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WhatsApp Image 2021 04 22 at 22.39.39Neste 22 de abril, Dia Internacional da Terra, o Jornal da AdUFRJ abre mais uma vez suas páginas à Ciência e ao conhecimento, reafirmando o repúdio ao negacionismo que se instalou no Palácio do Planalto desde a posse de Jair Bolsonaro. No dia em que 40 líderes globais se reuniram na Cúpula do Clima, convocada pelo presidente norte-americano Joe Biden, mostramos que um sistema desenvolvido por pesquisadores da Coppe pode ajudar muito a combater as mudanças climáticas, principal tema do encontro internacional. Batizado de Ariel, o sistema usa embarcação autônoma e veículo aéreo não tripulado (drone) para identificar e monitorar vazamentos de óleo nos oceanos. Já testado com sucesso na Baía de Guanabara, esse sistema pode contribuir para rápidas respostas a emergências no mar.
Enquanto a Ciência nacional dá mostras de excelência e pujança, mesmo com os cortes de orçamento em pesquisa e sob ataques do governo federal à autonomia universitária, o presidente Jair Bolsonaro segue com sua rotina de mentiras e promessas vazias. Na Cúpula do Clima, já sem a presença de Joe Biden, o presidente fez um discurso bem distante das ações, muitas vezes criminosas, de seu governo. Prometeu zerar as emissões de gases do efeito estufa até 2050 e acabar com o desmatamento ilegal na Amazônia até 2030. As promessas soariam alvissareiras, não fossem o contrário do que o governo fez em quase dois anos e meio de negligência e omissão em relação ao meio ambiente. O ministro da área, Ricardo Salles, aquele da boiada, está sendo investigado por acobertar desmatamento ilegal.

SOBRE O MAR

Kim Queiroz

WhatsApp Image 2021 04 22 at 22.52.38Foto: Divulgação/CoppeO meio ambiente pede socorro, a Ciência busca soluções. Para alertar e evitar uma ameaça constante do homem à natureza, pesquisadores da Coppe/UFRJ estão desenvolvendo um sistema que monitora o vazamento de óleo nos oceanos. Batizado de Ariel (da sigla em inglês Autonomous Robot for Identification of Emulsified Liquids, que em português significa “robô autônomo para identificação de líquidos emulsificados”), o sistema integra uma embarcação autônoma e um veículo aéreo não tripulado (drone). Desenvolvido no Laboratório de Controle e Automação, Engenharia de Aplicação e Desenvolvimento (Lead) da Coppe, o projeto foi testado no mar com sucesso em dezembro, no Rio de Janeiro.
“A ideia foi evoluir uma tecnologia que já existia, para chegarmos mais perto das manchas de óleo, por meio de um sistema autônomo que juntasse barco com drone”, conta Alessandro Jacoud, coordenador do projeto. Professor do Programa de Engenharia Elétrica da Coppe, Alessandro diz que as imagens captadas por câmeras fixas na costa muitas vezes geram informações equivocadas. A combinação desses dois veículos busca um monitoramento com maior precisão, sem que as imagens sejam desestabilizadas pelo balanço do mar. O drone, equipado com câmeras térmicas, decola do barco para detectar a existência e a posição das manchas de óleo. “O barco então recebe essa localização e se desloca até ela. Através de um outro sensor, ele confirma, ou não, esse vazamento, e envia essa informação para as equipes de resposta e emergências”, explica o docente.
Contratado pela Repsol Sinopec Brasil e financiado com recursos da cláusula de Pesquisa e Desenvolvimento da Agência Nacional de Petróleo (ANP), o projeto é fruto de uma parceria da Coppe com as empresas TideWise e Farol. “A Farol cuida da parte logística e legal da operação, como, por exemplo, a que altura o drone pode voar. A TideWise, criada por ex-alunos da Coppe, forneceu o barco para fazermos o pouso do drone e levar o sensor para detectar óleo”, comenta Alessandro. Os engenheiros da Coppe no Lead são os responsáveis pela interface do software, para que o computador “converse” com o drone e possa realizar as tarefas desejadas.
Segundo os pesquisadores, a intenção é que haja a menor quantidade de operadores possível. “Queremos que o barco seja capaz de sair de onde está ancorado, com o drone já em cima, vá até o local da avaliação, que o drone então decole, faça sua missão e consiga voltar até o barco”, descreve Wenderson Serrantola, engenheiro pesquisador contratado pela Coppetec. No teste realizado em dezembro, na Marina da Glória, a equipe foi bem-sucedida no seu objetivo. “O drone foi capaz de decolar, buscar óleo na região pré-determinada, voltar ao barco e fazer o pouso, de forma 100% autônoma. Sem a necessidade de nenhum operador para fazer essa atividade, o que é um grande diferencial do projeto”, completa.
Assim como toda tecnologia, o sistema lida com limitações, a exemplo da bateria do drone. “O tempo necessário para que o drone consiga fazer toda sua rotina de tarefas dura em torno de dez a 15 minutos de voo, e após essa execução ele pousa no barco. Mas a duração da bateria ainda impede que ele faça voos com mais de 30 minutos”, diz Levi Resende, que também atua como engenheiro pesquisador contratado pela Coppetec. Ele aponta que as modificações na concepção inicial do drone também afetam a vida de sua bateria. “Quando a gente aumenta a carga do drone, reduzimos também a autonomia da bateria”, lembra.
Outro fator crucial para a bateria é a velocidade de voo do drone, que pode chegar a até 70 quilômetros por hora. “Se a gente voar o drone na sua velocidade máxima durante o monitoramento,  vai exigir um esforço muito grande dos motores, porque em alto mar o vento é bem forte. E isso diminui bastante a bateria”, afirma Levi. Por questões de segurança, a equipe inicialmente delimitou o alcance dos voos de monitoramento para raios menores, de 200 a 300 metros, para validar a sua utilização. “Mas sabemos que poderíamos fazer voos com raios de um a dois quilômetros com certa tranquilidade e segurança, mantendo a visibilidade do drone a olho nu, e a certeza de que ele iria fazer a atividade com segurança sem que a bateria acabasse”, completa o engenheiro.
Alessandro Jacoud ressalta o interesse de conectar esse sistema à varredura feita por satélites, que pode chegar a 200 quilômetros quadrados. “A fase 2 desse projeto é juntar essas informações locais, detectadas com o drone e a embarcação, com as informações captadas por satélite, que são menos precisas mas abrangem áreas muito maiores”, comenta. Segundo ele, o destino dessas informações ainda não está definido. “No futuro, a ideia é que a empresa que for comercializar o sistema ofereça essas informações para empresas de resposta a emergências, que irão até os locais indicados para conter os vazamentos de óleo”, finaliza.

Com mais mentiras e de pires na mão

Em seus quase dois anos e meio de governo, o presidente Jair Bolsonaro não moveu uma palha a favor do meio ambiente. Ao contrário: o desmatamento acelerado da Amazônia e os incêndios no Pantanal, apenas para citar duas catástrofes, moveram o Brasil para o posto de pária internacional na seara ambiental. Mas quem ouviu hoje o discurso de Bolsonaro na Cúpula dos Líderes Sobre o Clima, convocada pelo presidente norte-americano Joe Biden, deve ter achado que o governo brasileiro virou sócio do Greenpeace. Eivado de mentiras e distorções, o discurso de Bolsonaro enalteceu feitos não realizados e ainda cobrou “justa remuneração” pelos “serviços ambientais prestados” pelo Brasil ao planeta. O anfitrião Biden saiu do encontro antes do discurso de Bolsonaro, que foi o último a falar entre os integrantes do Brics (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul).  
Na contramão de sua inação e, em alguns casos, estímulo ao desmatamento desenfreado na Amazônia, o presidente brasileiro fez algumas promessas que exigirão, se sinceras, uma guinada radical na forma como seu governo lida com o combate às mudanças climáticas. Uma delas é ousada. Ele anunciou a antecipação para 2050 do prazo para que o Brasil zere as emissões de gases do efeito estufa, antes previsto para 2060. Para alcançar a meta, Bolsonaro assumiu o compromisso, diante de outros 39 líderes globais reunidos na cúpula, de “eliminar o desmatamento ilegal até 2030”. Vai ter que combinar o que é “ilegal” com seu ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, um contumaz apoiador de madeireiros e alvo de uma notícia-crime junto ao Supremo Tribunal Federal (veja abaixo).
As promessas de Bolsonaro passam bem distante da realidade. Só em 2020, o Brasil viveu um aumento de 13% no desmatamento do Cerrado, uma destruição de mais de 25% do Pantanal, e o maior desmatamento da Amazônia em dez anos. Além disso, sob a batuta de Salles, desidratou as equipes de fiscalização de órgãos como o Ibama e o ICM-Bio. Mesmo diante de tantas evidências, Bolsonaro ainda reivindicou dinheiro para atingir as metas propostas — em carta ao governo norte-americano, ele pediu US$ 10 bilhões anuais.
Entrevistado pela Globonews pouco após o discurso de Bolsonaro, Ricardo Galvão, ex-diretor do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), demitido em 2019 por defender a Ciência contra o negacionismo, apontou as contradições na fala presidencial. “Todas as ações do governo federal são contrárias ao que ele pregou em seu discurso. Desde o início de seu governo, Bolsonaro viu o Inpe como um empecilho, uma pedra no sapato, por levantar e divulgar dados confiáveis que contradiziam seu discurso. O governo Bolsonaro virou as costas para a Amazônia, enfraqueceu os órgãos de fiscalização. Entre falar e fazer tem um mar no meio”, disse Galvão. (Alexandre Medeiros)

Salles, o da boiada, é investigado

O superintendente da Polícia Federal no Amazonas, Alexandre Saraiva, enviou ao Supremo Tribunal Federal uma notícia-crime contra o ministro Ricardo Salles e o senador Telmário Mota (Pros-RR). Saraiva alega que Salles cometeu os crimes de obstrução de fiscalização ambiental, advocacia administrativa e embaraço de investigação contra organização criminosa, favorecendo madeireiros flagrados praticando desmatamento ilegal na Amazônia. No dia seguinte à entrada do processo de Saraiva na Corte (15), o diretor-geral da PF, Paulo Maiurino, demitiu Saraiva e colocou o delegado Leandro Almada no seu lugar.
No dia 19, o subprocurador do Ministério Público no Tribunal de Contas da União, Lucas Rocha Furtado, pediu ao STF o afastamento do ministro do Meio Ambiente, sob alegação de risco às investigações contra desmatadores. O pedido foi feito no âmbito da notícia-crime movida por Alexandre Saraiva. Segundo Lucas, a manutenção de Salles no cargo de ministro pode retardar ou dificultar a realização da apuração dos fatos, causar novos danos ao meio ambiente, interferir indevidamente nas operações e inviabilizar a cobrança das multas decorrentes de infração ambiental. “Ao contrário do que se esperava da atuação do ministro, ele vem atuando, segundo narrado na notícia crime, em defesa dos interesses dos madeireiros que realizaram as extrações ilegais e criminosas”, diz trecho da manifestação assinada por Furtado. (Kim Queiroz)

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