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WhatsApp Image 2021 06 24 at 19.56.08Foto: Fernando SouzaDepois de 15 meses de isolamento social, e com uma terceira onda da pandemia no horizonte próximo, é claro que eu tive medo de ir para a rua, no meio de uma multidão. Mas venci o temor e, mesmo sem saber como reagiria no meio de tanta gente, fui para a Presidente Vargas no último sábado, 19 de junho. O medo de ter medo durou pouco. Estava cercado de pessoas preocupadas em manter suas máscaras e procurando algum distanciamento. Em instantes, eu estava mais tranquilo e caminhava pelo Centro do Rio de Janeiro cheio de esperança.
“Medo eu tenho, mas a gente precisa vir para a rua para parar este homem”, me disse Isabel Fernandes. Com seus “mais de 70” anos, ela carregava um cartaz que dizia “Tanta coisa errada que não cabe em um cartaz. Fora, Bolsonaro”. Aposentada, Isabel estava na rua, enfrentando uma pandemia, para defender a vida. Sua presença ali, nossa conversa, eram lembranças importantes de que aquela multidão não estava na rua por capricho, mas para enfrentar um projeto de morte e destruição do país.
Lutando pela vida, cercado de gente depois de muito tempo em isolamento, com baterias marcando o ritmo da passeata e ajudando a entoar as palavras de ordem, a Presidente Vargas se tornou o lugar do encontro. Do encontro de conhecidos que não se viam há meses, de desconhecidos com a multidão e um encontro das pessoas com a rua, o palco maior de disputas políticas.
“Uma linda passeata. Diversa, de muitas cores, muitas bandeiras, muita energia”. Assim a presidente da AdUFRJ, Eleonora Ziller, definiu o ato, ainda enquanto ele se dispersava, na Candelária. “A gente sai daqui com o coração aquecido”, resumiu. Suas palavras expressam bem o sentimento coletivo ali naquela manifestação. Tão forte que podia ser sentido por qualquer um que estivesse ali. Efeito do encontro daquelas dezenas de milhares de pessoas em uma luta em defesa da vida.WhatsApp Image 2021 06 24 at 19.57.04Foto: Fernando Souza
O professor João Torres de Mello Neto, do Instituto de Física da UFRJ, foi ao ato e ficou feliz por encontrar as suas filhas, Juana e Cora. “Foi muito bom poder encontrá-las”, contou. Ir à manifestação também era uma preocupação para João, mas ela foi superada na rua. “Eu mesmo confesso que tenho questões de vir para a rua no meio da pandemia, mas coloquei duas máscaras, tentei ficar relativamente longe das pessoas e acho que não tive problemas”, relatou. Para ele, o dilema entre se expor ao risco ou lutar contra o governo tem uma resposta. “Aquele antigo ditado, entre a cruz e a espada, agora virou entre o vírus e Bolsonaro. Mas como o Bolsonaro está do lado do vírus, vamos para a rua combater os dois”, disse o professor.
A possibilidade de estar junto foi uma das forças da manifestação. A professora Beatriz Resende, da Faculdade de Letras da UFRJ, teve essa mesma sensação. “Foi uma volta às ruas, um reencontro com os companheiros, e isso já me deu ânimo e esperança”, contou a professora. Em tempos de isolamento, com a UFRJ sem aulas presenciais há mais de um ano, rever os colegas e os jovens estudantes, que vieram em bloco representados pelo DCE, foi revigorante para Beatriz. O encontro proporcionou essa vivacidade. “A energia era de esperança, de positividade. Essa volta às ruas tem que mostrar que foi preparada. Que estamos esperando por isso, que queremos ser vistos e que essa voz das ruas vai significar alguma coisa”, observou a professora.
A comoção coletiva na Presidente Vargas, com uma multidão com cartazes, vestindo as mais variadas cores e caminhando, cheia de esperança, ao som de baterias me remeteu, talvez por saudade, ao carnaval. Em 2018, a Mangueira venceu o carnaval com um dos desfiles mais potentes já vistos na Sapucaí. O enredo contava a história do Brasil pela perspectiva das pessoas negras, das mulheres, dos torturados e perseguidos pela ditadura. Saí da Candelária no sábado com um verso daquele samba na cabeça. Um verso que me explicava o que eu tinha visto e o que ainda está por vir, sempre com a certeza de que é “na luta é que a gente se encontra”.

24 de Julho: movimentos marcam nova data de protestos

WhatsApp Image 2021 06 24 at 19.57.03Foto: Fernando SouzaO dia 19 de junho contou com atos em quase todas as capitais. Diante do sucesso, a organização do movimento “Fora, Bolsonaro” convocou novas manifestações para o dia 24 de julho.
Para Flávia Calé, presidente da Associação Nacional de Pós-Graduandos, uma das entidades organizadoras do movimento, o 19 de junho mostrou que os atos têm sido bem-sucedidos. “Temos tido êxito em construir atos que assegurem as medidas sanitárias. E vamos ficando mais à vontade para construir essa agenda de mobilização de rua”, contou.
A nova data das manifestações é mais de um mês depois do 19 de junho. Essa distância foi alvo de críticas nas redes sociais. Mas para Flávia esse tempo é importante em nome da segurança sanitária e para o desenvolvimento do movimento. “Em um contexto de pandemia é difícil chamar atos de rua, por isso não podemos banalizar. Precisam ser atos bem construídos, para alcançar muita gente, sob pena de termos atos que começam a definhar”, explicou a presidente da ANPG. “Mais tempo ajuda na construção de unidade entre os movimentos. Nossa tentativa tem que ser de ampliar a mobilização, para que a gente não fique só no espectro da esquerda, mas consiga avançar para o centro democrático”.
Josué Medeiros, cientista político e diretor da AdUFRJ, achou acertada a decisão de marcar os próximos atos em 24 de julho. “O que temos que fazer até lá é produzir atos descentralizados”, defendeu Josué. “O fato do ato unificado ser em 24 de julho não nos impede, pelo contrário, nos exige que façamos pequenas intervenções, nas praças, nos bairros, para preparar o clima para o ato do dia 24”, explicou.

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