A Capela de São Pedro de Alcântara está localizada na Ala Central do Palácio Universitário. Segundo o Fórum de Ciência e Cultura, unidade responsável pela capela e pelos entes museais da UFRJ, o custo estimado de restauração de toda a Ala Central, incluindo a Capela, é de R$ 37 milhões. A projeção foi feita há quatro anos e precisa de revisão. Não há, ainda, um projeto específico para o restauro completo da capela.
João Carlos Nara Jr., assessor de Patrimônio Cultural do Fórum, explica que há passos anteriores à restauração que também demandam recursos. “A prioridade zero é a aquisição de uma nova subestação elétrica para dar segurança energética para o prédio e viabilizar as obras de reconstrução”, explica.
O custo estimado desta nova subestação, que precisa ser implantada do lado de fora do edifício, é de R$ 3 milhões. “Todo o cabeamento que alimenta a energia do prédio passa por baixo da capela. Uma obra desse porte demanda alto volume de energia e não é seguro realizá-la com as condições que temos atualmente”, explica Nara. “Precisamos da subestação e de uma reforma elétrica para, então, pensar em reconstrução”.
O tempo necessário para a recuperação da ala, segundo o assessor, é de pelo menos três anos. “Não é algo que se consiga fazer da noite para o dia. Envolve recursos, políticas e ações de longo prazo”, afirma.
Após a conclusão dessa restauração, a capela ainda necessita de mais uma etapa para sua efetiva reconstrução: a arquitetura de interiores. “Não há projeto para esta fase, porque dependemos das etapas anteriores estarem concluídas. É a parte final de reconstrução do altar, das esquadrias, dos detalhes em madeira, da ornamentação interna”, explica.
A professora Christine Ruta, diretora do Fórum, reclama da falta de recursos. “Sob nossa responsabilidade estão também o Museu Nacional, o Canecão. É uma ‘Escolha de Sofia’ diária. Qual filho salvar frente a um precipício?”, questiona.
LIMA BARRETO: A GENIALIDADE APRISIONADA NO HOSPÍCIO PEDRO II
Festa de São Sebastião. Uma enfermeira, com consentimento da alta administração do hospício, certamente
uma canivetada na constituição, organizou na capela uma festa, flores, missa, sermão etc.
Na tarde de domingo, levou-me a passear pela chácara do hospício. É muito grande e, apesar de estiolada e maltratada, a sua arborização devia ter sido maravilhosa. Os ricos de hoje não gostam de árvores... O hospício é bem construído e, pelo tempo em que o edificaram, com bem acentuados cuidados higiênicos. As salas são claras, os quartos amplos, de acordo com a sua capacidade e destino, tudo bem arejado, com o ar azul dessa linda enseada de Botafogo que nos consola na sua imarcescível beleza, quando a olhamos levemente enrugada pelo terral, através das grades do manicômio, quando amanhecemos lembrando que não sabemos sonhar mais...
As transformações e efervescência política, econômica e cultural do final do século XIX e início do século XX no Brasil alimentaram a alma e os escritos de um dos maiores nomes da nossa literatura: Lima Barreto. O escritor nasceu exatamente sete anos antes da abolição da escravatura, em 13 de maio de 1881, no Rio de Janeiro.
Além de ensaísta e romancista, foi jornalista e crítico social que fez importantes denúncias contra as injustiças de sua época. Suas obras revelam um olhar profundo sobre a sociedade brasileira, especialmente em relação à questão racial e à condição dos marginalizados.
No entanto, por trás de sua genialidade literária, Lima Barreto enfrentou uma batalha interna que o levaria a um dos momentos mais dramáticos de sua vida: sua internação no Hospício Pedro II, hoje Palácio Universitário da UFRJ, na Praia Vermelha.
Em 1914, após anos de luta contra a depressão e o alcoolismo, Barreto foi internado pela primeira vez. O que deveria ser um refúgio para a cura, se transformou num pesadelo. O ambiente opressivo e a falta de compreensão sobre sua condição mental apenas agravaram seu sofrimento.
Durante o tempo no hospício, Barreto se sentia prisioneiro em um mundo que não compreendia sua dor. Sua experiência trouxe à tona a necessidade de um olhar mais humano e empático para o sofrimento mental.
As paredes do hospício, hoje palácio, foram testemunhas de cartas e textos que deram origem ao livro “O cemitério dos vivos”. Nele, Lima Barreto conta a história do protagonista Vicente Mascarenhas e sua luta contra o alcoolismo. Escrito entre 1919 e 1920, foi publicado postumamente, em 1957. Num dos trechos, o autor parece ter uma premonição: “Um maluco vendo-me passar com um livro debaixo do braço, quando ia para o refeitório, disse: — Isto aqui está virando colégio”.
O escritor morreu em 1922, sem ver o antigo hospício se transformar em universidade.