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Lucas Abreu e Liz Mota Almeida

A pandemia marcou uma geração de alunos da educação básica, mas também vai marcar uma geração de futuros professores. Campo de estágio de aproximadamente 500 licenciandos, o Colégio de Aplicação vive os dois lados desta experiência inédita e tenta se adaptar da melhor forma possível para manter a qualidade do ensino.
“O contato com crianças foi escasso”, lamenta o graduando em Pedagogia, Vitor Fuchs. “Era um estágio nas séries iniciais, com 100 horas presencialmente; e, no remoto, foram apenas 25 horas. A carga horária abaixou drasticamente, porque não dá para ficar horas e horas com crianças numa tela de computador”, explica.
Por ter realizado estágios presenciais antes da pandemia, Vitor acredita que não perdeu tanto. “O CAp dá uma atenção maior para os estagiários, mas sinto que, se não tivesse feito um estágio não obrigatório anteriormente, talvez tivesse uma dúvida de como ser professor dentro da sala de aula”, diz.
Natalia Barros, licencianda em Ciências Biológicas, não teve a mesma sorte do colega. “Diferente de muitos da licenciatura, eu nunca tinha tido experiência em sala de aula. Para mim, era um peso muito grande, porque, ao longo da graduação, me dediquei bastante à pesquisa”, conta.
A aluna estava no último ano do curso, que costuma ser destinado às práticas de ensino, quando a pandemia começou. “Foi um momento que esperei muito, experienciar de verdade o que é visto ao longo do curso”, diz. A bióloga afirma ter se surpreendido com as práticas de ensino de maneira remota. “Uma questão que fica muito marcada para mim é que não sei dizer o que perdi, por não ter outras experiências presenciais. Mas foi um momento muito desafiador, em que a gente teve que repensar o que já estava estabelecido e senti que foi uma experiência enriquecedora”, pontua.
Jaqueline Pontes Domingos, graduada em Letras-Literatura durante a pandemia, começou o estágio no CAp em setembro de 2019, o que deu a ela experiência do ensino presencial e remoto no mesmo local. “Eu senti muita falta do chão da escola, do contato direto com os alunos. Na sala de aula, os alunos podiam chamar a gente, conversar. Uma aproximação que gerava confiança nos estudantes”, conta.
A licencianda já está dando aulas em uma escola particular na Baixada Fluminense, e consegue fazer um balanço da sua formação como professora no CAp. “Eu tive a experiência que todos os professores tiveram no momento de pandemia, que foi de dúvida e de trabalho redobrado”, explica.
Desde a semana passada, o CAp retomou as atividades presenciais para os alunos da educação básica, mas, por medida de segurança, os licenciandos continuam nas atividades remotas.
“A supervisão do estágio obrigatório manteve a estrutura que já tínhamos, mas adaptada ao modelo remoto”, conta a professora Raquel Fonseca, diretora adjunta de Licenciatura, Pesquisa e Extensão do colégio. “Por ser, essencialmente, um colégio de formação de professores, o CAp não poderia se esquivar da responsabilidade de continuar oferecendo, mesmo em um contexto tão difícil, o estágio supervisionado para os nossos futuros professores”, explica.
Segundo Raquel, o plano de adaptação para as atividades remotas foi construído com um amplo debate. O estágio é normalmente dividido em três etapas: observação, coparticipação e regência, e todo o processo é supervisionado por professores responsáveis pelo estágio. “Tudo isso permaneceu garantido aos licenciandos com a adaptação para o ensino remoto emergencial”, afirma.
Raquel reforça os depoimentos dos licenciandos em relação à falta de contato com os alunos da educação básica. “Atravessados pela pandemia e pela imposição do distanciamento social, experimentamos o maior desafio docente: viver os processos de ensino e aprendizagem sem a escola, espaço fundamental de convívio e partilhas”, reforça.
A professora do CAp elenca outros prejuízos para a formação dos futuros colegas: falta de continuidade no acompanhamento das turmas — resultado das diferenças nos calendários do CAp e da graduação —, o prolongamento dos estágios, que atrasa a formatura dos licenciandos e a falta de infraestrutura para acompanhamento das atividades remotas, problema que afetou alguns estudantes da graduação. “São muitas as perdas que estamos vivenciando na educação brasileira, mas estamos também aprendendo a lidar com as dificuldades e a transformar essa experiência em oportunidades para a construção de conhecimento”, avalia a diretora adjunta.
Para a professora Nedir do Espírito Santo, especialista em formação de professores no Instituto de Matemática e diretora da AdUFRJ, os prejuízos para os licenciandos são terríveis, mas existem atenuantes e formas de mitigar as perdas posteriormente. “Estes alunos, que recebem uma orientação constante de atividades, estão aprendendo como trabalhar remotamente em conjunto com os seus coordenadores”, explica.
Um dos caminhos para diminuir o impacto na formação desta geração de estudantes é a aplicação de um processo de formação continuada. “A vocação profissional ajuda muito, mas a vivência e a experiência da estrutura presencial é fundamental”, defende a professora.

WhatsApp Image 2021 10 22 at 15.26.37CAp LITERÁRIO: ANTES E
DEPOIS DA PANDEMIA
A licencianda Jaqueline Domingos experimentou a organização de um evento literário anual do colégio, o CAp Literário, em dois momentos bastante distintos: antes da pandemia, em 2019, em formato presencial; e, em 2020, participou da adaptação do festival para o formato remoto. “Eu tive uma jornada dupla, e acho que isso acrescentou muito na minha formação, porque alguns colegas não puderam ter essa experiência”, avaliou.

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