Diretoria da AdUFRJ
Racismo, covardia, xenofobia, preconceito, intolerância, aumento do poder das milícias, precarização do trabalho, omissão do poder público, intimidação, inércia policial, normalização da barbárie. O brutal assassinato do congolês Moïse Mugenyi Kabagambe, de 24 anos, espancado até a morte no quiosque Tropicália, na orla da Barra da Tijuca, Zona Oeste do Rio, na noite de 24 de janeiro, engloba várias facetas da sociedade brasileira nesses tempos de obscurantismo e retrocesso. Com mãos, pernas e pescoço amarrados, em imagem que remete aos tempos da escravidão de seus antepassados, Moïse foi morto por três homens com socos, chutes e golpes com pedaço de madeira e taco de beisebol por reivindicar o pagamento de duas diárias (R$ 200) em atraso no quiosque onde trabalhava.
As investigações ainda estão em curso, mas os três homens que agrediram Moïse foram presos e deverão responder por homicídio duplamente qualificado. Não se sabe se houve um mandante do crime. A polícia já ouviu um cabo da PM que administra um quiosque vizinho ao Tropicália, e onde Moïse também trabalhava por diárias. A AdUFRJ se solidariza com a família e os amigos de Moïse, exige a apuração completa desse crime bárbaro e convida a todos para um ato neste sábado, no quiosque onde o congolês foi assassinado, se somando a dezenas de entidades da sociedade civil que clamam por justiça e não aceitam a barbárie como algo corriqueiro em nosso cotidiano. Veja mais detalhes na página 8.
Resistir contra o retrocesso é preciso. Na coluna Plurais, na página 7, abrimos espaço para o tema da visibilidade trans, que teve seu dia comemorado no último sábado (29 de janeiro). A adoção da linguagem neutra e iniciativas para o acolhimento da população trans na universidade são alguns aspectos abordados na coluna. As mais recentes modificações no projeto Viva UFRJ e os preparativos para a volta integral das aulas presenciais, prevista para abril, são os assuntos de nossas matérias da página 6. Na página 5, veja a polêmica em torno dos testes para a implantação do ponto eletrônico na UFRJ.
Nossa matéria da página 4 mostra como foi a primeira reunião entre a UFRJ e o MEC para tratar do início das negociações — autorizadas pelo Consuni — em torno da contratação da Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (Ebserh). O encontro em Brasília com o ministro da Educação, Milton Ribeiro, na quinta-feira (3), contou com a participação da reitora Denise Pires de Carvalho, do pró-reitor de Planejamento e Finanças, professor Eduardo Raupp, e do diretor do Hospital Universitário Clementino Fraga Filho, professor Marcos Freire. O próximo passo é a formação de uma comissão interna para fazer um levantamento de informações do Complexo Hospitalar da UFRJ que vai servir de base a uma proposta de contrato a ser apresentada pela Ebserh.
Por fim, o principal tema de nossa capa e da matéria da página 3 é a assembleia dos docentes da UFRJ do próximo dia 11. Se há consenso entre os professores das instituições federais de ensino superior quanto à necessidade de uma campanha por recomposição salarial, o mesmo não se pode dizer sobre qual a melhor estratégia a se adotar neste momento para mobilizar a categoria. Uma dessas estratégias é a construção de uma greve unificada dos servidores públicos federais, defendida pelo Andes e pelo Fórum das Entidades Nacionais dos Servidores Públicos Federais (Fonasefe). Sempre com o intuito de ampliar democraticamente o debate, o Jornal da AdUFRJ traz nesta edição a opinião de dois professores e ex-diretores do sindicato, com visões distintas a respeito da adoção da greve. Para o professor Pedro Lagerblad, do Instituto de Bioquímica Médica, é questionável a efetividade de uma greve no atual cenário nacional. Já o professor Luis Acosta, da Escola de Serviço Social, vê a greve como um movimento em construção, fruto da vontade dos docentes.
O debate está aberto. Boa leitura!