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Na semana passada, a assembleia geral da AdUFRJ aprovou, com críticas, a construção de uma campanha salarial unificada dos servidores públicos federais, com possibilidade de greve. Mas constituir um movimento que pretende representar os mais de 584 mil servidores ativos do Executivo Federal não é tarefa fácil. Até agora, o consenso gira em torno da ideia de que é preciso agir para tentar reverter as perdas salariais. E já. O índice de reajuste defendido pelo Fórum das Entidades Nacionais dos Servidores Públicos Federais (Fonasefe) é de 19,9%, mas os docentes acumulam perdas bem maiores nos últimos três anos. “Há um contexto favorável para reivindicar reajuste. Estamos em ano eleitoral, o governo Bolsonaro atribuiu boa parte do orçamento ao Centrão, que não têm muitas preocupações com amarras fiscais”, aponta a cientista política e vice-presidente da AdUFRJ, professora Mayra Goulart.

Mas uma greve por tempo indeterminado não unifica o movimento docente. “É um cenário pontualmente favorável, em meio a um contexto muito desfavorável para nós. Uma greve durante uma pandemia e trabalho remoto pode confundir a sociedade”, acredita Mayra. “É preciso buscar outras formas de mobilização, com a universidade aberta, com aula, com envolvimento presencial da comunidade acadêmica”, defende a professora.

O presidente da AdUFRJ, professor João Torres, tem o mesmo entendimento. “Não queremos ficar imóveis num cenário em que os docentes já perderam em torno de 30% da renda desde nosso último reajuste”, pontua. “No entanto, é um momento em que a universidade é vista pela sociedade como um lugar de privilégio, porque conseguiu trabalhar até agora remotamente, na pandemia. Para a maioria das pessoas, há uma percepção de que os professores universitários não perderam salário, enquanto outros grupos ficaram meses sem renda”, pondera o dirigente.

Outro argumento levantado pela diretoria da AdUFRJ diz respeito ao governo Bolsonaro. “A gente faz greve por vários motivos. Um dos motivos é desgastar o governo, mas me parece que este não é um bom mecanismo para desgastar o governo Bolsonaro. Ao contrário, uma greve pode reforçar a narrativa dele”, diz João Torres. “Precisamos construir um movimento de negociação salarial que não coloque a sociedade contra a gente e que não fortaleça o discurso do governo. Greve por tempo indeterminado vai colocar a sociedade contra nós”, afirma.

Construção delicada
O funcionalismo federal congrega profissionais de Saúde, de Pesquisa, de Educação e das chamadas carreiras típicas de Estado, como auditores, procuradores e defensores públicos. Não é novidade que os primeiros grupos sofrem com desvalorização salarial, perdas de direitos e desprestígio, enquanto as carreiras consideradas da elite do funcionalismo vivem um cenário praticamente oposto. Os salários iniciais desses segmentos — aprovados em concursos que exigem apenas a graduação — são maiores do que os vencimentos de professores titulares. Essas contradições também fragilizam a mobilização das categorias profissionais. Além de representarem um risco, quando o assunto é o apoio da população às pautas de reivindicação.

“Uma considerável parte da nossa sociedade ou teve redução salarial ao longo da pandemia, ou ficou sem qualquer fonte de renda. A gente espera que esse segmento tão fragilizado apoie uma greve de pessoas — especialmente os auditores — que ganham 20 salários mínimos no início da carreira?”, questiona o professor Felipe Rosa, do Instituto de Física. Ex-diretor da AdUFRJ, ele pede cautela aos docentes. “Se construirmos um movimento unificado, precisaremos ter nossas pautas muito claras para a sociedade. Nós temos uma relação com o Serviço Público que o entende efetivamente como prestação de serviço. Essas carreiras típicas de Estado têm outra relação, uma relação de empregado e empregador, puramente. Essa alta casta votou maciçamente em Bolsonaro, em 2018. E acredito que, se ganharem um reajuste expressivo, votarão nele novamente neste ano”.

Para o professor Luis Eduardo Acosta, da Escola de Serviço Social, a greve é um instrumento importante para mobilizar os servidores. Embora reconheça as dificuldades do período remoto, ele defende a suspensão das atividades por tempo indeterminado. “Uma unidade ampla nos possibilita realizar uma pressão intensa. Tivemos grandes perdas salariais neste período. Seria um erro deixar passar este momento”, acredita. Ele sugere a realização de atividades na rua, com mostras sobre o conhecimento desenvolvido na universidade, além de assembleias comunitárias da UFRJ. “É preciso buscar unir forças, inclusive com outras universidades federais do Rio de Janeiro. Nossa capacidade de pressionar o governo está em construir uma opinião pública favorável ao movimento”.

O Andes defende a campanha unificada e a greve. “Os ataques que temos enfrentado na Educação com o corte orçamentário, as tentativas de privatização, são tão fortes que, se a gente não mostrar força agora, vai ser muito difícil reverter o quadro que se apresenta de destruição da Educação e dos serviços públicos”, afirma a professora Regina Ávila, secretária-geral do Andes. “A mobilização unitária dos servidores já foi vitoriosa no ano passado, quando conseguiu impedir que a PEC 32 (da reforma administrativa) fosse a voto em plenário. Precisamos manter esse movimento”, justifica. No dia 22 de fevereiro, as seções sindicais das universidades federais, filiadas ao Andes, vão se reunir remotamente para debater o formato da greve, de acordo com as discussões ocorridas nas assembleias locais.

Mudanças no calendário
O Fonasefe se reuniu nesta quinta-feira (17) e modificou o calendário de mobilizações. Antes, a greve nacional dos SPF seria deflagrada em 9 de março. Agora, o entendimento mudou. “Avaliamos que nenhuma das categorias estava preparada para entrar em greve. Então, reforçaremos o dia 8 de março, Dia Internacional da Mulher, com atividades. E apontamos o dia 16 de março como Dia Nacional de Greve dos Servidores Públicos”, revela David Lobão, representante do Fonasefe. A paralisação por 24 horas terá atos em todas as capitais e será um “ultimato ao governo”, nas palavras do dirigente. “O governo terá mais 15 dias para nos receber e iniciarmos uma negociação. Caso contrário, começaremos a greve por tempo indeterminado a partir do dia 30 de março”.

O professor Pedro Lagenblad, do Instituto de Bioquímica Médica e ex-diretor da AdUFRJ, no entanto, questiona os prazos para uma ampla mobilização nacional. “Um movimento deste porte tem fôlego curto para pressionar, porque em abril entramos no período pré-eleitoral, no qual não será mais possível conceder reajustes ao funcionalismo, por força da legislação”, adverte. “Além disso, este é um período delicado, de recesso e preparação para o retorno presencial. Parar por tempo indeterminado é um cenário desastroso, porque prejudica os estudantes e vai nos custar muito caro. Temos outros caminhos possíveis, como paralisações pontuais e a realização de grandes atos de rua, desde que o cenário epidemiológico permita”, defende.

ATO PÚBLICO NO RIO
Servidores públicos federais na luta por recomposição salarial e pela valorização do Serviço Público Federal fizeram ato no Centro do Rio na terça-feira (15). Com faixas e cartazes, os manifestantes se concentraram em frente aos prédios do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e nas escadarias da antiga sede do Ministério da Fazenda. Representes de sindicatos de servidores de autarquias como o IBGE e o INPI e de instituições de ensino participaram da atividade. O ato fez parte da mobilização nacional dos servidores públicos, teve o apoio do Andes e da AdUFRJ, mas não conseguiu levar às ruas um grande contingente de pessoas.

Adufrj em Macaé: professores debatem retorno presencial
A diretoria da AdUFRJ se reuniu com docentes de Macaé, nesta sexta-feira (18), para debater condições para o retorno presencial. Também participaram representantes do GT Pós-Pandemia e da Coordenação de Apoio ao Ensino. O primeiro período letivo de 2022 começa em abril e preocupa a comunidade universitária. Foi definida uma série de encaminhamentos: cobrança de passaporte vacinal nos prédios de Macaé; garantias do fornecimento de equipamentos de proteção individual; avaliação das condições de infra-estrutura predial e de redes para o retorno; além da cobrança de resolução do CEG sobre o atendimento aos estudantes com comorbidades e não vacinados.
O retorno presencial também será assunto do Conselho de Representantes da AdUFRJ, na próxima terça-feira (22). O encontro acontece virtualmente, às 10h.

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