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Por Beatriz Coutinho e Estela Magalhães

 

A 11ª Semana de Integração Acadêmica (SIAC), ocorrida nesta semana, celebrou a “vitória do conhecimento, da educação, da ciência e das artes”, num contexto nacional de ataques à educação e de combate à pandemia. “Só vamos sair vitoriosos desta guerra contra o vírus se estivermos do lado certo da trincheira: o lado do conhecimento”, sustentou a reitora, professora Denise Pires de Carvalho, durante a mesa de abertura do evento, no dia 14. Vitória também da inclusão: nas mesas, as saudações foram realizadas com gênero neutro e autodescrição, além de contarem com intérpretes de Libras. Inscreveram-se 12.762 pessoas para os cinco dias de atividades. Houve apresentações de 5.830 trabalhos acadêmicos, além de eventos culturais, palestras e minicursos. Parte da programação, que não requeria inscrição prévia, foi transmitida pelo canal da Extensão, no Youtube. Já os minicursos e oficinas foram acessados diretamente pela plataforma de teleconferência do evento.

“A SIAC é uma tradução para a sociedade dos projetos dos alunos da graduação com a pós e a extensão”, explica a professora Denise Freire, pró-reitora de Pós-Graduação e Pesquisa da UFRJ. Com a pandemia, a SIAC teve que se reinventar, depois de um intervalo de dois anos sem ser realizada – a última edição do evento havia ocorrido em 2019 –, mas a pró-reitora vislumbra uma 12ª edição presencial, e talvez até associada à tecnologia. “Algumas sessões podem ser transmitidas remotamente, possibilitando a visita dos trabalhos de vários centros”.

Para a professora Ivana Bentes, pró-reitora de Extensão, a SIAC é sinônimo de encontro. “Encontro de conhecimento. Um momento de a gente se atualizar com toda a produção da extensão na universidade”, afirma. “A quantidade de trabalhos apresentados mostra esse desejo de participação e o protagonismo dos nossos estudantes. É uma coisa muito bonita que a gente está vendo acontecer”.

Uma das novidades apresentadas foi no campo da Paleontologia. “Um dos trabalhos se deteve a cortar ossos que a gente não conseguia identificar macroscopicamente, porque estavam muito quebrados, e produzir lâminas histológicas (para análises microscópicas de tecidos biológicos)”, explica Marina Bento Soares, do Departamento de Geologia e Paleontologia do Museu Nacional e orientadora da pesquisa. A investigação identificou um registro de ave. “Já existem pelo menos duas aves conhecidas no período cretáceo na Antártica. Esse seria um terceiro registro”, comemora a professora. Bruno Alves Bulak, aluno de Ciências Biológicas e orientando de Marina, destaca a relevância do compartilhamento desses resultados com a comunidade acadêmica. “Muitas vezes as pessoas nem sabem que a informação histológica se preserva nos fósseis”. O Jornal da AdUFRJ preparou um painel com algumas outras pesquisas apresentadas na SIAC. Confira.

Substância pode controlar o vetor da doença de Chagas
“Como diria o doutor Carlos Chagas, visamos fazer uma ciência aberta, para o povo, não visando o lucro, mas melhoria para as pessoas”, afirma Thiago Silva, orientando da professora Mônica Ferreira, do Instituto de Química. Seu trabalho é voltado para a doença de Chagas, do grupo das chamadas doenças negligenciadas – consideradas endêmicas em populações de baixa renda –  e que atinge aproximadamente oito milhões de pessoas nas Américas. “Buscamos saber se a quitina, um polímero de açúcar presente no intestino do vetor, o inseto Rhodnius prolixus, seria o responsável pela diferenciação do parasita, o Trypanosoma cruzi, para infectar o ser humano”, explica a professora. “Se descobrirmos esse material que procuramos [quitina] nessa membrana, podemos descobrir uma ligação entre vetor e parasita. E controlar, então, a doença, controlando o vetor”, completa Thiago.

Molécula atinge metabolismo das larvas do Aedes aegypti
Uma pesquisa que chama atenção no Campus Macaé é sobre um larvicida metabólico capaz de matar as larvas do mosquito Aedes aegypti. “Trabalhamos com uma molécula que em baixíssimas concentrações é capaz de matar 100% das larvas do mosquito”, revela o professor Jorge Moraes, do Instituto de Biodiversidade e Sustentabilidade (NUPEM). “Queremos saber em quais pontos essa molécula está inibindo o metabolismo das larvas e, no segundo momento, produzir um composto que seja capaz de ser liberado aos poucos na água, de forma contínua”. Sávio Costa, aluno de Farmácia e orientando do professor Jorge, acredita que a pesquisa pode ter forte impacto no SUS. “Ter mais um meio de evitar o caos na saúde pública, com doenças como zika e dengue, é extremamente necessário. Eu me sinto honrado e feliz sabendo que podemos realmente ser ‘o futuro’”.

Projeto desperta interesse de adolescentes nas pesquisas da universidade
O projeto de extensão “UFRJMar: Estratégias de Interiorização” é um dos trabalhos do Centro de Tecnologia apresentados na SIAC. “O objetivo principal é divulgar a produção científica da UFRJ, principalmente nas temáticas relativas ao mar e ambientes costeiros”, explica o professor Walter Suemitsu, coordenador do projeto e decano do CT. O UFRJMar é parte do Programa Papesca (Pesquisa-Ação na Cadeia Produtiva da Pesca no Litoral Fluminense) e tem expectativas de atender pouco mais de 1.500 pessoas. O público-alvo são os alunos do Ensino Médio. O extensionista Gustavo Cupertino participa do UFRJMar desde setembro de 2021. Para o jovem, o projeto é um divisor de águas para a sua formação. “Tive contato com várias áreas do saber e pesquisas diferentes”. O UFRJMar atua a partir de oficinas nas escolas mas, com a pandemia, as oficinas passaram para o meio remoto.

Estudo  pode ser esperança para pessoas com doença de Parkinson
Em Caxias, um dos trabalhos investiga o uso de nanopartículas de óxido de ferro na agregação da proteína alfa-sinucleína, envolvida na doença de Parkinson. “Tenho trabalhado desde o meu pós-doutorado com doenças degenerativas, que têm em comum a agregação de proteínas, as fibras amiloides, em algum tecido ou célula, comprometendo o seu funcionamento”, explica a professora Carolina Braga, orientadora da pesquisa. “A gente procura entender se determinados compostos impedem que a agregação aconteça ou atrasam esse tempo”. A pesquisa envolve os laboratórios Numpex-Bio, de Biologia, e Numpex-Nano, de Física e Nanotecnologia. Marcos Eduardo Braga é aluno de mestrado e desenvolve a pesquisa junto com a professora Carolina. “Poder desenvolver um trabalho científico e adquirir conhecimentos multidisciplinares se tornou a minha maior paixão”.

Obras da artista plástica Lygia Pepe são revisitadas em investigações da FAU
A obra multimidiática da artista plástica Lygia Pape é o foco da pesquisa da professora Maria Clara Amado, da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo. “Ela tem uma obra fílmica muito relevante e pouco difundida”, diz a pesquisadora. Nesta semana, seu grupo analisou o filme “O homem e sua bainha”, de Lygia Pape (1967), em paralelo com “2001: Uma Odisseia no Espaço”, de Stanley Kubrick (1968). “A SIAC é muito mais que interdisciplinar, ela é transdisciplinar. Eu mesma misturo cinema, arquitetura, belas artes, comunicação. E os alunos têm a oportunidade de trabalhar isso para além da academia”, completa a professora. Formada pela FAU, Priscilla Batista Mathias é orientanda nesta pesquisa. “Esse olhar para pesquisa e ensino contribuiu para que eu optasse por cursar um mestrado profissional, a fim de buscar uma capacitação maior no campo do ensino”.

ARTE TAMBÉM É CIÊNCIA
A participação das artes foi expressiva na 11ª edição da SIAC. Mesmo de maneira remota, produções culturais inundaram as telas ao longo de toda a semana. Na segunda-feira (14), o Núcleo de Pesquisa em Dança e Cultura Afro-brasileira, NudAFRO, abriu oficialmente o evento. O espetáculo Agô foi dirigido, roteirizado e coreografado pela professora Tatiana Damasceno. “A nós interessa pesquisar, provocar esses corpos da nossa sociedade, na medida que pensamos na produção da presença do corpo negro nos diversos espaços”, afirma Tatiana. O NudAFRO se apresentou mais uma vez na quarta-feira (16), ao fim da mesa “Bem-estar: saúde mental, física e social em tempos pandêmicos”.

O Ballet de Manguinhos também marcou presença. Quatorze meninas performaram ao som de “Maria da Vila Matilde”, da brilhante e eterna Elza Soares. Na quinta-feira WhatsApp Image 2022 02 18 at 20.07.53(17), foi a vez de 300 participantes se emocionarem com a peça “Paulo Freire, andarilho da utopia”. Diferentemente dos espaços estéreis e frios das videochamadas, a peça conta com total interação entre o ator e os espectadores. “Descobrir, para Paulo, é exatamente isso: tirar a coberta, se surpreender com a beleza, a estranheza e o mistério das coisas.”, traz a sinopse. Para encerrar com chave de ouro, o Sôdades Brasilis, uma ação que integra ensino, pesquisa e extensão na Escola de Música, coordenado pelo professor Sergio Álvares, encerrou o evento nesta sexta-feira (18).

Além dessas apresentações especiais, fez parte da programação uma exposição virtual permanente envolvendo dança, música e artes plásticas. Uma delas foi “Ballroom como manifesto corpóreo de denúncia dentro do Complexo da Maré”. No vídeo, estudantes transgênero e travestis, moradores da Maré, dançam enquanto denunciam o risco que seus corpos sofrem na cidade como um todo e nas favelas. O projeto é vinculado ao Núcleo de Estudos Cultura Popular e Sociedade, da Escola de Educação Física e Desportos.

“Um gosto pela abstração” mostra o processo de criação de arte abstrata, em telas de algodão e em folhas de acetato transparente, do estudante Luiz Eduardo Fileto, da Escola de Belas Artes. Orientado pela professora Maria Pereira de Menezes, do Programa de Pós-graduação em Artes Visuais da EBA, ele apresenta a exposição “Aquário”, o resultado de suas pesquisas envolvendo formas abstratas, tinta fluorescente, água e luzes ultravioletas. A instalação fez parte da VIII Bienal da EBA de Arte e Design, em outubro do ano passado, e permaneceu em cartaz até 29 de novembro no Parque Lage.

Quem também marcou presença foi o Laboratório de Representação Científica (LaRC), do CCMN, que apresentou sua primeira coletânea de trabalhos na SIAC. A exposição “Voos” faz um sensível passeio pelos campi da UFRJ para mostrar a riqueza da biodiversidade local. O projeto registrou mais de 200 espécies de pássaros que habitam a Cidade Universitária e o Observatório do Valongo, com imagens capturadas por fotografia, desenho, e pintura. Os trabalhos podem ser vistos pelo canal do LaRC, no Youtube: https://youtu.be/3zTLkcjdgcQ.

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