Accessibility Tools

facebook 19
twitter 19
andes3
 

filiados

WhatsApp Image 2023 03 30 at 20.18.47 12Foto: Felipe Cohen/divulgação Museu NacionalMilene Gabriela

Um vídeo do encontro entre a doutoranda Luana Braga e o presidente Lula viralizou na semana passada. Durante a visita do petista ao Museu Nacional no dia 23, a estudante do Programa de Pós-graduação em Antropologia Social (PPGAS) emocionou a todos ao contar como as políticas públicas criadas pelos primeiros governos do PT mudaram sua vida e a de sua família. “Todas as oportunidades a que tive acesso fizeram de mim um instrumento de justiça social. O governo mudou a história da minha vida, que está ajudando a transformar a história de muitas pessoas”, disse ela ao Jornal da AdUFRJ. “Quando eu e Lula tiramos a foto, ele disse que virou meu fã. E que nós vamos mudar a vida de muitas pessoas”.
Há mais de 50 anos, o museu não recebia a visita de um presidente da República. Para marcar o evento, a direção decidiu presentear Lula com uma placa feita com a madeira de reconstrução do prédio, incendiado em 2018. E solicitou a indicação de um aluno do PPGAS para a entrega do mimo: alguém que representasse o corpo social e tivesse a trajetória de vida influenciada pelos governos petistas. O nome de Luana surgiu com naturalidade.
A jovem de 28 anos é a primeira pessoa da família a entrar em uma universidade. Filha de agricultores analfabetos, nasceu em Pradópolis, no interior de São Paulo, mas foi criada em Iaçu e se considera filha do pequeno município da Bahia, de aproximadamente 24 mil habitantes. “A gente não escolhe onde nasce, mas escolhemos as histórias que queremos contar e construir. Identidade é sobre os processos que vivemos e as histórias que construímos e não sobre os documentos”.
O encontro com o presidente repercutiu na cidade que adotou Luana ainda criança. “Iaçu fez uma festa. Recebi muitas homenagens dos conterrâneos”, contou. José dos Reis Braga, avô da antropóloga e fundador do sindicato de trabalhadores rurais local, chora toda vez que assiste ao vídeo da neta falando com Lula. “Meu avô ligou para contar que as pessoas vão até a sua casa para agradecer pelo que eu estou fazendo pela comunidade, por estar levando o nome de Iaçu, nossa história e da população rural para o mundo” disse. “Eles disseram que o abraço que eu dei no presidente gerou muita emoção, que foi um abraço de muitas pessoas, que representa muitas histórias e que se sentiram representados por mim”, completou.
Luana já participou de workshops em países como México, China, Alemanha e África do Sul para apresentar suas pesquisas com temas relacionados à revolução da terra, reforma agrária e sobre o povo preto, periférico e pobre do Brasil. A estudante foi selecionada para estar em Harvard no próximo mês no workshop “Afro-latin American Research Institute”, que conta com pesquisadores de todo o mundo. O evento irá debater mulheres negras e a concentração de terras no Brasil. “Se eu tenho um calo no dedo por usar a caneta é porque as mãos ao meu lado e atrás de mim são calejadas por enxada”.
Confira a entrevista de Luana.


Jornal da AdUFRJ - Como o governo do PT mudou a sua vida e a de sua família?
Luana Braga
- Eu tive acesso a uma série de políticas públicas criadas pelo pelo governo do PT. Não só eu, toda minha família. Tivemos acesso ao ID jovem (que dá desconto em eventos artístico-culturais e esportivos e no transporte coletivo interestadual) e políticas de cotas. O curso de pós-graduação em Antropologia Social é um programa pioneiro das ações afirmativas da pós-graduação no Brasil. A minha família teve acesso ao programa de cisternas, ao Luz para Todos, ao programa de aquisição de alimentos e a várias políticas públicas de agricultura familiar.

Qual a sua área de pesquisa?
Quando eu cheguei ao mestrado de Antropologia Social decidi pesquisar sobre a história da minha família, que é de sindicalistas. O meu avô é um sindicalista rural, que lutou bravamente contra a ditadura militar. Fundou o Sindicato de Trabalhadores Rurais durante esse período. Eles precisaram ficar dois anos na clandestinidade. Foram queimados muitos roçados, queimaram casas dos nossos amigos. Muitas histórias são de resistência da família, do roçado e da cultura. Para que essas pessoas pudessem existir no mundo e diante desse cenário todo, elas não puderam eestar nos bancos escolares e eu sou a primeira geração que consegue esse feito. Pesquiso sobre as memórias do meu avô, sindicalismo rural e as lutas pela terra na Bahia. Essa é minha pesquisa de doutorado.

Como foi a sua reação ao saber que iria para Harvard?
Estou no processo para entender tudo o que está acontecendo. Não tenho noção de que conquistei coisas tão grandes. Nem nos meus maiores sonhos imaginaria Harvard. Quando eu era menina, lembro que cheguei à escola e as pessoas chutavam meu material, riam de mim. Parecia tudo tão distante. Achava que, quando eu conseguisse um dia fazer um doutorado, teria vencido muito na vida. Só que, de repente, fiz muito mais que tudo isso. E parece que estou só começando. Eu já nem sei mais para onde é que posso ir. Parece que o mundo ficou pequeno para mim.

E se você pudesse dar um conselho para quem está começando a estudar agora?
Tenham propósitos e não desistam dos seus sonhos. Por muito tempo na vida, às vezes a única coisa que temos é o sonho. E quando a gente vai atrás dele, ele pode fazer coisas inimagináveis com a gente. Então agarra as oportunidades que a vida te dá. Muitas pessoas vão falar que você não vai conseguir, vão falar que você sonha alto demais, mas podemos fazer muito pela nossa história, pela história dos nossos, precisamos acreditar e seguir caminhando. Tem muito trabalho, há muitos bastidores que ninguém vê, mas o importante é confiar. Guimarães Rosa fala “o que a vida quer da gente é coragem”. Então coragem e ‘bora’.

Às vésperas do início de mais um semestre letivo na UFRJ — as aulas da graduação começam na próxima segunda-feira —, esta edição do Jornal da AdUFRJ aborda por diferentes ângulos o ofício de ensinar. Um deles é o oposto do que se espera de um ambiente escolar: a exposição à violência. E tem como mote um crime que chocou o país esta semana: o assassinato da professora de Ciências Elizabeth Tenreiro, de 71 anos, morta a facadas por um adolescente de 13 anos em sala de aula na Escola Estadual Thomazia Montoro, na Zona Leste de São Paulo, na segunda-feira (27).
A morte da professora está longe de ser um fato isolado, como mostra nossa reportagem nas páginas 4 e 5. Uma pesquisa da Unicamp, à qual o Jornal da AdUFRJ teve acesso, revela uma tendência preocupante: dos 23 ataques de alunos ou ex-alunos a escolas no Brasil nos últimos 21 anos, mais de um terço ocorreu apenas do segundo semestre de 2022 para cá. Especialistas ouvidos pela reportagem tentam decifrar as motivações desse crescimento da violência em escolas e os caminhos que podem levar à redução de crimes como o da escola da Zona Leste paulista.
No velório da professora Beth, como era conhecida, colegas de profissão e alunos lembraram a dedicação da docente ao trabalho, seu amor por ensinar e sua generosidade, traços que servem de inspiração aos que ficaram. E são essas também as características marcantes do professor emérito Nelson Maculan Filho, que esta semana foi homenageado por seus 80 anos. Aposentado — assim como era Beth —, Maculan segue ativo em sala de aula, com fôlego de menino, espalhando seu vasto conhecimento e inspirando novas gerações de professores. A merecida homenagem ao mestre, um ícone da UFRJ e da Ciência brasileira, está na página 7.
Inspiração não tem idade. Nossa matéria da página 6 traz o exemplo da doutoranda Luana Braga, de 28 anos, aluna do Programa de Pós-graduação em Antropologia Social (PPGAS) do Museu Nacional. Em vídeo que viralizou semana passada, Luana conta ao presidente Lula, durante a visita do petista ao Museu Nacional, no dia 23, como as políticas públicas criadas pelos primeiros governos do PT mudaram sua vida e a de sua família. “Todas as oportunidades a que tive acesso fizeram de mim um instrumento de justiça social”, disse Luana ao Jornal da AdUFRJ. Filha de agricultores analfabetos, Luana nasceu em Pradópolis, no interior de São Paulo, foi criada em Iaçu, pequeno município da Bahia, e é a primeira pessoa da família a entrar em uma universidade. Um exemplo inspirador.
Para os novos professores da UFRJ que farão sua estreia em sala de aula a partir da próxima segunda-feira, a AdUFRJ dá boas-vindas, convida a conhecerem os convênios e serviços oferecidos pelo sindicato e a filiarem-se para que juntos possamos buscar a melhoria contínua do trabalho docente. Os docentes “calouros” são tema de nossa matéria da página 3. Um deles é Vinicius Marques da Costa, do Instituto de Matemática. “Sou cria do Fundão: fiz graduação, mestrado e doutorado. Agora volto como docente, um sonho de criança”, diz Vinicius.
Que esse sonho seja mais uma inspiração para todos nós.
Boa leitura!

Por Igor Vieira


Alunos de 15 a 75 anos estão estudando Matemática na Coppe para aprender que idade é só mais um número, Português para escrever suas histórias e Literatura para conhecer as lições de vida contidas dos livros. Levar conhecimento a pessoas de fora da universidade é o objetivo do projeto de extensão Letramento de Jovens, Adultos e Idosos, da COPPE. O curso funciona em parceria também com o Núcleo Interdisciplinar para Desenvolvimento Social (NIDES). As aulas são ministradas para pessoas de idade e origem diversas por alunos de licenciatura da UFRJ de Letras e Matemática, na melhor tradição da educação humanizadora do mestre Paulo Freire.

A coordenadora do projeto é a servidora técnica-administrativa da Coppe, Denise Dantas. “O projeto começou em 2005, ao notar que muitos servidores da UFRJ, naquela época, não eram alfabetizados. Mas o projeto é aberto para todos. Por conta da proximidade, muitos alunos são moradores da Ilha do Fundão”. Segunda ela, os alunos são de todos os níveis, alfabetizados ou não. “Basta ter vontade de estar aqui”, contou Denise, que assumiu a coordenação em 2020.

São três ciclos — básico, intermediário e avançado —, cada um com nove meses de duração. Além das aulas de alfabetização, há também aulas de Matemática e Português. Em Português, os alunos têm lições de Literatura e Redação e aprendem desde identificar um texto poético até redigir textos.
Os alunos da UFRJ comandados por Denise confessam o desejo de que os matriculados no projeto retomem o ensino formal e prestem a prova do ENCCEJA (Exame Nacional para Certificação de Competências de Jovens e Adultos). Para isso, a pró-reitora disse que em breve o projeto terá professores de Ciências, História, Geografia e Informática.

O professor Ricardo Gonçalves, aluno de licenciatura em Matemática da UFRJ, tem experiência de causa: “Sempre trabalhei como gari da Comlurb, mas só aos 38 anos fui estudar. Nunca tive alguém para me dar esse conselho. Em 2019, uma pessoa me falou para concluir o Segundo Grau, já que não consegui o diploma de onde eu tinha cursado por conta de problemas da escola com o MEC”. Ele estudou em uma escola estadual em Bangu, perto de onde mora.

Ricardo se reconheceu nos professores da escola: “Eles me perguntaram qual o meu sonho. Eu falei que é estar em uma sala de aula, ensinando. Sempre gostei de Matemática, mas achava que já era tarde. Eles falaram: ‘Ricardo, foca em você, não importa se vai chegar lá com 50 ou 60, o importante é chegar’”. Ele passou para Matemática no Enem em uma boa colocação.

Quem também se encontrou no projeto foi Natália de Souza, do quarto semestre da licenciatura em Português: “Uma aluna me marcou muito, Dona Ednea, de 50 anos. Ela passou por diversas situações na vida dela, muitas perdas, mas sempre estava presente e participando da aula. Aprendo com a história de vida deles. Procurei o projeto porque me interessei pela oportunidade de lecionar. A extensão está sendo muito importante na minha vida, pessoal e profissional. Consegui encontrar meu caminho e meu ofício, e entender quem sou no aprendizado da educação”. Natália ensina uma turma diversa, com alunas como Monique e Kaylanne Costa, com 21 e 17 anos, e Sebastião Felizardo e Maria de Fátima, na casa dos 70 anos. Todos estão no ciclo intermediário.

Sebastião, de 75 anos, conhecido como “Seu Tião”, já prestou o ENCCEJA duas vezes: “Meu objetivo é tirar o diploma. Reprovei só em Matemática, mas estou aprendendo muito no Letramento”, confessou Sebastião, que é servidor da UFRJ e trouxe sua vizinha Maria de Fátima, de 70 anos, moradora da ilha.

Seu Tião contou que já fez o Ensino de Jovens e Adultos (EJA) da UFRJ: “Boa parte da minha família, como meu pai e minha irmã, foram servidores da UFRJ. Eu trabalho na universidade há 44 anos, na portaria da Escola de Química, no bloco H. Antes, o servidor aqui não podia nada, mas hoje está melhorando”.

Kaylanne afirmou gostar do projeto: “Tive que sair da escola quando me mudei para a vila. Aqui não é como a escola, em que o assunto é dado e, mesmo se você não entendeu, já tem um próximo assunto. Aqui, os professores são muito pacientes”.

Monique concordou com Kaylanne: “Hoje já consigo ler placas, ônibus, coisas no celular, na televisão”, disse. Monique quer prestar o ENCCEJA e depois fazer um curso para trabalhar com Informática.

O projeto acredita na escuta e na troca dos professores com os alunos, trabalhando com um “tema gerador”, discutido durante o ano e escolhido por eles no início de cada ciclo, decidido pelos estudantes em reunião. Este ano o tema é “violência”, presente de diferentes formas no cotidiano de cada um.

ETARISMO
O caso das três jovens de 20 anos de um curso de Biomedicina de uma faculdade particular em São Paulo, debochando de uma aluna mais velha, ainda está se desdobrando. Elas divulgaram um vídeo em suas redes sociais filmando a colega Patrícia Linhares, de 45 anos, sem seu consentimento, e debochando com frases como “ela tem 40 anos, já deveria estar aposentada”. Foi formada uma rede de apoio para Patrícia e as agressoras desistiram do curso, após a repercussão do caso.

O professor Ricardo também sofreu etarismo: “Meu chefe na Comlurb falou para eu esquecer isso de estudar. Na fila de matrícula na UFRJ, estava com uniforme de gari. A mãe de um aluno perguntou se eu estava matriculando meu filho e disse ‘mas será que você vai conseguir? É longe e cansativo’. Respondi que dormir 1h e acordar às 5h, trabalhar e depois estudar para realizar meu sonho. Ensinar no Projeto Letramento tem sido uma coisa de Deus”, disse Ricardo. E dá um recado final: “Não pensem que é tarde. O importante é o que vão fazer da vida de vocês daqui para frente”.

Por Igor Vieira

Em meio à euforia com as primeiras medidas do novo governo Lula, com ações em várias áreas — inimagináveis no período de trevas de Jair Bolsonaro —, não é incomum perder de vista que a reforma do Ensino Médio está em vigor. Ela foi instituída no governo Michel Temer, por meio da Medida Provisória 746), e o primeiro ciclo de implantação gradual começou no ano passado e vai até 2024. Mas cresce um movimento pela revogação da medida.

Para o professor Roberto Leher, ex-reitor da UFRJ e especialista em Educação, a reforma teve um erro de origem. “Ela foi instaurada após o golpe de 2016 (quer levou ao impeachment da ex-presidenta Dilma Rousseff) por meio de uma medida provisória. O que é uma impropriedade. Um tema como a reforma do Ensino Médio não pode ser objeto de medida provisória”, diz Leher.

Segundo o professor, a reforma carece de conteúdo. “O conceito geral dos empresários é de que o país vai precisar apenas de trabalho simples, de técnicos, com uma formação mais utilitarista e pouca fundamentação científica e tecnológica. A reforma trabalha com conceitos gelatinosos e sem uma formação humana, que prepare os jovens para o século XXI”, argumenta.

O ex-reitor sustenta que faltou diálogo para a elaboração da proposta e defende a revogação da MP. “A reforma do Ensino Médio caminha junto com a nova Base Nacional Comum Curricular, também apresentada no governo Temer. Ela inclui técnicas de como fazer brigadeiros, e não um processo formativo de maior complexidade. É um ataque à cidadania. Não há uma proposta verdadeira de diálogo com universidades, empresariado, movimentos sociais e estudantis”.

Leher considera a educação fundamental para o jovem: “Temos que abrir os horizontes dos estudantes para que, ao terminarem o EM, façam escolhas consolidadas. Por exemplo, defendo que o jovem tenha uma educação artística geral, mas não significa que todos serão artistas. Também devem saber sobre as questões ambientais atuais, a matriz energética, a economia em crise. O Novo Ensino Médio não coloca os jovens no século XXI”.

A reforma é um debate complexo, que tem diversos pontos de vista. Professora da Faculdade de Educação e diretora da AdUFRJ, Ana Lúcia Fernandes considera que as críticas são válidas, mas faz algumas ponderações: “Há estados que estão na metade da implementação do ciclo 2022-2024. Revogar significa interromper esse processo em curso e entrar em um vazio legal, ou voltar para o que era antes, que também não era bom”, pontua.
“É verdade que a carga horária foi aumentada em escolas que têm pouca infraestrutura, e existem muitos exemplos de oferta de matérias esdrúxulas e fora do contexto escolar. Porém, tais circunstâncias não devem servir para condenar uma tentativa de mudança em curso, mas sim para fomentar um aprofundamento da reflexão sobre a grade curricular”, complementa a professora.

Ana Lúcia vê um aspecto positivo na reforma: “A possibilidade de os estudantes estabelecerem seus projetos de vida, pensando nas suas trajetórias de forma autônoma e diversificada, é algo inédito no país. Em termos de extensão territorial e diversidade cultural, será mesmo que tudo tem que ser igual?”, observa.

PROTESTOS
O Novo Ensino Médio vem sendo alvo de manifestações em todo país. Na quarta-feira (22), professores, alunos e movimentos sociais se reuniram em frente ao MASP, na capital paulista, para exigir a revogação da reforma. Os manifestantes chegaram a bloquear a Avenida Paulista. As primeiras manifestações ocorreram em 15 de março, convocadas por entidades estudantis como a União Brasileira de Estudantes Secundaristas (UBES).

No Rio, a Cinelândia foi o palco de uma grande manifestação no dia 15. Ao lado de professores e de entidades sindicais, estudantes de escolas públicas como o Colégio Pedro II e a Faetec protestaram diante da Secretaria de Educação do estado e ocuparam as escadarias da Assembleia Legislativa (Alerj).

O professor Jaber Câmara, que ensina Filosofia na rede pública estadual, constatou a piora do ensino com o Novo Ensino Médio. “Na rede privada, as aulas eletivas estão acontecendo no contraturno. Já na rede pública, muitos estudantes têm que trabalhar à tarde porque não podem permanecer apenas na escola”.

O docente observou que as escolas não têm infraestrutura adequada para suportar as mudanças. “Ocorre uma perpetuação da desigualdade, porque o aluno não vai ingressar no Ensino Superior e mudar seu cenário de vida. As escolas públicas ainda contam com falta de pessoal e de infraestrutura. Não adianta reformar o modelo se a estrutura continua sucateada”, disse Jaber.

REVOGAÇÃO
A estudante Vivian Werneck, representante do grêmio da Faetec, deu seu relato: “Temos matérias com nomes vagos, como ‘Projeto de Vida’, em que conversamos sobre questões pessoais que não são pauta para sala de aula. Os professores que dão a matéria não estão preparados, pois antes ensinavam outros assuntos, bem mais importantes”. Ela pede a revogação do que vê como “uma elitização do ensino”.

Ex-presidente do grêmio do Colégio Pedro II de Realengo, Jamily Roberta, que acabou de se formar, foi apoiar os colegas: “O Pedro II é conhecido por ter uma educação de excelência e libertadora. A reforma ainda não nos afetou, mas caso continue, vai substituir a educação de qualidade por uma educação de lógica neoliberal”, destacou.

Lucas Peruzzi, coordenador do DCE Mário Prata da UFRJ, seguiu a mesma linha de Jamily: “Muitos dos universitários, futuramente, estarão licenciados para dar aula nessas escolas que estão cada vez mais sucateadas. A reforma foi pensada para atender grandes empresários e bancos, e não uma educação gratuita e de qualidade”.

Por Milene Gabriela


Estamos unidos e organizados para enfrentar as mudanças climáticas? Essa é uma das perguntas que norteiam a exposição “Futuros da Baía de Guanabara: inovação e democracia climática”. A exposição é realizada pelo Fórum da Ciência e Cultura (FCC) da UFRJ e promove uma experiência imersiva e interativa. O intuito é mostrar de que forma a mudança do clima afeta, hoje e no futuro, o entorno da Baía de Guanabara: as pessoas, as atividades produtivas e a biodiversidade das cidades e locais, como a Ilha do Fundão.

Na área externa do FCC há uma mostra da fauna marinha da região, com aproximadamente 20 espécies de animais invertebrados e vertebrados, que pertencem à coleção do Museu Nacional da UFRJ.

Já a exposição interna é dividida em três etapas. Na primeira, a sala das perguntas é um espaço interativo com aproximadamente trinta questionamentos sobre mudanças climáticas. O visitante escolhe alguma pergunta para debater com o mediador do evento. O objetivo é estimular o público a pensar em soluções para os efeitos da mudança que afeta um dos principais cartões postais da cidade do Rio de Janeiro.

A segunda etapa exibe um filme sobre a Baía de Guanabara. O curta apresenta o dia a dia do ecossistema e seu entorno, com ênfase nos desafios impostos pelas mudanças climáticas para o ambiente e para a sociedade. O filme exibe, ainda, resultados de pesquisas realizadas sobre o tema. A sessão dura nove minutos, com espaço para doze pessoas por sessão, incluindo dois cadeirantes.

Já a terceira e última etapa é formada pela sala das escolhas, que aborda como as decisões políticas e o modelo econômico atual impactam o futuro. O espaço também mostra o papel da Ciência e das pesquisas da UFRJ. Conta com um mural das iniciativas, que são dois mapas interativos expandidos das regiões do estado do Rio de Janeiro. Se o visitante conhecer ações locais de determinadas regiões do mapa que combatem as mudanças climáticas, pode escrever no papel disponibilizado na sala como a ação contribui para um clima mais estável. Caso não conheça nenhuma, é possível sugerir uma ação na cidade.

“A Baía resiste e nós precisamos ajudar”, disse a professora Denise Freire, pró-reitora de Pós-Graduação e Pesquisa, que visitou a exposição. Levantamento feito pela Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais (Abrelpe) mostra que, por dia, são despejadas 98 toneladas de lixo na baía. Por conta do grande número de resíduos de lixo, apenas 12% da baía é utilizada para pesca, afetando diretamente mais de cinco mil pescadores que vivem na região.

A abertura da exibição aconteceu no dia 21, mas era planejada desde 2019 pela professora Tatiana Roque, então coordenadora do FCC. Tatiana é secretária municipal de Ciência e Tecnologia e afirma que quando assumiu o fórum, na época, a sensibilização para a questão das mudanças climáticas era uma das suas preocupações. “Por que falar dos entornos e futuros da Baía de Guanabara?”, questionou Tatiana. “Porque é uma das maneiras que temos de fazer divulgação científica, que não se separa da sensibilização climática, do engajamento e do ativismo. É tornar sensíveis os problemas climáticos que são resultados globais”, explicou a professora.

Jerson Lima, presidente da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (Faperj), concorda com Tatiana ao afirmar que por causa das mudanças climáticas os eventos extremos, tanto de chuvas quanto de secas, estão acontecendo com cada vez mais frequência e são mais intensos. E defendeu um maior diálogo entre as instituições científicas e a sociedade como forma de combater o que chamou de “negacionismo climático”.

A professora Christine Ruta, bióloga e coordenadora do Fórum de Ciência e Cultura, falou sobre a sensibilização do público. “A nossa exposição, além de discutir questões de democracia climática, mostra a inovação da nossa universidade, que de alguma maneira contribui para minimizar esse problema que já nos assola”, disse.

A região da Baía de Guanabara é cercada pelos municípios do Rio de Janeiro, Duque de Caxias, Magé, Guapimirim, Itaboraí, São Gonçalo e Niterói. “A gente tem uma biodiversidade incrível, que constantemente vem diminuindo sua população, mas ao mesmo tempo vem se mantendo viva. É preciso manter esse farol de esperança para a Baía de Guanabara”, afirmou o curador da exposição, Leonardo Menezes.

A exposição acontece de 21 de março a 14 de maio, de terça a sábado, das 9h às 20h; domingos e feriados das 10h às 16h, na Casa da Ciência da UFRJ, em Botafogo. A entrada é gratuita e aberta ao público de todas as idades. Também serão realizadas atividades como oficinas infanto-juvenis, debates com estudantes universitários, rodas de conversas, palestras com acadêmicos, gestores públicos e lideranças comunitárias, lançamento de livros, apresentações artísticas e culturais e gravações de podcasts ao vivo.

Topo