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Linha de frente no combate à pandemia, as universidades providenciaram leitos hospitalares para o tratamento dos pacientes com covid-19, participam da vacinação, realizam pesquisas e testam a população. Mas, como mostra esta segunda reportagem da série em que o Jornal da AdUFRJ aborda as dificuldades financeiras das instituições, o esforço não é reconhecido pelo governo federal. Pelo contrário. Elas são punidas com cortes que, num futuro muito próximo, podem comprometer todas essas ações.

A Universidade Federal Fluminense (UFF), em Niterói (RJ), contava com R$ 275 milhões (valor corrigido pela inflação) em 2014 para manter e expandir as atividades acadêmicas e administrativas. Em 2021, o valor despencou quase para a metade: R$ 146,5 milhões. Apenas do ano passado para cá, o orçamento da instituição foi subtraído em R$ 32,9 milhões.
WhatsApp Image 2021 06 24 at 19.57.00 2Foto: Assessoria de Comunicação UFF“Para nós, esse corte corresponde a três meses de funcionamento. Dezembro, novembro e outubro foram para o espaço”, critica o pró-reitor de Planejamento, professor Jailton Gonçalves. Um drama que se estende para a folha de pessoal. “O recurso aprovado na Lei Orçamentária só dá até setembro. Se não sair uma suplementação do governo, não teremos como pagar salários”, completa.
E cada centavo é importante para uma instituição gigantesca como a UFF. São 45.358 alunos na graduação e 9.165 pós-graduandos, segundo os últimos dados oficiais (de 2019). Eram 40.941 graduandos e 5.621 estudantes na pós-graduação há sete anos. A UFF mantém campi espalhados por todo o estado do Rio e mesmo em outros estados. Há um campus na longínqua Oriximiná, no Pará.
Sem dinheiro para o básico, já é possível imaginar o prejuízo para as várias atividades desenvolvidas pela UFF no combate ao novo coronavírus. “Muitos grupos de pesquisa e de extensão responderam à pandemia. Com fabricação de máscaras e face shields, produção de álcool em gel e álcool 70% distribuídos para os hospitais da região e para nosso próprio uso. Constituímos um centro de testagem de PCR e fizemos um inquérito sorológico para avaliação da presença ou contato com o vírus na comunidade”, afirma o reitor da UFF, professor Antonio Claudio.
E não foi só. “Atuamos no comitê científico de municípios, particularmente em Niterói. Tivemos ações de solidariedade, com distribuição de cestas básicas aos mais vulneráveis, buscamos tratamentos e alternativas terapêuticas. O Hospital Universitário Antônio Pedro está atendendo covid-19 também, mas não como exclusivo. Colocamos toda a nossa frota de ônibus para transportar os profissionais do hospital”, acrescenta. “Os cortes podem afetar todas essas ações”, completa o dirigente.WhatsApp Image 2021 06 24 at 19.57.01Foto: Assessoria de Comunicação UFF

IMPACTO SOCIAL
A reitoria teme que as contas da universidade voltem a ficar no vermelho com o mais recente tombo orçamentário. A atual gestão assumiu a universidade, em novembro de 2018, com uma dívida de R$ 76 milhões. “Tivemos de fazer um exercício muito grande para corrigir esse problema. Começamos a cortar nos contratos de empresas terceirizadas. Sabemos do impacto social, mas infelizmente não conseguiríamos avançar, se não tivéssemos feito essa redução”, esclarece o pró-reitor de Planejamento. Na revisão dos contratos, aproximadamente 900 postos de trabalho foram eliminados, ao longo dos últimos três anos.
Hoje, o dirigente acredita que o esforço para liquidar o passivo — o que acabou ocorrendo no início de 2021 — deu o “fôlego” necessário para enfrentar este momento. Por enquanto, sem cortar em outras áreas. “Na área acadêmica, mantivemos os programas de apoio. Estamos sobrevivendo com os recursos que, obviamente, são insuficientes. A ‘sorte’ é que estamos em serviços online”, diz Jailton.
Mas o dirigente observa que os contratos, mesmo revisados, sofrem reajustes todo ano. “Tudo isso aumenta. Só não aumenta o orçamento da universidade. Vai chegar a um ponto em que eu não posso mais ajustar”, afirma. “Todas as pró-reitorias estão em regime de contenção total. Só atendemos ao emergencial”.
WhatsApp Image 2021 06 24 at 19.57.02Se preservar o funcionamento mínimo está difícil, expandir a universidade parece um sonho distante. Em 2014, a UFF contava com uma verba de R$ 61,5 milhões para investimento (R$ 87,3 milhões, em valor corrigido pela inflação). Em 2021, o valor caiu para R$ 4,1 milhões.
A solução tem sido apelar para a criatividade. Um exemplo foi articular a cessão de uso do cinema da instituição, o Cinema Icaraí, para a Prefeitura de Niterói, por um período de 40 anos. Em troca, além da reforma do espaço, o município vai concluir a obra do novo Instituto de Artes e Comunicação Social. “O prédio deve ser entregue em meados do ano que vem”, explica Jailton.
Para reverter os cortes, o reitor da UFF considera três frentes: pressão no MEC via associação dos reitores (Andifes), a negociação com parlamentares e a conscientização da população sobre o papel das universidades. “Temos de divulgar o impacto do prejuízo diretamente para a sociedade. Existem as ações imediatas e as ações de produção de conhecimento, que são fundamentais para enfrentar todas as dificuldades do dia a dia, incluindo o combate à covid-19”, diz o professor Antonio Claudio. “Tornar isso uma narrativa da população e não só de quem trabalha nas universidades é um objetivo importante”, conclui.

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