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WhatsApp Image 2021 06 30 at 18.08.35Professora Margarida - Fotos: acervo pessoalA afirmação do título é de Margarida Thereza Nunes da Cunha Menezes, 96 anos, patrimônio vivo da Educação Física e da UFRJ. A professora emérita ingressou na instituição — ainda com o nome de Universidade do Brasil — como aluna, em 1943. E só saiu em 1994 por aposentadoria compulsória, aos 70 anos.
A Minerva a que se refere é o símbolo da UFRJ. A imagem da deusa grega da sabedoria está presente nos canais de comunicação da universidade, nos documentos timbrados e na parede da sala dos colegiados superiores. Em todos os espaços, aparece de perfil. Mas nem sempre foi assim, como ensina a professora Margarida.
Em 12 de junho de 1957, a reitoria organizou uma solenidade de recepção ao então presidente de Portugal, Craveiro Lopes, que visitava o país. Medalhas comemorativas foram confeccionadas em bronze e entregues a todos que participaram do evento. Margarida enviou fotos do mimo recebido à reportagem: de um lado, os brasões das repúblicas, os rostos de Rui Barbosa e Camões, a data e a ocasião; do outro, uma imponente Minerva, olhando para a frente.WhatsApp Image 2021 07 02 at 22.42.03
Margarida não esteve na recepção. Ganhou a medalha depois. “Por tabela”, brinca. “O professor Pedro Calmon, então reitor da Universidade do Brasil, sabia que eu gostava dessas coisas”. A residência dela é uma prova incontestável. “Moro num apartamento muito grande. Tenho mais de dez mil pins, escudos e medalhas pendurados nas paredes”.
A professora se apressa em dizer que divulga a medalha sem a intenção de mudar a Minerva atual. “Mas acho importante que ela faça parte da história da universidade. A bandeira da universidade também tinha essa Minerva olhando de frente”, informa. “O povo tem uma memória muita fraquinha. Eu, com 96 anos, ainda tenho alguns resquícios de memória”, diz.
A professora emérita não sabia, mas está para completar uma década de existência a Divisão de Memória Institucional da UFRJ, que trabalha justamente para difundir os mais variados acervos documentais que representem a história e a memória da instituição. E que manifestou interesse imediato na medalha, assim que soube da história.
“Linda de morrer. Se ela quiser doar, irá para a coleção Memória UFRJ”, explica Paula Mello, coordenadora do Sistema de Bibliotecas e Informação (SiBI), ao qual está vinculada a Divisão de Memória. Curiosamente, a coleção fica localizada na Biblioteca Pedro Calmon, no campus da Praia Vermelha.
Paula começou este trabalho de “formiguinha”. “Eu via coisas importantes sendo dispersas. Comecei a pegar e levar para a biblioteca”, diz. A coordenadora do SiBI não podia ver o material comemorativo de alguma unidade ou centro que já pedia um exemplar. “Era cartaz, livro, documento de uma pró-reitoria com o catálogo de cursos. Tudo isso tem utilidade”. Depois, as próprias unidades começaram a mandar as peças para o SiBI. “Quando houve uma oportunidade, criei a Divisão de Memória Institucional, em 2011”.
“A divisão cresceu e se consolidou. É um trabalho do qual me orgulho muito. A universidade sabe que tem um lugar com pessoas que se preocupam com a preservação e divulgação da história da UFRJ. Isso me deixa muito feliz”.

FACILIDADE PARA PESQUISADORES
Antes de se tornar professor da Faculdade de Administração e Ciências Contábeis, Antonio José Barbosa trabalhou no SiBI como técnico e conhece bem a origem da Divisão de Memória Institucional. “Os três primeiros seminários de que participei possibilitaram que as pessoas se conhecessem. Ali havia a interdisciplinaridade tendo a história e memória como lugar comum”, afirma. “As pessoas da universidade passaram a ver no SiBI e, depois, na Divisão de Memória Institucional um lugar de convergência para diversos estudos e projetos”, completa.
Hoje diretor eleito da FACC, Antonio José disse que sua preparação para a seleção do doutorado e para o concurso docente estava totalmente ligada ao trabalho que desenvolvia no SiBI. O título da tese defendida na UniRio, em 2011, não deixa dúvida: “A casa de Minerva: entre a ilha e o palácio - Os discursos sobre os lugares como metáfora da identidade institucional”.
“Na minha época, procurava muitas coisas soltas numa sucessão de achar ou não achar. De dar sorte ou não. Hoje em dia, com a estruturação da Divisão de Memória Institucional, qualquer pessoa da universidade ou de fora dela tem pelo menos uma referência de por onde começar suas pesquisas”, elogia.

DIVISÃO DE MEMÓRIA COMEMORA 10 ANOS EM SETEMBRO

WhatsApp Image 2021 07 02 at 22.42.23Ainda sem a possibilidade de uma festa presencial, a Divisão de Memória Institucional (DMI) vai comemorar os 10 anos de sua institucionalização com um seminário virtual. O evento está marcado para os dias 15 e 16 de setembro e será transmitido pelo canal do Fórum de Ciência e Cultura no Youtube. Será a oportunidade para refletir sobre esta década de trabalho voltada para a UFRJ.
Uma dedicação que se expressa em múltiplas atividades, como a identificação de todos os acervos e núcleos de memória que existem na gigantesca e fragmentada UFRJ. A diretora da Divisão, Andrea Queiroz, fala sobre a importância da tarefa por experiência própria.
A historiadora pesquisava imprensa alternativa para o seu doutorado. “E eu não precisava, como fazia, ir à Biblioteca Nacional para ver, por exemplo, a coleção do Pasquim, que está quase completa no IFCS”.
Andrea faz questão de destacar que não existe nenhuma intenção de centralizar acervos na Divisão. “As unidades têm autonomia. E certas coleções precisam ser preservadas nelas. O importante é fazer uma interlocução entre estes diferentes espaços, fortalecer os sistemas integrados”.
Se alguma unidade pretende criar um espaço de memória, a Divisão também pode auxiliar na empreitada, como fez recentemente na Escola de Enfermagem Anna Nery. “Não precisa contratar ninguém de fora”, explica Andrea. A expertise da UFRJ já ultrapassou seus muros. “Quando a Fiocruz começou a pensar a preservação da memória institucional, eles nos procuraram”.
A divisão também investe na formação em pesquisa dos estudantes que participam dos seus projetos. Todo ano, os trabalhos deles são premiados na Semana de Integração Acadêmica da UFRJ como melhores ou recebem menção honrosa. “A minha primeira bolsista está terminando o doutorado agora”, orgulha-se Andrea.

DEPOIMENTOS DOS EX-REITORES
A história oral da universidade, a partir dos depoimentos dos ex-reitores, é um dos projetos da Divisão. Alguns mais idosos não puderam conceder a entrevista, como Clementino Fraga Filho — que faleceu em 2016, aos 98 anos. O interventor do MEC na UFRJ José Henrique Vilhena (gestão 1998-2002) recusou o convite. E um dos registros mais aguardados não foi adiante por uma fatalidade. “A gente queria homenagear o professor Aloisio Teixeira (2003-2011). Mas, na semana em que a gente marcou a entrevista, ele faleceu (em 23 de julho de 2012)”, lamenta Andrea. Está disponibilizada na Divisão uma entrevista concedida por Aloisio a um ex-aluno da Escola de Comunicação. Já o depoimento do professor Carlos Lessa, reitor entre 2002 e 2003, é um dos mais procurados. “Fomos muito solicitados, após a morte do Lessa (em 2020), por pesquisadores de dentro e fora da instituição”, completa. Os interessados podem pedir acesso à transcrição da entrevista. Os áudios são preservados.
E, em breve, o início da história da AdUFRJ vai constar dos registros da Divisão. A iniciativa de colher depoimentos dos professores será continuada com aqueles que contribuíram para o movimento de resistência à ditadura na instituição. O primeiro entrevistado será o professor Luiz Pinguelli Rosa, primeiro presidente da então associação
Outro serviço muito utilizado, especialmente durante a pandemia, é a Biblioteca Digital de Obras Raras. “É a nossa menina dos olhos”. Andrea cobra mais investimentos do governo federal em pessoas e equipamentos para a preservação deste e outros espaços. “O meu concurso, em 2008, foi o último para cargo de historiador na UFRJ. E, antes, praticamente não existiu”.

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