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WhatsApp Image 2023 04 28 at 20.07.14 1“Defendemos uma participação mais ampla dos docentes”

A AdUFRJ completou 44 anos de fundação na quarta-feira (26). Cada professor conta para esta história. Cada gestão do sindicato se empenha ao máximo na defesa dos direitos docentes. A diretoria atual não é diferente. Votações expressivas em assembleias importantes são o orgulho do presidente, professor João Torres, do Instituto de Física. Mais de mil pessoas participaram da reunião que deliberou contra a adesão à greve nacional dos servidores federais, em março do ano passado. “Defendemos uma participação mais ampla dos docentes na vida sindical. Não era a concepção que se tinha até 2015 aqui na UFRJ”, afirma. Confira a seguir:

D3 9388Foto: Fernando SouzaENTREVISTA I JOÃO TORRES, PRESIDENTE DA ADUFRJ

Jornal da AdUFRJ - Quais foram os momentos marcantes da gestão até aqui?
João Torres - Os momentos mais gratificantes ocorreram quando nossa base apoiou de forma maciça as proposições da diretoria nas assembleias. Em março do ano passado, em uma votação histórica, os professores da UFRJ decidiram não aderir a uma greve nacional que os servidores federais estavam organizando. Foram 883 votos contra 169 e 24 abstenções.
A gestão sempre defendeu a ideia de manter a Universidade funcionando. Só devemos fazer greve em momentos muito extremos e quando há reais possibilidades de ganhos. No final do governo Bolsonaro, a greve seria totalmente absurda. Serviria apenas para dar combustível para a direita brasileira.

Houve também a assembleia para decidir o apoio à chapa de Lula.
Sim, no fim de outubro, foram 318 votos a favor da candidatura de Lula contra 107 e apenas 20 abstenções. Já era nosso compromisso de campanha aqui na AdUFRJ apoiar o candidato do campo democrático com mais chances de derrotar o bolsonarismo.
Aliás, eu sempre participei da AdUFRJ de alguma forma. Mas, sem dúvida alguma, o que me motivou à candidatura para esta gestão foi a preocupação com o governo Bolsonaro. Nossa avaliação era que, se ele ganhasse pela segunda vez, a universidade seria destruída. Eu não poderia ficar só trabalhando com astropartículas e dando aula aqui para os meus alunos.

Quais suas impressões sobre esses pouco mais de 100 dias do governo Lula?
Já fez muito mais pela população brasileira do que o Bolsonaro em quatro anos. Houve uma retomada de investimentos e voltamos a ter um mínimo de credibilidade internacional. Mas sabemos que não será um governo fácil, porque o Senado e a Câmara são muito conservadores.
No caso das universidades, a predisposição do governo para o diálogo é a melhor notícia. Houve essa recomposição orçamentária, mas ainda estamos no negativo na UFRJ. São dois meses descobertos ao final do ano.

Como se sente fazendo parte dessa história de 44 anos da AdUFRJ?
Eu me sinto desafiado, porque a AdUFRJ teve pessoas como Pinguelli e outros presidentes com muita importância no sindicalismo brasileiro. Depois, o sindicato mudou um pouco e, desde 2015, voltou ao rumo original. Defendemos uma participação mais ampla dos docentes na vida sindical. Não era a concepção que se tinha até 2015 aqui na UFRJ.

O que mais a AdUFRJ tem feito de diferente nessas gestões recentes?
A Adufrj também tem esse lado muito importante para fora dos muros da universidade, fazendo o advocacy. O Observatório do Conhecimento, com a Mayra (Goulart, vice-presidente da AdUFRJ), tem organizado campanhas muito importantes. Alguns exemplos: a defesa das cotas; a defesa do orçamento das universidades e institutos de pesquisa e, mais recentemente, para estimular os jovens a se inscreverem no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem).
Conversamos com todo mundo que quer conversar com a gente. Quando vamos ao Congresso pelo Observatório, não perguntamos qual a linha ideológica da pessoa. Temos que convencê-la a fazer o melhor para a universidade e para os professores. Da última vez que fui a Brasília, conversei com a Sâmia Bomfim (PSOL-SP) e com o General Peternelli (União-SP).

Quais os planos para a reta final da gestão?
Brigamos muito pelos adicionais de insalubridade a que os docentes têm direito, mas não recebem pelos mais variados motivos. Reivindicamos a revogação das regras que prejudicam as progressões funcionais docentes. Fizemos reuniões com a reitoria, mas não obtivemos resultado administrativamente e decidimos entrar na Justiça, no fim do ano passado.
Internamente, estamos com uma campanha na rua que diz “Respeitar a Universidade é valorizar o professor”. Queremos ouvir os colegas sobre as condições de trabalho.
Também defendemos simplificar o processo de progressão. Na nossa opinião, a universidade deveria seguir o exemplo das unidades que fazem as coisas mais simples, que funcionam, e colocar isso como modelo para as demais.
Nesse final de gestão, vamos continuar trabalhando, ao lado do Observatório do Conhecimento, para o governo revogar as normas que deixam os gestores das universidades na defensiva, com risco de sofrer penalidades no próprio CPF. Isso terá reflexos muito positivos para a carreira docente, nas progressões e na obtenção dos adicionais ocupacionais, entre outras medidas administrativas da universidade.

Por que é importante se filiar?
Porque é importante fortalecer o sindicato como uma representação independente, aguerrida em defesa dos direitos dos professores. Alguns colegas nossos ainda não compreenderam a importância do sindicato como um espaço vital para a carreira docente. Para mudar esse cenário, estamos com uma campanha de sindicalização com desconto para as classes iniciais da carreira. Convido todos os professores para também ajudarem a escrever esta história por muitos e muitos anos.

erEricksson Almendra: “A AdUFRJ já nasceu muito grande“

O professor Ericksson Rocha e Almendra, da Escola Politécnica, exerceu papel de destaque na fundação da AdUFRJ. Ajudou a elaborar o estatuto, procurou um espaço para a sede, correu atrás do desconto em folha para a nascente associação e contratou os primeiros funcionários. O docente integrou o primeiro Conselho de Representantes da entidade (de 1979 a 1981) e se tornou o segundo presidente (1981-1983), após a gestão de Luiz Pinguelli Rosa, que faleceu em 2022. Nesta entrevista ao Jornal da AdUFRJ, Ericksson fala sobre os desafios daquele período e ressalta o papel da associação como ponto de encontro dos professores da UFRJ.

Jornal da AdUFRJ - Como começou o processo de fundação da AdUFRJ?
Ericksson Rocha e Almendra - Entrei na UFRJ em 1977. Nos primeiros seis meses, havia uma efervescência na universidade por conta de uma reforma universitária que estaria sendo preparada pelo governo — e que nunca veio. Começaram as reuniões de docentes para discutir o assunto na sala G-122 do Centro de Tecnologia. Algumas reuniões passaram a ocorrer no IFCS, ao anoitecer, para atrair pessoas das outras unidades. E logo surgiu a ideia de se constituir uma associação docente.

O senhor guarda alguma história curiosa daquele período inicial da associação?
Furtaram meu carro no Fundão e a polícia encontrou. Fui buscar. Quando cheguei lá, o delegado disse que iria fazer uma revista no veículo antes de me entregar. E abriu o porta-malas. Lá dentro, havia material de campanha da AdUFRJ, panfleto, faixa, cartaz de assembleia. O cara coçou a cabeça e perguntou se o material era meu. Hesitei um pouco — aquilo ainda era considerado material subversivo à época —, mas respondi que sim. Aí ele disse: “Ainda bem”. Eu perguntei: “Por quê?”. Ele contou que, se fosse dos ladrões, não poderia devolver o carro, teria que remeter tudo para o Departamento de Ordem Política e Social (DOPS), ia ser uma complicação. “Eu já estou cansado, querendo ir embora pra casa. Leve o seu material e faça bom uso”, disse (risos).

Quais eram as dificuldades, no início?
Com muita franqueza, a primeira pessoa que cuidou da infraestrutura da associação fui eu. Desde a primeira gestão, quando estava no Conselho de Representantes. A entidade não tinha nada e havia pessoas que relegavam ao quarto, quinto plano a necessidade de uma sede e do desconto em folha para a associação. Foram iniciativas minhas. O professor Amaranto Lopes, então decano do CT, cedeu uma sala, onde fica a sede até hoje.

O professor Antonio Giannella Neto, do programa de Engenharia Biomédica, que era muito mobilizado, hoje emérito da Coppe, ofereceu a secretária Stavna para nos ajudar. Não lembro o sobrenome. Na primeira gestão, a estrutura estava muito baseada na ajuda que a nossa primeira “funcionária” nos dava. No processo de ter uma sede, contratamos Elisa (de Jesus, que se aposentou) e também o Belini (de Souza, hoje o funcionário mais antigo do sindicato).

Havia mais algum obstáculo a ser superado, na época?
A primeira grande complicação foi a elaboração do estatuto. Havia um racha em torno do artigo que separava completamente a administração da universidade dos cargos na AdUFRJ. Isso impediria que algum diretor de unidade, por exemplo, pudesse ser diretor da AdUFRJ. Essa visão acabou prevalecendo e está no estatuto até hoje. Eu, pessoalmente, acho saudável. Na mesa da assembleia de fundação, eu estava encarregado da redação. Eu me aproximei do Pinguelli nesse processo de debate.

O senhor imaginava, lá nos anos 80, que a AdUFRJ iria tomar a dimensão que tomou?
Na verdade, não por mérito das primeiras direções ou coisa que o valha, mas acho que por uma questão do ‘clima’ da época, a AdUFRJ já nasceu muito grande. Nós tivemos o auditório do CT lotado na assembleia de fundação. As primeiras greves lotavam o auditório do CT. As pessoas estavam dispostas a abandonar tudo para ir a três assembleias numa semana. Houve mobilização forte aqui na UFRJ para arrecadar recursos para o fundo de greve dos metalúrgicos do ABC. Desse ponto de vista do envolvimento das pessoas, não sei se a AdUFRJ cresceu, não. Ela passou por períodos de altos e baixos. Mas acho que está numa boa fase atualmente.

Como o senhor se sente fazendo parte dessa história de 44 anos da AdUFRJ?
Estou fazendo 70 anos. Vivi bem a vida. Me envolvi em muitas coisas. Perdi muitas brigas; ganhei algumas. A AdUFRJ faz parte de uma briga que eu ganhei. A entidade está aí até hoje. Está consolidada como parte do jeito de ser da universidade. A AdUFRJ não foi a primeira, mas foi uma das primeiras associações docentes. E hoje toda universidade tem uma.

Por que é importante o professor se filiar?
Você se envolver com os problemas da sua comunidade, da sua categoria, é algo muito importante. E mais um detalhe: a AdUFRJ é ponto de encontro de professores de formação diversa. Essa universidade é paupérrima em ambientes em que as pessoas se encontrem: um professor da Medicina e da Filosofia; um de Ciências Sociais e outro do Direito; um da Economia e um engenheiro. É um dos grandes problemas da UFRJ. E a AdUFRJ, desde o seu início, deu uma contribuição muito importante nisso. Eu não imaginava encontrar um professor da Filosofia que não fosse numa reunião da AdUFRJ. E isso está na essência da vida universitária.
Nós temos uma desvantagem terrível em relação à Uerj. Ela é cercada de botequins por todos os lados. (risos) São pontos de encontro. A UFRJ não tem botequins aqui dentro e os que estão fora ficam longe.

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