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WhatsApp Image 2021 07 02 at 22.37.24MICHEL GHERMAN e UALID RABAHA mais recente escalada de violência entre Israel e o Hamas, em função dos despejos de famílias palestinas de Sheikh Jarrah — bairro fora dos muros da Cidade Velha de Jerusalém —, mobilizou o cineclube mensal organizado pelo Grupo de Educação Multimídia da UFRJ e pela AdUFRJ, na quarta-feira (30). O encontro reuniu o coordenador do Núcleo Interdisciplinar de Estudos Judaicos da UFRJ, Michel Gherman, e o presidente da Federação Árabe Palestina do Brasil, Ualid Rabah, para diferentes visões sobre o conflito que se arrasta por décadas. Cultura e território foram os aspectos mais valorizados.
“Até os anos de 1960, o conceito de resistência esteve exclusivamente associado à questão armada. Mas depois ela vai encontrar um sentido mais amplo. O simples ato de educar um filho, dentro de um contexto como o do Gueto de Varsóvia, pode ser considerado um ato de resistência”, observa Gherman. Nesse sentido, afirma ele, o cinema cumpre um papel importante para a formação de memória e como “alternativa às bolhas narcísicas criadas pelas redes sociais”. “Quando você vê uma cena como as de Suleiman, em que um tanque acompanha um palestino que está tirando o lixo de casa, você entende o que é a ocupação. Israel é isso”, avalia o professor.
Historiador por formação, Gherman enfatiza os riscos do negacionismo contemporâneo, especialmente, para as universidades. E rejeita comparações entre o conflito em torno de Israel hoje com o nazismo, expresso em classificações como “holocausto palestino”. Para o docente do IFCS, “a solução para a questão palestina passa pelo reconhecimento, ressarcimento e reparação, assim como na África do Sul”.
Sob a perspectiva árabe, Ualid Rabah retoma a base socioeconômica da disputa. “Se há refugiados é porque havia antes um lugar onde essas pessoas estavam, e que não existe mais”, frisa ele, em relação às progressivas anexações de áreas palestinas por Israel, desde a década de 1940. “Estamos falando de território e propriedades, estamos falando de todo um PIB palestino”, acrescenta.
A liderança deu sua contribuição ao cineclube por meio de um vídeo gravado, em função de compromissos familiares. Nele, Rabah analisa a estética cinematográfica que – em sua visão – ainda retrata a resistência palestina de forma estigmatizada. “Afinal, quando é civilizado matar? Contanto que seja com por um exército bem arrumado?”, questiona.
A universidade também não foi poupada da crítica pelo racismo. “Talvez a academia, que tanto gosta do Edward Said, não tenha entendido o sentido de orientalismo quando deprecia um [Yasser] Arafat, narigudo, de turbante, guerrilheiro, de nome árabe”, alfinetou.
A FIXAÇÃO COM ISRAEL
Durante o debate, a professora do Instituto de Psicologia da UFRJ Cristal Oliveira de Aragão quis saber sobre a relação entre a ultradireita brasileira e o estado de Israel. A curiosidade partiu da recorrente presença de bandeiras em manifestações de rua com pautas conservadoras.
Segundo o coordenador do Núcleo de Estudos Judaicos, a referência corresponde “mais a uma Israel imaginária do que atual”. Gherman destacou quatro pontos de atração de um setor do neopentecostalismo por Israel. Um deles diz respeito a uma afinidade com o Reinado de Salomão, “quando a relação de Deus com o cotidiano era direta, sem mediações”, explica. Outra vertente encontra afinidade com o modelo econômico ultraliberal. Um terceiro grupo se espelha no belicismo. E por fim há ainda grupos que atribuem a Israel – contraditoriamente – uma supremacia branca.

Palestina e Brasil
O Estado da Palestina é reconhecido por 138 dos 193 membros da ONU — Israel, por 164. O reconhecimento brasileiro aconteceu em 2010, no segundo mandato do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. A Argentina fez o mesmo dias depois. Os dois países foram os primeiros ocidentais no gesto. Até então, o Estado palestino havia sido reconhecido por cerca de 100 países da Ásia e da África.

PARA ASSISTIR E REFLETIR

Os quatro filmes que serviram de pano de fundo para a edição “Questão palestina” do cineclube foram:

1. “Noite e nevoeiro”
(Alain Resnais, 1956),

2. “Paradise Now”
(Any-Abu Assad, 2006),

3. “Valsa com Bashir”
(Ari Folman, 2008),

4. “O que resta do tempo”
(Elia Suleiman, 2010).

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