Por Alexandre Medeiros, Kelvin Melo e Silvana Sá
Falta pouco para a próxima reitoria assumir o mandato. O decreto presidencial que nomeia o professor Roberto Medronho a partir de 3 de julho já foi publicado no Diário Oficial da União. No dia seguinte, um Conselho Universitário extraordinário deverá aprovar as indicações do novo reitor para as sete pró-reitorias.
Os nomes já foram anunciados ao público há 15 dias, mas precisam ser apreciados pelo colegiado em cumprimento ao estatuto da universidade. Esta semana, também foi confirmado o convite para que a professora Christine Ruta continue à frente do Fórum de Ciência e Cultura. O Jornal da AdUFRJ ouviu cada um deles sobre os desafios e planos da gestão. Confira a seguir.
ACADÊMICAS
PR-1
MARIA FERNANDA SANTOS QUINTELA
Professora do Instituto de Biologia
Ex-decana do CCS entre 2010 e 2014, a professora Maria Fernanda Santos Quintela foi candidata em uma chapa adversária à da ex-reitora Denise Pires em 2019, mas avalia que hoje não há qualquer incômodo em integrar a gestão de Roberto Medronho, considerada de continuidade à atual reitoria. “O cenário é outro. Passamos por um governo federal que colocou todos nós à prova em muitas variáveis”, disse. “Esta é uma nova configuração política, no nível interno e externo à universidade. É importante reconstruir juntos o tecido institucional”, completa.
Maria Fernanda pretende usar os primeiros meses da gestão para visitar cada centro. “O projeto de PR-1 itinerante será importante para que estejamos junto das unidades acadêmicas e sempre abertos a receber as proposições da comunidade universitária e parceiros externos nas diversas áreas que compõem o ensino de graduação e o básico”.
Atender o ensino básico será outra prioridade. “Temos um colégio universitário de excelência que precisa de apoio, espaço, servidores e mais reconhecimento institucional”, avalia. E acrescenta: “Os cursos de licenciatura serão centrais no projeto de reconstrução do nosso país e é preciso estreitar pontes com a sociedade para ressignificação do que é a docência e seu papel na sociedade contemporânea”.
A futura dirigente quer estreitar a articulação com as demais pró-reitorias. “A vida universitária dos estudantes pode ser mais dinâmica, se a universidade conseguir integrar mais fortemente as atividades de graduação, pós-graduação e extensão”. Maria Fernanda acredita que o modelo ajudará a combater a evasão dos cursos. “A PR-1 já faz esse acompanhamento, mas acho importante aprofundar e cruzar com outros dados na formulação de novas políticas educacionais”.
PR-2
JOÃO RAMOS TORRES DE MELLO NETO
Professor do Instituto de Física
Com sólida carreira acadêmica e longa militância sindical, o professor João Torres, titular do Instituto de Física, vai assumir a PR-2 com foco na ampliação dos grupos de pesquisa e na internacionalização. Nascido em Cruzeiro do Sul (AC), graduado em Física pela UFRJ, mestre e doutor em Física pelo Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas, João tem larga experiência internacional. Fez pós-doutorado no Fermi National Accelerator Laboratory (FERMILAB), dos Estados Unidos, e participa de projetos que envolvem pesquisadores de vários países, como o Pierre Auger, da Argentina, e o experimento Grand, da China.
“Minha prioridade será propiciar aos grupos já bem estabelecidos da UFRJ desenvolverem ciência de qualidade internacional, e trabalhar para que os grupos emergentes possam se estabelecer. O plano de trabalho inicial é manter em velocidade de cruzeiro os projetos em curso na atual gestão da PR-2, comandada pela professora Denise Freire”, adianta.
Torres acredita que a pesquisa da UFRJ está entre as melhores do mundo. “A PR-2 é o coração da universidade. A pesquisa de alto nível feita na UFRJ nas áreas tecnológicas, biológicas e humanas é o que nos diferencia de outras universidades. Queremos que a UFRJ se internacionalize cada vez mais, e não entendemos que qualidade científica se oponha à inclusão e à diversidade, muito pelo contrário”.
Eleito presidente da AdUFRJ para o mandato de outubro de 2021 a outubro deste ano, João Torres deixará o posto na semana que vem. “O que eu levo de mais precioso da AdUFRJ é que agora realmente entendi a importância do sindicato. Confesso que sair da AdUFRJ agora nunca esteve nos meus planos, mas participar da administração central da UFRJ na PR-2 é uma honra e vou fazer o melhor possível”.
PR-5
IVANA BENTES
Professora da Escola de Comunicação
Única titular de pró-reitoria reconduzida ao posto, a professora Ivana Bentes, titular da Escola de Comunicação, vai perseguir em seu segundo mandato a meta de ter 100% dos cursos da UFRJ creditando as horas de extensão. “Vamos oferecer apoio para que a inserção curricular da extensão aconteça de forma plena, com a ampliação da oferta de ações de extensão em todas as áreas do conhecimento”, garante Ivana. Amazonense de Parintins, a professora dirigiu a ECO de 2006 a 2013, e de 2018 a junho de 2019, quando deixou o cargo para assumir a PR-5.
Outra prioridade é ampliar o número de bolsas estudantis de extensão para graduação e pós. “Temos que pensar em novas ações e enxergar as bolsas de extensão como um fator de combate à evasão e de envolvimento e presença dos estudantes nos campi, nos territórios e na cidade”, avalia a professora. Ela também pretende ampliar as ações afirmativas na extensão.
Com graduação, mestrado e doutorado na UFRJ, Ivana quer a plena integração entre ensino, pesquisa e extensão: “Pretendemos concretizar a proposta que está no programa da nova reitoria, de um colegiado único, com a extensão participando de todas as decisões acadêmicas, uma realidade na maioria das universidades brasileiras”. Ela também quer institucionalizar a participação dos estudantes de pós-graduação nas ações de extensão.
A professora considera estratégico que a extensão se articule com políticas públicas por meio de parcerias e editais com os governos federal e estadual, além da Prefeitura do Rio. Ela pretende ampliar a divulgação das ações de extensão, por meio do portal extensao.ufrj.br, e levar a extensão ao centro da política de Inovação Social da UFRJ. “A inovação cidadã e a transformação social são o coração da extensão universitária”, diz Ivana.
ADMINISTRATIVAS
PR-3
HELIOS MALEBRANCHE
Professor da FACC
Professor associado do Departamento de Administração da UFRJ e Secretário Geral da Fundação Universitária José Bonifácio, Helios Malebranche vai ocupar a Pró-Reitoria de Planejamento, Desenvolvimento e Finanças (PR-3). Docente da instituição desde 1997, também traz para o cargo a experiência administrativa externa como Superintendente de Educação Executiva da FGV (2006 a 2010) e Chefe do Serviço de Planejamento e Acompanhamento do Laboratório Nacional de Computação Científica (2004 a 2006).
“Eu não participei do grupo de transição, mas já tive conversas com o atual pró-reitor responsável pela PR-3. Na verdade, a equipe que assume tem um alinhamento muito grande com a gestão anterior”, afirma Helios. “Nosso trabalho será o de dar continuidade, porque a administração da professora Denise e do professor Carlos Frederico foi excelente”.
Pela mesma razão, o professor não pretende fazer nenhuma mudança na pró-reitoria: “A equipe da PR-3 é muito comprometida, com técnicos de excelente nível”.
Objetivo, o docente não esconde de ninguém qual será o principal problema a ser atacado. “O principal desafio é que a universidade há algum tempo atrás tinha um orçamento que era praticamente o dobro do orçamento atual”, diz.
PR-4
NEUZA LUZIA PINTO
Técnica-administrativa
Nutricionista vinculada à Faculdade de Medicina da UFRJ, Neuza Luzia Pinto ocupará a Pró-Reitoria de Pessoal. Técnica-administrativa desde 1984, ela é especialista em Saúde Pública. “Tenho um misto de sentimentos. Há enorme satisfação pela confiança a mim depositada, mas uma ansiedade igualmente grande de responder a essa confiança”, adiantou a servidora.
Neuza reconhece que a gestão da PR-4 é um desafio, mas promete usar sua longa experiência sindical para construir uma gestão de diálogo e parceria com os servidores da UFRJ. “Os projetos serão tocados com muito diálogo. Por muitos anos, a instituição foi vista como contrária aos interesses dos seus servidores. Essa lógica precisa ser revertida. A instituição deve atuar em parceria e em defesa de seus trabalhadores”. Questões como progressões e insalubridade estão na ordem do dia. “Pretendo manter um diálogo absolutamente leal com os sindicatos. Vamos trabalhar juntos para construir políticas de pessoas”, garante.
A servidora também pretende criar e articular projetos que sejam voltados à carreira e à saúde dos profissionais da universidade. “A UFRJ precisa responder com mais atenção aos seus trabalhadores. A gente vai ajudar a aperfeiçoar o que foi implantado até aqui”.
PR-6
CLAUDIA FERREIRA DA CRUZ
Professora da FACC
A professora Claudia Ferreira da Cruz assume a pró-reitoria de Gestão e Governança com a vantagem de já conhecer a equipe, as rotinas e os problemas locais. A docente da Faculdade de Administração e Ciências Contábeis é superintendente de Governança da PR-6 desde setembro de 2021. “A responsabilidade agora será muito maior”, afirma.
A futura pró-reitora pretende focar o mandato em quatro pilares. O primeiro é a recomposição de pessoal. “Nos últimos quatro anos, a pró-reitoria perdeu entre 14 e 16 servidores. E apenas dois foram repostos no último concurso. Isso tem deixado o trabalho muito sobrecarregado”.
O segundo é aprimorar o sistema de gestão das atividades. “Muitos dos controles necessários ainda são feitos em planilhas. Precisamos de um sistema que nos permita monitorar melhor os contratos e licitações”.
O terceiro eixo de atuação passa pela capacitação da equipe. Muitos fazem cursos online da Escola Nacional de Administração Pública. “São bons, mas não bastam para nossas especificidades”, explica.
O último pilar é melhorar a normatização de alguns procedimentos com as unidades, como a fiscalização dos contratos com terceirizados. “Às vezes, o problema chega para a gente já em uma situação limite”, lamenta.
PR-7
EDUARDO MACH QUEIROZ
Professor da Escola de Química
O professor Eduardo Mach chega à pró-reitoria de Políticas Estudantis credenciado por uma passagem na superintendência geral de Graduação, entre 2007 e 2011. À época, não existia PR-7, que só foi criada em 2018. “Trabalhei na PR-1, no segundo mandato do ex-reitor Aloisio Teixeira. Vou tentar trazer um pouco dessa experiência para a PR-7”, afirma.
Mais recentemente, o docente, que integrou a Comissão de Ensino e Títulos do Consuni, relatou diversos processos sobre recursos dos alunos em busca de auxílios. “Dali, tiramos algumas recomendações para trabalhar na pró-reitoria. Há um consenso de que a resolução da UFRJ sobre a assistência estudantil merece ser rediscutida”.
O ex-diretor da Escola de Química adianta que deseja trabalhar em conjunto com a PR-1 para ajudar a diminuir a evasão dos cursos. “A evasão tem um viés socioeconômico, mas também tem um viés acadêmico. Por isso, falo de trabalhar com a PR-1. Para a gente ter uma visão mais global desse problema”.
O futuro dirigente garante que haverá diálogo com os moradores do alojamento e com as representações dos estudantes, para tomar as melhores decisões possíveis. “O grande problema é o cobertor curto”, diz, em referência ao orçamento reduzido da universidade.
Chris Ruta continua no Fórum de Ciência
CHRISTINE RUTA
Professora do instituto de Biologia
Docente do Instituto de Biologia e do Programa de Pós-Graduação em Zoologia do Museu Nacional, a professora Christine Ruta iniciou sua trajetória como professora da UFRJ em 2007, no Nupem-Macaé. No ano passado, assumiu a coordenação do Fórum de Ciência e Cultura a convite da então coordenadora, professora Tatiana Roque, e permanecerá no cargo na nova gestão. “Vou tentar continuar a abrilhantar o Fórum de Ciência e Cultura que teve um crescimento gigantesco na última gestão. De alguma maneira, essa ponte que a gente conseguiu fazer nesse meu finalzinho de gestão com todos os órgãos, as superintendências, é algo que vai estar em pauta nessa minha gestão”.
A tragetória de extensionista, acredita a professora, é um diferencial importante. “Na extensão, nosso principal material é a sociedade. Aprendi a dialogar com a população. Acho que esse é um diferencial. O pesquisador precisa transformar sua fala para ser mais acessível à população. E o fórum é também um cenário para que a universidade dialogue para fora de seus muros e traga os saberes tradicionais para dentro da universidade”.
O patrimônio histórico é outra prioridade. “Preservar e reconstruir todo esse patrimônio vai ser uma das minhas metas. Estamos esperançosos de conseguir apoio do governo federal”.