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WhatsApp Image 2022 09 30 at 20.22.54 1Por Denise Pires de Carvalho
Reitora da UFRJ

 

O ano de 2022 marca o bicentenário da independência do Brasil e uma escolha política das mais importantes desde a redemocratização do país. No próximo domingo, dia 2 de outubro, devemos escolher qual o projeto de nação que defendemos para nos tornarmos um país finalmente desenvolvido e menos desigual. Essa é a real polarização em jogo: os que lutam pela verdadeira independência e pelo desenvolvimento do Brasil e aqueles que o querem manter como um país periférico e subserviente aos interesses das potências econômicas internacionais. Essa última escolha tem como resultado a manutenção da desigualdade social, a insegurança pública, dentre outras mazelas brasileiras.

Não há exemplo de país no mundo que tenha se desenvolvido em termos socioeconômicos sem investimento em educação, ciência e tecnologia. Nenhum país que pretende se desenvolver pode prescindir de educação básica de qualidade e da educação superior associada à produção de conhecimento, que se reflete em maior capacidade de inovação.

Enquanto os países mais ricos e desenvolvidos aumentaram o investimento em pesquisa e desenvolvimento durante a pandemia, o Brasil vem assistindo ao desmonte das suas universidades e centros de pesquisa, que estão asfixiados com os sucessivos cortes nos orçamentos dos ministérios da Educação e da Ciência, Tecnologia e Inovação.

Esses ministérios são estratégicos e deveriam ser liderados por profissionais altamente qualificados e que defendam o modelo de Brasil soberano. Caso contrário, continuaremos patinando no subdesenvolvimento. Neste século, os países que não investem em inteligência artificial, novas formas de energia, inovação social e disruptiva, atenção à saúde ou na descoberta de novos fertilizantes estará escolhendo um futuro incerto como nação.

É urgente aumentarmos o acesso e a permanência no ensino superior, o número de mestres e doutores e a formação qualificada de professores para melhorar a educação básica. Devem ser essas as nossas urgências e não se pode avançar neste sentido sem investimento adequado por parte do Estado, conforme previsto na Constituição de 1988.

Nosso povo não merece continuar a ser explorado. Nossos biomas e nossas riquezas não devem ser utilizados para concentração de renda e nossas instituições de saúde, ensino e pesquisa devem parar de ser desqualificadas. Vamos escolher aquele que sempre esteve do lado da ciência, da educação de qualidade, contra o obscurantismo, a favor do desenvolvimento da nação brasileira, pois o fortalecimento do Sistema Único de Saúde e das instituições de Estado é um projeto que deve ser retomado no país o mais rápido possível, para garantir mais dignidade ao nosso povo.

Apesar de sermos independentes sob o ponto de vista legal e termos uma Constituição cidadã vigente, não somos uma nação verdadeiramente independente sob vários aspectos, o que foi confirmado durante o enfrentamento da pandemia pela Covid-19. Nesses últimos anos, assistimos perplexos à demonstração inequívoca da nossa total dependência de outros países do mundo para obtermos insumos farmacêuticos diversos, equipamentos hospitalares, fertilizantes, entre outros bens de consumo que poderiam ser produzidos no próprio país. Inclusive, a nossa atual Constituição tem sido perigosamente modificada ao longo do tempo.

Nos primeiros 100 anos após a proclamação da independência, a pobreza não foi combatida, sequer havia ensino superior consolidado e a educação básica era incipiente no país. Ou seja, naquela época continuamos perpetuando o modelo de país colonizado e com enorme parte de sua população alijada de educação e renda digna.

Durante os 100 anos subsequentes, houve avanços, porém a sociedade brasileira fez algumas escolhas políticas equivocadas e não privilegiou a educação e a ciência. Este fato, associado ao fenômeno da globalização das últimas décadas, promoveu a progressiva desindustrialização da nação, o aumento da pobreza e a dependência cada vez maior da importação de bens de consumo de alta tecnologia, que têm maior valor agregado. Com enorme mercado consumidor, por que dependemos da importação de insumos básicos para a produção de vacinas e medicamentos, por que não refinamos nosso próprio petróleo, dentre outras ações que diminuiriam o custo de vida da população, além de gerar mais empregos e renda? Se ao contrário, tivéssemos perseguido o modelo de nação independente, o que depende de financiamento suficiente por parte do Estado, já poderíamos ser exportadores de alta tecnologia.

Há alguma capacidade técnico-científica que foi instalada, com muita dificuldade, no Brasil nas últimas seis décadas, o que propiciou a transformação tecnológica nacional. Cito alguns exemplos importantes desse processo e que estão profundamente enraizados na UFRJ: tecnologia de exploração de petróleo em águas profundas, um projeto bem-sucedido de um dos primeiros trens de levitação do mundo e carros com motor movido a etanol e, mais recentemente, a hidrogênio. São descobertas científicas e tecnológicas que geraram riquezas, mas poderiam ter sido muito melhor aproveitadas pela nação.

Ressalto que a ciência brasileira é muito recente, pois foi estruturada há menos de um século, além de ser subfinanciada devido à escolha equivocada de alguns governantes. Sabemos que o país está polarizado e identificamos dois grupos bem diferentes.

Por um lado, há os que tentam mantê-lo a todo custo como colônia de exploração. Devemos refletir sobre os interesses velados daqueles que almejam manter o nosso país subdesenvolvido. Desta vez, a exploração da nação, de suas terras, riquezas e do seu povo, vem sendo realizada por esses mesmos grupos internos que se beneficiam financeiramente no curto prazo e não têm projeto coletivo de nação que se projete soberana no futuro.

Do outro lado, existem aqueles que sonham com o verdadeiro desenvolvimento do país. É com esse lado, soberano, altivo, emancipatório, cidadão, que sonho que a UFRJ contribua. Sem medo e com esperança.

Bom voto !

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