facebook 19
twitter 19
andes3
 

filiados

Cidadania. O substantivo comum vira palavra com significado incomum para boa parte dos brasileiros sem acesso a direitos básicos como habitação adequada, saneamento, educação, documentos. Para ajudar a mudar essa realidade, estudantes e professores ligados à Escola Politécnica criaram o coletivo de extensão universitária Força Motriz. “Nosso debate é de que a extensão é o papel fundamental da universidade. É para o que ela serve, é a forma mais direta de intervenção da universidade na sociedade”, defende Pedro Enrique Monforte Brandão Marques, mestrando do Programa de Engenharia Metalúrgica e de Materiais da Coppe. “Não adianta fazer pesquisa, produzir conhecimento, se não houver relação com as necessidades sociais”, acredita.

Pedro é um dos organizadores do coletivo, junto com sua orientadora, a professora Adriana da Cunha Rocha. A ideia nasceu nas Engenharias, em 2018. O principal projeto do Força Motriz é o Núcleo de Assessoria Técnica Popular (NATEP). “Nosso trabalho se dá principalmente em favelas, com parcerias com ONGs, associações de moradores e projetos sociais”, explica o estudante. “Nós desenhamos, propomos e realizamos ações de educação popular (com o pré-vestibular Só Cria) e em assistência social”, conta. Nessa área, o projeto criou o Favela Viva, uma central de atendimento telefônico para moradores de favelas com foco em Psicologia, Serviço Social e Direito.
A primeira comunidade a ser atendida pelo Força Motriz foi a Ocupação Gringolândia, na Pavuna, Zona Norte do Rio. “É emblemático porque se conquistou o fim do processo de despejo dessa ocupação. Logo no nosso primeiro ano de apoio, conseguimos que a prefeitura do Rio transformasse a área em local de especial interesse social”, orgulha-se Pedro. “Eles já não correm risco de serem expulsos. O desafio agora é a urbanização da região”, observa o mestrando, que também é diretor do Sindicato dos Engenheiros do Rio de Janeiro. “Nossa luta é pela reforma urbana”, diz. O projeto faz o acompanhamento da infraestrutura das ocupações São Januário, na Barreira do Vasco, em São Cristóvão; Moisés, na Rua do Riachuelo, no Centro; e Gringolândia, na Pavuna, esta a maior delas, com 500 famílias.

A coordenadora Adriana, diretora adjunta de graduação e extensão da Escola Politécnica, é só elogios ao orientando. “Pedro é uma espécie de gerente. O projeto começou por causa dele, que já trabalhava com iniciativas populares. Ele trouxe a proposta de criar na universidade um projeto de extensão que atendesse a famílias de baixa renda”, conta.

Estudantes de diferentes áreas participam do projeto. “Os alunos começaram a se envolver com iniciativas para que os moradores tirassem documentos, houve a criação de biblioteca comunitária. Na medida em que os alunos foram entrando, eles começaram a fazer outras ações”, relembra Adriana. “Surgiu o trabalho na Rocinha, com curso pré-vestibular que, na verdade, funciona como um reforço dos conteúdos que são exigidos no Enem. Fizemos também horta social. Vamos fazendo as coisas na medida em que as demandas aparecem”.

Cristiane Valente, do 5º período de Serviço Social, faz parte do Força Motriz desde julho de 2021. “Desde que entrei na universidade, comecei a buscar alguma coisa em que eu pudesse atuar diretamente nas comunidades do Rio de Janeiro. Além de aplicar conhecimentos acadêmicos, eu também estou aprendendo muito com as comunidades, absorvendo saberes que vão também ajudar na minha atuação profissional”, destaca.

Para Cristiane, dar suporte a famílias para que garantam seu direito básico à moradia é a ação de que ela mais se orgulha. “É, sem dúvidas, um dos pontos que mais me impactam. É uma vivência que vou levar para minha vida”, se emociona ela. “Pelo Favela Viva fizemos recentemente uma ação para que as pessoas tirassem o título de eleitor. Hoje, como tudo é pela internet, muitas pessoas sequer têm direito ao voto. São direitos básicos à cidadania que o Força Motriz e o NATEP ajudam a garantir”.

O Força Motriz agora tem um novo desafio: tornar-se programa de extensão. “A gente percebeu que precisa fazer todas essas ações de maneira mais integrada com o que o aluno de Engenharia espera e afinado com as novas diretrizes curriculares”, avalia a professora Adriana. “Nosso objetivo final é proporcionar o resgate da cidadania das pessoas. Para isso, precisamos de uma atuação institucional mais fortalecida. Daí a intenção de transformar nosso projeto em programa para formalizá-lo na estrutura da universidade”.

Os organizadores procuram professores para coordenação de projetos que se relacionem ao Força Motriz. Uma das formas de entrar em contato com o coletivo é por meio do Instagram: @coletivoforcamotriz.

Topo