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WhatsApp Image 2022 09 05 at 15.53.06João Torres: “É um posicionamento claro em defesa da democracia, da universidade pública e do país”Reunidos em assembleia na quarta-feira (31), os professores da UFRJ referendaram a posição defendida pela diretoria da AdUFRJ de declarar apoio à candidatura de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), já no primeiro turno das eleições presidenciais. A decisão resultou da análise de que o momento político nacional é grave e de que a reeleição de Bolsonaro ameaça a democracia e a universidade. Por meio do Sistema Helios, 445 professores se manifestaram sobre a seguinte questão: diante da atual conjuntura política do país, você é a favor que a AdUFRJ declare apoio à chapa Lula/Alckmin?
Com apenas 20 abstenções, a votação deu larga margem de aprovação à posição da diretoria: 318 votaram sim (71,5%) e 107 votaram não (24%). A decisão dos professores da UFRJ é semelhante a outras posições de apoio à candidatura Lula tomadas nos últimos dias por sindicatos de docentes de instituições federais de ensino de todo o país.

Na mesma quarta-feira (31), a Associação de Docentes da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (ADUR-RJ) aprovou a defesa da candidatura Lula e a criação de um Comitê de Luta da UFRRJ. O apoio a Lula no primeiro turno já havia sido decidido pelos docentes da UFPB (ADUFPB) e pelos professores das universidades federais do Ceará, reunidos na ADUFC. Esse movimento nacional se contrapõe à posição de neutralidade assumida pelo Andes que, ao longo do processo eleitoral, se limitou a pedir o Fora Bolsonaro.

Para o presidente da AdUFRJ, professor João Torres, a expressiva aprovação da base à posição da diretoria reforça um compromisso assumido ainda durante a campanha eleitoral do sindicato. “Nosso programa dizia que iríamos apoiar o candidato do campo democrático com maior viabilidade eleitoral para derrotar Bolsonaro e tudo o que ele representa. As pesquisas indicam que esse candidato é o Lula e nos sentimos muito à vontade para levar este processo à frente”, afirmou o presidente. “É importante ressaltar que o apoio político a Lula não implica de forma alguma apoio financeiro ou perda de autonomia em relação a qualquer partido. É um posicionamento claro em defesa da democracia, da universidade pública e do país”.

POLÊMICAS NA ASSEMBLEIA
Realizada de forma híbrida, a assembleia da AdUFRj contou com a participação de sete professores no auditório da Escola de Química, no CT do Fundão, e de 41 de forma remota, durante os debates que tomaram toda a manhã. Algumas unidades fizeram reuniões prévias e levaram seus informes. A professora Aline Caldeira Lopes, da Escola de Serviço Social, leu uma nota elaborada a partir de uma reunião na unidade, realizada no último dia 29, que divergia da posição da diretoria. Com o mote de “nenhum voto em Bolsonaro”, a manifestação dos docentes da Escola de Serviço Social teve o apoio dos professores do Colégio de Aplicação — em relato feito pela professora Renata Flores — e se alinhou à neutralidade do Andes.

O posicionamento do sindicato nacional foi defendido pelo diretor regional da entidade no Rio, professor Markos Klemz. “Eu vou votar no Lula no primeiro turno, votei no PT no primeiro turno em todas as eleições presidenciais. Mas acho que o debate é outro. A gente não está num momento de simbolismos vazios, nem num momento de fomentar disputa interna. Defendo a posição de autonomia sindical. Sindicato não é partido, isso enfraquece os dois”, argumentou o professor. O mesmo posicionamento foi defendido pelos professores Luís Acosta e Carla Ferreira, ambos da Escola de Serviço Social, Claudio Ribeiro, da FAU, Fernanda Vieira, do NEPP-DH, e Rodrigo Volcan, do Instituto de Química.

Pela diretoria da AdUFRJ, na direção oposta, a professora Mayra Goulart, vice-presidente do sindicato, fez uma análise da conjuntura e sustentou o apoio a Lula no primeiro turno: “O propósito desta assembleia é de contestação. Contestação à postura de um sindicato nacional que não toma um partido definido diante de uma eleição como essa. Não é uma eleição na qual eu vou votar serena, tranquila. A existência da universidade e da docência de ensino público superior, tal como conhecemos, está ameaçada. E é diante dessa ameaça que nós, como seção sindical, entendemos que o conceito de autonomia é mantido quando tomamos posição. Não é o momento de tergiversar diante das urnas. Por isso estamos indicando o voto em Lula. Não somos um sindicato só de sindicalistas, nós defendemos a categoria e a universidade”.

A professora Leda Castilho, da Coppe, foi enfática “Os severos cortes orçamentários põem em risco até a continuidade do sistema de educação superior, e de C&T. Resgatar a esperança significa derrotar Bolsonaro, e para isso temos que eleger Lula. O Andes é contra esse apoio. Mas várias ADs estão tirando o Andes desse imobilismo. Não são eleições normais. Na prática, é um plebiscito. Até para garantir que daqui a quatro anos as nossas universidades ainda existam. Por isso apoio a posição da diretoria da AdUFRJ”, defendeu Leda.

Na mesma linha, os professores Ricardo Medronho e Ana Lucia Fernandes, diretores da AdUFRJ, centraram suas falas no risco à democracia que Bolsonaro representa. “Desde o final da ditadura, a democracia no Brasil nunca esteve tão ameaçada. E isso exige que tomemos decisões não convencionais. É óbvio que sindicatos não podem estar atrelados a partidos, precisamos preservar a autonomia. Porém, neste momento, é importante vencer o fascismo. E para isso temos que apoiar a candidatura Lula”, ponderou Medronho. “Para resgatar o país da barbárie temos que dar apoio político e eleger Lula presidente no primeiro turno. Adotar a neutralidade significa um risco”, observou Ana Lucia.

Os professores Pedro Lagerblad, do IbQM, Hélio de Mattos, da Faculdade de Farmácia, e Maria Paula Araújo, do Instituto de História, também destacaram a singularidade do momento político do país. Essa avaliação, que endossou a posição da diretoria, pode ser resumida na fala da professora Eleonora Ziller, ex-presidente da AdUFRJ. Ela citou o poeta português Luis de Camões: “Estamos diante de um processo de fascistização, com um governo com apoio explícito neonazista, gastando bilhões para ganhar a eleição, e ainda tem gente achando que nós temos uma eleição no campo democrático. Com diria Camões, ‘cesse tudo o que a musa antiga canta, que outro valor mais alto se alevanta’. Temos que eleger Lula no primeiro turno”.

ADICIONAIS E PROGRESSÕES: AÇÕES COLETIVAS

Por unanimidade, a assembleia autorizou a direção da AdUFRJ a ingressar na Justiça com duas ações coletivas: em defesa dos direitos das progressões de carreira e pela garantia do pagamento dos adicionais de insalubridade. O presidente da AdUFRJ, professor João Torres, informou que há 461 ações em curso com a assessoria jurídica do sindicato, muitas delas referentes aos adicionais e às progressões, e que já foram esgotadas as tentativas de resolução dos impasses relativos aos dois temas por via administrativa.

“Como primeiro passo para viabilizar essa ofensiva na Justiça, vamos realizar reuniões com a assessoria jurídica e os professores interessados nos dois temas para debater a melhor formulação de cada ação”, anunciou João Torres. As datas das duas reuniões serão amplamente divulgadas. Ele também informou que a AdUFRJ vem recebendo colaborações de outros sindicatos de docentes que já avançaram com ações na Justiça, como a Associação dos Professores da Universidade Federal do Paraná (APUFPR), que obteve êxito para o pagamento de adicionais de periculosidade, insalubridade e raio-x durante o trabalho remoto.

A professora Roberta Pereira Coutinho, do curso de graduação em Enfermagem e Obstetrícia do campus Macaé, relatou a dificuldade de se encontrar quem queira assumir cargos de gestão ou direção, pelo temor de perder o adicional de insalubridade. “Temos muita dificuldade de preencher esses cargos, pois ninguém quer perder seus adicionais ao assumir um novo posto, e acho que esse não é um problema exclusivo de Macaé”, observou a professora.

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