela questão do custo. Mas também por que não é seguro. A iluminação em frente ao prédio novo da Farmácia é péssima, é muito escuro”.
“Nós estamos fazendo o recadastramento de usuários dos estacionamentos”, respondeu o decano do CCS, professor Luiz Eurico Nasciutti. “Como tivemos cortes importantes no número de vigilantes, não temos condições de deslocar ninguém para os acessos dos estacionamentos. Mas a reitoria está com um edital para ser lançado para contratação de porteiros”. Em conjunto com a Prefeitura Universitária, a decania está instalando refletores nos prédios.
Há ainda muitos buracos no estacionamento, que colocam em risco a segurança dos usuários. Uma técnica já se machucou no local. “Estamos contando com a ajuda da Prefeitura Universitária para a reposição de asfalto nos estacionamentos. Infelizmente, isto depende da Prefeitura Municipal e estamos aguardando”.

Brigadistas chamados 150 vezes em 9 anos

WhatsApp Image 2022 05 13 at 18.44.29 1Desde a criação, em 2013, a Brigada Voluntária do CCS já atuou em 110 incêndios ou princípios de incêndio e 40 acidentes químicos. Os números refletem um prédio degradado. “Desses 110 casos, 90% ocorreram por falha elétrica”, esclarece um dos coordenadores da brigada, Lucas Pinho. Só na semana passada, o grupo enfrentou dois princípios de incêndio e um vazamento de gás.
O último incidente, contido em 20 minutos, foi seguido de uma onda de desinformação. Tuítes nas redes sociais diziam que as aulas haviam sido suspensas e que o prédio estava sendo evacuado. Nada disso ocorreu. “Para resolver este problema, vamos lançar no segundo semestre o plano de emergência e evacuação do CCS. Ele já deveria estar pronto, mas a pandemia atrapalhou”, diz Lucas, que também ocupa a função de coordenador de biossegurança do Instituto de Biofísica.
Será um plano dentro das possibilidades orçamentárias da universidade. “Ainda vai faltar alarme, ainda vai faltar rede de água. Não temos rede de água aqui. São R$ 18 milhões para fazer esta adequação”, afirma Lucas. “Ilhas” com extintores podem ser vistas pelos corredores, mas a brigada dá preferência a um spray antichama, nas ações. No bloco N, mais novo, há rede de água, mas as mangueiras foram roubadas.
Para diminuir riscos, Lucas estima que o prédio deveria contar com mais de 500 brigadistas voluntários — hoje, são 150. Mas não se trata de um problema de adesão de pessoal. “Quando abrimos vagas, elas costumam lotar no primeiro dia. Mas oferecemos poucas vagas, porque nosso orçamento é zero, há quatro anos. Antes, a gente usava o dinheiro de edital de eventos, que não existe mais. Hoje, vivemos de doações e resto de orçamento da decania”. A última aula prática do curso custa R$ 9 mil por cada grupo de 30 alunos, em um centro credenciado. “Treinamos 30, mas temos capacidade para treinar até 360 brigadistas por ano”, lamenta Lucas.
Enquanto a brigada voluntária luta contra as chamas e contra a falta de dinheiro, a comunidade acadêmica não esconde o receio com um futuro incidente. Amada Andrade, estudante do 3º período de Farmácia, projeta as dificuldades que teria no caso de algum incêndio no subsolo do prédio, onde tem aulas. “São poucas saídas e as escadas são apertadas. É bem preocupante”, afirma.

Biblioteca interditada desde 2017

WhatsApp Image 2022 05 13 at 18.44.29 2Uma joia da UFRJ, a Biblioteca Central do CCS foi interditada em setembro de 2017 devido a uma contaminação por fungos. E até hoje não reabriu plenamente, à espera de higienizações e reformas que precisam ser feitas no local. Desde abril de 2018, apenas um espaço temporário funciona para retirada dos livros mais consultados pelos alunos.
“Todo o resto, como obras raras, teses e revistas, está interditado”, afirma a diretora da biblioteca, Celeste Torquato. “Volta e meia, recebo telefonema de um pesquisador de outro estado qualquer e não tenho a menor condição de atender”, diz, sobre o acervo mais antigo.
O saldo deste problema é uma geração inteira de alunos que não teve a oportunidade de conhecer os 6 mil m2 da biblioteca, como Patrick Medeiros, já no 7º período da Biomedicina. Ele, que tinha acabado de pegar um livro emprestado, iria estudar no prédio da Farmácia. “De vez em quando, vou para o CCMN ou CT, que têm bibliotecas”.
Do outro lado do corredor onde fica a biblioteca, improvisou-se uma pequena sala de estudos. Mas é pouco. “Os alunos foram muito prejudicados. A perda é muito grande”, lamenta Celeste. Para minimizar os prejuízos à formação dos estudantes, em abril começou uma obra para reabrir mais um trecho da biblioteca, ainda este ano. A reforma só ocorre graças a uma emenda parlamentar obtida no ano passado.

Goteiras em vários pontos

Goteiras e infiltrações no prédio interditam espaços e prejudicam as atividades acadêmicas. Um exemplo WhatsApp Image 2022 05 13 at 18.44.29 5 é a sala do subsolo que estava sendo preparada para receber a coleção entomológica do Departamento de Zoologia. Está tomada por fungos. Durante a pandemia, não foi possível fazer a transferência e a sala ficou fechada. “Se tivéssemos feito essa transferência, teríamos perdido grande parte da coleção. Certamente, o crescimento desses fungos é consequência de uma infiltração que vem da parte externa do prédio”, afirma o professor Nelson Ferreira Júnior, do Instituto de Biologia.

Bichos indesejados

WhatsApp Image 2022 05 13 at 18.44.29 3Ambientes fechados durante a pandemia, com mobiliário de madeira, favoreceram a infestação de cupins. No laboratório didático do Instituto de Biologia, de seis armários, três foram bastante comprometidos pela ação dos insetos. “O meu armário já não tinha prateleiras. Tinham desmoronado. Como sou chefe de Departamento, levei o assunto à direção. A expectativa é desmontar esses armários e montar estantes de metal, no lugar, na próxima semana”, explica o professor Paulo de Paiva. “Vi que as estantes de metal já estão no corredor. Acredito que os armários serão trocados logo”.
Mas os cupins não são os únicos bichos indesejados no CCS. Alguns locais também recebem visitas de ratos. Duas funcionárias do serviço terceirizado de limpeza relataram à reportagem a presença dos roedores dentro das lixeiras do bloco A. Parte da tampa de uma delas estava carcomida.

 

Calor e falta de banheiros dificultam aulas

Salas sem ar-condicionado, especialmente no subsolo, e falta de banheiros em boas condições desgastam quem trabalha ou estuda no CCS. WhatsApp Image 2022 05 13 at 18.44.29 4
Doutoranda em Anatomia Patológica, Joana Vicentini enfrenta interrupções da água no prédio, há três semanas. “Quando falta água no CCS, é muito complicado. Principalmente porque os banheiros ficam interditados. Isso traz também um problema sanitário muito grande para os alunos e para os professores que têm atividades práticas”, afirma.
A pedido dos próprios alunos, a professora Alice Simon, da Faculdade de Farmácia, conseguiu remanejar a turma de uma sala sem ar-condicionado, no dia 10. “Não tem nenhuma janela. Aqueles basculantes nem sei se abrem. É muito difícil trabalhar em dias de temperaturas altas. Na semana passada, meus colegas deram aulas na outra sala e saíram pingando de suor”.

Topo