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WEB menor 1125 p5Foto: ReproduçãoNão é de hoje que os professores, médicos e alunos da UFRJ enfrentam uma pandemia. Há mais de 100 anos, a Faculdade de Medicina desempenhou importante papel no combate à gripe espanhola.  
“As grandes lideranças médicas desse momento, lembrando que o Rio era a capital federal, eram da Faculdade”, afirma Gisele Sanglard, historiadora e coordenadora da Pós-Graduação em Historia das Ciências e da Saúde da Casa de Oswaldo Cruz/Fiocruz.
“Sem a faculdade, haveria uma maior mortandade. Em termos de assistência, os professores e alunos foram fundamentais no enfrentamento da gripe espanhola”, acrescenta o professor Antônio Braga, da Maternidade-Escola da UFRJ e ex-presidente da Sociedade Brasileira de História da Medicina.
Braga alerta que, antes de 1808, quando foi autorizado o curso médico no Brasil, os tratamentos de saúde eram feitos por boticários, que eram farmacêuticos de formação própria, e cirurgiões-barbeiros. Profissionais que, além de cortar o cabelo e de fazer a barba, praticavam a pequena cirurgia da época, isto é, sangrar e aplicar sanguessugas nas feridas.
Claro que a faculdade daquele tempo — que nem fazia parte da universidade ainda — era uma instituição bem diferente dos dias atuais. O curso, com seis anos de duração, funcionava nas dependências da Santa Casa de Misericórdia, no Centro da cidade.
“A Santa Casa de Misericórdia era o maior hospital voltado para os pobres. Era o único que atendia qualquer pessoa. E gratuitamente aos que não podiam pagar”, relata Gisele. A historiadora da Fiocruz chama atenção para um fato anterior à pandemia e que seria determinante para a criação dos hospitais de campanha da época por Carlos Chagas, formado pela Faculdade de Medicina. “A Misericórdia já estava lotada. É como hoje, onde já está se vendo o esgotamento do sistema de saúde”, diz.
Mesmo contando todos os hospitais da Santa Casa — existiam outras unidades fora da Rua Santa Luzia —, estima-se que existiam em torno de 900 leitos para uma cidade com quase 1 milhão de habitantes. “Aonde você fosse no Rio de Janeiro, os maiores cargos eram exercidos por professores da Faculdade de Medicina”, informa Gisele. A única exceção seria a Policlínica Geral do Rio. “E os alunos também se engajaram no tratamento dos doentes. E se voluntariavam nas outras unidades de saúde”, acrescenta.

CONTEXTO
Até a deflagração da epidemia, só existiam outras seis faculdades de Medicina em todo o país: a de Salvador (Bahia), duas no Paraná, a do Instituto Hahnemanniano (fundada em 1912, que se tornará a Escola de Medicina e Cirurgia da UniRio), a de São Paulo, e a de Minas Gerais.
Mas nenhum lugar do mundo estava preparado para algo como a gripe espanhola. Mesmo o qualificado corpo docente da faculdade do Rio, “composto, em sua maioria, por médicos nacionais, advindos das principais Faculdades de Medicina do país, localizadas no Rio de Janeiro e em Salvador”, informa a historiadora Caroline Pritsivelis, mestre em Saúde Perinatal pela Maternidade Escola da UFRJ. “A despeito do currículo do curso de Medicina no início do século passado contar com disciplinas de Microbiologia e Higiene, esses conhecimentos ainda eram muito incipientes”, completa Caroline.
A faculdade sequer contava com um periódico próprio. O principal jornal da área no Brasil era o “Brazil-Médico”, criado pelo grupo da Policlínica Geral do Rio de Janeiro. “A pesquisa na época era muito rudimentar”, explica o professor Braga.

DEPOIS DA PANDEMIA
Para Gisele, uma das consequências pós-pandemia de 1918 é a vitória do discurso de que a saúde pública não poderia ser apenas uma preocupação de governantes locais. “Não adiantava o federalismo trazido pela Constituição de 1891. De modo geral, a saúde pública sempre foi uma questão estratégica dos governos centrais”, avalia a pesquisadora da Fiocruz.
Outro desdobramento, para a historiadora da Fiocruz, é um movimento muito grande pela criação de faculdades de Medicina. “Você precisa desse espaço, que não é só da prática médica, mas de espaço de reflexão do conhecimento médico, que se reflete na prática”.
O professor Antônio Braga segue a mesma linha da pesquisadora da Fiocruz: “Nós não tínhamos no Brasil um Ministério da Saúde. Nossos políticos percebem que é importante ter um Departamento Nacional de Saúde Pública (DNSP), que foi chefiado por Carlos Chagas, e seria o embrião do ministério”.
Para Braga, o grande legado da Covid-19 para o Brasil é o mesmo da gripe espanhola: necessidade de valorização da saúde pública. “E isso, hoje, é valorizar o Sistema Único de Saúde (SUS)”.

DE ESCOLA DE CIRURGIA À UNIVERSIDADE DO BRASIL

Durante o período colonial, as universidades eram proibidas no Brasil. Uma das razões era a tentativa de impedir a circulação de ideias que pudessem conduzir à independência. Uma situação que muda radicalmente com a chegada da corte portuguesa, fugindo de Napoleão.
O curso médico no Rio de Janeiro foi inaugurado como Escola Anatômica, Cirúrgica e Médica, em 1808. Sua sede inaugural foi o Hospital Real Militar e Ultramar que funcionava no Morro do Castelo. Em 1º de abril de 1813, uma série de reformas modifica não apenas o nome da Instituição, agora Academia Médico-Cirúrgica do Rio de Janeiro, mas amplia as instalações do curso, que passam a contar com três salas na Santa Casa da Misericórdia. D. Pedro II, em 1854, inaugura o Pavilhão Novo, com 11 novas enfermarias. A melhoria estimulou a mudança da Direção da Faculdade de Medicina, em 1856, para o prédio do Recolhimento de Órfãs da Irmandade da Misericórdia, vizinho ao Hospital Geral.
Sob um regime didático mais organizado, em melhoradas instalações, não tardaram a surgir conflitos entre a direção da Misericórdia e a Faculdade de Medicina. O que se agravou com a vinda das irmãs vicentinas, em 1852, com funções não apenas administrativas, como também técnicas, para as quais não tinham a mínima formação. Isso não agradava aos professores, muito menos aos alunos, que eram permanentemente tolhidos em seu processo de aprendizagem.
A falta de acordo entre a Provedoria da Irmandade da Misericórdia e a Congregação da Faculdade de Medicina, desde os meados do século XIX, provocava a necessidade de construção de uma sede independente para o curso.
O local escolhido para a empreitada seria um terreno pertencente à própria Santa Casa, na vizinhança do Hospício de Pedro II (atual Palácio Universitário, no campus da Praia Vermelha). Em 12 de outubro de 1918, foi inaugurado o prédio para abrigar a já centenária escola médica do Rio de Janeiro, na Praia Vermelha. Estavam presentes o Presidente da República Wenceslau Braz e altas autoridades da Administração Pública.
A Faculdade de Medicina funcionou como escola isolada até 7 de setembro de 1920, quando foi criada, por Decreto, a Universidade. Em 1965, a Universidade do Brasil passou a ser denominada Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e, em 1973, foi determinada a transferência da Faculdade de Medicina para o Campus da Cidade Universitária, na Ilha do Fundão, onde se encontra atualmente. (com informações do professor Antônio Braga, da historiadora Caroline Pritsivelis e do site da Faculdade)

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