facebook 19
twitter 19
andes3
 

filiados

WhatsApp Image 2024 07 01 at 17.28.25Foto: Kelvin Melo

O Conselho Universitário começou a discutir a permuta dos 11 andares da universidade no prédio corporativo Ventura Towers, no Centro do Rio. A proposta da administração central é trocar os espaços por obras de infraestrutura acadêmica e assistência estudantil.
A troca segue o princípio da política de valorização dos ativos imobiliários da UFRJ iniciada na gestão do ex-reitor Roberto Leher e apresentado ao Consuni em 2018, em parceria com o BNDES. “Não é o projeto de uma reitoria. Já passou por três reitorias e foi aprimorado. Hoje, posso dizer que é um projeto da UFRJ, que será decidido, espero que favoravelmente, durante nossa gestão”, afirmou o reitor, professor Roberto Medronho.
Hoje, a UFRJ detém aproximadamente 17% de todo o imóvel,ou 16.663m² de área construída. Desta parte, 19,74% são ocupados pelo setor administrativo da Escola de Música; 54,4% estão locados para empresas e 25,85%, vagos.
Após um período de baixa na pandemia, os alugueis voltaram a dar lucro — o saldo do ano passado foi positivo em aproximadamente R$ 5 milhões —, mas a administração central entende que a permuta trará benefícios importantes para a precária infraestrutura da universidade, no curto prazo. Para não atrapalhar a licitação junto ao mercado, os valores estimados do negócio não foram revelados.WhatsApp Image 2024 07 01 at 17.30.32
“Se a gente colocasse numa ‘caixinha’ todos os recursos que nós obtemos hoje, demoraríamos mais de 50 anos para obter o valor total necessário para atender à lista de contrapartidas”, afirmou o professor João Carlos Ferraz, do Instituto de Economia, integrante da comissão que assessora a reitoria no projeto. “Se nós alienarmos hoje ou no futuro próximo, o tempo necessário para a execução das obras seria de três anos”.
Além do tempo menor, a expectativa é conseguir colocar a serviço da comunidade acadêmica uma área bem maior que a disponível no Ventura. “Se nós formos bem sucedidos na licitação, conseguiremos colocar em funcionamento 71 mil m² de instalações novas ou refeitas pela UFRJ”, disse Ferraz.
Estão previstas dez contrapartidas, como a construção de um prédio próprio para o curso de Dança; dois restaurantes universitários (mais um no Fundão e outro, em Macaé); e a conclusão do complexo CFCH-CCJE, mais conhecido como “paliteiro”, ao lado da Faculdade de Letras. A lista completa pode ser conferida no quadro desta página.
A lista não surgiu do acaso ou por vontade da atual gestão. “Elas foram estudadas desde o início deste projeto de valorização do patrimônio da UFRJ, em 2017. Também são objeto de ampla discussão entre decanos e a administração superior”, informou a pró-reitora de Governança, professora Claudia Cruz.
Todas as contrapartidas atendem a critérios de priorização de obras e investimentos do Plano Diretor da UFRJ, com exceção das duas obras da Escola de Música. Como única unidade ocupando dois andares do Ventura, ela ficaria à frente das demais para acelerar a desocupação do imóvel.
A permuta seria em bloco para melhor aproveitamento dos recursos. “Não vamos vender as lajes individualmente. Seria muito difícil, dentro deste modelo, associar um andar à obra de um prédio, de forma separada”, acrescentou Claudia Cruz.
As dez obras estão divididas em dois grupos: as do primeiro estão previstas para começar no oitavo mês pós-assinatura de contrato; as do segundo, somente no 26º mês. “Por que não começa imediatamente? Porque consideramos os prazos de aprovação de projetos e licenciamentos pelo município”, explicou a pró-reitora.

PRIMEIRAS OBRAS
Figuram no primeiro grupo as duas obras da Escola de Música, o prédio “Fronteiras” — uma área multidisciplinar do Centro de Ciências da Saúde —, a sede própria do curso de Dança e o complexo CFCH-CCJE.
De forma diferente da EBSERH, o primeiro debate no Consuni indica que a polêmica não deverá ser entre apoiadores e críticos do projeto. Mas entre os contemplados e os que ficaram de fora das contrapartidas. Ou entre quem deve ser beneficiado no primeiro momento e quem estará no final da fila.
“O que eu gostaria de questionar é a ordem das obras que estão sendo propostas. Quando esse processo começou a ser discutido, o prédio do Instituto de Matemática era prioridade dois. Agora, caiu de prioridade (para o segundo grupo)”, disse a professora Walcy Santos, do Instituto de Matemática. O prédio estaria mais de 80% construído, de acordo com a docente. “Deixar esse ativo mais dois anos parado, deteriorando o que a gente já investiu nele, eu acho um absurdo”, completou.
Já a professora Débora Foguel, do Instituto de Bioquímica Médica, comemorou a contrapartida do prédio “Fronteiras”, do CCS. “É uma obra emblemática desta universidade. Foi totalmente pensada pelos estudantes da nossa FAU. É um prédio multidisciplinar”, disse. As instalações serão aproveitadas por áreas de fronteira do conhecimento na saúde — daí o seu nome. A ideia é que nesta edificação convivam pesquisadores do Instituto de Bioquímica, do Instituto de Biofísica, da Microbiologia, entre outras unidades.
Representante estudantil, Gabriel Batista avaliou que o projeto é importante, mas não resolverá todos os problemas de infraestrutura da universidade. “Escolhas precisam ser feitas. Difícil citar um prédio da UFRJ, se é que há um, que não tenha demandas estruturais muitas vezes urgentes”, afirmou. “A solução efetiva dos nossos problemas, principalmente pela ordem de grandeza dos valores, é a disputa do fundo público de orçamento. Iniciativas como a do Ventura ajudam a cobrir emergências”.

DISCUSSÃO CONTINUA
O professor João Ferraz esclareceu que uma comissão independente do Plano Diretor da UFRJ estabeleceu a pontuação que define as prioridades das obras. “Infelizmente, o Instituto de Matemática, apesar de ter uma pontuação alta, entra no segundo bloco, por conta de estar no primeiro bloco uma obra de volume de recursos substantivo, que é o complexo CCJE-CFCH”, respondeu João Ferraz. Outro ponto que pesou para as escolhas foi onde se conseguiu o mínimo de informações para estimar o valor do investimento a ser feito em determinada obra.
O reitor Medronho anunciou que pretende fazer, pelo menos, duas audiências públicas para debate do projeto: uma no CCS e outra na Praia Vermelha. “Embora não seja uma discussão nova, ela é uma discussão que se renovou. Porque houve uma mudança do escopo original do projeto para este atual, que foi apresentado aqui. Por isso, acho necessário que a gente retome essa discussão junto ao corpo social da UFRJ”, afirmou.

POR QUE A UFRJ TEM UM PEDAÇO DO VENTURA?
O empreendimento foi construído em um terreno da universidade onde chegou a funcionar a Faculdade de Letras, de 1970 a 1985. Com a mudança da unidade para a Cidade Universitária, o espaço foi ocupado irregularmente por um estacionamento. O processo de negociação para a construção do prédio passou por três gestões de reitoria até sair do papel — Paulo Alcântara Gomes (1994-1998), José Vilhena (1998-2002) e Aloísio Teixeira (2003-2011). A obra durou de 2005 a 2009, ano em que o prédio foi inaugurado.

Topo