Accessibility Tools
Os problemas para a volta às aulas da graduação, em 3 de abril, são nosso tema de capa desta edição. Dois deles são recorrentes e preocupantes: a insegurança e a falta de infraestrutura no campus do Fundão. A agressão ao estudante Lucas Vieira, da Engenharia de Produção, desnuda, mais uma vez, a exposição da comunidade acadêmica à violência que se espraia por toda a cidade do Rio de Janeiro. Lucas foi abordado na saída do bandejão central do Fundão, no último dia 10, por um homem que lhe pediu dinheiro. O estudante deu R$ 50 e foi espancado até desmaiar — sem que ninguém pudesse socorrê-lo. Veja mais detalhes sobre esse caso na página 6, ao lado de outros problemas que voltam à tona com o recomeço das aulas.
O drama de pais e alunos da Educação Infantil do Colégio de Aplicação, unidade da UFRJ de reconhecida excelência no ensino, é a face mais recente e cruel da falta de infraestrutura da universidade. Às vésperas do Carnaval, quando crianças de 2 a 5 anos deveriam iniciar as aulas na unidade do CAp no Fundão, um laudo do Escritório Técnico detalhou problemas estruturais que poderiam oferecer risco à segurança de todos, e o prédio foi interditado. Os alunos foram transferidos de forma provisória para a sede da Lagoa, onde estão abrigados em duas salas improvisadas, em horário parcial e sem alimentação.
Para agravar o quadro, dos 60 alunos da EI, 55% não estão frequentando as aulas porque os pais não conseguem levá-los e buscá-los na Lagoa. “A logística ficou inviável. Ela só tem dois anos. Na turma dela, de um total de 14, apenas três crianças estão conseguindo frequentar. Eu trabalho na Fiocruz, consegui manter minha filha na creche institucional, onde ela estudava antes de ir para o CAp. Mas outros pais não têm essa alternativa e não podem levar seus filhos para a Lagoa. Como ficam essas famílias?”, questiona Sthefany Cury, mãe de uma criança de dois anos da Educação Infantil do CAp. A situação precária e as providências que a UFRJ vem tomando para superá-la são o tema de nossa matéria das páginas 4 e 5.
A aprovação por ampla maioria (38 votos a 9) dos professores da UFRJ à proposta do governo — de recomposição emergencial de 9% nos salários de ativos, aposentados e pensionistas, mais o reajuste de R$ 200 no auxílio-alimentação — é abordada em nossa matéria da página 3. A decisão da assembleia ocorreu na quarta-feira (15) e nesta quinta-feira (16) o setor das instituições federais de ensino do Andes encaminhou o aceite da proposta ao Fonasefe — fórum que reúne os servidores públicos federais. Os 9% estão bem distantes dos 27% reivindicados pelos servidores, mas a maioria dos professores na assembleia considerou o reajuste possível neste momento. “É claro que os sindicatos pressionaram, tentaram obter índices melhores, mas há limitadores. Não é o que queremos, não é o que merecemos, mas é um dado da realidade”, ponderou o professor João Torres, presidente da AdUFRJ. A mobilização não se encerra com a aceitação dos 9%. Ao contrário: ela deve permanecer até a recomposição integral dos salários dos servidores.
Na página 7, o assunto é a aprovação por unanimidade do no Consuni do Programa de Gestão e Desempenho (PDG), que trata das regras para a reorganização do trabalho na universidade, incluindo a regulamentação do trabalho remoto. Também na 7, confira as três chapas que concorrem à eleição do Andes nos dias 10 e 11 de maio.
Por fim, nossa página 8 é dedicada aos cinco anos da morte da vereadora Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes. Não apenas pela saudade ou pelo imenso legado que ela deixou, mas sobretudo pela reafirmação de que não desistiremos de lutar pelas respostas que até hoje as autoridades encarregadas do caso não conseguiram dar: quem matou matar Marielle? E por quê? Enquanto não houver Justiça, não desistiremos.
Marielle, presente!
Na última semana, o Conselho Universitário aprovou por unanimidade o Programa de Gestão e Desempenho (PDG). O documento trata das regras para a reorganização do trabalho na universidade, incluindo a regulamentação do trabalho remoto. A resolução é fruto de intenso diálogo entre a administração central, professores e técnicos-administrativos. Ainda são necessárias instruções normativas para a implementação do PDG nas unidades. O controle de frequência será realizado por folha de ponto, para quem estiver em trabalho presencial, e por cumprimento de metas, para aqueles que optarem pelo teletrabalho.
O PGD estabelece um máximo de 20% de pessoas em regime de teletrabalho completo. Para servidores em teletrabalho parcial, até 60% das atividades poderão ser realizadas fora da universidade. A resolução alcança técnicos e docentes, mas “não afetará as aulas presenciais”, garantiu o reitor Carlos Frederico Leão Rocha. Não há obrigatoriedade de adesão das unidades.
O professor Ricardo Medronho, diretor da AdUFRJ e representante dos eméritos no Consuni, solicitou que a comissão central – que discutirá a Instrução Normativa que vai orientar a implantação do PDG nas unidades – seja composta também por dois representantes da AdUFRJ. “Como é um programa voltado para técnicos e docentes, é importante garantir a representação sindical desses professores”, defendeu. A solicitação foi aprovada por unanimidade. Também vão compor a comissão representantes da PR-4, do Sintufrj e do DCE Mário Prata.
Relatora do processo e representante da Comissão de Legislação e Normas, a professora Walcy Santos defendeu a urgência do tema. “A gente está perdendo muitos técnicos que, com a pandemia, aprenderam a trabalhar longe de casa. Há muitos órgãos já atuando nesse regime e eles estão pedindo transferência”, justificou. “Esse processo precisa ser muito bem estruturado nas unidades, sempre com o cuidado de não esvaziar a atuação presencial da UFRJ”, ponderou a docente.
Para Vânia Godinho, diretora do Sintufrj e conselheira universitária, é importante estabelecer condições materiais para esse teletrabalho e segurança na manipulação dos dados que serão trabalhados fora do ambiente universitário. “Na mesa de negociação, especialmente na última reunião, essa preocupação ficou expressa. São pontos que a gente não abre mão”.
Em seu último dia no cargo, o então pró-reitor de Pessoal, professor Alexandre Brasil, destacou o longo processo de discussão interna e a consulta com participação de 1.300 servidores, para a construção da resolução. “O grande elemento do PGD é a discussão sobre a organização do trabalho. Um espaço para pensar as mudanças no trabalho. É uma grande oportunidade para aperfeiçoar ainda mais o nosso serviço à sociedade”.

Somos Rosas em nossos quereres. Simones em nossas circunstâncias. E professoras brasileiras em nossos ofícios. Chegamos ao 8 de março de 2023 com esperança de um mundo menos desigual, mas ainda massacradas pela realidade. Sob qualquer ótica, não há dados confortáveis sobre temas de gênero neste perverso Brasil. Comecemos pela política, seara engravatada em que homens ainda prevalecem de forma esmagadora. Veja alguns dados coletados pela equipe de reportagem do Jornal da AdUFRJ e reunidos nas páginas 4 e 5 desta edição. Nas eleições de 2022, apenas 302 mulheres conseguiram se eleger nas esferas federal, estadual e distrital, enquanto 1.394 homens foram eleitos. Aqui cabe um parêntese alvissareiro. Na AdUFRJ, das últimas quatro gestões, três foram lideradas por mulheres – evoé Tatiana Roque, Maria Lúcia Werneck e Eleonora Ziller. A atual gestão é a exceção que confirma regra, mas vale a ressalva que, de sete diretores, cinco são mulheres.
Na economia, os números também são cruéis. Do total da força de trabalho no Brasil, 44% são compostos por mulheres. Elas, no entanto, são maioria entre os desempregados — 55,5%. Mulheres ganham em média 21% a menos do que os homens. No serviço doméstico, representam 91% e recebem 20% a menos que os 9% dos empregados homens nesse setor. Na Educação, o cenário é melhor, porém ainda sofrível: as mulheres representam 75% da força de trabalho, com salários em média 32% menores.
Mas o pior retrato é o que está manchado de sangue. Os dados de crimes contra a mulher são assombrosos. Apenas no primeiro semestre de 2022, uma mulher foi assassinada a cada seis horas no Brasil. No total, nesse período, 699 mulheres foram mortas em situação de violência doméstica.
Acreditamos que o conhecimento é uma das armas essenciais para combater essas tragédias nada particulares que resvalam da política ao quarto de dormir. A UFRJ é um bom exemplo de que a Educação muda o mundo. Hoje, graças à luta e à lida de professoras feministas que se desdobram para combater as várias formas de machismo, temos dados animadores. Aqui somos 1.919 professoras de um total de 4.046 docentes, ou 47,4% do total. Dos 132 programas de pós-graduação, 60 são coordenados por mulheres. O percentual é de 45%. As mulheres ocupam 43,1% dos cargos de direção na universidade. Ainda é pouco, mas já podemos dizer que Rosas e Simones estão florescendo em nossos campi.
Apenas três chapas foram homologadas para disputar a eleição do Andes em 10 e 11 de maio. A chapa 4, apresentada e inscrita no Congresso no Acre, não conseguiu montar a equipe de 83 docentes, exigida pelo regimento do sindicato nacional.
Nas três chapas que disputam a eleição, há professores da UFRJ. Ao todo, são nove docentes da UFRJ. Na chapa 1, estão Luis Acosta, Cláudia Piccinini e Fernanda Vieira. Na Chapa 2, estão Marinalva Oliveira, Maria Daniela e Jaqueline Girão. Já na Chapa 3, participam Eleonora Ziller, Mayra Goulart e Deia Ferreira. Todos os professores sindicalizados na AdUFRJ poderão votar.
CHAPA 1
Presidente
Gustavo Seferian
Scheffer Machado (UFMG)
1ª Vice-Presidenta
Raquel Dias Araujo (UECE)
2º Vice-Presidente
Luis Eduardo
Acosta Acosta (UFRJ)
3ª Vice-Presidenta
Maria Lucia Lopes da Silva (UNB)
Secretária Geral
Francieli Rebelatto (UNILA)
1ª Secretária
Caroline de Araújo Lima (UNEB)
2º Secretário
Alexandre Galvão Carvalho (UESB)
3ª Secretária
Annie Schmaltz Hsiou (USP)
1ª Tesoureira
Jennifer Susan Webb dos Santos (UFPA)
2º Tesoureiro
Fernando Lacerda Júnior (UFG)
3º Tesoureiro
Gisvaldo Oliveira da Silva (UESPI)
Regional
Rio de Janeiro
1ª Vice-Presidenta
Cláudia Lino Piccinini
(UFRJ)
2ª Vice-Presidenta
Renata Marins Alvim Gama (UERJ)
1ª Secretária
Fernanda Maria da Costa
Vieira (UFRJ)
2º Secretário
Pablo Bielschowsky (UFRRJ)
1ª Tesoureira
Maria Raquel Garcia Veja (UENF)
2ª Tesoureira
Joanir Pereira Passos (UNIRIO)
CHAPA2
Presidente
André Rodrigues Guimarães (UFAP)
1ª Vice-Presidenta
Gelta Terezinha Ramos Xavier (UFF)
2ª Vice-Presidente Rosângela Assunção (UESPI)
3ª Vice-Presidente
Marinalva Silva Oliveira
(UFRJ)
Secretária Geral
Celeste dos Santos Pereira (UFPEL)
1ª Secretária
Sandra Bernadete da Silva Moreira (UFPA)
2º Secretário
Waldir Bertúlio (UFMT)
3ª Secretária
Viviana Mónica Vermes (UFES)
1º Tesoureiro
Welbson do Vale Madeira (UFMA)
2º Tesoureiro
Gean Claudio de Souza Santana (UFS/BA)
3ª Tesoureira
Alyne Maria Barbosa de Sousa (IFPI)
Regional
Rio de Janeiro
1ª Vice-Presidenta
Viviane Becker Narvaes (UNIRIO)
2ª Vice-Presidenta
Luciana Santos Collier (UFF)
1ª Secretária
Maria Jacqueline Girão
Soares de Lima (UFRJ)
2ª Secretária
Luciano da Silva Alonso (UFRRJ)
1ª Tesoureira
Maria Daniela Corrêa de
Macedo (UFRJ)
2º Tesoureiro
Marco Antônio Perruso (UFRRJ)
CHAPA 3
Presidente
Luis Antonio Pasquetti (UNB)
1º Vice-Presidente
Domingos Sávio da Cunha Garcia (UNEMAT)
2ª Vice-Presidenta
Maria Caramez Carlotto (UFABC)
3º Vice-Presidente
Jailton de Souza Lira (UFAL)
Secretária Geral
Eleonora Ziller
Camenietzki (UFRJ)
1º Secretário
Paulo Vieira Neto (UFPR)
2ª Secretária
Celi Nelza Zulke Taffarel (UFAL)
3ª Secretária
Mariuza Aparecida Camillo Guimarães (UFMS)
1ª Tesoureira
Erika Suruagy Assis de Figueiredo (UFERPE)
2ª Tesoureira
Lisleandra Machado (IFSUDESTEMG)
3º Tesoureiro
Ari de Sousa Loureiro (UFPA)
Regional
Rio de Janeiro
1º Vice-Presidente
Luiz Fernando Rojo Mattos (UFF)
2ª Vice-Presidenta
Mayra Goulart da Silva
(UFRJ)
1ª Secretária
Fátima Lobato
Fernandes (UERJ)
2ª Secretária
Deia Maria Ferreira dos
Santos (UFRJ)
1ª Tesoureira
Elisa Guaraná de Castro (UFRRJ)
2ª Tesoureira
Maria das Graças Gonçalves (UFF)
No final da tarde do dia 7 de março, a Secretaria de Gestão de Pessoas e Relação de Trabalho enviou às entidades que representam os servidores públicos federais a data da próxima reunião de negociação salarial. Será na sexta-feira, dia 10, a partir das 14h30. Os servidores esperam que o governo apresente a nova contraproposta de reajuste salarial, acima dos 7,8% sugeridos em 16 de fevereiro. Os fóruns que representam os servidores federais sustentam outras duas propostas: 26,94%, que correspondem às perdas da inflação na gestão Bolsonaro, e 13,5%, defendidos pelos servidores das carreiras típicas de Estado em resposta aos 7,8%.
“Imaginamos que deva ser algo entre esses dois índices, mas sabemos que não teremos tanto espaço para esta negociação emergencial”, avalia o representante do Fonasefe – fórum que reúne o Andes e outros sindicatos da Educação e da Saúde –, David Lobão. “Nosso foco principal deve ser a campanha salarial de 2024, que vamos começar logo após encerradas as negociações atuais”.