Diretoria da AdUFRJ
Alguma coisa acontece em Brasília. Novas revelações na CPI da Covid, denúncias na compra das vacinas indianas, suspeição de Moro ampliada a todos os processos de Lula e Ricardo Salles se demite. O presidente perde as estribeiras com a jornalista Laurene Santos, Mourão se insinua como alternativa. E, ao fundo deste cenário, sustentando o coro dos descontentes, tivemos centenas de manifestações em todo o país, no dia 19 de junho. Ganha corpo e voz a dor dos mais de 500.000 mortos pela pandemia desde fevereiro do ano passado. Cresce na população a percepção de que esse número poderia ser diferente, se tivéssemos uma autoridade sanitária nacional que, ao menos, respeitasse os requisitos mínimos de proteção e contenção da transmissibilidade do vírus.
Na próxima semana, mais um superpedido de impeachment será encaminhado ao presidente do Congresso. Acumulam-se mais de uma centena deles no colo da Presidência da Câmara. E continuamos a nos perguntar (alguns atônitos): o que falta para que seja aberto o processo?
Na verdade, não falta muita coisa e sobra dinheiro. O Congresso está dominado pelo “orçamento paralelo”, alimentado por muitos cargos e comissões. Mas a incômoda verdade que presenciamos dia a dia é a existência ainda de uma base significativa de apoio ao que chamamos de bolsonarismo, que ainda sustenta quase 30% de aprovação do governo nas últimas pesquisas. A desidratação do governo é lenta, muito mais lenta do que gostaríamos.
Entramos nos nossos parcos dias de recesso, precisamos respirar e nos recompor para o que nos aguarda no início do ano acadêmico de 2021. Reforma administrativa, Reuni digital, cortes orçamentários, privatizações e destruição do Estado brasileiro: não são poucos os desafios que nos aguardam. No dia 7 de maio, apontamos que precisávamos nos preparar para ocupar as ruas, no dia 14 estivemos com os estudantes e as demais entidades da UFRJ pela primeira vez em uma manifestação presencial, desde que foi cancelada a de 18 de março de 2020. Já realizamos duas manifestações unitárias, que foram também bastante pedagógicas: 100% das pessoas utilizavam máscaras, portavam álcool em gel (que também estavam sendo distribuídos pelas entidades) e a maioria das pessoas respeitando o devido distanciamento. Podemos sair em segurança, mesmo que seja por pouco tempo, ao ar livre, com todos os cuidados. Que esses primeiros passos possam encorajar mais e mais pessoas. Na próxima manifestação, dia 24 de julho, o período letivo estará na sua segunda semana, muitos já terão tomado até a segunda dose da vacina. Vamos trabalhar para construir uma participação ainda mais significativa da UFRJ nessas manifestações
Há muito sabemos que o que está em jogo é o futuro e a sobrevivência da universidade pública. Desde o início deste governo temos alertado para o seu caráter antidemocrático e suas intenções golpistas. Há uma decisão que cabe a todos nós nesse momento e, para que ela seja tomada, não precisamos esperar o dia 24 de julho. Em cada esquina, em cada balcão de padaria ou farmácia, precisamos estar alertas e disponíveis, explicar e explicar o significado da crise que vivemos, das perdas que sofremos.
Ao iniciarmos o fechamento dessa edição do jornal, recebemos os vídeos e fotos do presidente da República no Rio Grande do Norte ensinando crianças a não utilizarem as máscaras de proteção. A atitude não é nova, mas, ao ultrapassarmos o número de mais de meio milhão de mortos, ela se torna a marca do escárnio com que Bolsonaro vem tratando o problema. Zomba de nossa dor, afronta os princípios mais elementares de defesa da vida. Por todos nós, por nossas crianças, pelo nosso futuro, seguiremos nas ruas, nas redes, onde pudermos: #FORA BOLSONARO.