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Elas estão cada vez mais presentes — e com destaque — em um universo tradicionalmente dominado por homens: a Ciência. E essa saudável tendência acaba de ser captada por mais um relevante registro. Lançado no início deste mês, o livro "Cientistas brasileiros" (Editora Sapoti) traça o perfil de cinco pesquisadores contemporâneos do país, e as mulheres são maioria. Além de liderar pesquisas de ponta, reconhecidas mundo afora, as três cientistas destacadas têm outra coisa em comum: passaram pelos bancos da UFRJ. São elas Duília Fernandes de Mello, Lygia da Veiga Pereira e Suzana Herculano-Houzel. Completam a lista os pesquisadores Alan Alves Brito e Carlos Afonso Nobre.
"Trazer essas mulheres cientistas para o livro foi uma escolha natural, a partir do pressuposto de abordar várias áreas do conhecimento: o planeta, o cérebro, a genética. Elas vêm desenvolvendo pesquisas de relevância nessas áreas, são destaques reconhecidos", explica Daniela Chindler, uma das autoras de "Cientistas brasileiros". O livro traça também o perfil de seis cientistas do passado, o que só reforça a tese da atual "invasão feminina" na Ciência. Dos seis pioneiros, a única mulher é Bertha Lutz, pesquisadora que ingressou no Museu Nacional em 1919, que figura ao lado de nomes como Adolfo Lutz (pai de Bertha), Carlos Chagas, Oswaldo Cruz, Vital Brazil e o padre Bartolomeu Lourenço de Gusmão.
DNA 100% BRASILEIRO
Das três perfiladas contemporâneas, a única com base no Brasil é Lygia da Veiga Pereira. Duília é radicada nos Estados Unidos, mesmo país onde vive Suzana. Lygia também passou por lá: fez cinco anos de doutorado em Nova York. Hoje professora e pesquisadora da USP, a geneticista lembra com carinho de sua passagem pela UFRJ. "Tenho uma enorme gratidão à UFRJ, pois foi onde eu descobri minha paixão pela genética e por pesquisa em laboratório. Estudei Engenharia na PUC-Rio e quase segui na área de Engenharia de Computação. No meio do curso, descobri os avanços da Engenharia Genética e fui apresentada por professores do Departamento de Física da PUC à professora Eliana Abdelhay, do Instituto de Biofísica Carlos Chagas Filho. Ela me aceitou para fazer iniciação científica. A partir dali eu descobri meu caminho", lembra.
A pesquisadora reconhece que a forte presença feminina na produção científica atual contrasta com o cenário de décadas atrás. "Na área biológica já há muitas mulheres atuando, embora haja mais homens em posições de liderança. Nas gerações anteriores à minha isso teve um peso maior, havia uma predominância masculina", acredita.
Lygia lidera uma pesquisa, abordada no livro, que procura delinear o DNA brasileiro. É uma consequência direta do sequenciamento do genoma humano, que demorou 15 anos para ser feito, custou bilhões de dólares e foi um marco na história da Ciência. "Só que não existe só um genoma humano. Apesar de sermos 99,9% idênticos, esse 0,1% que nos diferencia é que vai nos dar as características individuais", enumera a pesquisadora.
A tecnologia de sequenciamento avançou tanto que hoje você sequencia um genoma humano por 400 dólares em 24 horas. Isso vem permitindo que vários países sequenciem os genomas de centenas de milhares de pessoas das suas populações. "Isso é fundamental para que a gente entenda as variantes que indicam nossas predisposições às doenças, tome medidas preventivas, ou desenvolva medicamentos mais eficientes", aponta.
Iniciada em 2019, a pesquisa liderada por Lygia tenta "furar uma bolha" detectada pela comunidade científica internacional em 2017: até então as pesquisas nessa área eram feitas só com genomas de gente branca, a partir do sequenciamento feito nos Estados Unidos e na Europa.
"Falta diversidade nesses estudos. E se há uma coisa que o Brasil tem é diversidade", explica a professora. "Temos genomas de diferentes povos indígenas, mais os europeus, mais os povos africanos de diferentes regiões que vieram para cá como escravos. E 500 anos de miscigenação e extermínio, sobretudo dos povos indígenas".
Lygia conta que, "cada um de nós, brasileiros, é um mosaico com diferentes frações de DNAs europeus, africanos e indígenas. Temos que colocar o Brasil nesse mapa". A pesquisa de Lygia é capaz de resgatar pedaços de genomas indígenas de populações que já foram extintas. "Temos variações de genomas que ainda não foram descritas nos bancos de dados internacionais. Já conseguimos sequenciar 4 mil genomas e esperamos sequenciar este ano mais 6 mil. Só para uma comparação, a Inglaterra já tem 500 mil".
CIÊNCIA NAS ESCOLAS
Escrito em linguagem coloquial e com muitas ilustrações — feitas por Camilo Martins —, o livro está sendo distribuído a escolas da rede municipal carioca. A linguagem tenta aproximar um público jovem de temas mais afeitos à academia. "Não adianta trazer o público se você mantém uma linguagem elitista. A inclusão também tem a ver com isso. O livro tem um texto atraente, voltado a jovens. A ilustração também é uma forma de deixar mais fácil esse acesso. São pontos que refletem uma política de democracia no acesso à cultura", diz Daniela Chindler. A publicação também está disponível gratuitamente na plataforma Issuu (https://issuu.com/sapotiprojetosculturais/docs/cientistasbrasileiros) e em áudio book para pessoas com deficiência visual ou sem alfabetização.
Lygia Pereira acredita que a distribuição do livro em escolas públicas pode estimular o surgimento de novas vocações na produção científica. "Acho maravilhoso o livro chegar até as crianças. Temos que estimular a curiosidade delas. Talvez a gente consiga assim cultivar potenciais cientistas nas escolas", enaltece a pesquisadora.
Tomara.
ALAN BRITO
Baiano de Vitória da Conquista, o jovem cientista Alan Alves Brito é destaque por introduzir temas como a política antirracista no ensino de Física e Astronomia. Segundo ele, o tradicional modelo de ensino de Ciências no Brasil exclui as contribuições dos povos originários ou da diáspora africana. Bacharel em Física pela Universidade Estadual de Feira de Santana (2002), mestre (2004) e doutor (2008) em Ciências (Astrofísica Estelar) pelo Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas da USP, Alan fez estágios de pós-doutorado no Chile e na Austrália, entre 2008 e 2014. É professor adjunto no Instituto de Física da Universidade Federal do Rio Grande do Sul.
DUÍLIA DE MELLO
Paulista de Jundiaí, a astrônoma Duília Fernandes de Mello é uma das maiores referências mundiais em Astrofísica Extragaláctica. Bacharel em Astronomia pela UFRJ (1986), mestre pelo Inpe (1988) e doutora pela USP (1995), Duília é radicada nos Estados Unidos, onde é vice-reitora de Estratégias Globais e professora titular do Departamento de Física da Universidade Católica da América, em Washington DC. É pesquisadora do Goddard Space Flight Center, da NASA, desde 2003. Foi responsável pelo descoberta da Supernova SN 1997D, no Chile (1997), e participou da descoberta da maior galáxia espiral do universo, a galáxia do Côndor (2013). Desde 2016, coordena o projeto “A Mulher das Estrelas”, que busca incentivar mulheres e meninas a seguirem carreiras científicas.
CARLOS NOBRE
O paulistano Carlos Afonso Nobre é um dos mais respeitados pesquisadores do mundo na área de mudanças climáticas, sobretudo pelos seus estudos sobre o bioma amazônico, iniciados na década de 1970. Graduado em Engenharia Eletrônica pelo Instituto Tecnológico da Aeronáutica (1974), ele tem doutorado em Meteorologia pelo Massachusetts Institute of Technology (1983), dos Estados Unidos. Ingressou em 1975 no Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA), em Manaus, onde atualmente é cientista sênior. É pesquisador do Instituto de Estudos Avançados (IEA) da USP e diretor científico do Instituto de Estudos Climáticos da Universidade Federal do Espírito Santo.
LYGIA PEREIRA
A carioca Lygia da Veiga Pereira é graduada em Física pela PUC-Rio (1988), tem mestrado em Biofísica pela UFRJ (1990) e doutorado em Ciências Biomédicas pelo Mount Sinai Graduate School, City University of New York (1994). É professora titular e chefe do Laboratório Nacional de Células-Tronco Embrionárias (LaNCE) do Departamento de Genética e Biologia Evolutiva da USP. Considerada uma das mais renomadas geneticistas do mundo, Lygia fez parte do grupo que criou o primeiro camundongo transgênico do país, produzindo modelos para o estudo de doenças genéticas. Sua pesquisa de extração e multiplicação de células-tronco colocou o Brasil no seleto grupo de países que dominam essa tecnologia.
SUZANA HERCULANO-HOUZEL
Formada em Biologia pela UFRJ (1992), a carioca Suzana Herculano-Houzel tem mestrado pela universidade norte-americana Case Western Reserve (1995), doutorado na França pela Universidade Pierre e Marie Curie (1998) e pós-doutorado na Alemanha pelo Instituto Max-Planck de Pesquisa do Cérebro (1999), todos na área de Neurociências. Foi a primeira cientista a contar o número de neurônios nos cérebros, mostrando em sua pesquisa a relação entre a alimentação e a atividade cerebral. É professora associada da Universidade Vanderbilt, nos Estados Unidos, desde 2016, pesquisando as regras de construção do sistema nervoso central em humanos e outras espécies.
Fotos: Fernando SouzaO clima foi de reencontro no primeiro café da manhã da AdUFRJ com professores aposentados, na segunda-feira (10), no Fórum de Ciência e Cultura. As assessorias Jurídica e de Planos de Saúde ficaram à disposição dos docentes para esclarecer dúvidas e apresentar os serviços oferecidos pela AdUFRJ. Também houve apresentação dos convênios firmados com empresas que prestam serviços de saúde, educação e bem-estar. “Essa é a função precípua do sindicato: acolher, estreitar laços, oferecer suporte, coletivizar as lutas”, declarou a professora Mayra Goulart, vice-presidente da AdUFRJ, na abertura do encontro.
Coube à professora Ana Lúcia Fernandes, também diretora da AdUFRJ, apresentar uma novidade: um novo programa de visitas guiadas a locais históricos do Rio de Janeiro. O primeiro tour será no dia 29 de abril. Durante três horas, os docentes conhecerão um pouco mais da “pequena África”, composta pelos bairros da Gamboa e Saúde, na região portuária do Rio de Janeiro.
A visita será conduzida pelo doutor em História Gabriel Siqueira. Ele é capoeirista e autor do livro “Cativeiro Carioca”. O ponto de encontro será no Museu de Arte do Rio (MAR). Em cinco pontos de parada, os participantes saberão um pouco mais sobre o Largo da Prainha, a Pedra do Sal e o Cais do Valongo.
O programa é gratuito para os sindicalizados. Acompanhantes pagam R$ 30. A inscrição deve ser feita pelo e-mail Este endereço de email está sendo protegido de spambots. Você precisa do JavaScript ativado para vê-lo.. Os professores aposentados terão direito a um acompanhante. As vagas são limitadas.
O presidente da AdUFRJ, professor João Torres, também saudou os sindicalizados e explicou a motivação para o café da manhã. “Esse momento tem o objetivo de ouvir as demandas, de buscar melhorar os serviços para todos os sindicalizados, mas especialmente saber as demandas específicas dos professores aposentados”.
Uma das solicitações é que a AdUFRJ pressione a Pró-Reitoria de Pessoal a melhorar o atendimento aos professores aposentados. As reclamações vão desde telefones que não atendem, e-mails que não são respondidos, até impossibilidade de agendar um atendimento.
“A relação com a PR-4 tem sido um problema nos últimos anos”, reconheceu o professor João Torres, que se comprometeu a atuar em apoio aos professores filiados.
PREVIDÊNCIA E FUNPRESP
O professor emérito Ricardo Medronho, também da diretoria da AdUFRJ, fez uma apresentação sobre os diferentes regimes de aposentadoria que passaram a vigorar no serviço público federal desde que a primeira reforma da previdência foi realizada em 1996.
Os dados são um compilado da “Jornada de Mobilização para Assuntos de Aposenadoria”, encontro realizado na sede do Andes, em Brasília.
“Basicamente, a cada reforma pioram muito as condições para a aposentadoria. Mais direitos são retirados dos servidores públicos federais”, resumiu o docente. A apresentação pode ser conferida AQUI.
Dentre as pioras nas condições de aposentadoria para os servidores está a limitação do benefício ao teto do INSS, que hoje é de R$ 7.509,49, e a criação do Funpresp – o fundo de previdência complementar dos servidores do Executivo.
Quem desejar uma aposentadoria maior do que o teto do INSS precisa se filiar a este ou a outro fundo de pensão. “O Funpresp gerou um grande impacto para a carreira, porque a pessoa contribui sem garantias de quanto receberá. Dependerá do valor total de contribuições”, esclareceu o docente.
Ele exemplificou: em 2021, a rentabilidade do fundo foi de 7,49%, enquanto a inflação daquele ano foi de 10,06%. “Ou seja, em 2021, o Funpresp perdeu patrimônio”, destacou.
Vale lembrar que os docentes que ainda têm direito à integralidade perdem o benefício se aderirem ao fundo de previdência. Os novos professores, no entanto, já são automaticamente filiados ao fundo, uma vez que não têm mais direito à aposentadoria integral. Caso queiram se desvincular da previdência complementar, precisam declarar num prazo de até 90 dias contados do ingresso no serviço público federal. As contribuições já descontadas, no entanto, só retornam ao servidor no momento de sua aposentadoria.
EMENDA MAIS NEFASTA
Se não bastassem todas as reformas e regras de transição que prejudicam servidores desde 1996, o governo Bolsonaro editou a Emenda Constitucional 103/2019. Ela indica, por exemplo, que a aposentadoria será limitada a 60% de todas as contribuições com acréscimo de 2% a cada ano que supere 20 anos de contribuição. Ou seja, para que o aposentado receba 100% do montante a que tem direito, deverá ter 40 anos de contribuição.
No caso de pensões, elas estão limitadas a 50% mais 10% para cada dependente menor. Se o cônjuge tiver menos de 45 anos, a pensão deixa de ser vitalícia. Os tempos variam de três a 20 anos dependendo da faixa etária. Para quem for casado há menos de dois anos, a pensão será recebida por apenas quatro meses.
APOSENTADORIA É TEMA DE ENCONTRO DO ANDES
Nos dias 28 e 29 de março, 70 docentes de 26 seções sindicais filiadas ao Andes se reuniram em Brasília para discutir temas relacionados aos professores aposentados. A ‘Jornada de Mobilização sobre Assuntos de Aposentadoria’ aconteceu na sede do sindicato nacional. A diretoria da AdUFRJ foi representada pelo professor Ricardo Medronho, 2º vice- -presidente da entidade.
A primeira mesa do encontro tratou da aposentadoria. Por conta de sucessivas reformas da previdência, os professores universitários convivem com mais de uma dezena de regras diferenciadas de aposentadoria. A primeira, garantida pela Constituição de 1988, e as demais, geradas a partir das emendas constitucionais 20/1998, 41/2003, 47/2005 e 103/2019 e suas regras de transição.
Quem apresentou essas regras foi o assessor jurídico do Andes, o advogado Leandro Madureira. “A paridade e a integralidade deixaram de ser critérios para aposentadoria para quem ingressou a partir de 01/01/2004. A partir de então, o cálculo para as aposentadorias passou a ser a média aritmética das 80% maiores contribuições. O que reduz o benefício se comparado ao critério da integralidade”, explicou.
O valor das aposentadorias para os servidores públicos foi reduzido ainda mais para quem ingressou a partir de 04 de fevereiro de 2013. Os benefícios ficaram limitados ao teto do INSS. “As reformas diminuíram o valor da contribuição e tornaram mais difíceis os critérios para alcança-la”, disse. Para o advogado, é necessário resistir às perdas de direitos. “Não há caminho que não seja político”, ressaltou. “Qualquer avanço só será alcançado através de muita luta”.
Docente da Escola de Serviço Social, a professora Sara Granemann também foi uma das palestrantes. Especialista em previdência complementar, ela fez críticas ao Funpresp – fundo de previdência complementar voltado aos servidores federais. “O Estado empurra a classe trabalhadora para procurar formas alternativas de proteção, e oferece como alternativa o capital fictício. Quando a pessoa contribui com um fundo de pensão, não tem certeza do valor da aposentadoria e ainda ajuda a desmontar a própria aposentadoria”, pontuou.
ADUFRJ PRESENTE: Mayra falou aos novos colegas sobre o sindicato - Fotos: Fernando SouzaIgor VieiraEles são professores e são calouros. Estudaram, estudaram e estudaram, fizeram graduação, mestrado e doutorado. Pesquisaram, escreveram, vararam dias e noites se preparando para o concurso de docência na maior universidade federal do país. O esforço foi recompensado numa cerimônia simples, mas carregada de simbolismo, nesta última quinta-feira (30), na Cidade Universitária. Ali, na Sala do Conselho Universitário, dez docentes assinaram o contrato de professor permanente da universidade.
“Entrar na UFRJ é um sonho”, resumiu Juliana Trindade, 30 anos, professora da Engenharia Civil, lotada em Macaé. “Vou dar aula de estruturas de concreto e estou muito feliz porque dar aula na universidade sempre foi meu principal objetivo”, completou a jovem docente, ao lado da mãe e do pai. “Eles me surpreenderam, não imaginei que viriam aqui”.
A AdUFRJ também foi à cerimônia dar boas-vindas aos colegas. “Parabéns por ingressarem na universidade. Mesmo para quem já dava aula antes, é um dia emocionante. Eu me transferi da Rural, mas o sentimento foi o mesmo”, resumiu Mayra Goulart, vice-presidente da AdUFRJ, que aproveitou o encontro para apresentar o sindicato aos jovens professores.
“O sindicato é um espaço de acolhimento e proteção, com a oportunidade de amizades na vida adulta e acadêmica”, disse Mayra. “A AdUFRJ disponibiliza ainda serviço de proteção jurídica e descontos em planos de saúde. Temos um sindicato forte e atuante”, explicou Mayra Goulart, esclarecendo as condições de filiação para os novatos.
Os professores calouros podem se filiar sem pagar a contribuição durante dois anos, e pelos dois anos seguintes a taxa é de 0,4%, em vez dos 0,8% cobrados atualmente.
“Os professores têm que plantar uma semente de inspiração nos alunos. São os alunos que vão construir o Brasil do futuro”, resumiu Roberto Tarazi, 40 anos, novo professor de Biologia e Biotecnologia Vegetal, do campus de Duque de Caxias. “Estou muito feliz, tenho vocação para ensinar”.
DEPOIMENTOS
foto: acervo pessoalCAMILA AZEVEDO SOUZA
Instituto de Química (Macaé)
Estou muito feliz de ser professora universitária, e mais ainda por ser da UFRJ, é uma honra imensa. Vou lecionar “Educação Brasileira” na licenciatura do Instituto de Química em Macaé. Toda a minha trajetória foi em educação pública. Fiz a graduação em Pedagogia na Universidade Federal de Juiz de Fora, no meu estado de Minas Gerais, e mestrado e doutorado na UFF. A escolha do curso foi motivada pelos professores da minha vida escolar, que foram referências. Logo na graduação me encontrei no grupo de pesquisa, e entendi a questão ético-política da formação de professores. Quero dar o retorno social e estou feliz em agregar forças à universidade pública, que sofreu com todos os desafios do desmonte do governo anterior, mas que segue firme. O sentimento se resume na frase do filósofo italiano Antonio Gramsci: “Temos que ter o pessimismo da razão e o otimismo da vontade”.
Foto: Fernando SouzaVINICIUS BOUCA
MARQUES DA COSTA
Instituto de Matemática
Sou cria do Fundão: fiz graduação, mestrado e doutorado. Agora volto como docente, um sonho de criança. Queria ser professor de escola. Mas, ao ingressar na universidade, me apaixonei pelo mundo da docência universitária e da pesquisa. Farei parte do Instituto de Matemática, e vou ensinar Cálculo IV para as engenharias. Professor novo não tem muita escolha, mas, para mim, não é um problema: ensinei essa matéria no Cefet de Nova Friburgo. Fui professor substituto da UFRJ durante o meu doutorado, onde lecionei Matemática II para a Economia. Agora, três anos depois de terminar meu doutorado, é o momento de celebração da vitória de entrar no corpo docente da maior universidade do Brasil. Admito que sou suspeito para falar porque nutro paixão e carinho pela UFRJ, mas é verdade. Volto para a universidade com energia para devolver tudo o que aprendi lá, tanto da minha área quanto de outras áreas da vida.
Foto: acervo pessoalROBERTO TARAZI
Biologia e Biotecnologia
Vegetal (Caxias)
Sempre fui apaixonado pela Ciência e por ensinar às pessoas coisas novas, é uma vocação. Trabalhei em duas multinacionais, com o desafio de reduzir a quantidade de agrotóxicos utilizados no algodão. O método era usar os próprios genes de resistência das plantas, pois fiz graduação e mestrado em Biologia na UFSC, em minha cidade, sempre pensando no meio ambiente e na sustentabilidade. No mestrado, estudei a Mata Atlântica e, no doutorado, o cerrado, na USP, além do meu pós-doutorado em Ilhéus, na Bahia. Fui professor visitante lá, e depois da iniciativa privada, fui professor substituto da UFRJ, no CCS. Estou muito ansioso para lecionar como professor efetivo. Quero conhecer os alunos e fazer com que eles se empolguem e se desenvolvam como acadêmicos e profissionais, porque acredito que nossas ideias são sementes que podem germinar nos alunos, que são a força motriz do futuro, vão desafiar o status quo e mudar o Brasil. Nós professores temos que ensinar os alunos para a vida.
Foto: Fernando SouzaJORGE FELIPE MARÇAL
Biologia (Colégio de Aplicação)
Eu tive toda a minha trajetória acadêmica na UFRJ, da graduação ao doutorado, na área da Biologia. Agora vou ensinar essa matéria para o ensino médio, no Colégio de Aplicação, que foi onde fiz meu estágio obrigatório. Não é nada novo, tivemos um período difícil, com ensino remoto por conta da pandemia, as coisas estão voltando ao normal. Mas temos muitos desafios pela frente, com a sede do CAp no Fundão fechada e as aulas transferidas para a Lagoa. Também temos outros desafios para a educação, como a recente tragédia em São Paulo, que é fruto da política armamentista alimentada mesmo antes do governo Bolsonaro, e também uma desvalorização do próprio trabalho da educação. Precisamos de um enfrentamento político, tanto na escola quanto na sociedade. A minha vaga existe graças à luta do coletivo que ajudo a construir, o Coletivo de Docentes Negras/os da UFRJ, por conta das vitórias conquistadas na aplicação das cotas raciais da UFRJ. As aulas já estão acontecendo, mas estou muito animado para entrar lá amanhã de manhã como professor efetivo de forma oficial.
Foto: Fernando SouzaJULIANA TRINDADE
Centro Multidisciplinar de Macaé
Eu sou de Campos dos Goytacazes e cursei a Universidade Estadual do Norte Fluminense. Entrei no Serviço Público em 2020, na pandemia, no Instituto Federal do Espírito Santo (IFES), em que vou pedir vacância. Sou engenheira civil e vou lecionar na área de Estruturas. Serão três matérias: Estruturas de Concreto, Projetos de Sistemas Estruturais, e outra que ainda não está definida. Estou tranquila, pois já dou essas matérias no IFES, tanto para a graduação quanto para o nível técnico. São poucas diferenças de ementa. Mas quanto à UFRJ, estou muito feliz de ter entrado. O Instituto Federal não é ruim de trabalhar, mas a universidade federal sempre foi meu objetivo, e agora o realizei, e ainda posso morar mais perto da minha cidade natal. Eu fiz uma viagem muito longa para estar presente na cerimônia e encontrei os meus pais aqui, me esperando, foi uma ótima surpresa. Tive contato com os professores porque fui substituta da UFRJ em 2017, então conheço alguns deles, mas agora é diferente porque estou como efetiva, e muito feliz.
Foto: Alessandro CostaA secretária de Educação Superior e ex-reitora da UFRJ, professora Denise Pires de Carvalho, ministrou a aula inaugural do Centro de Ciências da Saúde, no dia 10. A docente falou sobre os novos e os velhos desafios da saúde no Brasil. A moderação do evento foi feita pela professora Ligia Bahia, do Instituto de Estudos em Saúde Coletiva. Também formaram a mesa o decano do CCS, professor Luiz Eurico, e o reitor Carlos Frederico Leão Rocha.
Leia a matéria completa na próxima edição do Jornal da AdUFRJ.
Fotos: Fernando Souza‘Se me pedissem para escolher uma palavra para descrever o professor Maculan, ela seria generosidade”. Foi assim, emocionado, que o professor Victor Giraldo, do Instituto de Matemática, resumiu sua gratidão de ex-aluno ao mestre Nelson Maculan Filho, na cerimônia de homenagem aos 80 anos de um dos mais destacados docentes e pesquisadores da UFRJ e do Brasil, na manhã de quarta-feira (29). Não havia um só assento vazio no auditório do CT-2, e muita gente teve de acompanhar a solenidade de pé.
A lotação deu a dimensão da gratidão e da admiração da comunidade acadêmica a Maculan — havia representantes de várias universidades na plateia —, mas o que mais se destacou foi mesmo a generosidade do homenageado. Aplaudido de pé em sua entrada no auditório, ao som do Trenzinho do Caipira, de Heitor Villa-Lobos, Maculan parou várias vezes do trajeto até a mesa do palco, cumprimentando amigos de décadas e jovens alunos. E fez questão de aplaudir de pé os que o aplaudiam.
TRAJETÓRIA
Ao abrir a cerimônia, o reitor da UFRJ, professor Carlos Frederico Leão Rocha, lembrou que quando o Conselho Universitário concedeu o título de professor emérito a Maculan, em 2013, estava, na essência, integrando o homenageado ao seu DNA. “Quem se sente honrado com esse título somos nós, que absorvemos todo esse conhecimento. São 80 anos em atividade, ainda trabalhando e orientando alunos. É um grande orgulho para nós”, disse o reitor.
Presente à cerimônia, o presidente da AdUFRJ, professor João Torres, disse que Maculan é uma fonte inspiração para todos os docentes: “É muito raro alguém se destacar na pesquisa, na formação de recursos humanos, tanto no Brasil quanto no exterior, e na alta administração universitária, concomitantemente. Ele conseguiu essa proeza. Para mim, ele é a encarnação da imagem ideal de um professor emérito, ou seja, alguém que queremos conservar na universidade e usufruir da sua presença o máximo possível”.
Em nome de mais de 200 ex-orientados de Maculan, o professor e ex-reitor da Universidade Federal de Ouro Preto, Marcone Souza, elencou algumas das principais contribuições do mestre ao ensino superior do país. Entre elas, a criação da Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior (Andifes), da qual Maculan foi presidente, e cujo embrião foi concebido em uma reunião na casa do mestre.
Marcone também lembrou a passagem de Maculan pela Secretaria de Educação Superior (Sesu) do MEC, de 2004 a 2006, quando teve efetiva participação na consolidação de programas como o Reuni, o Prouni e também na lei de cotas. “A expansão do ensino superior que vemos hoje se deve muito ao trabalho do professor Maculan. Ele sempre esteve à frente do nosso tempo”, observou Marcone, que ainda destacou o início da trajetória do mestre em Ouro Preto. Maculan se formou em Engenharia de Minas e Metalurgia pela prestigiosa Escola Nacional de Minas da cidade mineira, em 1965.
Professor do Instituto de Matemática (CCMN) e da Coppe (CT) desde 1971, Maculan teve sua dedicação aos orientandos lembrada com carinho pelo professor Luidi Simonetti, da Escola Politécnica, que foi aluno do mestre na Iniciação Científica, no mestrado e no doutorado: “Ele costuma dizer que não é um orientador, mas sim um desorientador. Faz parte da generosidade dele, que vai muito além da formação acadêmica. Com ele você aprende a ser uma pessoa melhor”.
O professor Victor Giraldo, que já havia emocionado a todos ao falar da generosidade de Maculan, pontuou que foi durante a gestão do mestre como reitor (1990 a 1994) que a UFRJ criou cursos noturnos de licenciatura em áreas como Matemática, Física e Biologia, entre outras, democratizando o acesso a esses cursos. Decano do CCMN, o professor Josefino Cabral Melo Lima endossou a importância de Maculan como docente, pesquisador (nível 1A do CNPq) e gestor: “Quase todo time de futebol tem um craque que faz a diferença. Maculan faz a diferença na UFRJ”.
A impressionante capacidade de trabalhar e de cumprir rotinas foi destacada por outros dois colegas de Maculan. Diretor do Instituto de Matemática, o professor Wladimir Neves disse que busca inspiração sempre que passa pela sala de Maculan e o vê trabalhando, orientando algum aluno: “Ele é um farol que ilumina a todos nós, professores”. Já o decano do CT, professor Walter Suemitsu, arrancou risadas da plateia ao contar que sempre que vai se ausentar do trabalho para alguma viagem, Maculan lhe manda um comunicado formal pedindo autorização: “Eu recebo aqui e fico admirado com essa disciplina à hierarquia. Aí respondo ‘boa viagem’”, contou Suemitsu.
CORAGEM
Ao agradecer as homenagens, o professor Maculan disse que sente orgulho em ser professor de Cálculo porque assim conseguiu circular por várias áreas, da Matemática à Geologia. “Cheguei a dar 20 horas de aula por semana. Nós temos quase cinco mil professores na UFRJ, e acho que temos poucos alunos. Precisamos ter mais alunos. A minha briga é que acho que temos poucas universidades no Brasil. Temos que ter mais”, discursou o mestre, mais uma vez aplaudido de pé.
Maculan agradeceu a presença de tantas pessoas queridas na plateia. “Minha família está aqui, meus colegas professores de tantos lugares, ex-reitores, alunos, ex-alunos. Foi uma grande surpresa para mim esta homenagem, me deixou muito feliz”, disse o mestre. Ele fez questão de nomear alguns amigos de velhas jornadas, como o professor Paulo Alcântara Gomes, ex-diretor da Coppe (1978 a 1982) e ex-reitor da UFRJ (1994-1998). “Paulo salvou meu pai na ditadura. Quando o governo expulsou todos os pesquisadores da Finep sob a acusação de serem comunistas, o Paulo contratou todos na UFRJ. Na época da ditadura, não era fácil fazer isso, não”.
Paulo, amigo de Maculan há mais de 50 anos, foi vice-reitor na gestão do homenageado. “A gestão dele foi marcada pelo desenvolvimento da pós-graduação e da pesquisa, além de melhoria de infraestrutura da universidade”, lembrou Paulo. E inverteu a história contada pelo amigo pouco antes. “Quem salvou o pai do Maculan não fui eu. Foi o pai dele, o senador Nelson Maculan, que salvou a Coppe. Ele organizou ciclos de conferências e visitas para tirar a Coppe de uma crise enorme nos anos 1970”.
Além da generosidade, citada em muitos discursos, o professor Walter Suemitsu destacou outra característica marcante de Maculan: a coragem. “Eu estava aqui em 1975, quando a ditadura assassinou na cadeia o jornalista Vladimir Herzog. E vivíamos aqui uma crise com o valor das bolsas na Coppe, de valor muito baixo, sobretudo para alunos que vinham de fora do Rio. Estourou uma greve, e eu vinha do movimento estudantil da USP, logo me envolvi na greve, falava nas assembleias. A Polícia Federal veio até aqui, buscando meu endereço, e o professor Maculan se recusou a dar. Foi um ato de coragem enfrentar o regime. Devo ao professor Maculan estar aqui hoje”, contou Suemitsu, emocionado.
Vida longa, mestre Maculan. Com generosidade e coragem, sempre.