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WhatsApp Image 2021 08 14 at 08.48.16Apesar dos cortes em seu orçamento, a UFRJ vem ampliando os seus esforços no combate à pandemia. Desde o ano passado, a universidade vem desenvolvendo uma vacina contra a covid-19, batizada de UFRJvac, que deve começar a ser testada em humanos até o final do ano. O Dossiê de Desenvolvimento Clínico de Medicamento (DDCM), que contém os detalhes do processo de produção da vacina candidata, dados referentes ao seu controle de qualidade e os resultados dos estudos pré-clínicos, foi enviado para aprovação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) no último dia 6. Atualmente, a pesquisa se encontra em fase final de testes em modelos animais (camundongos, ratos, coelhos e hamsters) para avaliar a segurança e a eficácia da UFRJvac nesses organismos.
“O que já submetemos à Anvisa foram todos os dados de produção do Insumo Farmacêutico Ativo (IFA) da vacina: as técnicas já estabelecidas, a qualidade e a pureza do produto, e os ensaios já feitos em ratos e camundongos”, conta a professora Leda Castilho, coordenadora da pesquisa. Nesse dossiê, também foram listados os estudos de eficácia e toxicologia que estão em andamento, assim como estudos para qualificação e validação final das técnicas analíticas usadas no controle do processo produtivo e do produto. “Vamos complementar essa documentação em setembro e outubro, porque o nosso objetivo é iniciar os testes clínicos, em humanos, no último bimestre do ano, entre novembro e dezembro”, acrescenta a professora.

EM BUSCA DAS VARIANTES
Leda coordena o Laboratório de Engenharia de Cultivos Celulares (LECC) do Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-Graduação e Pesquisa em Engenharia (Coppe/UFRJ), onde a tecnologia de produção do IFA começou a ser desenvolvida em fevereiro de 2020. “A nossa vacina é produzida a partir de uma cópia da proteína que recobre o vírus, a proteína Spike, também conhecida como ‘proteína S’”, explica Leda. Antes mesmo da confirmação do primeiro caso de covid-19 no Brasil, os cientistas do LECC/UFRJ conseguiram confirmar a produção da proteína S no laboratório, que vem sendo utilizada na fabricação de testes sorológicos de alta acurácia e baixo custo, do soro anti-covid obtido em cavalos em desenvolvimento pela UFRJ e pelo Instituto Vital Brazil (IVB), e em pesquisas básicas e aplicadas realizadas por diversas instituições brasileiras.
“Ao longo do ano passado, a gente desenvolveu tudo considerando a proteína S do vírus original, que é conhecida como a cepa de Wuhan. Mas as variantes têm mutações em várias regiões do vírus, inclusive na proteína S”, descreve. “Por isso, a partir de março deste ano, começamos a desenvolver tudo de novo para algumas das variantes que surgiram, mas como já sabíamos o caminho foi tudo muito mais rápido”. Para definir qual a próxima variante a ser trabalhada pela equipe, a professora acompanha os dados que são divulgados de sequenciamento genômico em diferentes países, tentando identificar quais variantes podem se tornar relevantes e consideradas para o desenvolvimento de novas versões da UFRJvac.WhatsApp Image 2021 08 14 at 09.14.20
Segundo Leda, na primeira semana de junho o grupo já encomendou o gene que codifica a proteína S da variante delta, que muito tem preocupado os especialistas. O gene chegou em julho, e o LECC já obteve no início de agosto células geneticamente modificadas produzindo de forma estável a proteína S da variante delta. “Já fizemos todo o processo de produção e purificação. Ontem (9), os camundongos transgênicos já foram imunizados na USP de Ribeirão Preto com uma versão da vacina contendo a proteína S da variante delta. Após a vacinação, os animais vão ser infectados com o vírus em um biotério de nível de biossegurança 3, para avaliar a eficácia”, diz. Nos ensaios clínicos, os cientistas irão comparar formulações que têm apenas uma proteína S (monovalentes), com outras que contêm um conjunto de proteína S de três diferentes variantes (trivalentes). “Com base nos resultados dos estudos feitos em animais e em humanos, vamos decidir qual é a formulação que vai para a Fase 3, que é feita com um número grande de voluntários e permite determinar a eficácia da vacina”, comenta.

RESULTADOS ANIMADORES
Desde o início do projeto, uma das responsáveis pelo desenvolvimento das linhagens celulares que produzem a proteína S recombinante é a servidora Renata Alvim, que atua desde 2012 no LECC e, desde 2019, é também doutoranda do Programa de Engenharia Química da Coppe. “Pelo fato de a plataforma de produção da UFRJvac ser baseada na proteína da estrutura do coronavírus, conseguimos produzir em laboratório rapidamente cópias da proteína S já com as variações que estejam em circulação no momento”, aponta Renata. Gerente do LECC, Renata afirma que no caso do surgimento de uma nova variante, a equipe é capaz de produzir em cerca de dois meses a proteína já referente à nova variante.
WhatsApp Image 2021 08 14 at 08.47.09EQUIPE DE COVID-19 DO LECC/COPPE/UFRJ. Em cima, da esquerda para a direita, Tulio Lima, Federico Marsili e Daniel Abreu. Embaixo, Renata Alvim e Leda CastilhoA integração entre professores e pós-graduandos de diferentes unidades da UFRJ é um elemento fundamental para os avanços da pesquisa. “O Laboratório de Alvos Moleculares participou do desenvolvimento dos vetores de expressão contendo a informação para a produção da proteína S do SARS-CoV-2 em células animais”, destaca o professor Renato Sampaio Carvalho, da Faculdade de Farmácia da UFRJ (FF). Segundo ele, os resultados obtidos nos ensaios pré-clínicos são muito animadores e apontam um caminho exitoso. “Não podemos afirmar que uma vacina é mais promissora do que as outras. Mas a UFRJvac tem algumas vantagens, como o fato de ser formulada já pensando nas variantes”, ressalta.
Além dessa plataforma com potencial de reformulação, outra vantagem da UFRJvac é a segurança, por ser uma vacina baseada em proteínas recombinantes, que são cópias da proteína do vírus. Leda Castilho lembra que outras vacinas proteicas já existem há muitos anos, tendo poucos efeitos adversos, aplicação em todas as faixas etárias e alta eficácia. “A vacina da hepatite B, por exemplo, utiliza uma proteína recombinante e existe há mais de 30 anos. E a primeira dose dessa vacina é dada na rede pública de hospitais brasileiros aos recém-nascidos, no dia do nascimento”, diz.
A presença de plantas fabris no Brasil para produção de proteínas recombinantes também pode favorecer a distribuição da UFRJvac no país. “Nós temos no Brasil algumas instalações fabris adequadas, baseadas em biorreatores, para cultivar o mesmo tipo de célula que usamos na produção da UFRJvac. Então não precisaria de novos investimentos em instalações para a produção.

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