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WhatsApp Image 2022 10 10 at 08.02.47Alexandre Medeiros e Ana Beatriz Magno

Faltou “só um tiquinho”. Mas faltou. Logo que confirmado o segundo turno, os primeiros momentos foram de abatimento para a campanha de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que esperava liquidar a fatura em 2 de outubro, e de euforia para o QG de Jair Bolsonaro (PL), que conseguiu levar o jogo para a prorrogação. Agora, em ambos os lados, é tempo de ampliar apoios e montar estratégias. Para o time de Lula, a tarefa é reduzir a abstenção, manter a votação obtida no primeiro turno e conquistar novos votos, sobretudo em Minas Gerais, São Paulo e Rio de Janeiro. Para a equipe de Bolsonaro cabe a hercúlea missão de tirar uma vantagem de seis milhões de votos e reduzir uma rejeição ao presidente que parece inabalável, principalmente no Nordeste. Não será fácil para nenhum dos dois.
“O excelente desempenho de Bolsonaro no primeiro turno evidencia um enraizamento do pensamento conservador no tecido social brasileiro. Não será fácil para Lula manter a dianteira. Ele terá que manter seu índice e reforçar sua posição no Nordeste, intensificar sua atuação nas regiões Norte e Centro-Oeste, tentar crescer um pouco na Região Sul e, ao mesmo tempo, ir para uma batalha de vida ou morte em São Paulo, Minas e Rio. A eleição não está definida. A equipe de Lula tem que se preocupar com novas formas de chegar ao eleitor, sobretudo nos meios digitais, nas redes de contágio de WhatsApp e Telegram, onde a campanha de Bolsonaro tem muita densidade”, avalia o sociólogo e cientista político Paulo Baía, professor do IFCS/UFRJ.
Para a cientista política Mayra Goulart, professora do IFCS e vice-presidente da AdUFRJ, os seis milhões de votos de vantagem obtidos por Lula devem servir de combustível à militância para ir às ruas. “Estamos diante de um candidato no poder, que tem a máquina, o que por si só é uma vantagem imensa. E ele se movimentou de maneira inédita, fez políticas radicalmente eleitoreiras, com o objetivo de criar uma política econômica artificial que melhorasse a avaliação do seu governo. Isso teve resultados, a um preço absurdo, que nós vamos pagar durante muitos anos. Mas, mesmo assim, não foi o resultado esperado pelo governo. Lula teve muitos votos, mesmo numa situação muito adversa”, diz Mayra, para quem a mobilização dos movimentos sociais é fundamental para a vitória do petista.

ESTRATÉGIAS
Os primeiros dias de campanha no segundo turno foram dedicados à costura de apoios em ambos os lados. De acordo com uma fonte da campanha de Bolsonaro, o apoio das máquinas estaduais será fundamental para ampliar a vantagem do candidato no Rio e em São Paulo e superar o petista em Minas. “Cláudio Castro vai cair de cabeça na Baixada e no interior fluminense, acreditamos que o presidente vai aumentar sua vantagem sobre Lula no Rio”, diz a fonte.
A campanha de Lula vai centrar fogo no Rio na Baixada, em São Gonçalo e na Zona Oeste da capital. “O prefeito Eduardo Paes será muito importante na Zona Oeste, colocando sua base de vereadores para ir a campo. Rodrigo Neves — candidato derrotado do PDT ao governo do Rio — está entrando com a força que tem em Niterói e em São Gonçalo. Temos boas conversas em andamento com dois importantes prefeitos da Baixada, o Rogério Lisboa (PP), de Nova Iguaçu, e o Waguinho (União Brasil), de Belford Roxo, há uma boa perspectiva de se juntarem a nós. Assim como o deputado Áureo Ribeiro (Solidariedade), que tem boa penetração em Caxias”, revela Tiago Santana, presidente do PT no Rio de Janeiro. Lula estará no Rio no próximo dia 11, véspera do dia da padroeira do Brasil, em agenda ainda não definida, mas que incluirá um dos três territórios prioritários: Baixada, São Gonçalo e Zona Oeste.
Um integrante do comando de campanha do PT garante que, em São Paulo, Lula dará especial atenção ao interior do estado. “Ele não foi ao interior no primeiro turno, foi um erro. Já temos uma viagem programada para Campinas”, revela esse dirigente. Segundo ele, no Nordeste a ideia é fazer uma rede de proteção aos votos já obtidos, explorando, sobretudo, a xenofobia de Bolsonaro em relação aos nordestinos, reforçada na live do presidente desta quinta-feira (6), em que ele associou a boa votação de Lula na região ao analfabetismo.
Para a deputada federal reeleita Jandira Feghali (PCdoB-RJ), há que se ter um olhar especial para a abstenção. “O estado do Rio de Janeiro foi dos que tiveram a maior abstenção, e a capital também. E temos condições de ampliar a votação no Rio. Inclusive ampliação ao centro, buscando prefeitos do interior do estado. É fundamental uma intensa mobilização, com agenda nos territórios, nos bairros, nas periferias, com as propostas concretas de Lula para melhorar a vida do povo. E mostrar os riscos de uma reeleição de Bolsonaro, é preciso mostrar isso também, para ampliar a rejeição a ele”, acredita a deputada.
A busca pelo eleitorado de centro também é uma preocupação das duas campanhas. “Eu acho mais fácil o Lula fazer esse movimento em direção à direita do que o contrário, porque ele é uma figura muito mais maleável que o Bolsonaro”, afirma o cientista político Carlos Alberto Almeida, professor da UFF. Ele acredita que Lula pode conquistar mais votos se apostar agora em temáticas não tão exploradas no primeiro turno: “Eu acho que o Lula pode vir a enfatizar mais o tema econômico e o do meio ambiente. Ele pode mobilizar apoiadores importantes, como a Marina Silva”.
Já para o cientista político Fernando Meireles, professor da USP, a disputa por espaços territoriais será acirrada. “Bolsonaro perdeu espaço em praticamente todas as capitais e nas cidades maiores, mas cresceu no interior. Para ele, o esforço no segundo turno vai ser direcionado para esses grandes centros. No caso do Lula, o grande foco de atenção precisa ser o Nordeste, principalmente no interior, onde o Bolsonaro melhorou. É um lugar em que o PT historicamente sempre foi bem, então vai ser um grande desafio”, analisa.
Para Elisa Guaraná, professora de Ciências Sociais da UFRRJ e presidente da AdUR, Bolsonaro deve reforçar uma estratégia que se mostrou eficaz até aqui. “Ele está o tempo todo trabalhando em dois pilares: a corrupção e o tema de valores. E isso funcionou para o primeiro turno, para que ele tivesse esse fôlego muito maior do que as pesquisas estavam apontando”, esclarece.
Por outro lado, Elisa percebe um resgate do público evangélico para a campanha de Lula, e que isso tem um efeito importante: “Voltou-se ao patamar de 2014. Há um esforço muito grande de trabalhar dentro dos espaços da igreja evangélica, com pastores e pastoras. O caminho é os próprios religiosos falarem com as pessoas, em um diálogo direto”.
Pelo lado do PT, isso já vem sendo feito. Deputado federal eleito, Reimont (PT-RJ) diz que a temática religiosa é um dos focos. “No segmento religioso, há uma possibilidade real de ampliarmos nossa votação, pois há muita mentira circulando. Tenho trabalhado nesse tema no meio religioso. Já fizemos uma reunião com padres em Manguinhos para traçar estratégias. E temos reuniões agendadas com evangélicos e com outras matrizes. Pretendemos fazer um grande encontro com todos. Estamos também mobilizando diversas lideranças religiosas para fazer lives nas redes e desfazer as mentiras que estão sendo veiculadas, como a perseguição a padres, a perseguição a igrejas evangélicas”, informa Reimont. “Estou bem animado, acho que vamos vencer as eleições”, completa.
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