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WhatsApp Image 2021 11 05 at 19.40.17Nelson Freire partiu para encantar plateias celestiais na véspera de finados, uma segunda-feira chuvosa no Rio de Janeiro, cidade em que o mineiro escolheu viver.  O que nem todos sabem é que, junto, o artista levou um pedacinho da UFRJ. Em 15 de setembro de 2011, o pianista subiu ao imponente palco da Escola de Música não para se apresentar, como fez tantas vezes ao longo da carreira, mas para receber o título de Doutor Honoris Causa da universidade. “O reconhecimento da maior instituição acadêmica de música do meu país, nesta cidade que escolhi viver, me enche de alegria e profunda emoção”, disse Nelson, na ocasião.
O pianista era retraído com as palavras. Algo que não escondeu no curto discurso que proferiu. Assim como o amor pelo Rio de Janeiro, onde residiu até os momentos finais.  “Com a música, é possível expressar sentimentos sem dizer uma palavra. Hoje sinto uma emoção que dificilmente conseguirei traduzir em palavras”, afirmou, segundo notícia na página da Escola. “Há anos, ando pelo mundo. Mas é para cá que volto. A praia, o ar, as nuvens e os sabores desta cidade me alimentam como nenhuma outra”, completou.
Diretor em 2011, André Cardoso relembra que a Escola de Música abraçou a homenagem sem hesitação. “Um artista consagrado no mundo inteiro. O maior pianista brasileiro da geração dele. Tocou com as principais orquestras”, afirmou. Superpremiado ao longo da carreira, Nelson receberia da UFRJ seu primeiro título acadêmico. “Era o reconhecimento da mais antiga instituição de ensino musical do país, que é a Escola de Música da UFRJ, em função da carreira dele, levando o Brasil pelos palcos do mundo. Depois, ele recebeu da UFMG e de outras instituições”.
O então vice-reitor da UFRJ, professor Antônio Ledo, recorda com carinho de uma curiosidade que cercou os preparativos daquela  sessão solene. O professor Aloísio Teixeira, que era o reitor da UFRJ até julho daquele ano — e que viria a falecer no ano seguinte —, entusiasta de música clássica e fã de Nelson Freire, queria assistir a uma apresentação musical do pianista. “Isso foi pensado. Mas acabou não ocorrendo”, disse Ledo. Ao final, Aloísio cobrou: “Você não fez ele tocar?”, recorda o ex-dirigente, divertido.WhatsApp Image 2021 11 05 at 19.37.40EM 2011, o diretor da Escola de Música, André Cardoso; a decana do Centro de Letras e Artes, Flora de Paoli; o vice-reitor Antônio Ledo; e o homenageado, Nelson Freire, durante a sessão solene de outorga do título de Doutor Honoris Causa - Foto: Ana Liao
O professor Giulio Draghi representou o Departamento de Instrumentos de Teclado e Percussão, de onde partiu a ideia da homenagem, no evento de 2011. “Lembro que ele chegou uma hora antes e ficou ensaiando com a página de papel que leu. Foi muito bonito”, relatou. Outra beleza da noite foi a gentileza característica de Freire, que ainda ficaria um bom tempo do pós-cerimônia conversando e tirando fotos com todos que pediram.

O GÊNIO
Giulio teve a oportunidade de visitar a casa do artista uma vez, ao lado de alguns amigos, quando ainda era estudante, no início dos anos 80. E lembra de uma passagem marcante, ao encontrar algumas partituras pela casa. Pensava que veria anotações ou marcações nos papéis, algo que poderia guiar seus estudos depois. “Os músicos escrevem nas partituras. Mas não tinha uma marca. Nada! Aí eu me dei conta que ele tinha uma leitura fabulosa, que não precisava marcar nada”, afirmou.
Sempre que possível, Giulio não perdia nenhuma apresentação de Nelson Freire no Rio. “Ele nunca parava de progredir. Era inacreditável. Há pessoas que sofrem uma crise, depois se reencontram”. Nelson Freire não oscilava para baixo. “Mesmo que fosse uma peça que eu já tivesse visto, nunca era igual. Era sempre melhor”, descreve.
O docente ainda não se conformou com a morte do pianista. Separou os LPs e CDs, olhou as capas, buscou lembranças, mas ainda não conseguiu ouvir nenhum deles. “Foi uma tragédia não anunciada. Isso me impede agora de ouvi-lo imediatamente. Ainda vou esperar mais um pouco”.

Um único concerto com a
Orquestra Sinfônica da UFRJ
Seis anos após receber o título de Doutor Honoris Causa, Nelson Freire fortaleceu o vínculo com a universidade. Em julho de 2017, realizou sua única apresentação com a Orquestra Sinfônica da UFRJ, no palco do Theatro Municipal. “Eu era diretor artístico do Theatro e fiz essa programação em homenagem aos 130 anos do maestro Villa-Lobos (1887-1959)”, conta o professor André Cardoso. Os ensaios eram realizados na Escola de Música, para deleite do corpo discente. “Evidentemente, os alunos iam falar com ele”, completa o ex-diretor. O espetáculo pode ser conferido no Youtube, no canal da Academia Brasileira de Música.

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