Um dos diferenciais da UFRJ é oferecer aos estudantes de cursos como Geologia, Geografia e Biologia a experiência de realizar trabalhos e aulas de campo para estudar in loco os temas de suas aulas. O problema é que essas saídas para campo estão cada vez mais comprometidas pelas dificuldades orçamentárias enfrentadas pela universidade. Os recursos são insuficientes para dar conta da manutenção dos veículos que levam os estudantes para os trabalhos externos.
Para se ter uma ideia, no primeiro semestre do ano passado, apenas três dos 74 trabalhos de campo previstos pelo Instituto de Geociências foram realizados. A frota oficial da universidade tem dez ônibus. Os mais novos são de 2010. O mais antigo, de 2005. No caso das vans, são 22 fabricadas entre 2005 e 2011.
O tema levou estudantes de diferentes períodos do curso de Geologia, do Instituto de Geociências, ao Conselho Universitário na quinta-feira (27). As agruras enfrentadas pelos alunos foram relatadas por Mariana Garcia, do quinto período. “Desde 2017 temos um processo aberto para ter uma frota nova. No ano passado, só cerca de 25% dos nossos campos obrigatórios saíram”, criticou. “O campo está na ementa do nosso curso. O geólogo é formado no campo”, ponderou a estudante.
“Em fevereiro deste ano, o ônibus quebrou deixando os alunos esperando os veículos da seguradora por 32 horas”, relatou Mariana. “Isso a 13 horas do Rio de Janeiro. Esperamos sem notícia nenhuma. Os nossos motoristas ficaram dormindo lá para garantir a conservação do patrimônio da UFRJ e dos nossos bens”.
Outro grave relato feito pela aluna foi a falta de freio do ônibus durante outro trabalho de campo. “Temos relatos de estudantes que desceram a Serra das Araras com esse ônibus sem freio”, disse. “Caso não haja uma conversa franca e solução por parte da reitoria, nós entraremos em greve. Não retornaremos às atividades em sala de aula”, afirmou.
A reitora em exercício, a professora Cássia Turci, afirmou que a administração central está preocupada com a questão da frota da universidade e empenhada em solucionar o problema, mas esbarra na falta de recursos. “Não é razoável alugar transporte porque os locais onde vamos nos trabalhos de campo muitas vezes são em regiões que os veículos alugados não acessam”, explicou. “A gente precisa preservar nosso patrimônio. O aluguel não é uma solução”, disse.
Turci disse que já há uma reunião marcada para discutir a possibilidade de compra de um ônibus. “Não basta ter o recurso, a gente também precisa ter a autorização para esse recurso”, disse. “Esse ano recebemos R$ 2 milhões para investimento e o ônibus custa em torno de R$ 1,5 milhão”, ilustrou. “Esperamos resolver esta questão em breve para que todas as unidades que possuem trabalho de campo possam ter segurança nas atividades”, afirmou.
ADUFRJ VAI SE REUNIR COM A REITORIA PARA MEDIAR SOLUÇÃO PARA O IGEO
A diretoria da AdUFRJ se reuniu com o diretor do Instituto de Geologia da UFRJ, professor Edson Farias Mello, na última segunda-feira, dia 24. Presidenta do sindicato, a professora Mayra Goulart colocou a seção sindical à disposição do instituto, para mediar negociações com a reitoria no sentido de solucionar os problemas envolvendo a frota da universidade.
A assessoria jurídica do sindicato participou do encontro e analisa todos os ofícios e documentações passadas pela direção do IGEO ao gabinete do reitor e às pró-reitorias de Graduação e Gestão e Governança.
Na próxima segunda-feira, dia 31, a AdUFRJ se reunirá com a administração central para tratar da demanda da comunidade acadêmica do Instituto de Geologia. “Queremos atuar junto à reitoria para que os professores do IGEO se sintam resguardados em seus direitos”, analisa Mayra. “Os docentes são duplamente vulnerabilizados, porque o transporte inadequado coloca em risco sua saúde e segurança e porque eles são responsáveis pelo conjunto de alunos”.
Diretor do instituto, o professor Edson explica que pediu ajuda à AdUFRJ porque as condições do veículo põem em risco a integridade física não só dos estudantes, mas dos trabalhadores que garantem as saídas para o campo. “A UFRJ infelizmente não está nos garantindo condições de trabalho para que nós, professores e técnicos, exerçamos o nosso trabalho”, diz. “Se um veículo quebra na estrada, esse evento é um potencial risco à vida de todos que estão envolvidos na viagem”.
O professor Edson Mello conta que desde 2019, quando assumiu a primeira gestão do instituto, aponta a precariedade da frota da UFRJ. “Naquela época os veículos já não tinham condições de realizar essas viagens. Seis anos depois, temos os mesmos veículos em condições ainda piores”, critica.
De acordo com o docente, não há, também, garantias de formação para os estudantes. No caso da Geologia, por exemplo, 25% da carga horária do curso é composta por atividades de campo. “Sem esses 25%, não há como o aluno integralizar o seu curso”, observa o diretor. O estudo da diversidade geológica brasileira, tanto para ensino, coleta de dados e pesquisa, também é apontado como essencial pelo diretor do IGEO.“Não há possibilidade de um estudante se formar observando somente a formação geológica do Rio de Janeiro”, diz. “Estamos falando de um país continental, que possui formações geológicas múltiplas”, explica. “Há mina de diamante no Rio? De ouro? Não. Nós temos que ir aonde elas estão, por isso nossas viagens são mais longas e a logística se torna mais complexa”, justifica.