facebook 19
twitter 19
andes3
 

filiados

Ana Beatriz Magno e Silvana Sá

 

O pior ministro da Educação da História caiu para cima. Comprar briga pública com o Supremo Tribunal Federal representou um passo maior que as pernas para Abraham Weintraub. Sua militância ideológica foi trocada por um passe livre para deixar o Brasil às pressas. Ele é investigado no inquérito das fake news, do STF, e responde a processo por racismo contra chineses no tribunal. Constrangido a despachá-lo para evitar mais confronto com o Judiciário, Bolsonaro indicou o agora ex-ministro a uma diretoria do Banco Mundial em Washington, para receber salário de US$ 250 mil anuais, cinco vezes mais do que recebia no ministério. A exoneração só foi publicada em edição extraordinária do Diário Oficial neste sábado, 20, depois de confirmada sua chegada aos Estados Unidos. Ele pode ter tido sua entrada facilitada no país – que está com as fronteiras fechadas para brasileiros – por ter viajado ainda na condição de ministro de Estado. Aliás, a viagem aconteceu no mesmo dia em que o senador Fabiano Contarato (Rede-ES) protocolou no STF um pedido de apreensão do passaporte de Weintraub para evitar uma possível saída do Brasil.
03WEB menor1133Embora tenha sido catapultado ao Banco Mundial, Weintraub ainda depende da aprovação de sua indicação por oito países liderados pelo Brasil (Colômbia, Equador, República Dominicana, Panamá, Haiti, Suriname, Trinidad e Tobago e Filipinas). Economistas brasileiros já articulam um movimento contra sua nomeação. Em carta, a ser endereçada às embaixadas desses países no Brasil, os especialistas lembram que “devido ao seu comportamento odioso e desempenho medíocre como ministro da Educação, houve pedidos quase unânimes de sua renúncia em todos os segmentos da sociedade brasileira”. O documento cita, ainda, relatório do Comitê de Política Educacional da Câmara dos Deputados, que concluiu, entre outras coisas, que o planejamento do MEC em sua gestão ficou muito “aquém do esperado”.
A queda de Weintraub merece comemoração de todos que defendem a Educação. Por outro lado, especialistas avaliam que o sucessor deve seguir a tarefa bolsonarista de destruição dos projetos educacionais que promovem o pensamento crítico do país.
Ainda não há confirmação do substituto, mas Carlos Nadalim, atual secretário de alfabetização do ministério, é o nome mais forte, até o momento, para assumir a vaga. Não se trata de um formulador de políticas de educação, e sim de um entusiasta do ensino domiciliar. Desde 2013, passou a ser relativamente conhecido na internet por simpatizantes desta modalidade de ensino. A credencial definitiva para Bolsonaro, porém, é outra: foi aluno de Olavo de Carvalho em um curso on line de Filosofia.
Para o professor Ivo Coser, vice-diretor do Instituto de Filosofia e Ciências Sociais (IFCS), uma característica que deve marcar o substituto de Abraham Weintraub – seja ele quem for – é o perfil ideológico. “Este é um governo de colisão, não de coalizão. É todo ideológico e tem a tarefa de desmontar a Constituição”, avalia. “A pauta é a ruptura com os marcos da Educação, promulgados desde 1988. É o norte deste ministro e deste governo”, afirma o cientista político.
A professora Thais Aguiar, chefe do Departamento de Ciência Política do IFCS, concorda que o ministério é o “entreposto de combate a lutas no campo da educação emancipadora”. “Por isso a escolha do olavismo para gerir o MEC. Não à toa se ataca a figura de Paulo Freire”, diz. No entanto, ela acredita que o militarismo e os parlamentares do Centrão se fortaleceram neste momento de fragilidade da ala ideológica. “As peças políticas estão se movendo. Weintraub foi alçado ao MEC pelo alvoroço e balbúrdia que causava. Mas o tabuleiro se moveu de tal forma que isso deixou de ser conveniente. Exatamente pelo mesmo motivo que entrou, ele agora sai”, avalia.

HORA DE COMEMORAR
Apesar das incertezas em relação a quem vem depois, o professor Josué Medeiros defende a importância de comemorar a saída de Weintraub. “Foi uma grande vitória do movimento de Educação. Ele representava o ataque bolsonarista mais direto contra nós”, afirma. “No mínimo, conseguimos atrasar os projetos do governo para as universidades em alguns meses”, avalia o cientista político e diretor da AdUFRJ.
O cerco do Judiciário contra o governo é uma tentativa, na avaliação do professor, de manter Jair Bolsonaro “sob certo controle”. “Me parece que o STF faz este movimento na expectativa de um acordo que mantenha as instituições alinhadas em torno do avanço da agenda neoliberal”. Agenda que, de alguma maneira, pode permear também o MEC. “Acredito que o Ministério pode ter uma composição entre o olavismo e o empresariado. O novo ministro tende a ser menos histriônico e, justamente por isso, pode ter mais espaço para aprovar projetos no Congresso. O próprio Nadalim tem esse perfil”.

Topo