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Screenshot 15As ciências biomédicas não são as únicas que têm algo a dizer sobre a Covid-19. Uma pequena amostra do potencial da interdisciplinaridade para compreender o fenômeno foi o seminário “O que a história ensina (e não aprendemos) com as pandemias?”, promovido pelo Instituto Nutes de Educação em Ciências e Saúde, na quarta-feira (15). A sala virtual, com cem lugares, ficou lotada. Outras 150 pessoas chegaram a solicitar participação. O debate pode ser resgatado pelas redes sociais do Instituto (https://bit.ly/3cD533f).
“Se você pensar que o lavabo surge na arquitetura para que as pessoas tivessem um lugar perto da porta para lavar as mãos, temos a dimensão da importância dos diferentes conhecimentos para entender os sentidos de uma pandemia”, argumentou Isabel Martins, uma das pesquisadoras do Instituto, em referência à gripe espanhola, de 1918.
Coube aos historiadores Claudio Bertolli (UNESP) e Heloisa Starling (UFMG) segurar a audiência plena até o fim do evento. Missão desempenhada com louvor.
A maior pandemia do século 20, que levou à morte 50 milhões de pessoas no mundo, foi o fio condutor da troca de ideias. “A gente sempre pode colocar perguntas ao passado. Não para repetir as respostas, mas para termos boas ideias para o presente”, afirmou Heloisa Starling.
Pesquisadora sobre a gripe espanhola em Belo Horizonte, Heloisa destacou algumas semelhanças com a pandemia atual.  “Havia uma ideia de que a doença não chegaria”, descreveu. “Os jornais e governos tentaram minimizar o problema. Até que não houve mais jeito”. As reações à determinação do isolamento como medida sanitária também são lembradas: “Bares e restaurantes foram fechados e o transporte de bondes elétricos, desinfetados diariamente. As aulas foram suspensas, inclusive nas quatro faculdades que iriam formar a atual UFMG. E os comerciantes reclamaram demais”.
A solidariedade permite outro paralelo. Entre os exemplos citados pela historiadora está a transformação da Faculdade de Medicina em local para atendimento ao público mais vulnerável, com alistamento de professores e estudantes. Outro, nas redes de doações, impulsionadas, à época, pela igreja católica e associações como as de imigrantes. “O tempo de peste é um tempo de solidão forçada, mas também de compaixão”, avaliou a docente.
Autor da primeira tese sobre a gripe espanhola, no Brasil (publicada em 1986), o historiador Claudio Bertolli, apresentou mais analogias. Além do discurso de desqualificação da doença, como “gripezinha”, o pesquisador apontou para um bis da narrativa do “inimigo externo”. “Em outras pandemias, os ‘culpados’ foram os espartanos, judeus, alemães. Hoje são os chineses”, exemplificou. “Os idosos viraram fonte de horror público, passando rapidamente de vítimas a disseminadores preferenciais”, criticou ainda sobre novos estigmas.
A oposição entre o discurso científico e a cultura popular foi outro aspecto abordado por pelo professor da Unesp. “Desde meados do século XIX, com o positivismo, a Ciência se apresentou como a grande comandante do progresso não só material, mas intelectual e espiritual”, disse o historiador.

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