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WEB menor 1123 p45Bruna Werneck trabalha há seis anos como designer instrucional na Fundação Cecierj, órgão vinculado à Secretaria de Estado de Ciência, Tecnologia e Inovação. A Fundação gerencia o Cederj, consórcio de universidades públicas do Rio de Janeiro que, há  20 anos  oferece cursos de graduação a distância. Em entrevista ao Jornal da AdUFRJ, Bruna relata as dificuldades para fazer EaD, incentiva o contato entre professores e alunos durante a pandemia, mas critica as soluções “inadequadas” apresentadas para o ensino básico.

 

Como é o seu trabalho?
Faço a interface entre o professor e o restante da equipe da Cecierj — temos ilustradores, por exemplo — para transformar o conteúdo bruto em uma aula online, que é um tipo específico de peça de mídia. Trabalho a adaptação da linguagem e identifico lacunas de informação. Na aula presencial, quando um conteúdo não fica muito claro, o aluno pode levantar a mão, apresentar a dúvida e o professor complementa; no ensino a distância, não tem como ficar interrompendo e pedindo ajuda. Também sugiro recursos da plataforma virtual que o professor pode utilizar para o aluno verificar a compreensão, e realizar atividades.  

Quanto tempo é gasto para produzir uma aula de EaD?
Não produzimos uma aula, produzimos uma disciplina. Existe um trabalho prévio de planejamento, de qual vai ser o encadeamento das atividades, que não é dar conta de cada aula individualmente. Normalmente, não se consegue produzir uma disciplina em menos de quatro meses, entre a chegada do conteúdo, trabalho sobre o texto e as imagens adequadas, revisão, adequação da plataforma e o treinamento do mediador que vai tirar as dúvidas dos alunos. Dura esse tempo porque nenhum dos atores estará dedicado exclusivamente a essa disciplina. Eu trabalho com mais de uma ao mesmo tempo. Os professores também têm suas aulas presenciais. E isso não é uma particularidade do Cederj.

Os cursos são 100% virtuais?
Os cursos do Cederj funcionam nos mais de 30 polos espalhados pelo estado do Rio. Neles são oferecidas sessões de tutorias; a maioria,opcionais. Para algumas disciplinas, há muitas práticas de laboratório, que são obrigatórias. E existem as avaliações a distância e avaliações presenciais. As avaliações presenciais compõem 80% da nota.

Esta parte presencial foi suspensa?
As aulas e avaliações presenciais foram suspensas por volta de 15 de março. A determinação do Cederj foi que a primeira avaliação presencial seja também feita online. O que foi bastante controverso. Hoje, as avaliações a distância ficam abertas por bastante tempo, numa lógica de apresentação de trabalho. Agora, os professores estão combinando com os alunos disponibilizar o material como uma prova normal, todo mundo ao mesmo tempo e por um determinado período. Isso é experimental. Temos que ver se a plataforma vai dar conta de tantos acessos ao mesmo tempo e também a questão de “cola”. Nós já enfrentamos problemas nos prazos finais de entrega das avaliações. A plataforma fica sobrecarregada. O nosso sistema é bastante virtual, mas tem uma perna na presencialidade. Para nós, está sendo difícil essa adaptação para ser 100% virtual.

Seria possível oferecer todos os cursos de graduação neste formato?
Não de uma hora para outra. De jeito nenhum. Além da questão do acesso dos alunos, existe essa forma diferente de interagir. É muito diferente a forma de comunicar em relação à que se dá na sala de aula.

Os cursos oferecidos online poderiam absorver as turmas dos cursos presenciais?
Vamos esbarrar numa questão técnica, pois os servidores da plataforma estão dimensionados para atender a uma quantidade de alunos, em torno de 40 mil. Em tese, poderiam. Mas isso também requer um esforço enorme de capacitar os mediadores. Tem que ver se vale a pena fazer isso, o que leva tempo. E, se quando ficar pronto, nós pudermos retornar à presencialidade?

Como vê esse debate no ensino básico?
As soluções que estão propondo são inadequadas. As escolas particulares têm a pressão de cobrar mensalidade. Com isso, apresentam qualquer coisa. E só 20% das matrículas são na rede privada. Essas famílias têm mais recursos, os pais têm maior nível educacional. Enquanto isso, a escola pública fica estigmatizada de ser lenta, de não querer fazer. Estamos ouvindo muitos relatos de pais enlouquecidos que, além de precisarem dar conta de seus trabalhos em casa, têm que atuar como tutores dos próprios filhos. Há interesses de muitas empresas em convencer todo mundo de que o caminho é esse. Eu acho cruel.

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