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Publicoado no Boletim nº 150 - 28/10/2018
ANA BEATRIZ MAGNO
Na manhã de 31 de março de 1964, a professora Maria Lúcia Teixeira Werneck Vianna deixou a maternidade com seu primeiro filho nos braços e um enorme aperto no peito. Aos 21 anos de idade, Marilu não sabia se João Pedro cresceria num Brasil capturado pela barbárie ou num país reinventado pelos sonhos libertários que sua família acalentava.
Àquela altura os brasileiros se dividiam entre os que flertavam com o golpismo e os que deviam lealdade à democracia. Os Teixeira eram radicalmente democratas. “Meu pai era homem tão crédulo em seus ideais que no dia que João Pedro nasceu encheu o quarto do hospital de rosas vermelhas e comemorou a chegada do neto em tempos vermelhos”, conta.
O brigadeiro Francisco Teixeira, pai de Marilu e de mais três rapazes, um deles o ex-reitor da UFRJ, Aloísio Teixeira, cumpriu uma carreira pródiga nas Forças Armadas. Simpatizante do Partido Comunista, sempre esteve alinhado aos princípios do nacionalismo. Participou da campanha O Petróleo É nosso, chefiou o gabinete do Ministro da Aeronáutica na Era JK, e no ápice da crise do governo Jango, comandava a 3ª Zona Aérea do país. Era um cargo estratégico para a segurança nacional naqueles conturbados anos. “Meu pai estava pronto para resistir. Tinha certeza que sua tropa resistiria, enfrentaria os traidores da Constituição e garantiria a democracia”.
A esperança e a ilusão do brigadeiro se transformaram em 21 anos de pesadelo. Francisco Teixeira foi preso quatro vezes durante a ditadura. Seu filho Aloísio ficou na cadeia seis meses. Sua casa foi misteriosamente incendiada. Mudaram de endereço várias vezes. A mãe de Marilu não sofreu apenas o terror de ver o marido e os filhos perseguidos. Enfrentou a humilhação de ser declarada viúva de marido vivo. O brigadeiro foi aposentado compulsoriamente e declarado morto para as Forças Armadas. Para a filha, no entanto, ele era o mais vivo dos pais, era literalmente seu anjo da guarda, como conta pela primeira vez em um emocionante depoimento sobre os dez dias de prisão e tortura em 1970:
“Eu estava sendo perseguida. Queriam saber do meu marido, um cientista político cassado pelo regime. Era véspera da Copa do Mundo. Estava em meu apartamento ao lado do prédio dos meus pais, quando três militares tocaram a campainha.
Foi horrível, meus filhos estavam no elevador com meu irmão mais novo. Ele fazia gestos para as crianças não falarem nada. Coitados, eles lembram até hoje. Tinham cinco e seis anos de idade, ficaram nervosos e falaram na frente dos militares que não iam falar nada. Meu irmão correu e avisou ao meu pai. Ele veio correndo para o meu apartamento e disse que só me levariam se o levassem junto. Ele foi preso por minha causa, para me proteger.
Fomos vendados, num fusca, de Botafogo até a Tijuca, no Quartel da Polícia do Exército. Meu pai foi colocado numa cela em frente à minha. Deram uma vassoura para ele, era obrigada a passar o dia varrendo o chão. Um brigadeiro.
Toda hora falavam para mim: ‘olha o papai lá’. A pior parte era descer para o interrogatório. Todo dia, dez dias seguidos. Eles queriam saber onde estava meu marido. Eu não dizia. Eles davam choques em meus braços e me ameaçavam mostrando o pau de arara. Depois me deixavam na cela, ouvindo os gritos desesperados de meus companheiros.
Foi muita angústia, eu passava o tempo fazendo barquinhos de papel. Guardo até hoje. Eu resisti, mas não esqueci. Não esqueci dos efeitos sobre meus filhos, do medo deles, do impacto sobre suas vidas. Não quero que isso se repita com meus netos. Hoje temo por eles. E pelo Brasil.”
Marilu está transformando seu medo em luta. Aposentada, septuagenária, preside a Adufrj com garra. “A universidade está ameaçada. São tempos diferentes. Hoje temos instituições mais sólidas, mas o risco à democracia é real. Sou de uma geração iluminista que encara a luz como a única saída para a produção do conhecimento. Não podemos deixar as trevas e o medo voltarem”, conta a mãe de João Pedro, o primogênito que saiu da maternidade na véspera da mais longa noite brasileira e que ganhou o nome de um bravo líder camponês assassinado. “Precisamos de heróis”
Maria Lucia Teixeira Werneck Vianna não titubeou ao aceitar o convite para ser a presidente de chapa para a diretoria da AdUFRJ, em 2017, quando tinha 74 anos. Foi a forma que encontrou de continuar fazendo política na universidade. E, ao mesmo tempo, atender a um desejo do irmão Aloísio Teixeira, ex-reitor da UFRJ entre 2003 e 2011.
“Uma coisa que eu nunca falei é que o Aloísio, quando saiu da reitoria, disse: ‘Agora eu quero ser o presidente da AdUFRJ’. Ele queria ficar na universidade, atuando. Ele não conseguiu satisfazer esse desejo. Faço por ele”, contou à época, em entrevista ao Jornal da AdUFRJ.
E fez em um momento muito bruto da realidade brasileira. Entre outubro de 2017 e outubro de 2019, Marilu conduziu a AdUFRJ entre o fim do governo Temer e os primeiros meses de Jair Bolsonaro — e seus péssimos ministros da Educação. Incansável, dona de uma análise rigorosa dos acontecimentos, firme em suas convicções e com muito bom humor, a professora cativou os colegas de mandato.
“Marilu escutava, se encantava, forjava caminhos e construía entendimentos”, escreveu a professora Tatiana Sampaio, 2ª secretária daquela gestão, em depoimento para esta edição. “Mulher linda, suave, generosa, polida. Amiga para sempre guardada no lado direito do peito”, registrou a professora Ligia Bahia, vice-presidente da diretoria 2017-2019.
Confira, a seguir, a íntegra dos depoimentos dos colegas.
Carlos Frederico
Leão Rocha
Diretor do Instituto de Economia
Maria Lucia era uma comunista. Foi presa pela ditadura como Eunice, e como Maria seguiu adiante. Teve pai, irmão e marido perseguidos e criou quatro filhos, que geraram nove netos, que cantaram a Internacional no seu enterro, pleno de amigos com carinhosas referências. Ao final, uma canção de Tim Maia simplesmente pedia para ela ficar. Tenho muito a agradecer a Marilu. Ela tinha uma assertividade que se conjugava com generosidade que permeavam o espírito daqueles que tiveram a sorte de conviver com ela. Em 2017, quando pedi a Marilu para assumir a presidência da AdUFRJ, ela estava ofegante, mas não titubeou em aceitar, para logo depois recuperar o fôlego. Marilu seguiu na luta. Talvez tenha sido a primeira presidente aposentada da AdUFRJ. Lutou até o final contra a reforma da previdência, contra os desarranjos do governo Temer que lhe deixamos para enfrentar. A previdência era seu tema de estudo, que carregava com o sentimento de solidariedade que deixava permear pelo seu entorno. Maria Lucia era uma humanista. Solidariedade, humanismo e generosidade são temas cada vez mais escassos nessa trajetória neoliberal do tempo em que vivemos, o tempo que o tempo lhe deu e que a nós caberá tocar adiante. Marilu, vou pedir para você ficar.
EDUARDO RAUPP
Instituto Coppead
Conheci a Marilu pessoalmente no processo de construção da chapa que viria a ser a diretoria da Adufrj na gestão 2017-2019 e que foi por ela liderada. Marilu emprestou seu nome, sua reputação e sua experiência para que um processo de mudança no sindicato iniciado na gestão anterior pudesse ter continuidade. Até então eu tinha referências da sua atividade intelectual, de sua luta contra a ditadura e das importantes funções que havia desempenhado na UFRJ. Era uma admiração distante que só cresceu com a convivência. Marilu tinha o tino da análise de conjuntura, da visão nacional, da contextualização das pautas sindicais no seu mais amplo contexto histórico e político. Vivemos um período duríssimo na conjuntura nacional, das consequências do golpe contra Dilma à eleição do golpista. Era compreensível se, àquela altura da sua trajetória, depois de tanta luta pela democracia brasileira, ela desanimasse com o que estávamos vivendo. Estávamos novamente diante de uma ameaça democrática, que não superamos de todo e que foi explicitada nos acontecimentos de janeiro de 2023. Mas desânimo e Marilu eu jamais vi conviverem. Ela foi firme na direção do nosso sindicato e liderou com ternura e firmeza as iniciativas que tomamos. Marilu propiciava uma ligação entre uma tradição militante e a sabedoria para enfrentar os novos desafios que se impunham. Um privilégio para quem podia cotidianamente aprender com ela. Um legado que impulsiona todos nós na defesa dos princípios pelos quais ela viveu.
Lembro com muito carinho do seu acolhimento, da sua paciência e da sua compreensão comigo, mesmo nos momentos mais tensos da nossa gestão.
Sem deixar de lado suas posições, sempre deu voz a todos, estimulou o debate e liderou as sínteses possíveis. Minha memória da Marilu vai ser sempre a da sua altivez, da inconformidade genuína e do jeito habilidoso de trazer à baila os pontos críticos. Suas pautas vinham de antes, eram atualizadas e vislumbravam muitos dos desafios de uma luta civilizatória que vamos continuar fazendo. Sem hesitação quanto às tarefas militantes, mesmo que já àquela época fosse desafiada pelas questões de saúde, foi sempre um exemplo. Nos dois anos de convívio na diretoria da ADUFRJ, ela nos brindou com sua lucidez, capacidade de diálogo e firmeza. A admiração se seguiu e seguirá para sempre. Seu legado é inspiração para seguirmos na luta sincera pela Universidade, pela democracia, pelo Brasil.
Marilu, presente!
TATIANA SAMPAIO
Instituto de Ciências Biomédicas
Convivi de perto com a Maria Lucia por apenas 2 anos, durante nosso mandato na diretoria da Adufrj. Não posso afirmar que a conhecia bem, mas posso dizer que adorei tudo que conheci. Tranquila, profunda e acolhedora, a imagem de um lago, recebendo muitos rios sem nunca transbordar. Marilu escutava, se encantava, forjava caminhos e construía entendimentos. Uma combatente firme e doce, que enriqueceu o mundo
por onde passou. Estava ao nosso lado fazendo de tudo, liderando sem se impor, vibrando nas conquistas, não se abatendo nas dificuldades e se alegrando ao longo do caminho. Boa de cabeça e de coração, uma pessoa admirável, uma heroína mulher a brilhar como um norte para sempre em nossa memória
FELIPE ROSA
Instituto de Física
Ao contrário da maioria dos esvaziados pela sua partida, não conheci a Maria Lúcia Werneck da luta contra a ditadura, da prisão e da jornada pela redemocratização. Tampouco convivi com a brilhante professora de economia e Decana do Centro das Ciências Jurídicas e Econômicas. Meu primeiríssimo contato com a querida Marilu foi em 2017, num dos encontros que consolidou a chapa que venceria as eleições para a AdUFRJ
naquele ano. Ficamos dois anos em nosso mandato, e apesar da dureza inerente à prática sindical, ela sempre carregava – ao lado de seu arguto intelecto – uma humanidade que quase arrastava todos ao seu redor. O estar com Marilu sempre trazia aquele conforto da conversa entre velhos amigos, e me lembro de pensar mais de uma vez que “daqui a trinta anos, se estiver como Marilu, é porque algo certo fiz na vida.” Muito obrigado
pelo carinho e ensinamentos, minha amiga. Descanse em paz.
MARIA PAULA ARAÚJO
Instituto de História
Conheci Marilu desde que fiz meu doutorado no Iuperj, nos anos 90. Eu a conheci por seus estudos de Sociologia Política e Economia. Mas era uma referência teórica apenas. Muitos anos depois, integramos a diretoria da AdUFRJ entre 2017 e 2019. E aí foi um grande encontro de amizade. Conviver com Marilu durante estes dois anos foi um aprendizado para mim: de perspicácia, de julgamento moral, de juventude, de coragem, de acuidade em relação a fatos, pessoas e posturas. E de uma enorme vivacidade. Marilu conjugava uma integridade muito absoluta com alguns momentos de grande senso de humor. Foi uma parceria importante na minha trajetória. Sempre vou me lembrar de tudo que aprendi e vivi com ela.
DEBORAH TRIGUEIRO
Técnica-administrativa
Trabalhei com a Maria Lúcia no Instituto de Economia durante muitos anos. A Marilu tinha uma história de vida que fazia toda a diferença. Tinha sido professora do ensino básico, era mãe de quatro filhos, e vinha de uma família de cassados pela ditadura. Estudava bem estar social e políticas públicas. Dialogava muito com funcionários e professores. Era muito querida por todos. Admirável mesmo. Fez parte da minha formação política junto com a Conceição e outras professoras do IE. Carinhosa, solidária, acolhedora, mas firme, convicta e segura. Foi um prazer voltar a trabalhar com ela aqui na AdUFRJ. Ô sorte a minha!
FERNANDO DUDA
Coppe
Tive o privilégio de conhecer pessoalmente a Marilu durante as articulações para a montagem da chapa que disputou e venceu as eleições para a AdUFRJ no período de 2017 a 2019. Nesse mandato, ela exerceu a presidência, enquanto eu atuei como tesoureiro, o que me permitiu acompanhar de perto sua vitalidade, energia, inteligência, carisma, bom humor e firmeza. Essas qualidades, somadas à sua sagacidade e ao seu sorriso acolhedor, marcaram profundamente sua gestão à frente da AdUFRJ. Participamos de inúmeras reuniões, congressos do ANDES em Salvador e Belém, além de muitos outros encontros. Foi um período de grandes desafios no pós-impeachment, com severas ameaças ao serviço público e às universidades públicas, em um contexto político tenso, marcado inclusive pela intervenção federal no Rio de Janeiro. Marilu foi uma liderança
ativa, resiliente e inspiradora, que enfrentou essas adversidades com coragem e determinação, deixando um legado
de resistência. Uma amiga querida que deixará muitas saudades.
ROBERTO MEDRONHO
Reitor da UFRJ
Professora Maria Lúcia foi ícone na luta pela democracia e pela justiça social em nosso país. Uma mulher forte, corajosa e generosa. Professora e pesquisadora brilhante. Seus estudos sobre a previdência social e a saúde são referências importantes
para todas as pessoas. Seu legado permanecerá. Maria Lúcia é um belo exemplo da excelência
de nossa Universidade
LIGIA BAHIA
Instituto de Estudos em Saúde Coletiva
Fui convidada para escrever este texto por ter compartilhado com Maria Lucia uma gestão da AdUFRJ. Fomos da diretoria em 2017-2019, ela Presidente (não gostaria de Presidenta - importante advertir que rejeitaria por ser feminista) e eu vice. Como o espaço para o texto é exíguo e
imensa a relevância da Maria Lucia para o Brasil e UFRJ, decidi sintetizar uma parte de sua trajetória intelectual.
Sua tese de mestrado “A Administração do “Milagre” – O Conselho Monetário Nacional – 1964-1974” é um marco para a compreensão da ditadura militar, para além de seus aparatos repressivos e arrocho economico. Importante, inédita, avançou o conhecimento sobre a conformação de legitimidade, hegemonia de governos autoritários. Maria Lucia, não foi apenas vítima dos anos de chumbo, ousou estudar o monstro; dissecou suas entranhas. Passou a nos ensinar que “lei pega” (pode ser mais, menos) que as normas legais importam, fazem sentido, oprimem, produzem, intensificam desigualdades.
A obra “A Americanização (Perversa) da Seguridade Social no Brasil: Estratégias de Bem-Estar e Políticas Públicas” – resultou de seu doutorado.
Um estudo “pra ninguém botar defeito.” O que é “O Social” nas suas dimensões valorativas e pragmáticas expostos com rigor, acuidade e ultra bem documentados, estão acompanhados por análises acuradas de experiências internacionais, debates, o teor da Constituição de 1998, controvérsias após a aprovação,leis regulamentadoras e posicionamentos de movimentos sociais, sindicais e empresariais.
Maria Lucia, uma das criadoras da concepção sobre a inserção dos direitos sociais na Constituição, se dedicou à investigação da criatura: uma
seguridade social contraditória, seletiva, com baixo potencial redistributivo, mas “superlativa.” Tese, referência incontornável para os estudos sobre possibilidades, limites e padrões daquilo que é considerado esfera social, benefício, direito social no Brasil. O adjetivo “perversa” (para ela, conceitos qualificados, após a conclusão de pesquisas adquiriam conteúdo) tem sido substituído, em outros estudos, por excludente, incompleta,
imperfeita) .... Mas, proposição e argumentos originais permaneceram atuais.
Dois exemplos de empreendimentos teóricos e de dedicação à reflexão sobre nossa realidade e seus limites e possibilidades de mudança, sedimentados em uma longa trajetória de domínio da literatura clássica, esforços para o acompanhamento dos caminhos e descaminhos das ciências sociais e genuína abertura para o entendimento do novo-novo e novo velho. Maria Lucia nunca foi fiel a um autor, a uma escola. Marxista, gostava de Weber, de Gramsci e Stuart Mills....
Ecletismo, mas com rumo e prumo. Pensamento único jamais. Distorções, contorções e pedantismos pseudocientíficos, nunca. Nem pensar em descrições exaustivas que “morriam na praia” e números torturados, “que por si nada falam.” Professora generosa, com profundo interesse e respeito pelos distintos pontos de partida e chegada de cada aluno, pelas dúvidas, hesitações e vacilações. Pesquisadora despretensiosa
em relação a títulos e honrarias, porém hiper consciente em relação aos empreendimentos necessários, cumulativos e divergentes para o conhecimento crítico. Mulher linda, suave, generosa, polida. Amiga para sempre guardada no lado direito do peito.
Fotos: Fernando SouzaPode marcar na folhinha ou na agenda eletrônica. Em 2025, as aulas da graduação no primeiro período começam em 17 de março e terminam em 19 de julho. As datas foram aprovadas no último Consuni e valem para calouros e veteranos. No Colégio de Aplicação, o semestre letivo vai de 6 de fevereiro a 11 de julho. A Faculdade de Medicina também tem período diferenciado, com início em 10 de fevereiro e témino em 12 de julho (veja o calendário completo, incluindo pós-graduação, abaixo).
A reunião do Conselho Universitário ocorreu na manhã de 12 de dezembro. Por maioria, os conselheiros derrubaram o calendário aprovado no Conselho de Ensino e Graduação, CEG, que definia o começo das aulas para 24 de março e o término para 26 de julho.
“A proposta que chegou do CEG deixou muita gente chocada. Propunha um início muito tarde em 24 de março”, afirmou o professor Antonio Solé, diretor da AdUFRJ e representante dos Titulares do CCS. “Comecei a fazer uma pesquisa em várias universidades do Brasil, inclusive algumas que fizeram greve, o que não foi o caso dos docentes da UFRJ. Das 23 que investiguei, 11 começam em 10 de março. Isso inclui universidades grandes, como a UFMG e a UFRGS”, completou Solé. Veja o quadro ao lado.
Os professores Solé e Ricardo Medronho chegaram a apresentar ao Consuni uma proposta com data de início de semestre diferenciada para calouros e veterenos. Calouros começariam em 17 de março e veteranos iniciaram uma semana antes.
A maioria dos conselheiros, no entanto, preferiu unificar as entradas no dia 17.
NOTAS
VIGILANTES PROTESTAM POR SALÁRIOS
Houve tensão no Conselho Universitário do dia 12. Vigilantes com salários e benefícios atrasados protestaram no colegiado. A reitoria da UFRJ reconheceu a dívida com as empresas, mas esclareceu que a legislação permite um atraso no repasse de até 60 dias e que a responsabilidade dos pagamentos seria das firmas terceirizadas. O pró-reitor de Finanças, professor Helios Malebranche, disse que não há nem 30 dias de atraso do vencimento. O reitor Roberto Medronho informou que esteve em Brasília e conseguiu uma promessa de recursos para sanar o problema.
POLÍTICA DE SUSTENTABILIDADE APROVADA
O colegiado aprovou uma resolução da Política de Sustentabilidade e Educação Regenerativa UFRJ. O objetivo é unir esforços de toda a comunidade universitária para mitigar as atuais emergências socioambientais e, além disso, ajudar a prevenir futuras crises. “No nosso Plano de Desenvolvimento Institucional (PDI), temos como um dos valores a questão da sustentabilidade ambiental”, disse a vice-reitora da universidade, professora Cássia Turci. “Acho esse documento importantíssimo para nortear nossos caminhos”.
EDUCAÇÃO FÍSICA TEM CALENDÁRIO ESPECIAL
O Consuni também alterou o calendário, ainda de 2024, da Escola de Educação Física e Desportos, que segue com as atividades acadêmicas muito prejudicadas pelos dois desabamentos do telhado (em setembro de 2023 e em maio deste ano). As disciplinas práticas do curso de Educação Física que não puderam ser iniciadas em outubro por falta de condições serão estendidas até 20 de dezembro (com carga horária dobrada). Após o recesso de fim de ano e férias em janeiro de 2025, as atividades serão retomadas de 3 até 28 de fevereiro (de novo, com carga horária dobrada). A Escola não receberá calouros no primeiro semestre de 2025 para acertar o fluxo de estudantes represados nas disciplinas práticas. “Não haveria possibilidade de entrarem mais 240 estudantes sem as condições acadêmicas de 2024 estarem resolvidas. A oferta vem para o segundo semestre”, explicou a pró-reitora de Graduação, Maria Fernanda.
Foto: Silvana Sá
A assembleia da AdUFRJ definiu na tarde de segunda-feira, 16, a delegação que representará os professores da UFRJ no 43º Congresso do Andes. A votação foi presencial e realizada em urna. Foram eleitos 12 delegados e 11 observadores. Presidenta da AdUFRJ, a professora Mayra Goulart é a delegada indicada da diretoria e por isso não foi votada na assembleia. O próximo congresso do Sindicato Nacional será realizado na cidade de Vitória (ES), de 27 a 31 de janeiro. Veja abaixo quem são os delegados e os observadores.
Antes da votação, a diretoria deu informes sobre as últimas ações realizadas pela gestão. Dentre as iniciativas, estão a semana da AdUFRJ em Macaé, a participação do sindicato na Semana do Servidor da UFRJ, e a reunião com a reitoria, em 3 de dezembro, para indicar a ilegalidade da cobrança de ponto para professores do Ensino Básico, Técnico e Tecnológico. Todos os temas foram detalhadamente noticiados nas últimas edições do Jornal da AdUFRJ.
Delegados
1. Mayra Goulart (diretoria)
2. Nedir do Espirito Santo
3. Antonio Mateo Solé Cava
4. Verônica Miranda Damasceno
5. Rodrigo Nunes da Fonseca
6. Marcio Marques Silva
7. Carlos Augusto Domingues Zarro
8. Cláudia Rocha Mourthé
9. Eleonora Ziller Camenietzki
10. Jorge Ricardo Santos Gonçalves
11. Renata Baptista Flores
12. Fernanda Maria da Costa Vieira
13.Alessandra Nicodemos
Observadores
1. Claudia Figueiredo
2. Bruno Reys
3. Tatiana Oliveira Ribeiro
4. Maria Fernanda Elbert Guimarães
5. Ricardo Medronho
6. Maria Tereza Leopardi
7. Maria Auxiliadora Santa Cruz
8. Alice Coutinho da Trindade
9. Leonardo D’Angelo
10. Cláudio Ribeiro
11. Aline Caldeira
A sétima edição do Encontro Brasileiro de Integridade em Pesquisa, Ética na Ciência e Publicações (Brispe, na sigla em inglês) debateu as possibilidades de uso das novas tecnologias de inteligência artificial na produção científica. Pesquisadores participaram de debates e apresentações sobre o tema “Integridade científica e inteligência artificial generativa: novas formas de fazer e comunicar a pesquisa”. O evento aconteceu entre os dias 5 e 6 de dezembro no auditório da Coppe, no CT2.
“Nosso foco esse ano é na IA generativa”, disse o professor Renan Moritz, do programa de Engenharia Biomédica da Coppe, presidente da organização do encontro. “A maior parte das pessoas não sabe se está utilizando essas ferramentas de uma maneira correta ou de forma contraprodutiva. Não usar uma tecnologia tão revolucionária corretamente é um desperdício”, completa.
O docente defendeu a criação de uma cultura de integridade da pesquisa no Brasil. “Nosso objetivo é contribuir para que as pesquisas sejam feitas com qualidade e ética, ou seja, fazer a pesquisa bem feita, com bons métodos, e boas intenções, semcometer falhas graves como o plágio e afins”, pondera Moritz.
Com mais de 200 inscrições, o evento contou com a participação de pesquisadores de todo o Brasil e também de outros países. O professor emérito da Universidade Livre de Amsterdã, Lex Bouter, fez parte do conselho consultivo do evento. O pesquisador é especialista em metodologia e integridade de pesquisa. “Esse congresso é muito importante porque mostra que as pessoas no Brasil estão preocupadas com a qualidade do trabalho de pesquisa desenvolvido aqui”, afirma.
O professor falou sobre as oportunidades abertas pela inteligência artificial no campo da pesquisa científica. “A tecnologia é uma oportunidade com lados bons e ruins. Novas oportunidades de trapacear e novas oportunidades de fazer melhor nosso trabalho.”
Dois anos após o lançamento do ChatGPT, a experiência de pesquisadores em todo o mundo com a tecnologia já aponta para pontos de convergência. “Precisamos aprender a lidar com isso, sem mudar os princípios e os padrões de integridade da pesquisa”. Para Bouter, o pesquisador nunca pode abrir mão da autoria do seu trabalho. “Devemos ser responsáveis como humanos. Se a IA cometer um erro e o pesquisador endossar esse erro, ele é o responsável e não a tecnologia”, completa.
CATALISADOR
O professor Moritz celebrou o sucesso do encontro e os resultados que podem ser semeados a partir das discussões. “Esse evento é um catalisador. As pessoas vêm para cá, contribuem e aprendem em discussões, e depois retornam para suas instituições com noções que passarão para seus colegas e alunos”
Uma das pesquisadoras que vieram de longe para o evento foi Elisabete Tomo Kowata, doutoranda do programa de Recursos Naturais do Cerrado da Universidade Estadual de Goiás. A cientista apresentou sua pesquisa sobre revistas predatórias e IA na sessão de pôsteres do encontro e avaliou bem a experiência. “É uma grande visibilidade para a pesquisa e uma oportunidade de trocar ideias. Recebi alguns feedbacks que vou levar para minha orientadora”, diz confiante na evolução da pesquisa.
O encontro reuniu pesquisadores de diferentes campos do saber. Mariana Ribeiro, pós-doutoranda do Instituto Nacional do Câncer, atua no desenvolvimento da linha de integridade científica dentro do INCA. A pesquisadora apresentou projetos educativos implementados nos cursos de pós-graduação do instituto. “Concluímos agora a primeira disciplina sobre integridade de pesquisa com foco em IA que se tornou obrigatória para todos os alunos”, conta Mariana.
Para o professor Leonardo Fuks, da Escola de Música, a experiência de estar em contato com cientistas de diferentes campos de pesquisa e lugares do Brasil e do mundo foi especial. Fuks atuou como avaliador das apresentações orais do congresso. “Sentei ao lado de uma professora que é filósofa da área de ciências biológicas. Do outro lado, um pesquisador referência no campo da computação. Não há nenhuma área da pesquisa que fique alheia a essas questões de integridade e ética”, avaliou.