facebook 19
twitter 19
andes3
 

filiados

WhatsApp Image 2021 10 22 at 15.18.11No Dia dos Professores, Bolsonaro foi Bolsonaro.  Sacrificou a ciência brasileira e sancionou a lei que cortou R$ 690 milhões do Fundo Nacional Para o Desenvolvimento da Ciência e Tecnologia (FNDCT) . Desde que a redução foi anunciada, no último dia 7, a comunidade científica brasileira tem reagido publicamente com críticas à decisão. Segundo o presidente do CNPq, Evaldo Vilela, caso não haja restituição dos valores até 1º de novembro, não há certeza de que a chamada universal de bolsas de pesquisa, que envolve 30 mil pesquisadores, possa ser realizada.
A Associação Nacional de Pós-graduandos convocou atos para o dia 26 de outubro. A APG UFRJ participa da organização da manifestação no Rio, e conta com o apoio da AdUFRJ, Sintufrj e DCE. “ É importante que toda a comunidade acadêmica compareça, para defendermos a ciência e a tecnologia no Brasil”, contou Natália Trindade, vice-presidente da APG. Para ela o momento é crítico, e é preciso que a sociedade se movimente em defesa da pesquisa. “Todos nós vamos pagar muito caro por essa decisão política do governo, porque é a pesquisa que projeta o futuro. É preciso denunciar o processo de sucateamento da pesquisa nacional”, defendeu a pós-graduanda.
Para o presidente da AdUFRJ, João Torres de Mello Neto, o corte é o mais forte golpe que o financiamento da pesquisa científica no Brasil já sofreu. “No passado, os governos, mesmo os que promoviam cortes, respeitavam o CNPq. Nunca o Conselho foi ameaçado de morte como está sendo agora”, disse o professor. “O CNPq é indispensável.Já tivemos cortes significativos, mas não com essa magnitude”, avaliou João, que lembrou das reiteradas quedas no orçamento da ciência brasileira. O orçamento do CNPq passou de R$ 3,14 bilhões, em 2013, para R$ 1,2 bilhão neste ano, o menor valor dos últimos 21 anos.
João reafirmou que o combate aos cortes e a defesa da pesquisa são fundamentais, e reforçou a participação da AdUFRJ no ato do dia 26. “Certamente estaremos lá para apoiar os pós-graduandos e professores. A manifestação é fundamental”, defendeu o novo presidente da AdUFRJ e professor titular do Instituto de Física.
A Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência também participará dos atos do dia 26. Ligia Bahia, professora da UFRJ e secretária regional da SBPC, classificou o corte como “um deboche” por parte do governo. “Essa provocação feita aos setores progressistas compromete o futuro do país. O que significa isso? O Brasil fechou as portas, passou a chave no cadeado e se jogou no mar? Qual é o futuro do país?”, questionou Lígia, que criticou duramente o ministro da Ciência, Tecnologia e Inovações, Marcos Pontes, pela sua falta de iniciativa na defesa da pasta. A SBPC agora articula com parlamentares maneiras de reverter o corte ou direcionar mais recursos para a pesquisa. “Reverter esse quadro é a prioridade zero para a SBPC. Estamos juntos com a ABC, com associações de docentes e de pós-graduandos. Esperamos obter vitória”, contou a professora, que ainda lembrou que os cortes também têm um caráter simbólico, já que foram feitos durante a pandemia, quando a Ciência tem sido de muita importância.
Os cortes afetam duramente o cotidiano da UFRJ, alerta a professora Denise Freire, pró-reitora de Pós-Graduação e Pesquisa da universidade. “É contingenciamento do descontingenciamento”, ironizou. “Tínhamos a esperança de recompor o nosso orçamento para o equivalente a 60% do orçamento de 2015, agora é ladeira abaixo”, explicou a professora. Com a decisão do governo, que Denise chamou de “fim do mundo”, não só não haverá verba para a recomposição esperada, mas futuros projetos e renovações de fomento a pesquisas correntes estão sob ameaça. “Todos os programas de pós-graduação da UFRJ, se não tiverem as suas bolsas recompostas, podem ser afetados, porque todos eles têm bolsas”, contou a pró-reitora.
Os efeitos da diminuição do investimento em pesquisa dos últimos anos já são sentidos na UFRJ há muito tempo. É o caso do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia de Fármacos e Medicamentos (INCT-INOFAR) da UFRJ. “Hoje os INCTs são referência, mas nesse cenário, os estados que não tiverem fundações de apoio que possam financiar pesquisas, verão todo esse trabalho ser perdido”, disse o professor Eliezer Barreiro, coordenador do INCT-INOFAR. Ele contou que a asfixia orçamentária já interrompeu pesquisas importantíssimas que estavam sendo desenvolvidas pelo seu instituto. Uma delas era o desenvolvimento de cinco medicamentos genéricos, cujas patentes das substâncias tinham caducado, que poderiam ser adotados por indústrias brasileiras e fabricados e comercializados com menor custo para a população. “Estou há quase 40 anos trabalhando com pesquisa. Eu não esperava, no final da minha carreira, ver tantos maus tratos à ciência brasileira. Não tenho dúvidas de que o desenvolvimento e a soberania científica do país vão ficar abalados”, desabafou Eliezer.

Topo