facebook 19
twitter 19
andes3
 

filiados

WhatsApp Image 2024 05 24 at 19.08.34 1Foto: Fernando SouzaPor 670 a 579 votos, os professores da UFRJ decidiram aprovar a proposta salarial (VEJA AQUI) encaminhada pelo governo aos sindicatos que representam os docentes federais do magistério superior e do EBTT. Houve, ainda, 24 abstenções. A decisão, apertada, seguiu a orientação da diretoria. Votaram 1.273 professores.
A assembleia foi híbrida, com presenças física e em ambiente remoto. Participaram da primeira fase de discussões, no dia 22, 161 professores. Logo após os debates, as urnas virtuais foram abertas à consulta dos docentes. A votação aconteceu pelo sistema Helios durante 24 horas: das 17h30 da quarta-feira, 22, às 17h30 da quinta, 23.
O formato híbrido e a votação remota permitiram a participação de docentes que estavam fora da universidade e também em Brasília, para acompanhar a marcha dos servidores públicos federais. Ainda assim, houve quem reclamasse do sistema de votação. Para este grupo, o vice-presidente, professor Antonio Solé, relembrou que até o início do século XX, o voto feminino era “desqualificado”. “No passado, o voto das mulheres também não era considerado qualificado. Pretos também eram impedidos, pelo mesmo motivo. Felizmente hoje todos votam. Isso é democracia: respeitar o direito de todas as pessoas”.
Na abertura da assembleia, a presidenta da AdUFRJ, professora Mayra Goulart, explicou que o encontro respondia ao pedido do Andes para avaliação da proposta salarial apresentada no dia 15 de maio pelo Ministério da Gestão. “A indicação da diretoria é por aprovar a proposta que contempla um reajuste da ordem de 31% para o início da carreira”, disse Mayra. “Entendemos que essa não é a proposta ideal, mas é melhor que a anterior porque concentra os maiores ganhos na base da carreira, além de apresentar aumento real, acima da inflação do período, em todos os níveis”, justificou a dirigente.
Contrário ao posicionamento da diretoria, o professor Ildeu Moreira, do Instituto de Física, criticou a proposta. “Eu acho que não é o momento de recuarmos. Houve avanços, mas acredito que temos que avançar mais”, disse. “O movimento nacional está forte, tivemos superávit primário grande. Como isso não é refletido na melhoria de vida dos brasileiros?”, questionou.
Alguns docentes da oposição à diretoria da AdUFRJ criticaram a realização da assembleia no dia definido para a paralisação das atividades. “Foi agendada em cima da hora. Tivemos que desmarcar nossas atividades de paralisação”, reclamou a professora Eleonora Ceia, da Faculdade Nacional de Direito. O agendamento da reunião, no entanto, atendeu imediatamente ao pedido feito pelo Andes no dia 20.
Parte dos contrários argumentou que a proposta não prevê recomposição orçamentária para as universidades. “Voltamos ao quinto andar do prédio (JMM) este ano, mas as redes hidráulica e elétrica defesadas comprometem nossas condições de trabalho”, protestou o professor Gustavo Costa, do IPPUR. “Acatar proposta que não contempla o orçamento é, para nós, impensável”.

APOSENTADOS
Houve, ainda, a tentativa de manipular os aposentados contra a proposta, com afirmações falsas de que o governo exclui os aposentados. Elucidamos que qualquer mudança nas tabelas salariais, pela lei, impactam ativos, aposentados e pensionistas.
Outros professores defenderam o aceite da proposta, apesar das limitações orçamentárias. “A proposta atual mantém a estrutura da carreira e faz correções importantes principalmente no ínicio da carreira. Há ganhos reais em todos os níveis”, explicou o professor Pedro Lagerblad, do Instituto de Bioquímica Médica.
“Aceitar a proposta do governo não significa que a gente vai parar de lutar pelo orçamento e infraestrutura da universidade”, ponderou a professora Marta Castilho, do Instituto de Economia. “Defendo concentrar nossa pressão sobre o Congresso, que é quem consome parte importante do orçamento federal”, afirmou. “Eu votarei pela aprovação da proposta porque é importante para o futuro da universidade a gente valorizar os ingressantes”.

O RECADO DAS URNAS

Por Alexandre Medeiros

Por mais que as projeções mostrem que, ao fim do governo Lula, os docentes das instituições federais de ensino terão recuperado as perdas inflacionárias do período (2023 a 2026) e até conquistado algum ganho real nos salários, a insatisfação da categoria com o reajuste zero em 2024 pode explicar, em parte, a rejeição da maioria das assembleias à proposta do governo.
Mesmo em seções sindicais dirigidas por grupos de oposição ao atual comando do Andes, como a ADUR, o descontentamento com a proposta gerou resultados que podem ser classificados como surpreendentes: os docentes da Rural do Rio de Janeiro não só rejeitaram a proposta como se juntaram nesta quinta-feira (23) ao movimento grevista que já abarca mais de 50 universidades de todo o país.
Além do reajuste zero este ano e de toda a antipatia que se possa ter pelo regime de déficit zero do ministro Fernando Haddad e pelo arcabouço fiscal — mantras elencados pelos negociadores do MGI como barreiras a uma proposta melhor —, o contínuo aumento de arrecadação de impostos pela União encorpa argumentos contra o acordo e em favor da greve.
Na UFRJ, o aceite por uma margem mais tímida — 52% a 45% — que a diferença consolidada de 60% a 40% das últimas eleições para a AdUFRJ tem um ingrediente adicional. As más condições estruturais de unidades como o IFCS, a EBA ou a EEFD reforçam o discurso em favor de uma recomposição orçamentária urgente. Essas mazelas expostas em desabamentos, goteiras, infiltrações e interdições unem lideranças estudantis e de técnicos da UFRJ em ações em favor da greve e contra o aceite das propostas do governo. Mesmo refratária à greve, parte dos professores expressou nas urnas sua insatisfação.

Topo