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WEB menor1115 p7“A crise hídrica que se vive no Rio é o resultado de séculos de descaso com as bacias hidrográficas dos rios Paraíba do Sul e Guandu”, analisa um dos grandes pesquisadores brasileiros sobre o tema, o professor Francisco Esteves, biólogo especializado em águas continentais. “A sociedade fluminense não considerou fundamental e estratégico cuidar das bacias do Rio de Janeiro”, critica o docente.
A análise de Esteves cai como uma luva para entender o que se passa nas torneiras dos cariocas há pelo menos três semanas, quando seus moradores e os da Baixada Fluminense foram surpreendidos com água da cor de barro e cheiro de esgoto.
Na semana passada, a UFRJ publicou uma nota técnica sobre a qualidade da água, assinada por sete professores pesquisadores. Entre eles, Esteves.
De áreas distintas, como a Escola de Química, o Departamento de Recursos Hídricos e Meio Ambiente da Escola Politécnica e o Departamento de Microbiologia Médica do Instituto de Microbiologia Paulo de Góes, o documento mostra que a geosmina, substância detectada na água distibuída pela Cedae, não é tóxica, mas a sua presença, além de alterar o gosto da água, pode ser um indicativo da presença de bactérias que ofereçam risco para a saúde. “A geosmina indica a presença de substâncias químicas altamente perigosas para a população”, explica o professor.
Para o docente, a solução do problema passa por atuação em três frentes: investimento em tratamento de esgoto com modernização do sistema, preservação da mata ciliar na região dos rios que abastecem as cidades e aumento da fiscalização. “O saneamento básico do estado do Rio de janeiro é do século XVIII”, conta Esteves. “Foi uma surpresa saber que a Cedae não usa carvão ativado, já que todas as capitais do Brasil usam o carvão”.
Para Esteves, são essenciais a preservação e a restauração da mata ciliar dos rios da bacia do Paraíba do Sul e do Guandu, e um aumento da fiscalização e da atuação do poder público nessa preservação, com uma maior integração entre os órgãos de fiscalização e de saúde pública.
A crise é grave, mas pode piorar independente de qualquer ação no estado do Rio. Segundo o professor Esteves, a Amazônia tem um papel importante para os rios da região Sudeste. “Os chamados ‘rios voadores’. É o vapor d’água que vai para atmosfera e vem para o Sudeste. Quando esse vapor encontra o vapor das florestas do Paraíba do Sul, ela precipita”, destaca. Sem Amazônia ou floresta no Paraíba do Sul, as chuvas diminuem.

NOTA
A nota assinada pelos pesquisadores da UFRJ no dia 15 de janeiro faz um diagnóstico da situção da Estação de Tratamento de Água do Guandu, responsável por abastecer a Região Metropolitana do Rio de Janeiro. Para os professores há “uma ameaça real à segurança hídrica” da região, já que o sistema Guandu sempre precisou de água do Paraíba do Sul, e ambos não receberam o devido cuidado para atender a população. Para piorar, o crescimento urbano desordenado aumentou o volume de esgoto sem tratamento despejado nos Rios dos Poços, Queimados e Ipiranga, afluentes do Guandu. A tendência é que a poluição no rio se acentue nos próximos anos.
A nota termina com recomendações às autoridades públicas para resolução da crise. No curto prazo, os pesquisadores sugerem que sejam adotadas no curto prazo: maior transparência nas políticas de gestão dos recursos hídricos; modernização desse processo; realização de campanhas de conscientização para a população; e a divulgação dos problemas no tratamento da água.

Plano de contingência para água na Maternidade Escola

O recesso de fim de ano e o período de férias dos estudantes amenizaram os problemas da crise hídrica nas unidades da UFRJ. No Fundão e na Praia Vermelha, não houve o registro de grandes problemas. Segundo Marcos Maldonado, prefeito universitário, a água consumida por professores e técnicos nas unidades acadêmicas já era mineral. Alguns institutos, no entanto, precisaram tomar medidas para contornar o problema criado pela água distribuída pela Cedae e que há três semanas chega barrenta às torneiras dos cariocas com cor cheiro e gosto ruins.
Na Maternidade Escola, a diretoria decidiu oferecer água mineral para as pacientes.“Nós fizemos a troca dos filtros. Mesmo assim, as pacientes começaram a reclamar do gosto da água”, contou Fernando Vieira, diretor de logística e infraestrutura da Maternidade. “Optamos então por oferecer água mineral. Como já contávamos com o fornecimento para consumo interno, foi simples adotar essa medida”.
Segundo o diretor, as nutricionistas garantiam que a água era potável, mas pediram a substituição por água mineral para oferecer mais segurança às pacientes.
Embora simples, a medida traz um custo extra para a maternidade. O temor da direção é que a distribuição de água não se normalize. “No médio prazo, isso aumentaria nosso gasto, e diante das dificuldades financeiras, quanto menos despesas, melhor”, explicou Vieira.
Na principal unidade de saúde da UFRJ, o Hospital Universitário Clementino Fraga, no Fundão, a crise hídrica chegou aos bebedouros.
Segundo nota da assessoria, os “bebedouros disponíveis para o público que circula no local estão com a qualidade da água comprometida, como em toda a cidade, cabendo ao usuário avaliar se deve ou não consumí-la”.
A direção do hospital informa que os pacientes internados já recebiam água mineral antes da crise.

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