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WhatsApp Image 2025 08 12 at 18.55.20 1Foto: DivulgaçãoA obra “Existo, logo penso: histórias de um cérebro inquieto”, do professor Roberto Lent, foi a vencedora do Prêmio Jabuti Acadêmico na área de divulgação científica. O livro, de 2024, une o conhecimento científico publicado em crônicas no Jornal O Globo a registros da vida do pesquisador. Emérito da UFRJ desde 2019, ele se redescobre em novas linhas de pesquisa, ao mesmo tempo em que resgata uma coleção de livros infantis. O Jornal da AdUFRJ conversou com o docente, que recebeu com surpresa o resultado final da premiação. Confira.

Jornal da AdUFRJ – Como foi ganhar o prêmio?
Roberto Lent –
Fiquei um pouco surpreso. Não estava acreditando muito. Havia um outro livro muito bom concorrendo, da Academia Brasileira de Ciências, chamado ‘A evolução é fato’, feito por um grupo de trabalho muito competente. Eu acreditava que ele ganharia. Foi uma boa surpresa.

Como surgiu a ideia do livro?
Eu tinha uma coluna no O Globo, chamada ‘A hora da Ciência’ e, depois, ‘Ciência’. Foram 200 crônicas publicadas em quatro anos. Depois que eu decidi parar, porque me demandava muito tempo de leitura – já que para escrever bem é preciso ler muito –, eu resolvi aproveitar para fazer uma coletânea desses textos. Achei, no entanto, que ficaria muito monótono de ler só as crônicas e resolvi dar um tempero com experiências da minha própria vida. É a divulgação científica com toque de afeto.

Pode contar algumas delas?
Eu tenho uma filha que tem uma má-formação congênita no cérebro. Então, conto esse episódio conectado à crônica que fala sobre essa má-formação (agenesia do corpo caloso, uma condição rara em que os dois hemisférios do cérebro não se comunicam de forma convencional) e as últimas descobertas. É uma homenagem à Isabel. Outro episódio que conto é que fui preso pela ditadura. Fiquei numa solitária, sem acesso a nenhum tipo de leitura e encontrei empatia em um soldado da Marinha. Ele passou a enrolar a minha comida em um jornal, para que eu tivesse algo para ler. E a crônica que vem na sequência fala sobre a empatia. Então, eu relacionei esses momentos da vida com as crônicas. As páginas da minha vida são azuis com tipologia branca. Já as crônicas têm páginas brancas com tipologia preta.

A divulgação científica sempre foi uma parte importante de sua trajetória. Qual a importância de um prêmio nessa área?
Esse prêmio é um passo importante no sentido de criar um ecossistema de divulgação científica que possa conversar com o público leigo. A divulgação científica admite vários meios, permite qualquer formato. Precisamos aproximar o público leigo da Ciência, sobretudo em tempos de desinformação e fake news. O país precisa aproveitar os talentos da divulgação científica, dar ferramentas, para que cresçam essas ações.

O livro foi publicado pela Editora Instituto Ciência Hoje, entidade que o senhor ajudou a fundar. É um início de novo ciclo para o senhor?
Sim, eu fui um dos fundadores da Revista Ciência Hoje, junto com Ennio Candotti, Alberto Passos Guimarães, Gilberto Velho. A revista, que foi crescendo, se tornou um instituto. Recentemente, o instituto criou a editora e tive a felicidade de ser o primeiro a editar um livro. A grande coincidência é que escrevi um artigo na primeira edição da Revista Ciência Hoje e o primeiro livro da editora. É um recomeço, digamos assim. O ICH é uma instituição a qual tenho muito afeto.

Quais são os próximos projetos?
Estou trabalhando na nova edição da coleção de livros infantis “As aventuras de um neurônio lembrador”. É uma série de cinco livros que foi lançada pela editora Vieira & Lent, que eu tinha com a minha mulher. A editora fechou e os livrinhos se esgotaram. Então vamos relançar com a editora ICH. Estão sendo ilustrados e devem estar nas livrarias esse ano ainda.
Há outros dois livros. O “100 bilhões de neurônios”, que é um livro didático, atualizado em 2023; e “Cérebro aprendiz”, de 2019, no qual estou trabalhando na atualização. As coisas na área científica ficam velhas numa velocidade cada vez maior.

Como o senhor vê essa crescente pressão pelo aumento de publicações científicas?
A métrica do sistema é muito baseada em números, o que é um problema, porque número não quer dizer nada. Você pode publicar muito com baixa qualidade ou pode publicar pouco com muita qualidade. Existem pesquisadores com 600 trabalhos publicados. É um valor, mas não é um valor maior do que o de alguém que tem 100 trabalhos com profunda qualidade.
As métricas ainda são pouco qualitativas. É preciso pensar em outras métricas. Ao mesmo tempo, o grau de cooperação entre os pesquisadores aumentou. As técnicas utilizadas em cada trabalho são muito variadas, o que acaba reduzindo um pouco essa pressão por publicar individualmente, já que muitos artigos são construídos por grandes grupos.

O senhor continua fazendo pesquisa, além de trabalhar nos livros?
Sim e continuo publicando artigos científicos.

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