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WEB menorWEINTRAUBERROU: Abraham Weintraub caracterizou o Enem 2019 como o “o melhor de todos os tempos” - Foto: Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência BrasilCamila Mascarenhas é o retrato da agonia imposta aos vestibulandos pelo ministro Abraham Weintraub. Aos 21 anos, Camila tenta pela quarta vez uma vaga no curso de Medicina. A aflição com a acirrada concorrência e os sucessivos erros do MEC durante o Enem e no Sisu criaram na estudante um complexo processo de ansiedade. “Esse concurso foi muito mais estressante que os outros que fiz, porque nada parece estar certo. Então eu fico sem saber o que fazer”, desabafou a jovem. “Quem fez o Enem este ano está inseguro quanto ao resultado”.
Ao todo, são quase milhões de brasileiros com os nervos à flor da pele diante de um ministro que trata o caso, entre o deboche a mentira. A insensibilidade do MEC começou na peça de publicidade criada para divulgar o resultado do Enem. Uma foto de duas jovens com estados de ânimo distintos, uma alegre e a outra triste, aparecia sob a mensagem “Essa sexta eu sextarei chorando com a nota do Enem”, tratando o processo como uma brincadeira, desconsiderando o peso do fracasso para os participantes da prova.
Um dia depois da divulgação dos resultados oficiais do Enem, vieram a público casos de inconsitências nas notas de alguns alunos. A reação imediata de Weintraub foi minimizar o problema, dizendo se tratar de pouco menos de 6 mil casos (o equivalente a menos de 0,1% dos participantes), transformando em estatística fria o sonhos daqueles jovens. O ministro afirmou que o problema estava resolvido, mas àquela altura o resultado da prova estava comprometido.
O Enem de 2019 foi anunciado por Weintraub como “o melhor de todos os tempos”, e o exame acabou sendo o mais problemático da sua história. A crise com as correções se estendeu, e a Justiça Federal de São Paulo acatou um pedido da Defensoria Pública da União para que a divulgação dos resultados dos SiSU fossem suspensas até que o MEC e o Inep esclarecessem o que aconteceu na correção das provas. A liminar foi derrubada pelo STJ no dia 28, mas, enquanto vigorou, o MEC suspendeu a divulgação das notas do ProUni, numa espécie de chantagem.
Os problemas na condução do Enem deixaram as universidades em alerta, temendo que o atraso na divulgação do resultado do Sisu comprometesse a ocupação das vagas oferecidas. “Nossa expectativa era que o problema se resolvesse logo, para não precisarmos alterar nosso calendário de matrícula”, contou a pró-reitora de Graduação da UFRJ, professora Gisele Viana Pires. “Um atraso no calendário poderia comprometer as etapas de reclassificação, o que levaria ao risco de termos vagas ociosas nos cursos da Universidade”, ela explicou.
Embora a postura do ministro da Educação seja a de fingir normalidade, o primeiro Enem da sua gestão vai ser assombrado pelo risco de judicialização. Pelo menos 172 mil alunos entraram em contato com o MEC questionando a sua nota, e não receberam nenhuma resposta oficial. Eles ficarão com a mesma dúvida que Camila, para quem o problema não foi resolvido. “Sem ter certeza se eles resolveram o problema da correção, eu fico me perguntando se a minha nota não está errada, e se esse erro me impediu de ser aprovada”, lamentou a jovem.

HISTÓRIA DE SUCESSO
Até 2016, o Enem foi aplicado e corrigido por um consórcio liderado pelo Centro Brasileiro de Pesquisa em Avaliação, Seleção e Promoção de Eventos (Cebraspe), antigo Cespe, da Universidade de Brasília (UnB). Com a criação do SiSU, em 2010, o exame começou a ser adotado pelas principais universidades públicas do Brasil. A UFRJ adotou a prova em 2011.
Reitor da UNB entre 2008 e 2012, o professor José Geraldo de Sousa acompanhou de perto a ampliação do exame. “O Enem exige enorme responsabilidade, porque trata-se de uma operação gigantesca e muito sensível, talvez só superada em tamanho pelas eleições”, explicou o progessor.
Foi o Cespe que passou a adotar a Teoria da Resposta ao Item para a correção do Enem, fazendo com que a nota final seja definida não pelo número total de acertos, mas pela consistência do candidato no domínio de cada assunto. “O TRI permite soluções criativas para lidar com assimetrias do sistema”, explicou o ex-reitor, para quem a expertise do Cespe foi fundamental no sucesso do Enem. “É uma agência com uma enorme qualificação acadêmica, acumulada no contato permanente com a estrutura pedagógica da UnB”.

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