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WhatsApp Image 2023 07 05 at 19.59.52 4Fotos: Fernando SouzaUm lugar de silêncio, leitura, conhecimento e muita, muita cultura. A mais antiga biblioteca em atividade contínua da América Latina abriu suas portas – todas elas – aos professores filiados à AdUFRJ. Em visita guiada pela especialista em Literatura Portuguesa, a professora Gilda Santos, o Real Gabinete Português de Leitura teve seus mistérios e curiosidades desvelados aos olhos e ouvidos atentos de 25 professores, no dia 30 de junho.
Instalado na rua Luiz de Camões, no Centro do Rio, o prédio neomanuelino abriga uma das dez bibliotecas mais bonitas do mundo, segundo revistas internacionais, dentre elas, a prestigiosa Times. A pedra fundamental foi lançada por ninguém menos que D. Pedro II, em 1880. Sete anos depois, a Princesa Isabel inaugurou o prédio. A biblioteca foi inaugurada em dezembro de 1888 também por D. Pedro II. Todas as pedras da fachada foram transportadas de Portugal para o Brasil para só então serem montadas no novo imóvel. “Este edifício é também tecnologicamente avançadíssimo para a época. Ele é o primeiro no Rio de Janeiro a ter estruturas de ferro. A engenharia passa a usar essas estruturas só em 1900”, destacou a professora Gilda, que é vice-presidente cultural e do Centro de Estudos da instituição.
Antes da atual sede, porém, o Real Gabinete passou por outros endereços. Foi fundado em 1837 por um grupo de 40 portugueses. “A cada mudança, descobriam que haviam conquistado e acumulado mais livros”, revelou a professora Gilda Santos. Com a definição da sede, o Real Gabinete se tornou uma respeitada biblioteca e passou a ser o único depositário legal de obras portuguesas fora de Portugal. O espaço guarda exemplares raríssimos, como a primeira edição de “Os Lusíadas”, de Luís de Camões, de 1572, além de esculturas, quadros e objetos históricos.
É o caso, por exemplo, da colher de pedreiro de prata usada por D. Pedro II na pedra fundamental do edifício. Ou da capa, chapéu e espada que pertenceram a João do Rio, quando se tornou membro da Academia Brasileira de Letras. Ou, ainda, do dente de Camilo Castelo Branco, um dos maiores autores portugueses do século XIX. Ou, também, do manuscrito e primeira edição impressa de Dicionário de Língua Tupi, de Gonçalves Dias. Nenhuma dessas relíquias está aberta à visitação pelo grande público. Foram contempladas apenas pelos professores da UFRJ.WhatsApp Image 2023 07 05 at 19.59.53 1
Machado de Assis, contou Gilda Santos, frequentava os salões de leitura do Real Gabinete desde menino. “Parte de seu autodidatismo se deve à cultura da qual bebeu frequentando o Gabinete”, afirmou a pesquisadora. Em 10 de junho de 1880, nas comemorações do tricentenário de morte de Camões, o Real Gabinete apresentou uma peça escrita por Machado de Assis. “O Gabinete encomendou uma peça para a primeira grande celebração mundial da morte de Camões. Ele escreveu ‘Tu, só tu, por amor’, inspirada num dos versos de Os Lusíadas”, contou a elegante guia. O manuscrito da peça também está sob guarda do Gabinete.
Quando se tornou presidente da Academia Brasileira de Letras, o já grande Machado de Assis realizou cinco sessões solenes no prédio da Rua Luís de Camões. Elas aconteceram entre 1900 e 1905. Na entrada do edifício é possível ler uma placa da ABL em homenagem à instituição pelo abrigo às sessões solenes comandadas pelo ilustre acadêmico. “Acho que Machado é um dos fantasmas desta biblioteca”, brincou a professora Gilda. “Deve ser remorso por nunca ter citado o Gabinete em suas obras”, afirmou sobre o autor de “Memórias Póstumas de Brás Cubas”, ao se referir a curiosos depoimentos de funcionários que relatam ver vultos no prédio.

Emoção do início ao fim
A história transmitida durante a visita, as análises dos quadros e esculturas que compõem o acervo da instituição deixaram os docentes verdadeiramente fascinados. “Estou profundamente emocionado com esta visita”, contou o professor Evandro Vieira Ouriques, da Escola de Comunicação. “É extraordinário o seu trabalho. Fico arrepiado de ver sua dedicação tão longa a este espaço”, disse o professor, ao parabenizar a colega Gilda Santos, para quem pediu uma salva de palmas. O docente é acadêmico correspondente da Academia Galega de Língua Portuguesa.
“Sensacional”, resumiu a professora Silvia Ludorf, da Escola de Educação Física e Desportos. “Adorei a iniciativa da AdUFRJ. Eu sempre quis conhecer este espaço, mas ainda não havia tido oportunidade”, disse a professora, que elogiou a condução da colega Gilda Santos. “É incrível ter acesso a lugares que não estão abertos à visitação. Eu simplesmente adorei. Sem contar que é um grande diferencial, um verdadeiro privilégio ter alguém tão qualificada para nos apresentar os espaços”.
Do Instituto de Microbiologia, o professor Maulori Cabral afirmou que a visita foi melhor do que esperava. “Essa iniciativa precisa ser repetida. Superou, realmente, todas as minhas expectativas. Eu fiz muitas visitas ao Real Gabinete, com alunos, mas sempre ficávamos restritos ao salão de leituras, como todos os visitantes. A experiência de hoje me impressionou”.
“Eu já trabalhei com a Gilda no Departamento de Letras Vernáculas da Faculdade de Letras”, revelou a professora Marcia Machado Vieira. “Quando vi que a visita era com ela, eu fiz questão de vir. Respondi imediatamente”, disse. “Eu recomendo muito que outros colegas venham”.
WhatsApp Image 2023 07 05 at 19.59.53Idealizadora do projeto de visitas guiadas da AdUFRJ, a professora Ana Lúcia Cunha Fernandes, diretora da AdUFRJ, celebrou o acolhimento dos colegas à inciativa. “A repercussão tem sido muito boa. As pessoas elogiam, querem participar. Este passeio foi esgotado em pouco tempo, abrimos nova turma e vamos tentar realizar outra edição até o fim do ano”, revelou. Filha de portugueses, ela se disse “especialmente emocionada com a visita”. “Mexeu muito comigo, com minha história. Eu já conhecia o prédio, tive oportunidade de realizar um seminário aqui. Mas visitar com essa riqueza de informações passadas pela Gilda foi realmente especial”.

Para ser sócio
É possível se tornar sócio do Real Gabinete Português de Leitura. A taxa mensal é de R$ 80 e dá direito ao empréstimo de até três obras pelo prazo de 15 dias, desde que sejam edições a partir de 1950. Pesquisadores podem ter acesso a obras mais raras, mediante pedido prévio e autorização. Tombado desde 1970 pelo Instituto Estadual do Patrimônio Cultural (Inepac), o edifício não tem acessibilidade, o que limita a visitação de pessoas com deficiências locomotoras.

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