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WhatsApp Image 2021 06 24 at 19.57.06Que tal assistir ao documentário “Jango” (1984) e, logo em seguida, discutir o filme com o próprio diretor, Silvio Tendler? Ou conversar com um cineasta indígena, direto do Xingu, sobre produções audiovisuais que abordam o cotidiano das aldeias? Ou, ainda, com ajuda do historiador Francisco Carlos Teixeira, identificar os traços autoritários da sociedade atual no cinema italiano do século XX? Este “cardápio”, diversificado e de qualidade, tem sido a marca do CineAdUFRJ, que completa 20 sessões na próxima semana.
O cine nasceu de uma parceria entre o sindicato e o Grupo de Educação Multimídia (GEM) da Faculdade de Letras, no início das medidas de isolamento social. A primeira sessão ocorreu em 29 de abril de 2020, sobre o filme “Você não estava aqui”, do cineasta britânico Kean Loach, debatendo o universo do trabalho contemporâneo. “A nossa preocupação era como fazer a universidade ter uma vida cultural online na pandemia”, explica a presidente da AdUFRJ, professora Eleonora Ziller. As sessões, realizadas na plataforma Zoom, são abertas. Os links são divulgados previamente na página do GEM e nas mídias do sindicato.
E vida cultural intensa é o que não falta no cineclube, que discute temas da conjuntura através da interpretação de grandes clássicos, produções independentes e mesmo do cinemão comercial. “Trabalhamos com fragmentos de filmes, apresentando olhares diferentes sobre um mesmo tema”, diz Eleonora. Para ninguém ficar perdido, em toda sessão é apresentada uma “costura” dos pedaços de cada obra.
A presidente da AdUFRJ entende que a iniciativa tem tudo para crescer e se tornar uma atividade permanente do sindicato. “Há muitos núcleos que discutem cinema na UFRJ. Na Educação, na Comunicação, em diversas áreas”, afirma. “Espero que a ideia frutifique, que novos vínculos sejam construídos para o futuro”.
“AMPLIAMOS O ALCANCE”
A criação do cineclube também foi vantajosa para o GEM/Letras, que é voltado para a formação de professores de linguagens. Atividades ligadas ao cinema, claro, faziam parte do projeto. Mas a cooperação com o sindicato potencializou esta parte desenvolvida pelo grupo. “Sistematizamos a prática, ampliamos o alcance do debate e aprofundamos os temas”, diz o professor Paulo Maia, que faz parte da coordenação desde 2016.
A proposta está em constante aperfeiçoamento. Um exemplo é a redução do tempo para as apresentações iniciais dos convidados. “Antes, a gente dava 20 minutos e percebemos que isso era uma enormidade na internet”, acrescenta o docente da Letras, que enfatiza não haver perda de conteúdo. “Depois, no debate, o palestrante pode aprofundar o tema”. Outro critério desenvolvido ao longo do cineclube é manter, entre os especialistas, pelo menos um representante da universidade e um debatedor externo.
Ao fim de cada sessão, recomeça o trabalho para produzir a próxima. Temas são sugeridos, avaliados e preparados em conjunto entre os estudantes e professores. “Faz parte da construção coletiva e democrática do próprio projeto”, diz Paulo.
Entre todas as sessões, o professor chamou atenção para um fato da edição de 26 de agosto, que abordou o protagonismo indígena no cinema. O cineasta Takumã Kuikuro participou diretamente de sua aldeia, no Xingu, graças a um equipamento movido a energia solar. “Podemos dizer que realizamos o cineAdUFRJ no coração da Amazônia. Pudemos trazer o Xingu para a UFRJ e levar a UFRJ para o Xingu”, relata Paulo.
Com mais de um ano de duração, o cineadufrj já produziu outras curiosidades. Uma delas é que o professor José Carlos Félix, da Universidade Estadual da Bahia, convidado em outubro passado para falar sobre direito à cidade, acabou se tornando um sócio de carteirinha do evento. “Foi amor à primeira participação”, brinca o coordenador do GEM.
A vida longa do projeto já era um desejo dos organizadores. “O que não imaginávamos era que o formato online fosse durar tanto. A gente não vê a hora de voltar às atividades presenciais para manter o cineclube presencial e aproveitar a vantagem dessas plataformas digitais para ampliar a participação dos convidados e interessados”, afirma Paulo.
Os estudantes também elogiam a parceria com o sindicato. Hoje professora substituta do Departamento de Letras da UFRRJ, Sabrina Lopes ingressou nas atividades do GEM durante o doutorado na UFRJ. Segundo ela, que segue colaborando com o grupo mesmo após a conclusão do curso, a experiência ajuda muito seu trabalho atual, em tempos de aulas remotas. O cineadufrj se tornou uma de suas referências. “Estou dando um curso de análise do discurso. Os debates me trouxeram referências e um olhar para a linguagem que eu não tinha”, observa.

Questão palestina

O cineclube não foge de temas polêmicos. A próxima sessão, no dia 30, às 18h30, vai debater a questão palestina com Michel Gherman, historiador, professor e coordenador do Núcleo Interdisciplinar de Estudos Judaicos da UFRJ e Ualid Rabah, presidente da Federação Árabe Palestina do Brasil.,
O contexto dos ataques entre os dois lados nas últimas semanas e da mudança do primeiro-ministro israelense motivou a realização do painel. “Vimos uma oportunidade de entender as raízes do problema é como ele se transforma”, diz o coordenador do GEM, que ainda pretende discutir o negacionismo da Ciência e a matriz energética dentro do cineclube.

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