Accessibility Tools

facebook 19
twitter 19
andes3
 

filiados

WhatsApp Image 2023 11 09 at 22.48.01Desde 2012, quando foi denunciado pelo Ministério Público Federal por supostas irregularidades na gestão de recursos, o professor Carlos Levi da Conceição, de 73 anos, pode contar nos dedos as noites tranquilas de sono que conseguiu ter. “Não é um sono profundo, é algo agitado, confuso. Parece tão absurdo isso durar todo esse tempo. Por mais forte que você tente ser, é uma espada na sua cabeça”, conta o ex-reitor da UFRJ (2011-2015).
O longo processo, que resultou em uma condenação em primeira instância em 2019 e que até hoje não teve o recurso da defesa julgado, se assemelha a um clássico caso de lawfare contra dirigentes de universidades públicas no Brasil: o do então reitor Luiz Carlos Cancellier de Olivo, da Federal de Santa Catarina, em 2017. Preso e afastado da UFSC por supostos desvios de recursos — jamais provados —, o professor cometeu suicídio poucos dias após a prisão (veja na página 7).
A simetria entre os dois casos e os erros apontados pelas defesas dos acusados — além de Levi, há outros quatro gestores da UFRJ e da Fundação Universitária José Bonifácio (FUJB) arrolados — são denunciados pelo manifesto “Apoio ao reitor Levi e servidores vítimas de lawfare”, que circula na internet desde 29 de outubro. Até o fechamento desta edição, o documento já tinha angariado mais de 3.500 adesões.

“ERROS GROTESCOS”
O termo lawfare, usado no manifesto, ganhou força no início deste século. A palavra é uma junção dos vocábulos “law” (lei) e “warfare” (guerra), pode ser traduzida como “guerra jurídica” e designa uma prática que, no Brasil, ganhou notoriedade com os excessos da Operação Lava Jato. Esse tipo de assédio judicial, que é praticado sob a aura da legalidade, se vale de instrumentos jurídicos para atacar um inimigo, levando-o a ser denunciado ou condenado, com prejuízos à sua imagem na sociedade. No caso da Lava Jato, o alvo preferencial do lawfare foi o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, preso e impedido de disputar as eleições de 2018.
“De forma muito semelhante ao que ocorreu na esfera política durante a operação Lava Jato, também em relação às universidades federais se desenvolveu um tipo equivalente de lawfare, cuja consequência mais dramática e trágica foi o suicídio do reitor Cancellier, da UFSC”, diz o documento.
Filho de Carlos Levi e articulador do abaixo-assinado, o economista Daniel Conceição, professor do Ippur/UFRJ, identifica uma mesma tática nos processos judiciais contra dirigentes de instituições federais de ensino superior. “Em todos esses ataques contra reitores de universidades, o caminho foi a criminalização das relações das universidades, absolutamente normais e corretas, com suas fundações de apoio. Inclusive no caso de Santa Catarina, e isso veio à tona com as revelações da Vaza Jato, a tese da delegada era a de que as fundações serviam a um grande esquema utilizado pela esquerda para passar recursos para partidos e ONGs”, avalia Daniel.
No caso específico de seu pai, o professor do Ippur diz que há graves inconsistências na sentença de condenação, que não foram observados pelo desembargador relator Wanderley Dantas, do Tribunal Regional Federal (TRF) em 14 de fevereiro deste ano, quando o primeiro julgamento do recurso da defesa chegou a ser iniciado, mas foi anulado porque o desembargador Marcello Granado se declarou impedido. E aponta uma delas. “Em seu voto anulado, o relator declara que não havia notas fiscais referentes a alguns pagamentos, mas nós apresentamos as notas. São alguns erros grotescos, é uma condenação flagrantemente infundada. Por isso estamos otimistas na reversão”, crê Daniel.
O julgamento dos recursos das defesas dos acusados deveria ter sido retomado na última terça-feira (7), mas foi novamente adiada a decisão. O desembargador revisor Flávio Lucas alegou impedimento, por motivo de foro íntimo, e um dos advogados pediu a suspeição do relator. Não há previsão de quando será o novo julgamento.

INÍCIO DO PROCESSO
A denúncia do MP é de 12 de dezembro de 2012 e aponta irregularidades em razão de valores captados pela UFRJ entre 2007 e 2011, mediante convênio e contratos com o Banco do Brasil, e geridos pela FUJB. Os réus foram condenados em 27 de fevereiro de 2019. Carlos Levi ficou com a pena de 4 anos e 9 meses em regime semiaberto. Os outros acusados são João Eduardo Fonseca, chefe de gabinete de Levi (9 anos e 5 meses), Geraldo Nunes, coordenador de Convênios e Relações Institucionais da UFRJ (7 anos e 2 meses), Raymundo de Oliveira, presidente da FUJB (7 anos e 1 mês) e Luiz Martins, secretário-geral da fundação (5 anos).
Os convênios com o Banco do Brasil foram feitos na gestão do reitor Aloísio Teixeira, quando Carlos Levi era pró-reitor de Planejamento. Teixeira acompanhou as primeiras denúncias e investigações — desde 2007 — e morreu ao longo desse processo, em 23 de julho de 2012, vítima de um ataque cardíaco.
Daniel Conceição lembra bem do trauma que a morte de Aloísio trouxe aos envolvidos. “O professor Aloísio Teixeira se foi ao longo desse processo, e não é difícil estabelecer a relação entre um infarto fulminante e todo o estresse desse lawfare. Foi um baque para todos”, recorda. Segundo o professor, as mudanças promovidas por Teixeira lhe renderam alguns inimigos na UFRJ. “Um deles, declarado e já falecido, foi o professor Agnelo Maia, da FND, que mobilizou o MP para a denúncia criminal inicial. Nessa denúncia, a procuradora Neide Mara Aparecida agradece ao professor pela revelação do suposto crime. Ele foi testemunha de acusação no processo”.
O professor recorda também que o ambiente “persecutório” da época favoreceu a condenação. “A sentença da primeira instância é da juíza Caroline Figueiredo, que disputava com o juiz Marcelo Bretas o papel de protagonismo da Lava Jato no Rio de Janeiro, e é muito próxima de Sergio Moro”, diz Daniel, que acredita na anulação da sentença. “Estamos otimistas na reversão”.
Esse é o mesmo sentimento de Rogério Marcolini, advogado de João Fonseca. “Como se trata de novo julgamento, o relator não está vinculado ao voto proferido anteriormente, e a expectativa da defesa é que ele venha reconsiderar sua posição a partir dos novos elementos e documentos levados ao seu conhecimento. A expectativa da defesa é de reforma da sentença condenatória, uma vez que os dirigentes universitários agiram em absoluta conformidade com as diretrizes estabelecidas previamente pelos órgãos colegiados superiores da UFRJ”, diz Marcolini.

ENTREVISTA I CARLOS LEVI DA CONCEIÇÃO, PROFESSOR E EX-REITOR DA UFRJ

WhatsApp Image 2023 11 09 at 22.42.44 5Jornal da AdUFRJ — Esse processo tem início formal com uma denúncia do MP em 2012. São mais de dez anos de idas e vindas na Justiça. Como o senhor tem suportado esse longo calvário?
Carlos Levi
— Isso traz repercussões para a sua vida, a sua família, e vai consumindo seu cotidiano com incertezas e dúvidas que ficam sempre pairando no horizonte. E com alguns momentos de pico, como aqueles em que se aproximam audiências importantes, quando a tensão cresce.

De que a forma a certeza da inocência lhe ajuda nesses momentos?
A convicção da inocência me dá a certeza de que as ações que fiz, as intenções que me moveram, não têm nada de errado. Isso me leva a acreditar que, em algum momento, vai prevalecer a lei, a boa Justiça, e me dá confiança para enfrentar todo esse processo. Até porque a fragilidade das provas que foram elencadas para me condenar é muito forte e evidente.

Se as provas são frágeis, e podem ser derrubadas com fortes elementos, por que tanto tempo de processo?
Até por conta desse distanciamento no tempo e no espaço, hoje eu posso ter mais clareza para entender esse processo. Tudo começou em 2003, na gestão do reitor Aloisio Teixeira, com um convênio com o Banco do Brasil, eu nem fazia parte da administração da UFRJ naquele momento. Esse convênio se transformou em um contrato com o banco em 2007, com a participação da FUJB, quando eu já era pró-reitor de Planejamento. Hoje fica claro que já havia então em gestação um movimento lavajatista no Judiciário e no MP. E uma das características desse movimento era a perseguição às universidades públicas. O mais remoto exemplo que eu me lembro dessa perseguição aconteceu em 2008 com o então reitor da UnB, Timothy Mulholland, acusado pelo MP de improbidade administrativa. Foi um caso muito explorado na época pela imprensa como um exemplo de mau uso de recursos públicos (Timothy acabou aboslvido na ação de improbidade administrativa).

O senhor acredita que a gestão do professor Aloísio Teixeira tenha sofrido algo semelhante?
Sim. E no caso dele havia ainda uma resistência interna às mudanças que a gestão vinha promovendo, notadamente na Faculdade Nacional de Direito. A primeira denúncia na imprensa contra a gestão do Aloísio partiu justamente de um integrante da FND, falando do contrato com o BB. Mais tarde veio a denúncia do MP, em 2012. Nesse mesmo ano, o professor Aloísio Teixeira faleceu. Éramos amigos íntimos. Ele estava muito desgostoso por ter sua vida depreciada, enxovalhada. Esse processo de alguma forma participou para acelerar a sua morte. Só quem experimentou o sabor amargo dessas injustiças, o ambiente que se forma, sabe o que é essa amargura.

Mais uma vez chama a atenção a demora no processo.
Veja, esse processo só vem a ser julgado em primeira instância em 2019. Sete anos após a denúncia. É muito tempo de agonia. O processo entra pela 7ª Vara, que é a vara da Lava Jato no Rio. Quem estava lá era o juiz Marcello Granado, que se declarou impedido em fevereiro deste ano, já como desembargador do TRF, quando o julgamento de nosso recurso contra a condenação chegou a ser iniciado, mas foi anulado com esse impedimento.

Esse é o julgamento na esfera criminal, mas há também um processo na esfera cível, não?
Sim, esse outro está correndo sem qualquer ligação com esse da esfera criminal. Vamos nos concentrar nesse da esfera cível depois de esgotar a luta na esfera criminal. O processo criminal é o que mais nos preocupa pela sua natureza persecutória, com esse ambiente lavajatista que vem desde o episódio com o reitor da UnB. Mas que também se manifestou na UFMG, na FURG e, o caso mais trágico e dramático, o da prisão e do suicídio do reitor Luiz Carlos Cancellier, da UFSC, em 2017.

Estava previsto para esta terça-feira (7) um novo julgamento do recurso, mas ele foi mais uma vez adiado. Como está o seu dia a dia e qual a sua expectativa para o desfecho desse caso?
Mais um adiamento... Um dos três desembargadores se declarou impedido e precisará ser substituído para recompor o quorum mínimo requerido. Além disso, houve um pedido de suspeição contra o relator, encaminhado por uma das partes envolvidas. Hoje estou aposentado na UFRJ, mas sigo com atividades de orientação de teses e participo de um grupo de energia eólica na Coppe. Minha expectativa é que essa condenação seja derrubada, só depois vou pensar melhor do que fazer da vida. Parece tão absurdo isso durar todo esse tempo. Por mais forte que você tente ser, é uma espada na sua cabeça. Você pensa em relaxar, se divertir, mas vem aquela sombra. É muito pesado, não recomendo nem desejo a ninguém. Mas ao menos estou vivo e tenho esperança. A luta continua.

 O caso mais emblemático de ‘lawfare’ nas universidades públicas

WhatsApp Image 2023 11 09 at 22.42.44 6“A minha morte foi decretada quando fui banido da universidade!”.
Este foi o bilhete encontrado no bolso da calça do ex-reitor da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Luiz Carlos Cancellier de Olivo, de 59 anos, depois que ele pôs fim à vida se atirando do sétimo andar do shopping Beiramar, em Florianópolis, em 2 de outubro de 2017. Dezoito dias antes, em 14 de setembro, ele tivera a prisão decretada pela delegada Erika Marena, ex-coordenadora da força-tarefa da Lava Jato, no âmbito da Operação Ouvidos Moucos, que apurava supostos desvios de verbas em cursos de educação a distância na UFSC. Acusado pela delegada de obstruir a investigação, o que sempre negou, Cancellier passou nu por revista íntima, foi algemado nos pés e nas mãos e encarcerado por 36 horas na Penitenciária de Florianópolis.
A prisão foi autorizada pela juíza federal Janaina Cassol Machado, da 1ª Vara Criminal Federal de Santa Catarina, que entrou de licença médica após assinar o mandado. No dia seguinte à prisão, a juíza substituta Marjôrie Freiberger autorizou que Cancellier respondesse em liberdade. Depois da soltura, ele foi proibido de retornar à universidade, da qual era reitor desde março de 2016, assim como outros docentes e funcionários da UFSC também investigados pela operação da PF.
O CNJ abriu um processo para investigar a conduta da juíza Janaina Cassol no caso, mas a ação foi arquivada. No último dia 21 de agosto, o CNJ abriu novo processo contra a magistrada por supostas irregularidades na Operação Match Point, da Polícia Federal, deflagrada em abril deste ano para combater uma quadrilha de tráfico de drogas e lavagem de dinheiro. A investigação está em curso.
Em 8 de julho passado, o ministro da Justiça e da Segurança Pública, Flávio Dino, anunciou a abertura de investigações para apurar possíveis irregularidades e abuso de poder nas atuações de agentes públicos que, em 2017, levaram à prisão do então reitor da UFSC. Quatro dias depois, no evento “A Ciência voltou!”, no Palácio do Planalto, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva também lembrou o caso, emocionado: “Nesse momento em que a gente está reunindo a inteligência brasileira, através dos nossos cientistas e pesquisadores, a gente não pode esquecer o nosso companheiro reitor da Universidade Federal de Santa Catarina, Luiz Carlos Cancelier. Sempre que a gente puder, a gente tem que lembrar das pessoas que foram vítimas do arbítrio para que esse arbítrio, essa insanidade, nunca mais aconteça em nosso país”.
Em 20 de julho, a UFSC divulgou nota em que afirma que os dois processos que tramitavam no Tribunal de Contas da União (TCU) referentes a supostas irregularidades também investigadas pela Operação Ouvidos Moucos, foram encerrados sem constatação de irregularidades.

WhatsApp Image 2023 10 26 at 20.34.41As professoras Mayra Goulart e Nedir do Espirito Santo, presidenta e vice-presidenta da AdUFRJ, se reuniram na segunda-feira (23) com Lucas Nascimento e Pedro Henrique, representantes do Enegrecer, coletivo nacional de juventude negra, para traçar estratégias conjuntas de mobilização para as atividades do mês da consciência negra, em novembro.
A proposta é que o calendário comece em 5 de novembro, com os ciclos informativos sobre ensino de história negra nas escolas, organizados pela professora Débora Augusto Franco, primeira docente negra do curso de Psicologia da Uerj. Em 11 de novembro, está prevista a instalação de um estande da AdUFRJ, em parceria com o Observatório do Conhecimento e o coletivo Enegrecer, na tradicional Feira das Yabás, em Madureira.
O calendário se encerra no dia 25 de novembro, com o lançamento do Circuito de Pequenas Áfricas, na Casa ABAN, em Madureira, a primeira residência estudantil dedicada a estudantes negros na cidade. “Esse circuito começar por Madureira tem um simbolismo muito forte, pois é uma região com forte presença do movimento negro”, destacou a professora Nedir do Espirito Santo.
A Casa ABAN vai receber inicialmente dez estudantes universitários negros de graduação ou pós-graduação que residam fora da cidade do Rio de Janeiro. O coletivo Enegrecer organizou uma vaquinha para comprar móveis, eletrodomésticos e utensílios para a casa.
O coletivo e a AdUFRJ também discutiram parcerias para além do mês da consciência negra, como a estruturação de oficinas antirracistas e inclusivas para docentes. “Nossa ideia é debater nessas oficinas o preconceito não só contra os negros, mas também contra outros grupos, como os evangélicos”, adiantou a professora Mayra Goulart.
Lucas Nascimento, da direção geral do Enegrecer, explicou que o coletivo constituído na Bahia, em 2009, está presente em todas as regiões do país. “Estamos em 20 estados, do Rio Grande do Sul ao Amazonas, atuando não só nos territórios, mas também no movimento estudantil e no movimento social”, disse Lucas. Integrante da coordenação estadual do coletivo, Pedro Henrique lembrou que o Enegrecer tem aprofundado conexões com outros atores da sociedade civil. “A parceria com a AdUFRJ surge nesse contexto. O coletivo e o sindicato entendem que podem caminhar juntos na ampliação de direitos dos estudantes negros e no debate antirracista”.

WhatsApp Image 2023 10 26 at 20.34.41 6Foto: João LaetO Instituto de Economia será comandado pelos professores Carlos Frederico Leão Rocha e Marina Szapiro nos próximos quatro anos. Os docentes assumiram a direção e vice-direção da unidade. A cerimônia de posse foi concorrida e lotou o Salão Pedro Calmon, do histórico Palácio Universitário da UFRJ. No início do século XX, o mesmo palácio dava lugar ao Manicômio Nacional, onde ficou internado por duas vezes Lima Barreto. Em seu discurso, Carlos Frederico citou uma das memórias do consagrado escritor. “‘Um maluco vendo-me passar com um livro debaixo do braço, quando ia para o refeitório, disse: — Isto aqui está virando colégio.’ Então, ei-lo”, afirmou o novo diretor, aplaudido calorosamente pelos colegas.
Leão Rocha se dirigiu especialmente aos estudantes e afirmou que o primeiro compromisso de sua gestão é “criar o ambiente adequado para a permanência presencial” do corpo social do instituto. “Somos responsáveis pela orientação de uma geração que, durante o seu processo de formação, viveu uma pandemia”, disse. “Vivemos o equivalente a uma guerra mundial e temos o repto de criar mecanismos de coordenação que possibilitem a recuperação da coesão social anterior aos anos de isolamento”.
Vice-diretora, a professora Marina Szapiro se emocionou ao lembrar dos 31 anos que frequenta os corredores do Palácio Universitário, os primeiros deles como estudante de graduação, mestrado e doutorado. “Quando entrei nesse instituto, em 1992, nunca imaginei que passaria tanto tempo por aqui. Agradeço aos meus pais que, como bons ex-alunos, escolheram por mim a UFRJ”, brincou.
A docente atua como professora do IE desde 2010. “Nessas três décadas pude perceber que essa instituição é formada e gerida por pessoas, e são essas pessoas que fazem com que esse continue sendo um centro de excelência”.
A cerimônia teve a participação também do professor Fábio Freitas, ex-diretor do Instituto, do decano do Centro de Ciências Jurídicas e Econômicas, professor Flávio Martins, e do reitor da UFRJ, professor Roberto Medronho.

WhatsApp Image 2023 10 26 at 20.34.41 8Foto: Alessandro CostaOlhares atentos e curiosos de crianças e adolescentes de várias idades marcaram a Semana Nacional de Ciência e Tecnologia, que teve como tema “Ciências Básicas para o Desenvolvimento Sustentável: Tecnologias Sociais e Inovação”. As atividades na UFRJ se concentraram no Centro de Tecnologia entre os dias 18 e 20. A programação, organizada pela Pró-reitoria de Extensão, foi voltada especialmente para estudantes da educação básica.

WhatsApp Image 2023 10 26 at 20.34.41 2Depois de 35 ônibus, um trem e uma estação do BRT queimados na Zona Oeste da cidade e do recolhimento de linhas de ônibus em diversas regiões — por ameaças de novos incêndios —, a reitoria da UFRJ publicou nota ainda no dia dos ataques (23) recomendando o adiamento das avaliações programadas para a terça-feira (24) e o abono de faltas. Nos casos em que os docentes decidiram aplicar avaliações, a reitoria assegurou o direito da realização de segundas chamadas para moradores das áreas atingidas. Baseadas nessas recomendações, algumas unidades funcionaram normalmente, enquanto outras, como o CAp, a Escola de Serviço Social e o Instituto de Psicologia, fecharam as portas no dia 24.
Na semana anterior aos ataques da milícia, a AdUFRJ foi até o Consuni e entregou uma carta ao reitor Roberto Medronho cobrando ações efetivas para proteger a comunidade acadêmica, com protocolos administrativos e de segurança que não prejudiquem professores, estudantes e técnicos em momentos de conflitos armados. O documento (veja íntegra abaixo) foi motivado pela falta de orientação mais incisiva da administração central à comunidade acadêmica, transferindo aos docentes a responsabilidade da decisão sobre a continuidade das atividades acadêmicas durante os seis dias de intensos confrontos entre policiais e o crime organizado na Maré, complexo de favelas vizinho ao campus do Fundão. Além da carta da AdUFRJ, houve também manifestação do grupo de estudantes “A UFRJ é Nossa” requisitando a criação de um GT para a discussão do tema.
A violência e a incerteza deixaram muitos professores sem saber como proceder justamente na semana de provas da universidade. Na ocasião da entrega da carta, Medronho anunciou a criação de um grupo de trabalho para tratar do tema.
A primeira reunião do GT acontece no dia 30, às 15h. AdUFRJ, Sintufrj, DCE e APG têm assento. O grupo será coordenado pelo professor Michel Misse, um dos maiores especialistas em violência urbana do Brasil.
De acordo com o docente, o grupo focará na comunidade acadêmica e nos campi da UFRJ. “O objetivo do GT é voltado exclusivamente para a segurança de alunos, servidores e professores”, afirma. “Teremos um conjunto de protocolos que darão orientação em situações de crise de segurança pública”, explica Misse. “Além disso, vamos procurar dar sugestões de segurança dentro dos vários campi da UFRJ”.
A criação do GT, para Michel Misse, é imprescindível. “É uma medida necessária. Estava faltando a UFRJ estabelecer protocolos que orientem a comunidade acadêmica”.
Para ele, os ataques dos milicianos geraram repercussões negativas em toda a cidade, mas foram excepcionais. “Estamos mais preocupados com aquilo que acontece todos os dias nas diversas favelas cariocas. É claro que, se houver um protocolo interno estabelecido, ele poderá ser amplamente aplicado também em momentos excepcionais”.

Jogo rápido com Roberto Medronho
‘Não nos intimidarão’

Algumas universidades suspenderam as atividades após os ataques da milícia. A UFRJ não suspendeu e foi acusada de não se articular com outras instituições do Rio. Como o senhor responde a esta crítica?
Roberto Medronho:
Quem está articulando esse movimento com as demais reitorias sou eu. A Uerj também não suspendeu, somente no seu campus da Zona Oeste. Se a UFRJ tivesse campus na Zona Oeste, nós também teríamos suspendido aulas. Nós temos 65 mil alunos. No grupo dos reitores, todos concordaram comigo que é preciso uma ação conjunta, como forma de pressionar o Governo do Estado para que essas operações não se repitam, com risco aos moradores e às nossas comunidades acadêmicas.

Por que a UFRJ não parou?
Temos que ser um exemplo de cidadania e não nos rendermos aos bandidos que querem provocar o terror na sociedade. Não podemos ficar reféns deles. Não nos intimidarão. Por isso determinamos o abono de faltas e segundas chamadas. O reitor não é um ditador e apoiou as unidades que decidiram suspender as atividades. Ninguém melhor que as direções de cada unidade para conhecer a realidade de cada local. Precisamos enfrentar coletivamente esse problema como cidadãos. A universidade pública não se curvará ao crime. Não vamos nos acovardar.

NOTA DA DIRETORIA DA ADUFRJ

Ao Magnífico Reitor
Roberto Medronho

Ao cumprimentarmos respeitosamente Vossa Magnificência, gostaríamos de informar que inúmeros docentes de nossa instituição procuraram nossa representação sindical nos últimos dias com relatos de prejuízos nas suas atividades de ensino, tendo em vista informes liberados de última hora recomendando a não realização de avaliações em dias previamente programados.
Compreendemos toda complexidade dos episódios de violência no Complexo da Maré e em outras comunidades do Rio de Janeiro e sinalizamos nossa preocupação com a vida de alunos, professores e servidores que vivem nessas regiões ou atravessam áreas de conflito no deslocamento para o campus da Cidade Universitária. Igualmente assinalamos nosso compromisso com o processo de ensino-aprendizagem na Universidade Federal do Rio de Janeiro. Entretanto, consideramos injusto e juridicamente complexo transferir a decisão sobre a execução ou não de atividades didáticas para as mãos dos docentes, através de mensagens que apenas recomendam que atividades devem ser mantidas, ao invés de deliberar, explicitamente, o que deve ser feito. Se a reitoria, baseada nas informações de que dispõe, decide que é inseguro que tenhamos atividades acadêmicas, que tome a decisão de suspendê-las, prorrogando o término do período letivo para não prejudicar o semestre. Se decide que as condições são suficientes para o aumento da segurança, mas não para paralisar as atividades, que também se pronuncie. O que não podemos admitir é que mensagens ambíguas resultem em insegurança jurídica e em um estresse adicional aos nossos docentes e estudantes.
Assim, a AdUFRJ solicita que a reitoria da UFRJ se posicione explicitamente e com antecedência mínima sobre estes acontecimentos e proveja aos docentes instruções administrativas assertivas e necessárias para minimizar o prejuízo aos docentes e alunos de nossa instituição.

Atenciosamente,
Professora Nedir do Espirito Santo
Vice-Presidenta

Topo