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WhatsApp Image 2022 09 30 at 20.22.53Alexandre Medeiros e Ana Beatriz Magno

‘Não há força maior no mundo do que a esperança de um povo que sabe que vai voltar a ser feliz”. Foi com essa frase que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva abriu a semana final de campanha, em seu discurso na live “Brasil da Esperança! Lula Presidente 13!”, na segunda-feira (26). No patamar dos 50% dos votos válidos nas duas principais pesquisas divulgadas esta semana — a do Ipec e a do Datafolha —, Lula lembrou que “falta só um tiquinho” para que vença no primeiro turno: “O tempo do ódio, o tempo da guerra, o tempo da desunião e da discórdia está chegando ao fim. Eu nunca tive tanta fé e tanta esperança como tenho hoje”.
É isso. Chegou a hora. A esperança de que a eleição presidencial seja decidida já no domingo foi alimentada pelas pesquisas do Ipec e do Datafolha. Na segunda-feira (26), o Ipec mostrou que Lula tem 52% dos votos válidos e Bolsonaro, 34% — os mesmos percentuais da rodada anterior. Ao analisar a pesquisa do Ipec, o sociólogo e cientista político Paulo Baía, professor do IFCS/UFRJ, enxerga duas ondas em formação nos últimos dias de campanha. “São ondas diferentes, mas são sinérgicas a favor de Lula. Há uma onda de contágio pró-Lula. E existe uma onda anti-Bolsonaro que impede o candidato do PL de crescer. Ele está rigorosamente estabilizado há mais de 20 dias”, avalia o professor.
Paulo Baía acha real a possibilidade de Lula vencer em primeiro turno, sobretudo se crescer a adesão ao voto útil ou necessário. “O levantamento do Ipec mostra uma indefinição em relação a Ciro Gomes (PDT), que teve uma pequena queda, e há uma tendência de desidratação de sua campanha. Pode ser que Ciro mantenha seu percentual de votos entre 6% e 8%, mas podemos ter uma surpresa, com ele despencando para o quarto lugar, com menos de 4%. Simone Tebet (MDB) se mostra mais estável e conquista entre 3% e 5% dos votos. Ambos estão sendo pressionados pelo voto necessário ou pelo voto útil dentro de seus próprios partidos”, diz Baía.WhatsApp Image 2022 09 30 at 20.47.23
A onda antiBolsonaro identificada pelo professor Paulo Baía teve algumas adesões expressivas durante a semana. Na terça-feira (27), o ex-presidente do STF, Joaquim Barbosa — que foi relator no tribunal do processo do mensalão, no qual votou pela condenação de dirigentes do PT — divulgou um vídeo com duras críticas ao candidato do PL. “Bolsonaro não é um homem sério. Não serve para governar um país como o nosso. Não está a altura. Não tem dignidade para ocupar um cargo dessa relevância. Nas grandes democracias, Bolsonaro é visto como um ser humano abjeto, desprezível”, diz Barbosa. O ex-ministro encerra assim o vídeo: “É preciso votar já em Lula no primeiro turno para encerrar essa eleição no próximo domingo”.
A onda anti-Bolsonaro também atingiu outro ex-presidente da Corte, o ex-decano Celso de Mello, que divulgou carta em que qualifica o presidente como “um político menor, sem estatura presidencial, de elevado coeficiente de mediocridade”. “Em defesa da sacralidade da Constituição e das liberdades fundamentais, em prol da dignidade da função política e do decoro no exercício do mandato presidencial e em respeito à inviolabilidade do regime democrático, tenho uma certeza absoluta: não votarei em Jair Bolsonaro! É por tais razões que o meu voto será dado em favor de Lula no primeiro turno”, diz a carta. Tucanos históricos, como o economista André Lara Resende, também declararam voto em Lula esta semana.
Divulgada na quinta-feira (29), pouco antes do debate entre os presidenciáveis na TV Globo (veja matéria sobre o debate na página 5), a pesquisa do Datafolha mostra Lula com 50% dos votos válidos e Bolsonaro, com 36%. A pesquisa revela uma leve queda de Ciro Gomes, de 7% para 6%, também detectada pelo Ipec. Para o professor Paulo Baía, a vitória de Lula em primeiro turno pode ser decidida em detalhes. “Vamos ver o comportamento dos eleitores de Ciro e Simone. Se houver uma movimentação do chamado voto necessário, ou útil, essa movimentação pode favorecer tanto Lula quanto Bolsonaro. Os dois estão trabalhando a tese do voto útil”.
A estabilidade nas intenções de votos de Lula e Bolsonaro nas pesquisas pode ser mais um fator a favor do candidato do PT nas suas pretensões de liquidar a fatura no próximo domingo. Em debate no programa Prós e Contras, da Jovem Pan News, de quinta-feira (29), a cientista política Mayra Goulart, vice-presidente da AdUFRJ, observou que essa estabilidade vem se mantendo. “Pesquisa é uma fotografia do momento, e as preferências estão estáveis ao longo do tempo, com poucas oscilações”, atesta Mayra, para quem a vitória de Lula em primeiro turno é uma possibilidade real.
Possibilidade feita de esperança. A poucas horas do voto na urna, vale lembrar outra frase de Lula na live do início da semana: “Nós vamos juntos reescrever a história”.

Cientista político diz que é impossÍvel cravar resultado

WhatsApp Image 2022 09 30 at 20.39.20PEDRO
LIMA
Professor de Ciência Política da UFRJ

“Fazer política é disputar hegemonia. Me parece que hoje a esquerda tem a hegemonia na chapa Lula e Alckmin. Alckmin saiu do PSDB, foi para o PSB, colocou boné do MST, cantou a Internacional, se aliou a Lula. Claro, que pode ser farsa e teatro, e que só saberemos se essa aliança empurrará o PT para a direita no decorrer do governo, mas até agora, me parece que a esquerda hegemoniza. Isso é muito importante num cenário eleitoral disputado como esse. É mais um indicador da importância de liquidar a eleição no primeiro turno porque fortalece a esquerda e reduz a margem de negociação.
Isso não significa que ter um segundo turno seja uma derrota. Claro que não é. Pode até ter um gostinho de derrota, mas não é uma derrota de jeito nenhum. Temos que colocar as coisas em perspectiva. Estamos lidando com um presidente fascista, bandido, criminoso. Lula foi preso, viu um golpe se realizar para evitar sua eleição. Neste contexto, somar 48%, 49% ou 51% dos votos não faz diferença. É uma supervitória.
A última pesquisa do Datafolha, divulgada na quinta-feira, não permite que a gente crave o resultado. Lula está em algum lugar entre 48 e 52%. O viés de alta da semana anterior parece, segundo a pesquisa, ter se estabilizado. É um cenário delicado porque Lula está muito perto de vencer no primeiro turno e qualquer mudança de voto é significativa. De quinta a domingo, a decisão girará em torno do que irá acontecer com os 2% de indecisos e com os votos de Ciro. Se parte de votos de Ciro e dos indecisos migrar para Simone Tebet, fortalece ainda mais a senadora na política nacional, e não favorece Lula. Já se parte desses votos forem para Lula, liquidaremos a fatura no primeiro turno, o que seria fantástico, porque derrotaríamos com força uma aberração política e fortaleceríamos a democracia”.

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