O Parque Tecnológico da UFRJ vai sediar, a partir do próximo ano, um Centro de Inovação para a Neoindustrialização dos integrantes do BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul são os países-membros originais). O anúncio aconteceu durante um fórum de reitores realizado em outubro, na Rússia, e os detalhes foram informados ao Consuni na semana passada. O reitor da UFRJ participou do encontro.

O objetivo será produzir tecnologias sustentáveis para resolver problemas comuns ao bloco, como mudanças climáticas extremas, desigualdade social e insegurança alimentar. “Esse bloco é muito forte. E, quando entram os outros países, como o Irã e Arábia Saudita, creio que é um polo geopolítico que vai fazer uma mudança no mundo”, afirmou o diretor do Parque, professor Romildo Toledo, que também viajou para a Rússia e apresentou ao Consuni um balanço da viagem.

Uma das funções do novo Centro de Inovação será ajudar a reter talentos no país. “A indústria brasileira caiu na contribuição para o Produto Interno Bruto, de 23% para 11%. Isso afeta o emprego para jovens que formamos. O país hoje forma 55 mil mestres e doutores. E não temos espaço para todo esse contingente”, disse Romildo.“Nós perdemos nossos talentos para EUA e Europa. Nós precisamos estruturar nosso ecossistema para reter talentos. Dar a eles oportunidade de trabalho de qualidade, que eles vibrem de fazer”, continuou o diretor do Parque.

ACORDOS
Além de pavimentar o caminho para o Centro BRICS de Inovação, a viagem da reitoria ao exterior pode render um campus internacional para a instituição.

Superintendente de Relações Internacionais da universidade, o professor Papa Matar informou que foram assinados 12 acordos de cooperação acadêmica com universidades russas e chinesas. Uma das iniciativas em estudo seria a criação de um espaço da UFRJ em Macau. “É muito preliminar ainda. No caso de Macau, a garantia virá da China, que pagará os custos”, disse Papa.

As apresentações sobre as conquistas internacionais da universidade aconteceram na mesma sessão do Consuni em que a crise da Educação Física e dos vigilantes terceirizados ganharam destaque. Apesar dos problemas, o professor Romildo passou uma mensagem de otimismo: “Nós precisamos que a Universidade Federal do Rio de Janeiro seja reconhecida pelo que ela tem de bom. Todos lá fora nos veem assim. E dentro do Brasil também. No fórum de reitores, nós somos extremamente respeitados. Precisamos usar esse capital a nosso favor”.

O DEBATE
Representante dos pós-graduandos, Gabriel Batista comemorou a apresentação. “Temos um cenário em que muitos pós-graduandos vão para a carreira acadêmica por falta de opção. Porque há pouca perspectiva de futuro”, disse. “No cenário de desesperança que vemos hoje, anima ver esse tipo de projeto”.

Já o diretor da AdUFRJ e representante dos Titulares do CCS no Consuni, professor Antonio Solé, utilizou a expressão cunhada pelo economista Edmar Bacha nos anos 70 para falar dos contrastes da universidade. “A UFRJ é uma Belíndia e não precisa ser assim. Hoje foi um exemplo claro; um curso que não consegue oferecer vagas para estudantes e, ao mesmo, tem essa apresentação fantástica. Fomos da Índia para a Bélgica em uma hora de reunião”. O docente sugeriu um debate para ampliar as taxas aplicadas a grandes projetos que revertam em melhorias para o conjunto da instituição.

“É possível aumentar um pouco o overhead, sim, mas isso não resolve a dramaticidade dos problemas que a gente vive”, respondeu Romildo. “Emendas parlamentares são importantes, mas também não resolvem. O que resolve é orçamento. Temos que fazer política, pressão. Todo esse restante é acréscimo”, completou.

Topo