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bandeira adufrjDiretoria da AdUFRJ

Ninguém mais tem dúvida sobre o projeto autoritário de Bolsonaro, sua sistemática política de destruição das instituições públicas, especialmente para os órgãos de controle, que poderiam ser um campo de resistência ao seu projeto predatório. Controle mesmo só sobre nosso trabalho. Instruções normativas, portarias, restrições, cortes e toda a sorte de maldades possíveis. Denúncias de corrupção, negligência, comprometimento com a propagação de notícias falsas. O empilhamento de pedidos de impeachment custa muito caro ao país. Vidas perdidas na pior crise sanitária de nossa história e a economia destruída. O placar sobre o voto impresso demonstrou o quanto o Congresso está comprometido com a manutenção de seus privilégios, agora reforçados por orçamentos secretos e emendas a rodo. Muito mais poderíamos listar, razões não nos faltam e nem detalhamos os horrores perpetrados contra as universidades e os órgãos de fomento à pesquisa.
Para além do óbvio, precisamos insistir na pergunta: por que o país não parou ainda? Mas é preciso fazer essa pergunta de verdade, com disponibilidade para entender o que falta a nós, ao movimento sindical, aos partidos de esquerda e aos ditos progressistas, aos movimentos sociais, aos coletivos que hoje contamos às centenas, para conseguirmos derrubar esse governo que nos ameaça todos os dias e implanta sua política de destruição nacional. O desgaste é crescente, o isolamento político também, mas ele ainda tem munição e votos no parlamento. E nós não conseguimos ainda dar o salto necessário para que a pressão das ruas tenha o efeito que tanto desejamos. A resposta não cabe nessas poucas linhas de um editorial, são muitas e controversas as análises e os diagnósticos. Entretanto, não poderíamos deixar de pelo menos convocar a todos a fazer essa indagação, principalmente depois de uma semana que foi tomada pelas imagens dos talibãs ocupando de forma avassaladora o governo afegão e que nós tivemos uma convocação nacional para uma greve dos serviços públicos em âmbito municipal, estadual e federal. Não tivemos, e parece que não teremos, um balanço geral da adesão à convocação de greve. Um movimento dessa envergadura necessita ser avaliado e mensurado, onde foi forte, onde fracassou, onde pode crescer. Infelizmente, nos últimos vinte anos, temos assistido a um esgarçamento dessa prática. Uma parcela de valorosos militantes convoca e delibera sobre a realização de greves como se apenas o seu enunciado fosse suficiente para produzir o efeito desejado. Desresponsabilizam-se de todo o resto, inclusive o de se perguntar qual o efeito real de tal empreitada. Há muito tempo que consolidamos uma prática em que a deflagração desse movimento significa apenas a suspensão de nossas tarefas. Esse não é mais do que um primeiro passo, pois todo o resto é que dará a dimensão das nossas forças frente ao governo que dissemos enfrentar. O cumprimento formal de um calendário de mobilização, sem levar em conta a qualidade desse movimento, não tem consequência política real, ou pior, pode ter o efeito contrário. Entretanto, se pesarmos todos os elementos em jogo, veremos o quanto ainda precisamos desse instrumento. Precisamos buscar novas formas de lutas, e isso implica também em não perdermos as que existem. Mas, e o Talibã, o que tem a ver com tudo isso? No mínimo um alerta severo, para que não sejamos pegos de surpresa. Saber avaliar e dimensionar as nossas forças é crucial para a nossa sobrevivência.

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