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Por Renan Fernandes

Uma vitória para a UFRJ! Oito subprojetos da universidade foram selecionados na chamada final do edital Recuperação e Preservação de Acervos da Finep e do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação. Ao todo, R$ 15.597.740,45 serão investidos na restauração, pesquisa e divulgação de acervos científicos, históricos e culturais. Os recursos são do Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico.

WhatsApp Image 2025 02 14 at 15.24.13 3Foto: Fernando Souza“É um compromisso com a preservação do nosso passado, a valorização do presente e o investimento no futuro”, celebrou a professora Christine Ruta, coordenadora do Fórum de Ciência e Cultura. A Pró-Reitoria de Pós-Graduação e Pesquisa (PR2) e o Fórum assumiram papel central na articulação da participação da UFRJ no edital. “Mais do que um aporte financeiro, trata-se de garantir às novas gerações o acesso e a continuidade dos acervos de uma das mais importantes universidades do Brasil, assegurando que a UFRJ continue sendo um espaço de produção de conhecimento, cultura e inovação”, completou a docente.

O edital é parte do Programa Identidade Brasil, que busca a recuperação e a preservação de acervos de institutos de ciência e tecnologia. O investimento prevê a modernização de infraestruturas, como a manutenção e a compra de equipamentos e materiais, a implementação de ações para prevenção de riscos ao patrimônio, além da capacitação de pessoal no campo museológico e de gestão.

Dos oito subprojetos da UFRJ aprovados, três são vinculados ao Museu Nacional, dois ao Centro de Ciências e Saúde, dois ao Sistema de Bibliotecas e Informação (SIBI) e um em conjunto ligado à Escola de Belas Artes e à Faculdade de Arquitetura e Urbanismo. “Nosso objetivo foi maximizar a inclusão de diferentes institutos da UFRJ, ampliando o impacto da proposta”, afirmou Ruta.

Os subprojetos de recuperação de acervos histórico e cultural do SIBI e da EBA/FAU terminaram nas duas primeiras colocações em todo o país. O professor Daniel Aguiar, do departamento de Arte e Preservação da Escola de Belas Artes, foi um dos responsáveis pelo subprojeto que vai receber R$ 1.984.858,54. A verba vai possibilitar a compra de um equipamento de fluorescência de raios-x. “Essa técnica é o estado da arte da análise de pigmentos no mundo. Vai colocar a EBA em outro patamar na análise de obras de arte”, disse com otimismo o docente.

Aguiar exaltou a importância dos acervos das duas instituições. “Temos acervos que são de interesse nacional porque contam a história do ensino de arte e de arquitetura no Brasil”, explicou. Localizado no sétimo andar do edifício Jorge Moreira Machado, o museu Dom João VI conta com três mil obras e guarda parte do acervo de obras de arte que a família real portuguesa trouxe para o Brasil em 1808. O projeto prevê a caracterização de aproximadamente 500 obras da pinacoteca do museu.

A EBA é um dos quatro centros de formação em conservação e restauração de bens patrimoniais do país. Para o professor, o novo equipamento pode representar um ponto de inflexão para a escola. “Estamos muito felizes e com a expectativa de ter muito trabalho com nossos alunos e em cooperação com pesquisadores de outras instituições”.

WhatsApp Image 2025 02 14 at 15.24.13 2Foto: Arquivo AdUFRJMUSEU NACIONAL
O Museu Nacional receberá um investimento de R$ 5.057.768,55. Dois subprojetos são voltados aos acervos científicos e vão financiar a preservação das coleções de Zoologia, Botânica e Geopaleontologia do museu. O terceiro projeto envolve as coleções de Antropologia, chamadas histórico-artísticas.

“Vamos trabalhar para recuperar o material que conseguimos coletar nos escombros do palácio”, disse o professor Alexander Kellner, diretor do museu. O planejamento ainda prevê a aquisição de novos itens.

Apesar da alegria pela chegada de novos investimentos, o diretor reiterou a necessidade de mais recursos para a reforma dos prédios afetados pelo incêndio. “Vamos entregar uma fase das obras ainda este ano, mas precisamos de verbas para continuar”, pediu Kellner.

O professor tem trabalhado para incluir o dia 2 de setembro — data do incêndio no Museu Nacional em 2018 — no calendário nacional como o Dia de reflexão para os acervos científicos e históricos.

COLEÇÕES ACESSÍVEIS
Kellner comemorou a chegada de novos recursos que vão possibilitar a digitalização dos acervos. “Estamos lutando para recompor nosso acervo, mas de forma diferente da que fazíamos no passado. A criação de um arquivo digital das coleções é um dos pontos principais que todo museu de grande porte procura fazer”.

Tornar os itens do museu acessíveis para um pesquisador em qualquer parte do mundo é um dos objetivos dos projetos. “Uma pessoa, em três ou quatro cliques, pode chegar na coleção e saber exatamente o que o Museu Nacional tem, onde está localizado e como está preservado”, explicou Kellner.

O docente destacou ainda a complexidade e os custos do trabalho de digitalização. “Escanear e fotografar é fácil, o mais difícil é armazenar os dados com segurança. Isso é importante e caro”. A criação de um acervo digital descentralizado é fruto também do ensinamento que a tragédia de 2018 deixou. “Infelizmente, aprendemos muito na dor. A ideia é ter servidores em locais diferentes. Caso aconteça algo com um, os dados estão seguros em outro lugar”, disse o diretor.

A historiadora da arte Juana Nunes, diretora de Popularização da Ciência, Tecnologia e Educação Científica do MCTI, defendeu a digitalização dos acervos como um benefício para a sociedade brasileira. O edital estabelece que os dados dos acervos vão integrar a plataforma do Instituto Brasileiro de Museus. “É uma possibilidade de popularização dos acervos, de garantir o acesso aos pesquisadores e às pessoas que moram longe dos museus”, disse em live sobre a chamada pública. “Manter a memória é a essência de qualquer museu, mas suas atividades educativas de divulgação científica também são fundamentais”, completou.

Fundamentais para o desenvolvimento do país, as universidades não recebem orçamento adequado para a manutenção de suas atividades. O diagnóstico, bastante conhecido dentro da comunidade acadêmica, ganhou uma nova tribuna desde o último dia 9.

A crise financeira das instituições federais de educação superior, com destaque para a maior delas, é o principal tema do artigo “Custos sistêmicos do subfinanciamento da UFRJ e propostas corretivas”, divulgado pelo site Consultor Jurídico. No texto, a procuradora federal Flávia Corrêa Azeredo de Freitas faz um cuidadoso levantamento das dificuldades enfrentadas pela universidade e apresenta algumas propostas de solução para o debate.

Confira a seguir alguns dos principais trechos do artigo, distribuídos em tópicos criados pelo Jornal da AdUFRJ.

 

PLANEJAMENTO PREJUDICADO
“A deficiência orçamentária para custeio de despesas correntes é um problema grave em qualquer circunstância. Seja no ambiente familiar, empresarial ou administrativo, orçamento é instrumento de planejamento e representa o fluxo previsto dos ingressos e das aplicações de recursos em determinado período. A insuficiência de recursos para garantir a manutenção de serviços e bens essenciais é um fator que precisa de atenção e atuação corretiva.”
 
UNIVERSIDADE NÃO É PRIORIDADE
“No Brasil, a Constituição de 1988 (artigo 212) estabelece a destinação de um percentual mínimo de 18% da Receita Líquida de Impostos (RL) para a educação. No que se refere aos estados e municípios, a parcela corresponde a 25%. Todavia, inexistem vinculações orçamentárias constitucionais ou legais que obriguem a administração pública a aplicar um percentual mínimo de suas receitas no ensino superior, como há para a educação básica.”

REDUÇÃO EXPRESSIVA
“Evolução do orçamento das IFES no período de 2011 a 2021 revela redução expressiva das despesas discricionárias, capaz de prejudicar a oferta e a expansão da educação profissional e tecnológica e do ensino superior público, assim como as atividades de pesquisa e extensão.”

TETO DE GASTOS
“Ações governamentais para se enquadrar no Teto de Gastos foram prejudiciais à educação superior e à educação profissional e tecnológica, diante da falta de priorização do setor.”
“Estudos sobre financiamento público do ensino superior apontam que, a partir de 2016, houve uma acentuada queda no orçamento discricionário, ou seja, aquele destinado ao custeio e investimento, excetuadas as despesas com pessoal.” 
“O financiamento das universidades públicas federais ocorre por meio do Tesouro Nacional. As suas despesas, excluindo pessoal, são classificadas como discricionárias ou não obrigatórias; portanto, o limite orçamentário para essas despesas depende do volume de recursos disponíveis, dentro dos parâmetros econômicos e da meta de resultado fiscal.”
“As universidades e institutos federais têm pouca influência na formulação dos orçamentos anuais.”

NOVO ARCABOUÇO FISCAL
“O advento do novo arcabouço fiscal, ainda que se admita encontrar-se em fase de ajustes, não foi capaz de restabelecer a dotação suficiente à UFRJ para a manutenção e desenvolvimento das suas finalidades institucionais. Os noticiários recentes são prova dessa realidade.”
“Recursos de emendas parlamentares não beneficiam todas as instituições federais de ensino e há grande variação nos valores recebidos.”
 
BÁSICO CUSTA 40% DO ORÇAMENTO
“As despesas com água/saneamento, energia elétrica, limpeza/conservação e vigilância representaram para a UFRJ, em 2023, cerca de 40% do seu orçamento para custeio. É a maior proporção em comparação às outras quatro universidades federais que integram o Top 5: 
 
UFRGS 
30,4%
 
UFMG 
26,45% 
 
UFPR 
24,46%
 
UFSC 
34,6%”.
 
“Considerando apenas o custo de água/saneamento e energia elétrica no ano de 2023, a proporção na UFRJ (14,73%) se manteve a maior ante os 11% (UFRGS), 11,63% (UFMG), 8,31% (UFPR) e 9,55% (UFSC)”.
 
Gastos com luz e água
 
UFRJ - 14,73%
 
UFRGS - 11%
 
UFMG- 11,63%
 
UFPR - 8,31%
 
UFSC - 9,55%
 
“A proporção maior de gastos se justifica pois a UFRJ é, dentre elas, a maior universidade e a que mais possui laboratórios de pesquisa e hospitais, os grandes consumidores de água e energia elétrica.” 
 
E SE ATRASA O PAGAMENTO?
“Quando se paga uma fatura em atraso (e no caso da UFRJ, as faturas tomam proporção de milhões), paga-se juros e multa, em valores que não são desprezíveis. Quando a fatura de um serviço essencial não é paga, corre-se o sério risco de comprometimento das atividades – também essenciais – da instituição devedora. Além disso, e na maioria das vezes, a discussão é levada ao judiciário, efetivando-se o pagamento por precatório, com a inescapável incidência de correção monetária, juros de mora e honorários advocatícios, tudo a acrescer o valor original da dívida.”
“O recurso ao Poder Judiciário para remediar um quadro de crise orçamentária também eleva custos de outras ordens, tais como o tempo dispendido pelos atores envolvidos e custos administrativos para gerir o impasse.”
“Não nos esqueçamos, ainda, do abalo emocional que acomete as pessoas responsáveis por gerir uma crise dessa magnitude. Fazer parte da rede de atuação para manutenção de serviços essenciais, como água e luz, em uma universidade com mais de mil laboratórios, uma dezena de unidades de saúde e cerca de 70 mil estudantes não é algo trivial.”
 
DÍVIDAS
“Em 2024, a dívida da UFRJ com a concessionária de energia elétrica chegou a R$ 35 milhões, incluídas parcelas não quitadas de um acordo administrativo, e com a concessionária de água o débito gira em torno de R$ 18 milhões.”
 
Débitos com concessionárias
 (2024)
 
Energia elétrica
R$ 35 milhões
 
Água  
R$ 18 milhões
 
EXCELÊNCIA, APESAR DE TUDO
“Apesar das dificuldades decorrentes do subfinanciamento, a UFRJ ocupa posto nas Top 5 universidades federais do país, ao lado da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Universidade Federal do Paraná (UFPR) e Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), segundo o Academic Ranking of World Universities 2024.”
“Outro indicador da excelência da UFRJ é o Índice Geral de Cursos Avaliados da Instituição (IGC), desenvolvido pelo Inep e corresponde à média das notas dos cursos de graduação e dos conceitos Capes dos cursos de pós-graduação stricto sensu (mestrado e doutorado), ponderadas pelo número de matrículas de cada curso.”
“Tanto a UFRJ como as outras quatro universidades que integram o citado Top 5 receberam a nota máxima de IGC – 5 – no último levantamento realizado em 2023 que considerou o ciclo avaliativo do Enade (2019, 2021, 2022).”
 
GANHOS
“Os ganhos sociais e econômicos obtidos por uma nação que investe adequadamente em educação estão comprovados. Os três principais indicadores para avalição do índice de desenvolvimento humano da ONU são saúde, escolaridade e renda.”
 
EXEMPLO DA USP
“A USP é a universidade brasileira mais bem ranqueada entre as 2,5 mil avaliadas pelo Academic Ranking of World Universities 2024. Sua fonte de financiamento está legalmente atrelada à arrecadação do ICMS. Do montante repassado pelo Governo do Estado de São Paulo às instituições, 5,02% são destinados para a USP, 2,34% para a Unesp e 2,19% para a Unicamp.”
 
DEBATE NECESSÁRIO
“Ao lado dessas premissas, consideramos adequada uma atuação plurinstitucional em torno do tema. Há outros atores, além das Ifes, MEC, Ministério da Fazenda, Congresso Nacional e TCU, que podem contribuir para a elaboração de diagnóstico efetivo e plano de ação para a crise, que não é limitada à UFRJ. Quando agentes com diferentes expertises pensam em conjunto, ideias criativas surgem e o debate se qualifica.”
  
PROPOSTAS
“Equacionamento das fontes de custeio público, aprimoramento da captação de receitas próprias, aperfeiçoamento da legislação do ensino superior com vinculação de repasse de percentuais mínimos e formação de uma rede plurinstitucional são exemplos de propostas corretivas que trazemos para o debate de soluções.”
 
REITOR ELOGIA DIAGNÓSTICO E PROPOSTAS APRESENTADOS NO ARTIGO
 
WhatsApp Image 2025 02 14 at 15.24.13 4Foto: Fernando SouzaO artigo da procuradora Flávia Corrêa foi bem recebido na UFRJ. Ganhou divulgação no site e nas redes sociais da instituição e, durante o Conselho Universitário do dia 13, o reitor Roberto Medronho solicitou a distribuição do link do texto a todos os representantes de docentes, técnicos e estudantes no colegiado.

“Fiquei gratamente surpreso ao ler o artigo da doutora Flávia. Retrata a nossa realidade. Mostra que foi feito por uma pessoa que conhece profundamente este sistema”, disse o dirigente ao Jornal da AdUFRJ.

Além do diagnóstico da crise, a procuradora aponta o modelo de financiamento da USP, Unicamp e Unesp — que recebem um percentual fixo sobre a arrecadação de ICMS do estado de São Paulo — como uma ideia a ser discutida para o aperfeiçoamento da legislação relativa às federais.

Medronho concorda com a proposta. “O modelo das estaduais paulistas é plenamente exitoso. Estão crescendo cada vez mais. Contribuindo para o desenvolvimento do estado de São Paulo e prestando serviços relevantes para a sociedade brasileira. Lá, houve sensibilidade para se investir na educação superior”, afirma. “Esta é uma discussão que o Congresso deve fazer. Mas nós, reitores, temos a obrigação de levar esse debate para a sociedade”.

Economista responsável pelos estudos do Observatório do Conhecimento — rede de associações docentes que defendem a universidade pública, hoje coordenada pela AdUFRJ —, Letícia Inácio também avalia a proposição de forma positiva. Com uma ressalva: “A minha única preocupação com essa proposta é que a arrecadação tributária depende, em grande parte, do nível de atividade econômica. Isto é, quando a economia vai bem, a arrecadação é alta. O contrário também é válido. Nesse caso, como assegurar que um período de crise econômica não vai acarretar uma crise orçamentária também às universidades?”, questiona.

Uma forma de evitar eventuais dificuldades em tempos de “vacas magras” seria a criação de fundos patrimoniais, também citados no texto da procuradora. “Essas são propostas que devem andar em consonância: receita a partir da arrecadação e fundos para casos excepcionais de restrição orçamentária”, afirma.

Letícia sugere que os recursos das universidades federais sejam vinculados à aplicação de percentual sobre a receita líquida total da União, “partindo da soma de todos os impostos arrecadados”. Ou pelo menos, sobre a arrecadação dos impostos de maior volume, como IRPF (da Pessoa Física) e IRPJ (de Pessoa Jurídica).

Diretor do Instituto de Economia, o professor Carlos Frederico Leão Rocha também expressa preocupação com um modelo de financiamento semelhante ao das instituições paulistas: “O problema é que o financiamento sofre flutuação de acordo com o nível de atividade econômica. O sistema precisa estar pronto para fazer os ajustes necessários, inclusive nos salários. Porque lá os salários também são pagos por este orçamento. Fazer este tipo de ajuste nunca é muito simples”, observa.

ORÇAMENTO INTERNO

Enquanto ainda não existe uma solução, a UFRJ precisa lidar com a dura realidade. Sem receitas aprovadas pelo Congresso Nacional — a previsão é que o orçamento da União seja votado apenas em março —, toda a administração pública está sobrevivendo com duodécimos mensais da PLOA (Proposta de Lei Orçamentária) encaminhada pelo governo para a discussão de deputados e senadores.

No caso da maior federal do país, os dois primeiros duodécimos de 2025 foram consumidos quase integralmente por despesas ainda do ano passado, informou o pró-reitor de Finanças, professor Helios Malebranche, ao Consuni do dia 13.

A PLOA reserva para a UFRJ R$ 324 milhões para o funcionamento das atividades. “Isso é absolutamente insuficiente”, disse Medronho. Além disso, a reitoria já prevê a perda de R$ 18 milhões com a recente mudança da Desvinculação das Receitas da União (DRU), noticiada na edição anterior do Jornal da AdUFRJ. “E o que já era insuficiente ficou mais complicado ainda”, completou.

O reitor quer formar uma comissão do Conselho Universitário para discussão do orçamento interno de 2025. “E tentarmos construir uma proposta para 2025 que não traga tantos problemas como no ano anterior”, completou.

 

WhatsApp Image 2025 02 14 at 15.24.11 2O professor emérito Erasmo Ferreira ficou estarrecido ao abrir seu e-mail, no último dia 5. O titular aposentado do Instituto de Física estava sendo notificado pela pró-reitoria de Pessoal a devolver R$ 96 mil aos cofres públicos. E, a exemplo dele, aproximadamente mais cem colegas já receberam ou receberão em breve o duro comunicado.

A justificativa da administração central é que, de forma indevida, o grupo teria recebido valores mensais relativos à Unidade de Referência e Padrão (URP) de 26,05%, de 1989. Ainda na década de 90, diversos sindicatos — entre eles, a AdUFRJ — ingressaram com uma ação judicial e conseguiram recuperar o índice, que não havia sido aplicado aos salários da época. A parcela passou, então, a constar dos contracheques.

Porém, em 2020, uma determinação do Tribunal de Contas da União exigiu a suspensão do pagamento aos professores da UFRJ. O problema é que um pequeno grupo de docentes continuou recebendo a parcela.

“Eu não acompanho tão detalhadamente o meu contracheque. Não sabia que estava recebendo qualquer valor indevido”, defende-se Erasmo. O docente, de 95 anos, afirma que não houve qualquer tipo de má fé. “Eu não me apropriei desse valor de propósito. É um choque descobrir que devo essa quantia”, conta.

“A comunicação chegou no meu e-mail no dia 5. Depois, no dia 11, recebi o processo inteiro explicando as contas”, lembra. “São cobranças de lançamentos mensais no valor de R$ 1.388 retroativos a quase seis anos. Gasto todo o meu salário. Parte substantiva com saúde, como todo aposentado”.

Assim que recebeu o informe, o professor buscou orientação jurídica na AdUFRJ. “Estou recorrendo aos advogados do sindicato para me ajudarem a solucionar esta questão”, aponta. “O susto foi grande. Se não aceitarem minha contestação administrativa, vou ter que passar quatro anos pagando R$ 2.400 por mês”, conta.

A professora Glória Onelley, aposentada da Faculdade de Letras, também se indignou com a notícia de que teria que ressarcir R$ 49 mil. “Quando recebi o e-mail, achei que era fake. A comunicação chegou no meu e-mail pessoal e não no da UFRJ. Depois, entrei em contato com a PR-4 e entendi que se tratava de devolução ao erário”, explica a docente.

Ela buscou ajuda do setor Jurídico da AdUFRJ e do Sintufrj, que preparou sua defesa. Agora, a professora aguarda uma nova comunicação da PR-4 que deverá informar o valor que será descontado do seu contracheque. “Fui instruída a aguardar essa comunicação para só então partir para um processo judicial”, afirma. “Eu não recebi a maior de propósito. Estou me sentindo penalizada por um erro que eu não cometi”.

Advogada da seção sindical, Mariana Lannes Lindenmeyer reforça a importância de os professores procurarem os advogados do sindicato tão logo recebam a comunicação. “Não reconheça qualquer suposto valor a devolver antes de receber a nossa orientação”, afirma.

A advogada explica que os casos precisam ser analisados um a um, pois há variação de tempo de recebimento e de valores cobrados. “Trabalhamos com várias teses de defesa dos docentes e estamos prontos para ingressar com ações administrativas e jurídicas, se necessário”.

As aulas no Colégio de Aplicação começaram em 6 de fevereiro com um grande problema. Desde o fim de janeiro, a Defesa Civil interditou um muro do entorno da escola e parte da quadra interna por risco de desabamento. A situação repercutiu na primeira reunião do Conselho Universitário de 2025, nesta quinta-feira (13).

“É uma situação de prejuízo pedagógico imenso. Estamos falando de estudantes que não têm aula de Educação Física, de crianças que não podem brincar dentro da escola. A escola é um espaço para brincadeiras também. E não estamos podendo garantir isso para nossas crianças”, disse a representante dos professores do Ensino Básico, Técnico e Tecnológico no colegiado, professora Sarah Menezes. “A gente precisa se mobilizar pela recomposição orçamentária e garantir investimentos em prédios essenciais para as atividades da nossa universidade”.

A universidade tenta resolver o problema há quase cinco anos, explicou o reitor Roberto Medronho. Mas, desde julho de 2020, já houve a desistência de duas empresas contratadas para o serviço de reforma do espaço. “Desde 2020, a UFRJ está comprometida em disponibilizar os recursos necessários, a partir da negociação de emendas parlamentares e com orçamento próprio, para a reforma da quadra poliesportiva do CAp. Entretanto, o subfinanciamento das universidades federais impacta diretamente na capacidade de recuperação estrutural da UFRJ”.

O dirigente informou ainda que a UFRJ monitora sistematicamente a situação do muro com a equipe do Escritório Técnico da Universidade (ETU), que também já havia recomendado o isolamento da área. “O que foi feito imediatamente”, afirmou Medronho.

A reunião do Consuni trouxe pelo menos uma boa notícia para a comunidade do CAp. A vice-reitora Cássia Turci divulgou que será aberta uma licitação no dia 24 para viabilizar um espaço adequado para o segmento da educação infantil do colégio, no polo de biotecnologia da Cidade Universitária — desde o início de 2023, o anexo ao IPPMG que abrigava servidores e crianças foi interditado com graves problemas estruturais e todos foram transferidos, de forma improvisada, para a sede do colégio na Lagoa. “Temos uma perspectiva de, no segundo semestre deste ano, estarmos com a escola funcionando. Não necessariamente em agosto, mas em algum momento do segundo semestre. O sorteio para as vagas do infantil já foi feito”, disse.

Insegurança no Fundão
Representante dos professores titulares do CCMN no Consuni, Roberto Faria leu uma carta aprovada na congregação do Instituto de Química, no dia 11, sobre a insegurança na Cidade Universitária, em especial nos meses de recesso acadêmico. O assunto foi destacado na edição anterior do Jornal da AdUFRJ. “Já está mais do que na hora de termos um planejamento de melhoria da segurança no nosso campus, principalmente nestes meses do ano, pela administração da UFRJ”, diz um trecho do documento.

O prefeito universitário Marcos Maldonado elencou uma série de medidas em estudo ou já em andamento para aperfeiçoar o sistema de segurança do campus, como o recente patrulhamento dos estacionamentos do CT e do CCS — o que não era atribuição da Prefeitura — e instalação de novas câmeras de monitoramento. “Não estamos parados. Eu costumo dizer que é uma briga de gato e rato. Eles (criminosos) estudam nossa ações e nós estudamos as ações deles”, disse.

SISU e PIBIAC
A primeira chamada do Sistema de Seleção Unificada (SiSU) apresentou um índice melhor para a universidade do que nos últimos anos. “Tivemos 65% de pré-matriculados dentro da nossa lista. Há cinco anos que não tínhamos uma performance semelhante no SiSU. Nós ficávamos por volta de 50% a 55% de procura. Já iniciamos a matrícula efetiva”, informou a pró-reitora de Graduação, professora Maria Fernanda Quintela, ao Consuni do dia 13.

A pró-reitora também anunciou que está disponível na página da PR-1 o edital do Programa de Bolsas de Iniciação Artística e Cultural (PIBIAC) . “Por favor, não deixem de se inscrever e divulgar para os colegas”, disse. São 220 bolsas no valor de R$ 700. As inscrições vão até o dia 17/02 (segunda).

WhatsApp Image 2025 01 31 at 19.08.16 2Fotos: Silvana SáDocentes que são pais ou mães de crianças até 12 anos contaram com uma estrutura oferecida pela organização do 43° Congresso do Andes para cuidados com os pequenos. Foram inscritas 13 crianças e 12 realizaram atividades diárias no Espaço Infantil.
As atividades incluíram banho, alimentação, hora da soneca, contação de histórias, ações lúdicas e passeios. O da tarde da terça-feira, 28, foi ao Planetário de Vitória. A instituição fica localizada dentro do campus da Federal do Espírito Santo e funciona em parceria entre a universidade e a Prefeitura da cidade.
Momentos antes de partir, uma pausa para conversar com as crianças. “Precisamos andar todos juntinhos, não pode ficar ninguém para trás. Vamos andar todos devagar”, explicou a vice-coordenadora do Espaço Infantil, a auxiliar de creche Lorrana Nobre, que atua no Colégio de Aplicação Criarte, da UFES. “Alguém tem medo de escuro? Lá é um pouquinho escurinho, mas não precisa ter medo, porque logo a luz vai acender de novo”, garantiu às crianças, que ouviam atentamente as orientações.
No Planetário, os pequenos se juntaram a famílias que aguardavam a sessão das 16h15. A cúpula do espaço se transformou num lindo céu estrelado que apresentou as principais constelações das quatro estações do ano.
“Nós atendemos durante todo o ano, principalmente as escolas do ensino fundamental, mas também muitas famílias. São seis sessões por dia”, explicou a coordenadora pedagógica Polyanna Silva Goronci, do Centro de Ciência, Educação e Cultura de Vitória. “Nossos estagiários são de diferentes áreas, todos estudantes da UFES, o que nos dá um diferencial na interação com os pequenos”.
Coordenadora do Espaço Infantil, a professora Elis Beatriz, do CAp da UFES, está orgulhosa do trabalho. “É um espaço imprescindível e a gente vê o quanto as mães se sentem seguras em deixar os filhos, sobretudo por saberem que podem vir vê-los e ficar com eles sempre que quiserem”, avalia. “É um espaço que respeita a liberdade das famílias. É um espaço acolhedor”, resumiu.
Elis contou que a proposta deste ano englobou um conjunto de ações focadas em apresentar às crianças a cultura capixaba. “Estamos apresentando um pouco do Espírito Santo a elas. Está sendo bem gratificante, como capixaba, poder mostrar nossa cultura para elas. As crianças têm respondido muito bem a todas as atividades. São alegres, participativas, estão integradas e muitas nem querem ir embora ao final do dia”.
A lista de atividades foi grande. “Tivemos momentos musicais; encontro com uma autora infantil capixaba, a escritora Eliana Zando; apresentamos a eles a moqueca capixaba e contamos sua história; falamos sobre as paneleiras; fomos ao Parque da Cebola e ao Projeto Tamar”, disse Elis. “Elas ouvem, aprendem, sentem os cheiros, os sabores, têm contato com a natureza. É uma experiência sensorial completa. Com isso, mostramos para as crianças que a cultura está em todos esses aspectos que elas podem experienciar”.
As mães aprovaram. “Eu estou amando tudo. O espaço é muito bom, a estrutura, a alimentação, as atividades. Eu me sinto muito segura”, elogiou a professora Morena Marques, da UniRio. “Hoje ela está aqui no plenário comigo porque fui eu que senti saudades. Mas ela não está gostando muito daqui. Com certeza prefere ficar lá”, brincou. “A existência desse ambiente é fundamental também para a minha participação política”.

CULTURA

O 43° Congresso do Andes recebeu uma série de atividades culturais. Música e poesia marcaram todos os dias do encontro. Um dos grupos a se apresentar foi o Bloco Afro Kizomba, primeiro bloco carnavalesco de rua de Vitória formado integralmente por pessoas negras sobre a temática afro. Todas as músicas do grupo são autorais. Em seus 7 anos de vida, foi a primeira vez que eles se apresentaram em um teatro.

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