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WhatsApp Image 2022 08 29 at 10.17.33Fotos: Diego MendesNa quinta-feira (25), o taxista Péricles Guedes voltou ao passado quando o passageiro recém-embarcado anunciou o destino: “Museu Nacional, por favor”. “Caramba, agora o senhor me pegou”, disse Péricles, que desandou a compartilhar as histórias de suas visitas ao museu. “Não vou lá desde aquele incêndio, não tive coragem nem de entrar mais na Quinta da Boa Vista. Esse museu faz parte da minha vida. Eu ia lá com meus pais quando era criança e com meus filhos depois que virei pai. Lembra daquele meteorito que tinha na entrada? Quanta lembrança boa tenho de lá”, recordou. Na chegada, o passageiro agradeceu o papo e informou ao taxista que na próxima sexta-feira (2) o Museu Nacional entregará ao público a fachada restaurada, quase todo o telhado reformado e um jardim que até então era fechado à visitação. “Jura? Que notícia boa. Muito obrigado”, disse Péricles, com os olhos marejados.
A emoção que o simpático taxista deixou fluir certamente está se espalhando por muita gente nesses dias que antecedem as primeiras entregas das obras de recuperação do Museu Nacional. Quatro anos após o incêndio que quase o destruiu totalmente, o museu inicia seu processo de reabertura no dia 2 de setembro, em comemoração ao bicentenário da Independência e na mesma data da tragédia de 2018. Haja simbolismo.
“É um momento importante para a sociedade e, principalmente, para a nossa universidade, que está mostrando que é capaz de tocar um projeto da dimensão da recuperação do Museu Nacional. O projeto inclui reforma, restauro e reconstrução. Por dentro, ele precisa ser reconstruído. Por fora, ele precisa ser restaurado. Veja a complexidade desse projeto”, avaliou a professora Denise Pires de Carvalho, reitora da UFRJ.WhatsApp Image 2022 08 29 at 10.17.34
Tomada pela mesma emoção de Péricles, Denise adiantou uma das novidades que serão levadas ao público no próximo dia 2: “Tivemos a oportunidade de refazer todas aquelas esculturas que ficavam na fachada original, algumas já estavam até perdidas, e réplicas estão sendo recolocadas. As originais desceram do alto do palácio e serão expostas. A sociedade agora vai poder ver aquelas esculturas de mármore de Carrara de perto. Toda aquela tragédia trouxe a possibilidade de aproximar ainda mais o museu da sociedade e da história do Brasil”.
Na quinta-feira, as réplicas já estavam emoldurando a fachada restaurada. Todos os andaimes haviam sido retirados e a frente do histórico Palácio de São Cristóvão, que foi moradia da família real, já se mostrava em todo o seu esplendor. Os operários faziam os últimos retoques no Jardim das Princesas — área antes restrita e que será aberta à visitação — e no Jardim Terraço, que fica à frente do prédio. A Prefeitura do Rio também estava concluindo melhorias no entorno do museu, como o recapeamento dos acessos, modernização da iluminação pública e tratamento paisagístico. Até a estátua de Dom Pedro II, que se destaca no alto da Alameda das Sapucaias, bem diante do palácio, passou por reformas e ganhou um novo canteiro de plantas ao seu redor.

CIÊNCIA E HISTÓRIA
WhatsApp Image 2022 08 29 at 10.17.34 1Com seus 204 anos de história, o Museu Nacional olha para o futuro. Fundado em 1818 — é a instituição científica mais antiga do país —, ele inicia no próximo dia 2 uma nova fase, em que tradição e modernidade se juntam. O projeto de reconstrução prevê, entre outros avanços tecnológicos, um sistema de prevenção de incêndios à altura dos utilizados nos mais seguros museus do mundo.
“As obras começaram há cerca de um ano. Todo o período anterior foi dedicado à elaboração dos projetos executivos, de alto nível, aprovados pelo Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional). Vamos entregar, além dos jardins, a fachada do bloco 1 e 70% do telhado e das lajes. Isso mostra a capacidade técnica da universidade e das empresas que estão tocando a obra”, ressaltou a reitora.
Uma das etapas do processo de reconstrução do museu foi o escaneamento a laser do palácio, concluído em novembro de 2020. Essa etapa permitiu a modelagem virtual de todo o prédio e a criação de uma plataforma digital integrada para o desenvolvimento dos projetos de reconstrução.
Para o vice-reitor da UFRJ, professor Carlos Frederico Leão Rocha, todo esse planejamento influiu na entrega das obras. “Conseguimos cumprir o prazo que demos em 2019, o de entregar a fachada restaurada em setembro deste ano, no bicentenário da Independência. Mas temos muitos desafios ainda. O primeiro deles é conseguir junto ao Iphan a aprovação das demais etapas. Depois temos que reunir os recursos financeiros necessários a essa reconstrução. E o maior desafio de todos é montar um modelo de sustentabilidade de longo prazo para o Museu Nacional”, destacou o professor.
A reitora da UFRJ pretende destacar em seu discurso no próximo dia 2 aspectos de desenvolvimento trazidos pela família real e seus ecos no Brasil de hoje. “A família real deixou à sociedade não um simples museu ou um museu imperial, mas sim um museu de História Natural, um museu de Antropologia, uma instituição científica. A família real trouxe ao Brasil as faculdades, a importância da presença de instituições científicas. Tudo isso fez com o que o Brasil, a partir do final do século XIX, começasse um movimento de desenvolvimento, não mais como uma colônia de exploração, mas como um país independente. Estamos no ano do bicentenário da Independência. Infelizmente ainda dependentes, por exemplo, de alta tecnologia. Não porque o Brasil não tenha capacidade para isso. A Ciência brasileira tem o mesmo nível, apesar de ser muito recente, dos países desenvolvidos. O que ela precisa é de mais recursos e financiamento. Este é um momento muito simbólico e vou ressaltar isso na cerimônia de 2 de setembro”, disse a reitora.
O palácio em que nasceu Dom Pedro II e onde ele criou sua família — era no Jardim das Princesas que as suas filhas Isabel e Leopoldina brincavam e tinham aulas de artesanato e jardinagem — ainda terá muitas obras pela frente nos próximos anos. O projeto de reconstrução do prédio foi dividido em quatro blocos e as obras agora entregues em parte se referem ao primeiro deles. A reabertura total está prevista para 2027.
“O projeto executivo para a reconstrução interna do museu está ficando pronto e precisaremos de recursos para as obras, assim como para a recuperação do acervo. O projeto do interior está sendo feito por uma empresa contratada por meio de licitação internacional feita pela Unesco”, revelou a reitora. De acordo com o Relatório do Projeto Museu Nacional Vive 2020-2021, 64% dos recursos necessários à reconstrução já foram captados (R$ 245 milhões), restando captar os restantes 36% (R$ 135 milhões) do total de R$ 380 milhões previstos.

ACERVO, ENSINO E PESQUISA
Diretor do Museu Nacional de 1998 a 2001, o antropólogo Luiz Fernando Dias Duarte tem sua vida acadêmica ligada à instituição, onde é professor titular, e foi um dos primeiros a arregaçar as mangas para começar a reconstrução após o incêndio de 2018. “Nesses quatro anos, lutamos todos pela reconstrução do palácio e pela reconstituição do museu. Não se trata apenas de reconstruir o patrimônio físico que foi destruído, mas sim de reconstituir as condições de trabalho, de pesquisa, de pós-graduação que caracterizam a instituição há 204 anos. O que se perdeu foi um tesouro incalculável, sob todos os pontos de vista, para o país e para a Humanidade. A nossa responsabilidade, como servidores públicos, é fazer com que ao menos parte desse tesouro seja reconstituída”, disse ele.
Presidente da Associação Amigos do Museu Nacional até o início deste ano, Dias Duarte lembrou que o processo de reconstrução “é lento e complexo” e se dá em várias frentes. “O processo está avançando de uma maneira até mais positiva do que eu vislumbrava no momento imediatamente posterior ao incêndio. Uma das frentes é a melhoria das condições de trabalho nos prédios que o museu tem no Horto Botânico, também na Quinta da Boa Vista, e que não foram afetados pelo incêndio. Lá temos a Biblioteca Central, que está em fase final de reforma, o Departamento de Botânica com seu herbário, o Departamento de Zoologia de Vertebrados com suas coleções e uma série de laboratórios”, enumerou.
O professor pontuou a importância de outra frente de trabalho: o novo campus de ensino e pesquisa do Museu Nacional, em um terreno de 44 mil metros quadrados na Quinta da Boa Vista. Ele vai permitir que o Palácio de São Cristóvão seja inteiramente dedicado a exposições e ações educativas. “Lá já temos construídos dois prédios, um administrativo e um pavilhão de ensino e exposições, além de outros projetos em andamento para a construção de laboratórios. Somos cerca de 100 docentes pesquisadores que estamos abrigados provisoriamente em instalações do Horto ou trabalhando de casa”, explicou Dias Duarte.
O professor, que hoje assessora o comitê de planejamento das futuras instalações do museu, é otimista em relação ao futuro da instituição: “É um projeto grandioso, à altura das responsabilidades, da tradição e das competências do Museu Nacional. A expectativa é que nós venhamos a suplantar as características das coleções perdidas, não substituindo itens que se foram, porque isso é impossível, mas criando outros acervos igualmente importantes para o conhecimento da nossa sociedade”.
Alguns itens, de fato, são irrecuperáveis. Como a múmia da princesa egípcia Kherima, que tinha cerca de dois mil anos. Mas outros resistiram, como o meteorito Bendegó, aquele mesmo que povoa as lembranças do taxista Péricles. Com suas cinco toneladas de ferro e níquel — é o maior do Brasil e um dos maiores do mundo —, ele sobreviveu às chamas e certamente retomará seu lugar ao pé da grande escadaria do salão de entrada do museu. O mesmo encantamento que Péricles sentiu quando ali pisou pela primeira vez poderá se perpetuar por novas gerações. O simpático taxista — ganhou cinco estrelas e avaliação de “gente boa” no aplicativo de transporte — contou o que pretende fazer assim que o museu for totalmente reaberto ao público: “Quero levar lá meu neto, hoje com seis anos, e tirar uma foto com ele ao lado daquele meteorito”.
Caramba, Péricles, que notícia boa.

Nutricao 13Estela Magalhães

O segundo semestre letivo começa com novidades na relação entre professores e alunos. No dia 17, o Conselho de Ensino de Graduação (CEG) regulamentou normas gerais para segunda chamada e prazo para lançamento de notas.
A resolução define que a nota de uma avaliação deve ser divulgada, no mínimo, 72 horas antes da ocorrência de outra. “Saber das notas é importante para que o estudante possa se programar com seus estudos”, disse o professor Alexandre Leiras, representante do Centro de Tecnologia e relator da proposta.
O texto também determina justificativas aceitas para a perda de uma prova, ou do prazo de entrega de um trabalho, que devem ser comprovadas. Entre elas, internação hospitalar, doenças impeditivas, distúrbios relacionados à saúde mental e ocorrência de situação que impeça o deslocamento do estudante ao campus. “Não se trata de quando ocorre um engarrafamento, mas sim de situações que efetivamente impeçam que o estudante esteja presencialmente na universidade, como tiroteio no local de moradia do estudante ou alerta de chuvas fortes e enchentes”, explicou o estudante Alexandre Borges, do DCE. Para comprovar o motivo da falta nessa situação, o estudante pode recorrer a registros de mídias e publicações da imprensa. O professor também pode decidir aplicar uma segunda chamada mesmo que o caso não se enquadre nas hipóteses previstas na resolução.
A professora Flávia Moll de Souza, do CT, argumentou que seu Centro já realiza provas de reposição. Mas elas são únicas na disciplina e o estudante só pode faltar a uma avaliação regular. “Não ficou claro o número de vezes de ocorrência da segunda chamada”, observou.
“Não se trata de um dispositivo para usar à vontade. Estamos debatendo uma excepcionalidade que não pode ser definida de forma quantitativa. Um exemplo é que, caso a pessoa esteja acometida por uma doença num período de tempo que ocupe mais de uma avaliação, precisa estar previsto que ela tenha direito à segunda chamada”, explicou o professor Marcelo de Pádula, superintendente geral de Graduação. A pró-reitora de Graduação, professora Gisele Pires, enfatizou que a resolução trata do direito geral à segunda chamada para estudantes de todos os cursos. “Como eles têm avaliações de formas diversas, as especificidades serão debatidas e decididas por cada unidade”, completou. As unidades têm até fevereiro do ano que vem para definir estes procedimentos. 

WhatsApp Image 2022 08 29 at 10.17.33 1A reitoria da UFRJ acabou com a obrigatoriedade do uso de máscaras nos espaços da universidade. A decisão foi tomada esta semana, depois que o GT Coronavírus publicou, na segunda-feira (22), uma nota recomendando a suspensão do uso obrigatório do item em locais fechados.
Para a reitora da UFRJ, professora Denise Pires de Carvalho, foi o momento oportuno e a maneira correta de tomar a decisão. “Foi um bom momento especialmente pelos motivos técnico-científicos”, disse. A nota do GT considerou a redução sustentada de casos e óbitos por covid-19 e a alta cobertura vacinal para indicar o fim da obrigatoriedade. “Sob ponto de vista acadêmico também foi bom porque nós estamos em recesso. Os estudantes voltam dia 29 e já teremos as respostas para as perguntas que estão surgindo agora como, por exemplo, se um professor com mais de 60 anos pode pedir para a sua turma usar máscara”, explicou Denise.
Desde março, o estado do Rio aboliu a obrigatoriedade do uso de máscaras em lugares fechados. Mas, para a reitora, o caso da UFRJ é diferente. “Uma coisa é liberar em museus, shoppings, que são diferentes de instituição de ensino e hospitais. E nós temos nove unidades hospitalares”, explicou a reitora. “Cada hospital está agindo de uma maneira. O IPPMG, por exemplo, não liberou o uso de máscaras”, contou. Segundo Denise, a UFRJ fez o que fizeram instituições de ensino mundo afora, como as universidades norte-americanas de Harvard e Johns Hopkins, ao prolongar a obrigatoriedade das máscaras.
A professora Ligia Bahia, do Instituto de Estudos em Saúde Coletiva da UFRJ, considerou sensata a decisão do GT, diante do atual cenário da pandemia no Brasil. “Temos uma redução bastante consistente no número de casos e óbitos. E estamos sob um clima um pouco mais favorável em relação a países que têm clima frio”, disse a professora, para quem a decisão veio em boa hora. Na avaliação de Ligia, a decisão do GT não foi tardia, mas adequadamente cautelosa. “Somos uma comunidade muito grande e com ambientes muito diferenciados. Com essa diversidade de espaços, seria muito difícil tomar uma decisão antes”, ponderou.
Mas para Ligia, embora não sejam mais obrigatórias, as máscaras vieram para ficar. “É uma decisão sensata, mas esperamos que nós da UFRJ sejamos sensatos também”, disse Lígia. “Algumas pessoas devem continuar usando máscaras, como quem tem comorbidades ou são mais velhas. Isso não quer dizer que as máscaras estão proibidas”, acrescentou. A professora ainda acha as máscaras devem ser usadas em outros casos. “Quando estivermos com casos respiratórios devemos usar máscaras para não infectar outras pessoas com gripes e resfriados”, avaliou.
A segurança tinha um preço. Muitos professores relataram o incômodo de dar aulas de máscaras. É o caso do professor Felipe Rosa, do Instituto de Física. Para ele, a notícia foi um alívio. “A sociedade já estava abolindo a máscara e a UFRJ preferiu esperar. Mas é importante confiar na avaliação do GT Coronavírus. Isso dá mais segurança para a comunidade universitária”, disse o professor. Ele acredita que sua segurança pode partir de um lugar de privilégio, por ter menos de 60 anos e não ter qualquer outra condição de saúde que possa agravar um eventual quadro de covid-19, mas defendeu a recomendação do GT. “Não ser obrigatória não quer dizer que ela precisa ser abolida. As pessoas que se sentirem mais seguras devem continuar usando máscara. Eu acho que poderíamos usar máscaras em caso de outras doenças respiratórias, como gripes e resfriados”, defendeu.

WhatsApp Image 2022 08 29 at 10.17.33 2Estela Magalhães e Silvana Sá

A Lei de Cotas completa sua primeira década de existência na próxima segunda, dia 29. Ao longo de dez anos, foi responsável por ampliar o acesso de estudantes pobres, pretos, pardos e indígenas à graduação. A UFRJ aderiu ao sistema em 2013, depois de longo debate, e desde então viu o perfil de seus estudantes mudar. O número de alunos pretos e pardos cresceu 71% em seis anos. “A universidade hoje respira novos ares. A lei de cotas vem trazendo uma UFRJ mais diversa, plural e com mais representatividade”, analisa Denise Góes, coordenadora das Comissões de Heteroidentificação da Pró-reitoria de Graduação (PR-1).
A lei prevê que 50% das vagas sejam reservadas para estudantes que completaram o ensino médio em escolas públicas. Dentro deste grupo, 50% se aplicam a candidatos cuja renda familiar per capita seja de até 1,5 salário mínimo. A outra metade fica destinada a alunos de escolas públicas com renda superior a 1,5 salário mínimo. Nas duas faixas de renda são destinados percentuais para pretos, pardos e indígenas, de acordo com a proporção desses grupos étnicos no estado em que se localiza a instituição de ensino. Também há cotas para pessoas com deficiência. De acordo com o Censo 2010, o Rio de Janeiro tem 51,7% de sua população formada por pessoas negras e 0,1% por indígenas.
A própria lei prevê sua revisão após dez anos, ou seja, ainda em 2022. Uma das sugestões de Denise Góes é que haja mudanças no acesso de indígenas às vagas. “O indígena urbano vem sofrendo perdas em relação à reserva de vagas porque não está aldeado conforme preconiza a documentação que ele tem que apresentar no momento da matrícula”, conta. O candidato indígena precisa apresentar um certificado de aldeamento.
O momento eleitoral, para Denise, não é o mais propício à revisão de uma lei tão importante para o país. De acordo com a servidora, é necessário que as universidades se articulem para interferir na revisão da lei em outro momento. “Penso que as comissões de heteroidentificação têm que estar dentro dessa revisão com caráter obrigatório a todas as universidades”, opina.
Apesar da preocupação com um Parlamento conservador, com grande número de parlamentares contrários às cotas, o professor Vantuil Pereira, decano do Centro de Filosofia e Ciências Humanas, lembra que o momento eleitoral e o apoio da sociedade podem proteger a lei. “Há um sentimento na sociedade civil muito diferente de 2003. A opinião pública hoje é favorável às cotas e a repercussão de um eventual fim dessa lei pode ser muito ruim para os parlamentares num ano eleitoral”, analisa.

HETEROIDENTIFICAÇÃO
WhatsApp Image 2022 08 29 at 10.17.34 2Jonathan Silvino e seu avô Vilmar Alves“Fico muito orgulhoso por ele, ter alguém na família cursando uma universidade traz muita alegria”, diz Vilmar Alves, que acompanhou o neto Jonathan Silvino no processo de heteroidentificação, no qual foi aprovado. O objetivo desta etapa é garantir o acesso de pessoas pretas e pardas às vagas reservadas e coibir fraudes.
Ingrid Nogueira também foi aprovada no processo e garantiu sua vaga em Arquitetura. “Não consigo nem descrever o que estou sentindo. Meus pais não completaram o ensino médio e sou a primeira da família a cursar uma universidade pública”, conta, emocionada.
“Nós analisamos o fenótipo dos candidatos, porque é ele que marca o racismo no Brasil”, explica Denise Góes.WhatsApp Image 2022 08 29 at 10.17.34 3Ingrid Nogueira “Não se trata de simplesmente julgar quem é preto, quem é pardo e quem não é”, ela explica. “Para realizar a heteroidentificação é preciso entender o quanto o racismo massacrou um segmento da população e a trajetória da luta do movimento negro brasileiro na conquista dessas políticas públicas por igualdade de oportunidades”, analisa. Ela ainda destaca a importância da diversidade de raça, gênero e segmento social nas comissões, o que foi muito bem recebido pelos candidatos. “É bom ser avaliado por uma banca diversa e com pessoas que me representam”, diz Elias dos Santos, aprovado em Relações Internacionais.
WhatsApp Image 2022 08 29 at 10.17.35Elias dos Santos“Não falamos mais em fraude desde 2020”, diz o professor Marcelo de Pádula, superintendente-geral de Graduação. “O processo de heteroidentificação admite os candidatos aptos e elimina os que não têm direito às cotas”, completa. Desde a implementação dessa política pela UFRJ, as fraudes foram anuladas e o número total de não aptos vem caindo a cada semestre. Em 2020.1, período de implementação do processo, 14% dos candidatos foram considerados não aptos para o uso das cotas e 21% não compareceram. Em 2022.1, foram identificados menos de 6% de candidatos não aptos, e o número de faltosos permaneceu por volta de 21%. Caso o candidato seja considerado não apto pela comissão, ele tem direito a solicitar outra banca, no mesmo dia, e recorrer da decisão. O candidato só é eliminado caso a comissão determine a não aptidão de forma unânime.

MUDANÇAS NA DOCÊNCIA
Embora o impacto das cotas seja mais sentido na graduação, a participação de pessoas pretas na pós-graduação e admitidas nos concursos docentes também aumentou ao longo dos anos. “Tanto a lei de 2012, quanto a lei de 2014 (que prevê cotas raciais para o Serviço Público), criaram condições para a renovação do corpo docente nas universidades e na própria UFRJ”, acredita Vantuil Pereira. “Isso, combinado ao Reuni (Programa de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais), que abriu a perspectiva do aumento de vagas docentes”, afirma. “Essas políticas associadas mudaram a composição do corpo docente, ainda que não da maneira desejada”, considera. “Saímos de um patamar de 8% de professores negros para 14%, que é mais ou menos o número que temos na UFRJ”.

WhatsApp Image 2022 08 22 at 12.35.33"Meu filho tinha muita luz”. A frase enternecida é de Mausy Schomaker, mãe de Alex Schomaker Bastos, estudante de Biologia da UFRJ assassinado em uma tentativa de assalto próxima ao campus da Praia Vermelha, em 2015. Um grupo de jovens pesquisadores decidiu celebrar a memória do colega batizando uma nova espécie de vaga-lume, um animal que emite luz própria, como Amydetes alexi.

A iniciativa partiu de um grupo de pesquisadores do Laboratório de Entomologia do Departamento de Zoologia do Instituto de Biologia da UFRJ. O animal foi descoberto na região do Parque Estadual da Pedra Branca, na Zona Oeste do Rio. A descoberta foi registrada no fim de julho pelos pesquisadores brasileiros em um artigo na revista Zookeys.

“O meu filho amava a UFRJ e o Colégio de Aplicação. Amava a Ciência. Agora o nome dele está ligado à Ciência e à UFRJ. Ele e o pai [Andrei Bastos, o pai de Alex, faleceu em 2018] devem estar rindo lá em cima”, disse Mausy, que nunca se recuperou da dor pela perda do filho. Ela foi avisada da homenagem antes mesmo da publicação do artigo.

“O Alex acreditava que era preciso lutar pela Educação e pela Ciência. Ia fazer mestrado na área de Educação. Eu tenho uma tristeza imensa de viver em um país em que a Ciência, a Pesquisa e a Educação estejam tão relegadas”, ela acrescentou, criticando a política de cortes promovida pelo governo Bolsonaro. “Se essas áreas fossem tratadas com importância, a violência diminuiria, porque a Educação dá oportunidade para as pessoas serem melhores”, disse a mãe, consternada.

A ideia de homenagear Alex partiu de Stephanie Vaz, amiga do estudante e doutoranda em Ecologia, que também assina o artigo. Ela faz parte do grupo de pesquisa que descobriu a nova espécie de vaga-lume. “Eu fiz dois semestres de faculdade na Unirio e lá eu estudava insetos. Quando me transferi para a UFRJ eu me afastei da área. E foi o Alex que me apoiou a voltar para Entomologia”, contou a Stephanie. “Eu não gostava de Genética, que era a área dele, e ele não gostava de Zoologia, minha área. Nós brincávamos um com o outro com essa diferença”, lembrou.
Embora não fossem do mesmo período, Stephanie e Alex ficaram amigos logo depois que se conheceram, durante uma saída de campo do curso, em 2013. “O Alex era monitor, e me ensinou técnicas importantes naquela ocasião. Ficamos amigos ali mesmo”, contou Stephanie.

A escolha da espécie para homenagear Alex não foi por acaso. A doutoranda contou que já tinha decidido fazer a homenagem desde 2015, e começou a trabalhar com catalogação de novas espécies em 2018. Mas havia dois requisitos que deveriam ser cumpridos para a escolha da espécie certa. “Eu criei dois critérios na minha cabeça: ela tinha que ser do Rio de Janeiro, como o Alex, e tinha que ter bioluminescência (a capacidade de emitir luz própria)”, contou. “Eu vejo por trás disso uma simbologia. O vaga-lume é um ser lindo demais de ver no campo, que está no nosso imaginário afetivo. Prestar essa homenagem para o Alex foi uma honra, porque ele também era especial, e me inspirou a voltar a estudar insetos”.

A IMPORTÂNCIA DOS VAGA-LUMES
O pesquisador Lucas Campello, que faz parte do grupo que identificou e catalogou o Amydetes alexi, é mestrando e estuda Entomologia no programa de Biodiversidade e Biologia Evolutiva do IB, em 2017. Ele explicou que o diferencial da nova espécie é a combinação das suas características com a localidade em que ela foi encontrada. “Boa parte do nosso trabalho é descrever novas espécies e estudar o relacionamento entre as espécies, por isso vamos muito a campo”, explicou Lucas.

O estudo dos vaga-lumes ainda é um campo pouco explorado no Brasil, especialmente por considerar que o país, por suas características ambientais, abriga diversas espécies do inseto. Isso significa que há ainda uma enorme oportunidade de desenvolvimento de novos conhecimentos sobre o animal. “Vaga-lumes podem ser uma nova fronteira do conhecimento, e ajudar a desenvolver outros campos científicos”, explicou Lucas. “Recentemente, estudos sobre bioluminescência de uma espécie de vaga-lume serviram para ajudar a criar um tipo de teste para a detecção de covid-19”, contou o estudante.

Para o professor José Ricardo Mermudes, coordenador do Laboratório de Entomologia do Departamento de Zoologia, é muito gratificante poder ver o desenvolvimento da pesquisa dos alunos. “O grupo de estudos de vaga-lumes hoje tem um panorama muito bacana. Alunos como a Stephanie, o Lucas e o André [Diniz], que também assina o artigo [e descobriu a espécie], ajudam a promover esta linha de pesquisa”, celebrou o professor.

Mas a fronteira para a pesquisa desse tipo de inseto ainda está distante. “A diminuição dos recursos para pesquisas nos últimos quatro ou cinco anos reduziu muito a quantidade de novas espécies descritas. Seria possível descrever cinco, talvez dez novas espécies por ano”, explicou o professor José Ricardo, que fez questão de elogiar os pesquisadores do seu laboratório. “São excelentes coletores, estão sempre fazendo pesquisa de campo”, contou.

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