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bandeira adufrjFechamos esta edição do jornal no mesmo dia em que completamos um mês da quarentena. Há um mês que a universidade vem funcionando com o esforço concentrado no combate à Covid-19. É um esforço institucional muito grande, mas nenhuma “ordem superior” é capaz de produzir o que temos visto nesses dias. O empenho vai muito além do esperado cumprimento do dever. Trata-se da missão fundamental da universidade e da ciência: produzir conhecimento em defesa da vida e do bem comum. Daquele que mantém o olho fixo na lente do microscópio ao que cuida da limpeza da enfermaria, estão todos impregnados de um senso de responsabilidade e dever que não vemos tão forte em dias comuns. Também respiram o mesmo ar, e sentem o mesmo medo: o cuidado é redobrado, toda atenção é necessária para evitar o contágio e ainda há mais um desafio a ser encarado, os EPIs são poucos e difíceis de serem comprados. Nossas ações buscam expressar esse entendimento: é tão importante auxiliar o pesquisador que está lá fronteira do conhecimento quanto o funcionário terceirizado que aguarda o contrato com a nova firma. Este sentimento de pertencimento e responsabilidade que atravessa a todos nós é que faz a diferença do trabalho da universidade. Somos parte de uma instituição que trabalha dia e noite para cuidar das pessoas atingidas pela epidemia, onde muitos pesquisadores têm atravessado noites estudando, buscando entender como funciona esse novo vírus e como alcançaremos novos tratamentos.
Ao mesmo tempo, a maior parte dessa numerosa comunidade foi deixada em casa, pois esse estranho vírus nos impõe o distanciamento social como a melhor forma de combater sua expansão. Estamos numa quarentena produtiva. Os colegiados funcionam remotamente, as reuniões dos grupos de pesquisa também, mas aulas estão oficialmente suspensas. Por força da ação desastrada do Ministério da Educação e de diversas secretarias estaduais e municipais de educação, a EaD – educação a distância – se transformou numa enorme panaceia a ser combatida. Entretanto, não é ela em si que está sendo combatida por praticamente todas as entidades de classe e associações da área de educação, mas a profunda desigualdade que atravessa nossa sociedade, criando um verdadeiro abismo entre as condições de acesso dos estudantes. Manter as aulas de forma regular por atividade remota, através de plataformas virtuais, seria aprofundar e cristalizar diferenças, acirrando cenários de exclusão e abandono dos cursos. Esse problema, quando pensado para o ensino fundamental e médio, ganham proporções trágicas. E é por isso que nesta edição o destaque é para esse assunto. As plataformas podem e devem ser usadas – e as estamos utilizando – para fortalecer vínculos e aproximar as pessoas. Jamais para aprofundar as diferenças e ampliar a exclusão. Nesse sentido também nos posicionamos contra a manutenção as datas para a realização do ENEM. Pretender projetar uma aparente normalidade num cenário de sofrimento e incertezas é mais do que um equívoco político, se trata mesmo de sadismo e ação discriminatória.
Ao concluir as últimas palavras deste editorial, fomos informados de que trocaram o ministro da Saúde. Não temos nenhum apreço especial pelo que sai, e não sabemos o que esperar do que entra. Mas com um presidente negacionista e uma epidemia crescendo e prestes a produzir seus maiores estragos, aumenta nossa preocupação com a saída do único quadro do governo que respondia com um mínimo de eficiência e lucidez. Redobraremos nossa atenção e nos manteremos firmes na defesa do SUS e das ações fundadas nas evidências científicas, em defesa da vida e da saúde para todos!

Diretoria da AdUFRJ

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