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WhatsApp Image 2024 10 31 at 20.34.52 1Foto: João LaetA comunidade científica está mobilizada contra o aparelhamento político da gestão da Fundação Carlos Chagas Filho de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (Faperj). Há uma semana, vazou a notícia que o governador Cláudio Castro exoneraria o atual presidente da instituição, o professor Jerson Lima Silva. O cargo, que já foi ocupado por nomes como Darcy Ribeiro, Edmundo Moniz de Aragão, entre outros renomados pesquisadores, agora está prestes a ser leiloado a alas negacionistas do PL.
A reação foi imediata. Na própria quinta-feira (25), dia do vazamento da informação, a Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) convocou uma reunião emergencial para discutir o assunto. O chamado foi atendido por 300 cientistas. “Queremos é proteger a Faperj e evitar a crise que está se avizinhando”, explicou a professora Lígia Bahia, representante da SBPC no Rio. “A Faperj deve ser ocupada pela comunidade científica. Não podemos estragar um trabalho tão bem-sucedido”.
No dia seguinte (26), centenas de representantes da comunidade científica realizaram um abraço simbólico à Fundação. Eles fecharam o quarteirão entre as ruas Erasmo Braga, São José e Av. Antônio Carlos. “Jerson Lima Silva é absolutamente competente, tem vasta experiência na Faperj, passou por diferentes governos”, argumentou o professor Antonio Solé, vice-presidente da AdUFRJ. “Ele está testado e é aprovado pela comunidade científica do estado”, defendeu.
“Jerson é competente e tem compromisso com a comunidade científica”, explicou o professor João Torres, pró-reitor de pesquisa da UFRJ. “Ele é um pesquisador de renome, amplamento reconhecido e respeitado.WhatsApp Image 2024 10 31 at 20.34.52 2Foto: Silvana Sá
À frente da Fundação desde 2019, Lima Silva é professor do Instituto de Bioquímica médica da UFRJ, pesquisador 1A do CNPq com mais de 240 artigos publicados em periódicos internacionais, 12.450 citações e 38 orientações de teses de doutorado. Ele passou por diferentes funções na Faperj, desde 2003.

COTADOS
O primeiro nome ventilado para assumir a vaga do professor Jerson foi o do bolsonarista Alexandre Valle, candidato derrotado do PL nas eleições de Itaguaí. Sem ensino superior, sua indicação foi rejeitada até pelo setor de compliance do Governo do Estado. Valle é do mesmo partido do atual secretário de Ciência e Tecnologia, Anderson Moraes, nome de confiança da família Bolsonaro. Era dele o projeto de lei estadual para extinção da Uerj. O projeto foi engavetado.
A segunda indicação, também rejeitada pelo compliance do gabinete do governador, foi a da atual presidente da Fundação de Apoio à Escola Técnica (Faetec), Caroline Alves da Costa. Formada em Pedagogia e em Odontologia, Caroline já foi vice-presidente de Educação a Distância da Fundação Cecierj, onde também foi chefe de gabinete. Segundo o subsecretário Victor Travancas, a ausência de título de doutorado desqualificaria a indicação.
A comunidade científica, no entanto, defende que o doutorado não é requisito suficiente, dada a importância da função. “É claro que há cargos que devem ser preenchidos por critérios políticos, mas há outros que devem seguir critérios técnicos, republicanos. É o caso da presidência da Faperj”, defendeu a vereadora eleita Tatiana Roque (PSB). A fala ocorreu em novo ato convocado pela AdUFRJ, SBPC, Academia Brasileira de Ciências e Associação Nacional de Pós-Graduandos, no dia 29 de outubro.“É preciso que a Faperj seja ocupada por um nome consensuado com a comunidade científica. Esse nome é o do Jerson”, afirmou.
Na reunião, a vice-presidente da Comissão de Ciência e Tecnologia da Alerj, a deputada Dani Balbi (PCdoB), contou que conversou com o governador sobre a possível troca na Faperj. “Tivemos uma conversa longa. Ele me garantiu que não iria nomear os atuais cotados, mas disse que entende que essa é uma prerrogativa do secretário de Ciência e Tecnologia”.
Para Mayra Goulart, presidente da AdUFRJ, defender a Faperj é defender a produção científica. “Nós ensinamos aquilo que produzimos. Não ter financiamento é fazer cessar a pesquisa”.
O reitor da UFF, Antônio Nóbrega, também defendeu a permanência de Jerson. Em nome do fórum de reitores, Nóbrega atribuiu ao professor Jerson a solidez da pesquisa realizada nas instituições públicas do estado nos últimos anos. “Nossas instituições continuam vibrantes e colaborando para mitigar a tragédia do estado do Rio de Janeiro muito em função do perfil do professor Jerson”, disse. “Precisamos defender a Faperj e a população do nosso estado”.

Audiência Pública

Na próxima sexta-feira, 1º de novembro, haverá uma audiência pública na Alerj, convocada pela Comissão de Ciência e Tecnologia da Casa. A reunião acontece às 10h e será feita em parceria com a AdUFRJ, a ANPG e as entidades científicas SBPC e ABC. “A comunidade científica tem nomes qualificados para assumir cargos e pastas. Estamos buscando uma audiência com o governador para tratar do assunto”, contou a presidente da comissão, deputada ElikaTakimoto (PT). Na audiência de sexta são esperados o governador Cláudio Castro e o secretário de Ciência e Tecnologia, Anderson Moraes.
A troca do comando da Faperj não foi publicada no Diário Oficial do Estado até o fechamento desta edição. A reportagem procurou a Secretaria de Ciência e Tecnologia e o gabinete do governador para comentar a crise, mas não obteve retorno. O espaço segue aberto.

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