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WhatsApp Image 2021 10 02 at 10.17.05Foto: Vitor JorgeA UFRJ nunca parou durante a pandemia. A universidade estava na linha da frente contra a covid-19, os cientistas continuaram suas pesquisas e as aulas remotas começaram há um ano. Mas há uma parte da UFRJ que pode ser vista pelo público, desde março deste ano, e que oferece às pessoas arte – fundamental, especialmente em um momento tão difícil. No último dia 17, a Orquestra Sinfônica da UFRJ fez apresentação na Sala Cecília Meireles, e o concerto foi aberto ao público, com as devidas restrições de lotação impostas pela pandemia.
A primeira apresentação da orquestra com público, desde o começo da crise sanitária, foi em março deste ano, no mesmo lugar. “Estamos em atividades presenciais na verdade desde agosto do ano passado, quando a reitoria nos solicitou uma apresentação para o evento comemorativo do centenário da UFRJ”, contou o professor André Cardoso, regente e diretor da orquestra. “A partir daí,  fizemos uma série de gravações ao longo do segundo semestre do ano passado. O músico não pode ficar parado”, detalhou o professor. As apresentações podem ser vistas no YouTube.
Para a orquestra voltar a se apresentar foram tomados muitos cuidados. Primeiro na sua composição. A Orquestra da UFRJ tem 47 instrumentistas fixos, técnicos da universidade. “Esse núcleo de profissionais forma uma orquestra de câmara. Quando temos os alunos da disciplina Prática de Orquestra, aí temos o formato sinfônico”, explicou André. Mas os alunos não têm participado, salvo raros casos pontuais, porque não estão tendo aulas presenciais na Escola de Música. “Nós dividimos a orquestra em três grupos, dois de cordas e um de sopro e percussão. Em espaços maiores, como a Sala Cecília Meireles, nós podemos juntar os dois grupos de cordas, mas por enquanto ainda não juntamos todo o efetivo da orquestra”, contou.
O número de ensaios também foi reduzido. De acordo com o professor, para concertos gravados é feito apenas um ensaio, no dia da gravação, e para apresentações ao vivo são feitos quatro ensaios, durante a semana. “Normalmente os ensaios eram de três horas com intervalo de 20 minutos. Então, eliminei o intervalo e reduzi de três para duas horas”, contou o diretor. Os músicos recebem as suas partes por e-mail com antecedência, e se preparam em casa.
Na hora das apresentações, o cuidado é igualmente rigoroso. O maestro e os músicos tocam de máscara – com uma óbvia exceção para os músicos de instrumentos de sopro, que em compensação ficam separados uns dos outros por barreiras de acrílico – e com uma distância de 1,5 metro entre eles, cada um com a sua estante. Para o professor André, a formação reduzida não traz prejuízos para a música, ao contrário do distanciamento. “O fato de tocar muito distante do outro prejudica um pouco, porque assim a gente tem mais dificuldade de ouvir quem está mais distante, o que prejudica o conjunto”, explicou.
Mas mesmo com as restrições e dificuldades, voltar para a sala de concerto, especialmente com a presença do público, foi positivo para André. “No ano passado gravamos concertos, era uma gravação. O concerto ao vivo tem o público, tem outra energia. É muito bom voltar ao palco”, exaltou.

PIXINGUINHA
Para Everson Moraes, trombonista da orquestra, a volta aos palcos foi em meio a uma certa insegurança. “Da primeira vez você fica com um pouco de medo. Você olha para o público e estão todos de máscara, e você não. E nós do sopro utilizamos uma grande quantidade de ar na respiração”, contou. Mas a preocupação arrefeceu com o tempo e a parceria com os instrumentistas. “Músicos precisam tocar uns com os outros, nós temos essa necessidade”, resumiu. Everson é um dos técnicos da orquestra, e foi responsável por fazer os arranjos das músicas tocadas no concerto do último dia 17, que foi dedicado ao Choro.
O recital foi feito pelo conjunto de sopros e incorporou o nome de músicos importantes do gênero que são ligados à UFRJ – incluído aí Pixinguinha, que foi aluno da Escola de Música. “Para resgatar o espírito do Choro eu estou tocando um instrumento chamado oficleide, que caiu em desuso no início do século 20, mas eu fiz um trabalho de pesquisa, há alguns anos, o resgatei”, contou Everson.
A volta da Orquestra Sinfônica da UFRJ tem uma importância simbólica para a cultura do país. “Os teatros foram os primeiros a fechar com a pandemia, e estão sendo os últimos a reabrir”, disse o professor Marcelo Jardim, um dos responsáveis pela Orquestra. “Nós somos um grupo acadêmico, uma orquestra universitária, mas quando olhamos para o mercado, que é para onde vamos encaminhar os nossos alunos, houve um caos. Isso tem um impacto muito grande no ganha-pão dos músicos, dos artistas e dos trabalhadores envolvidos nesses espetáculos”, explicou. Marcelo reforça que toda volta às atividades presenciais foi feita seguindo os protocolos de segurança sanitária e respeitando o desenvolvimento da pandemia no Rio. “Foi tudo pensado respeitando a ciência. Conseguimos manter a estrutura da orquestra sinfônica presente, e conseguimos manter essa rotina sem nenhuma infecção ocasionada por ela”, contou.
Pode parecer que a volta aos palcos foi tímida, com a orquestra dividida em grupos e público restrito, mas ela acendeu uma chama de esperança entre os músicos. É o caso da estudante Luiza Chaim, do oitavo período. Luiza é monitora da disciplina Prática de Orquestra, e participou de algumas das apresentações que foram gravadas no ano passado. “Ter a oportunidade de voltar a tocar foi muito bom. Foi uma experiência muito boa para me motivar a estudar mais. Com tudo parado, estava muito difícil manter o estudo diário”, contou Luiza. Ela dá aulas particulares de violino e trabalha em um projeto social na Zona Oeste. Para Luiza, o retorno da música clássica para os palcos representou um alívio. “A classe artística foi muito prejudicada nesse período da pandemia. Essa volta dá um certo alívio e conforto para quem estuda música. A gente enxerga uma luz no fim do túnel”.

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