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Por Silvana Sá e Beatriz Coutinho

 

WhatsApp Image 2022 02 25 at 22.36.501O ensino remoto foi necessário para a universidade, ao longo da pandemia, mas está na hora de acabar. Este é um consenso entre professores das mais diferentes unidades e centros e é o debate central da universidade nos últimos dias. Apesar da certeza sobre a importância de voltar aos campi, a comunidade acadêmica tem muitas dúvidas sobre como garantir a plena segurança de docentes, estudantes, técnico-administrativos e terceirizados após dois anos de uma pandemia que ainda mata quase mil pessoas por dia no Brasil.

Essa segurança passa pela vacinação, mas a UFRJ ainda não tem uma política clara sobre como vai cobrar a comprovação da vacina para aqueles que acessarem suas dependências. A medida já foi adotada para professores e técnico-administrativos. O controle é feito via chefias imediatas. O maior desafio é exigir a imunização dos estudantes. O segmento compreende mais de 69 mil alunos de graduação e pós-graduação.

A proposta da reitoria é a aplicação de um questionário para o controle vacinal no momento da inscrição em disciplinas. “Esse questionário tem objetivo epidemiológico, para conseguir entender quais seriam as nossas fragilidades nessa situação”, explica o vice-reitor Carlos Frederico Rocha.

A medida, no entanto, é considerada insuficiente para a comprovação da imunidade.  “Não queremos um passaporte ‘para inglês ver’. Queremos que o atestado vacinal possa ser registrado no SIGA”, considera o professor João Torres, presidente da AdUFRJ. “Passaporte vacinal é importante para a proteção de toda a comunidade. Um indivíduo não vacinado vai transmitir o vírus com muito mais eficiência”, reforça o professor Roberto Medronho, coordenador do GT Coronavírus da UFRJ.

A preocupação do docente, especialista em epidemiologia, se justifica pelos números. Apesar dos bons índices atingidos até agora no país, muita gente ainda não se imunizou. A taxa de pessoas com o esquema completo no Brasil, entre a população vacinável, é de 78%. Entre os maiores de 18 anos, menos de 40% tomaram a dose de reforço, até o momento. No Rio de Janeiro, o índice dos imunizados é de 71% entre aqueles acima de 5 anos de idade, e de 80% entre maiores de 12 anos.

Com boas taxas, mas ainda aquém do ideal, o professor Medronho recomenda que a universidade realize a cobrança aos estudantes via Sistema Integrado de Gestão Acadêmica (SIGA). “Os alunos podem fazer o upload do comprovante no momento da matrícula no SIGA. E no diário do professor pode estar indicado os alunos que não se vacinaram. O docente teria o poder de cobrar um teste negativo dos não vacinados”, sugere. “Considero perfeitamente factível que a nossa universidade, que tem grande tradição na área de tecnologia e computação, cobre esse comprovante nesta forma digital”.

Outra proposta aventada – e que começou a ser colocada em prática em algumas unidades – foi a cobrança do comprovante nas portarias dos edifícios. Neste caso, o profissional terceirizado de segurança é o responsável por exigir o documento de vacina. A medida, no entanto, apresenta limitações, e fica inviável num contexto de alta circulação de pessoas. “Formalmente, não temos uma designação de recursos humanos para uma cobrança nas nossas entradas”, pontuou a professora Terezinha Marta Castiñeiras, chefe do Departamento de Doenças Infecciosas da Faculdade de Medicina, durante a Plenária de Decanos e Diretores da última terça-feira (22).

Coordenadora do Centro de Triagem Diagnóstica (CTD) da UFRJ, ela também é a favor do questionário para mapear pessoas não imunizadas. “Os não vacinados constituem uma população pequena, não vejo isso como um grande desafio, e a expectativa é que essas pessoas tenham se infectado com a Ômicron. Isso significa um período de pós-infecção que coincide com o nosso retorno”, explica. A infectologista aponta a boa cobertura vacinal do estado do Rio como critério para que as preocupações em torno dos não vacinados seja reduzida. Além disso, ratifica o apoio do CTD na vigilância epidemiológica e no monitoramento de casos.

Para o professor Pedro Lagerblad, do Instituto de Bioquímica Médica, qualquer decisão que se tome sobre o passaporte vacinal precisa ser de caráter educativo. “É uma questão de marcar posição, mas com impacto epidemiológico pequeno, por conta da taxa de vacinação na cidade do Rio de Janeiro, que é de 90%”, declara. “É relevante pedir, do ponto de vista educativo, mas eu não acho que se deva impedir a matrícula de alunos não vacinados, por exemplo”.

As mudanças no cenário epidemiológico, segundo o docente, apontam para uma tendência de baixa taxa de transmissão e número de casos em abril. “Ainda estamos num momento de transmissão importante, o que sustenta o argumento de exigir o comprovante. Minha impressão, no entanto, é que até o final de abril esta questão será letra morta, a menos que apareça uma nova variante”, considera o ex-diretor da AdUFRJ. “A realidade é que a gente precisa estar preparado para dois ou três cenários, mas as projeções, neste momento, indicam um cenário mais favorável em abril”.

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