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IMG 20201010 WA0019PONTES disse que não haverá complementação de recursos para bolsas em 2021 - Foto: NEILA ROCHA - ASCOM/MCTIUm contraditório Marcos Pontes visitou a UFRJ na segunda-feira (5). Para a imprensa, discurso de loas às universidades e elogios ao governo pelos investimentos em infraestrutura de pesquisa. Em um encontro mais reservado com dirigentes da instituição, a exposição da dura realidade da Ciência no país gerido por Bolsonaro.
Depois da agenda aberta à cobertura dos jornalistas, o ministro da Ciência, Tecnologia e Inovação participou de uma conversa com representantes do Consuni e parte da equipe da reitoria, na sala dos Colegiados Superiores. A questão orçamentária dominou a reunião de quase uma hora. Nela, o ministro informou que o corte de 15% do orçamento previsto para 2021 impactará as bolsas de pesquisa. Até aí, nenhuma novidade. Mas, segundo ele, as complementações conseguidas nos últimos dois anos com o Ministério da Economia, desta vez, estarão fora do radar.
O ex-astronauta Pontes parece não ter voltado do espaço, quando destacou “um Congresso Nacional favorável à Ciência”. Citou como exemplo a tramitação amigável do Projeto de Lei Complementar (PLP 135) que transforma o Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (FNDCT) em um fundo financeiro, proibindo o contingenciamento dos recursos. O PLP foi aprovado por 71 votos a 1 no Senado e agora depende da Câmara. Só “esqueceu” de mencionar todos os outros projetos que desmontam o serviço público, como a PEC da reforma administrativa.
Não há dúvidas de que o ministro valoriza a pasta que comanda. Mas, egresso do meio militar, não entende como funcionam as universidades, responsáveis pela maior parte da produção científica nacional. Pontes defendeu um ajuste de “linguagem” e “sinergia” entre a pasta e a universidade e expressou o desejo do governo de mais engajamento “no desenvolvimento de inovações para produtos, empregos e empresas”. Parecia um Abraham Weintraub citando o malfadado Future-se.
O vice-reitor Carlos Frederico Leão Rocha ressaltou que “universidade contribui para a inovação, formando alunos inovadores e com ideias que podem ser utilizada pelo setor privado”.

PARA A IMPRENSA
Diante dos microfones da mídia, Pontes tinha virado rapidamente a “chave”. O ministro acompanhou o início dos primeiros ensaios clínicos com a vacina BCG para prevenção da Covid-19. Em seguida, participou da inauguração de um laboratório de campanha com capacidade para análise de 300 testes moleculares, do tipo PCR, o mais preciso, por dia. Afirmou que aposta alto no retorno da pesquisa brasileira. “Com o conhecimento que temos aqui, somos um país capaz de desenvolver e produzir uma vacina,” declarou.  Segundo Pontes, atualmente, 15 protocolos de vacinas são desenvolvidos por cientistas brasileiros. E outros 12 laboratórios de campanha estão em vias de ser inaugurados.
Foi a primeira visita do ministro a instalações da universidade na atual reitoria. Durante a agenda, a reitora Denise Pires de Carvalho lembrou outras ações da UFRJ de combate à pandemia, como a atuação do GT Coronavírus e a produção de mais de 80 toneladas de álcool.
Na ocasião, a reitoria considerou que a presença do ministro confirma o protagonismo da UFRJ no “movimento que coloca as universidades públicas como motores do desenvolvimento científico, artístico, cultural e tecnológico do nosso país”.
 
PESQUISA DE PONTA,
APESAR DO GOVERNO
Apesar dos reduzidos investimentos em Ciência, os professores fazem pesquisa de excelência. Uma delas relacionada à vacina BCG. A professora Fernanda Mello, diretora do Instituto de Doenças do Tórax explica que a vacina — geralmente aplicada na infância para prevenir casos graves de tuberculose — não substituirá uma eventual imunização específica contra o novo coronavírus. Contudo, uma segunda dose — já que ela perde força ao longo dos anos — poderá oferecer benefícios de profilaxia, aumentando a imunidade.
“A vacina BCG atuaria estimulando o sistema imunológico do organismo, especificamente a imunidade inata”, explica a pesquisadora. “Além disso, vários estudos demonstram o efeito heterólogo da vacina BCG, ou seja, um efeito além do seu propósito principal, com redução das  taxas de infecções respiratórias bacterianas e virais em crianças”, acrescenta. O aprofundamento da linha de investigação, no Brasil, é facilitado pelo fato de a BCG fazer parte do calendário vacinal, tal como em países europeus e EUA.
Mil profissionais de saúde serão recrutados, nos próximos dois a três meses. Eles serão vacinados com a BCG e acompanhados pelos próximos seis a 12 meses. Nunca ter tido Covid-19 está entre os critérios para resultados confiáveis e seguros. O aporte de R$ 1 milhão destinado à pesquisa pelo MCTI foi aplicado na aquisição de insumos para a realização dos testes laboratoriais. “Entre eles RT-PCR e sorologia para coronavírus, além de dosagem de biomarcadores que auxiliam na compreensão da resposta imunológica contra o SARS-Cov-2”, descreve Fernanda. Também foram adquiridos equipamentos que darão suporte ao processo de vacinação, como equipamentos para a conservação das vacinas.
Já o laboratório de campanha da UFRJ tem como objetivo aprimorar os diagnósticos dos testes no estado, além de aumentar a segurança biológica. Coordenador da iniciativa, professor Amilcar Tanuri, destacou, à imprensa, a importância científica de um laboratório deste tipo em funcionamento na universidade: “Neste laboratório, o teste se transforma em pesquisa também. A vantagem de se colocar um laboratório em estrutura de universidade é que o teste auxilia o paciente e também movimenta a pesquisa na área”. Segundo informou, a UFRJ já realizou mais de 30 mil testes diagnósticos de coronavírus.

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