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WhatsApp Image 2025 01 17 at 17.58.51 3Foto: Kelvin MeloUm lugar repleto de histórias e afetos, mas com problemas estruturais que colocam em risco milhares de pessoas que por lá circulam todos os meses. Para valorizar a primeira parte dessa descrição e ajudar a combater a segunda, um grupo de amigos e ex-alunos da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU) arregaçou as mangas e buscou uma solução que já se mostrou promissora: uma campanha de doações para melhorar a infraestrutura do edifício Jorge Machado Moreira, o JMM, que abriga a faculdade e a Escola de Belas Artes da UFRJ (EBA), além do Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano e Regional (IPPUR). A iniciativa quase dobrou a meta prevista para 2024 e entra em 2025 com fôlego renovado.
“Conseguimos aprovar um projeto de recuperação dos sistemas do JMM na Lei Rouanet, sobretudo para prevenção e combate a incêndios. E ultrapassamos a meta em 2024 só com doações de pessoas físicas. Vamos este ano avançar na captação também de pessoas jurídicas”, se entusiasma o arquiteto Carlos Fernando Andrade, ex-aluno da FAU e presidente da AMEAFAU-UFRJ (Associação dos Ex-alunos e Amigos da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da UFRJ), associação de direito civil fundada em 13 de junho de 2022 que reúne egressos do corpo discente, docentes e técnicos da faculdade. A associação foi reconhecida e oficializada pela Congregação da FAU em 3 de agosto de 2022.

AFETO E AFLIÇÃO
Em seu segundo mandato à frente da AMEAFAU — 2022-2024 e 2024-2026 —, Carlos Fernando conta que a associação nasceu para preservar a memória da FAU e mobilizar recursos para restaurar o JMM. As doações para o projeto de recuperação dos sistemas do edifício fecharam 2024 em R$ 50 mil — superando com folga os R$ 27 mil previstos como meta para o ano. “Com o projeto, nós temos condição de propor a obra que é necessária. Sem projeto, a gente não consegue fazer nada”, diz Carlos Fernando. O objetivo final é arrecadar R$ 300 mil.
O projeto é crucial para a execução de obras emergenciais para redução de riscos, como a dos sistemas de prevenção a incêndio, pânico e descargas atmosféricas. “O prédio da FAU sofreu pelo menos dois incêndios recentes e a gente via isso com muita aflição. Então criamos a associação e começamos a batalhar usando a internet. Já conseguimos fazer algumas coisas pequenas na FAU, coisas que para uma entidade pública é difícil fazer, como pintar uma parede, trocar um vidro, comprar uma tomada. Temos uma ótima parceria com o Centro Acadêmico (CAFAU) e a direção”, relata Carlos Fernando.
No dia 3 de outubro de 2016, um incêndio atingiu o oitavo andar do JMM. O fogo, a fuligem e a água colocaram em risco o mais completo arquivo relacionado à Arquitetura e ao Urbanismo brasileiros, com 300 mil itens, incluindo 50 mil documentos e cinco mil fotografias. Em 20 de abril de 2021, outro incêndio destruiu dependências administrativas e parte das instalações do Núcleo de Pesquisa e Documentação da FAU, levando à destruição de documentos.

“MUITO RUIM”
O mais recente levantamento sobre as condições estruturais do JMM confirma a aflição descrita por Carlos Fernando Andrade. Segundo o relatório da vistoria REAB-2024 do Escritório Técnico da Universidade (ETU), divulgado em dezembro passado, o edifício foi classificado como “muito ruim” em termos de estado de conservação (veja matéria sobre o relatório completo nas páginas 4 e 5). O documento indica a necessidade de uma reabilitação estrutural do tipo “profunda” nas três partes que compõem o imóvel: estrutura e cobertura; fechamentos e acabamentos externos e internos; e instalações.
“Pode-se analisar também que as anomalias de conservação e desempenho do tipo grave estão distribuídas entre os três grupos que compõe a edificação, indicando que há anomalias que representam situações de risco imediato para os usuários em todos os grupos do imóvel”, alerta o relatório. Entre as 92 avaliações realizadas pelo ETU em toda a UFRJ no período 2023/2024, o JMM é o segundo imóvel com estado de conservação mais deteriorado, atrás apenas do Museu Nacional, totalmente destruído pelo incêndio de 2018. O investimento estimado para a reabilitação total do edifício é de R$ 198 milhões.

PARCERIA
Para o professor Guilherme Lassance, diretor da FAU, as falhas de estrutura do JMM são motivo de apreensão constante. “Quando voltamos da pandemia de covid-19 identificamos muitas carências de investimentos na UFRJ e, mais especificamente, no edifício JMM”, afirma. “Veio nesse contexto a criação da associação de ex-alunos, que era um antigo desejo nosso. A campanha de doações para o projeto de recuperação dos sistemas é muito importante para nós. Esse projeto pode garantir melhores condições de segurança às pessoas”, avalia Lassance.
O diretor lembrou que o edifício é tombado pelo Instituto Rio Patrimônio da Humanidade, da Prefeitura do Rio, desde 2016. E que os dois incêndios recentes ligaram um sinal de alerta em relação à segurança de alunos, professores e técnicos. “A campanha de doações é uma possibilidade que se abriu para nós. A associação é de amigos e de ex-alunos da FAU, mas conversei com a diretora da EBA, a professora Madalena Grimaldi, que está empenhada em nos ajudar a captar as verbas. É de interesse de todos que ocupam o prédio. Em outra frente, estamos em processo de negociação com o Corpo de Bombeiros para a instalação de escadas de escape de incêndio externas”.
A diretora da EBA também enxerga na campanha uma possibilidade de melhorar a infraestrutura do JMM. “A iniciativa é excelente. A gente vive num momento muito difícil de custeio para fazer qualquer obra, então arrecadar verbas externamente é positivo. Isso pode ajudar a resolver parte dos problemas do JMM, que são muitos. Há hoje uma parceria muito forte entre a EBA e FAU. Temos projetos coletivos, como o da biblioteca integrada do segundo andar. Eu ainda tenho pouco mais de um ano de direção, fico até fevereiro de 2026, e pretendo fortalecer essa parceria com a FAU”, diz a professora Madalena Grimaldi.
A mudança da sala da direção da EBA do sétimo para o segundo andar do JMM — onde fica a direção da FAU — é outro movimento concreto dessa parceria. “Há um impacto político importante nessa mudança, sinaliza essa parceria. Durante muito tempo, a EBA se sentiu como uma inquilina indesejável no JMM, mas hoje há uma sensação de pertencimento”, acredita a diretora.

Para mais informações sobre a campanha de doações da AMEAFAU acesse https://ameafau.org.br/ ou https://www.instagram.com/ameafau/

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