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WhatsApp Image 2022 08 29 at 10.17.32Dos escombros ao ressurgimento. Esta edição do Jornal da AdUFRJ aborda projetos que resgatam a importância de dois patrimônios da UFRJ: o campus da Praia Vermelha e o Museu Nacional. No primeiro, a ideia é revigorar o espaço com a criação de um novo equipamento cultural no lugar do abandonado Canecão. Já no Museu Nacional, destruído por um incêndio há quatro anos, a fachada e os jardins restaurados serão entregues ao público no próximo dia 2, em comemoração ao bicentenário da Independência do Brasil.

CANECÃO: novo equipamento cultural na Praia Vermelha terá gestão privada

MUSEU NACIONAL: crônica de um reencontro

WhatsApp Image 2022 08 22 at 12.27.071Alexandre Cardoso; Nelson Maculan; Carlos Levi; Roberto LeherAlexandre Cardoso, Nelson Maculan, Carlos Levi da Conceição e Roberto Leher são os quatro ex-reitores da UFRJ que assinam um manifesto em defesa da Democracia e em apoio à candidatura do ex-presidente Lula. O documento teve adesão de 124 ex-dirigentes e reitores eleitos mas não empossados por Bolsonaro de 54 universidades federais de todo o país. Na carta, eles falam sobre as ameaças de destruição da universidade, denunciam os ataques à Ciência e à Democracia, mas demonstram esperança na construção de uma aliança “transpartidária” para derrotar Bolsonaro.

A carta foi divulgada no dia 15 e entregue ao ex-presidente Lula na USP, durante uma aula aberta sobre “Universidade Pública e Democracia”. “Conseguimos apoio de ex-reitores de todos os estados brasileiros, de todas as regiões do país. A carta explicita o posicionamento da educação federal brasileira”, argumenta o professor emérito da Coppe, Nelson Maculan, reitor da UFRJ entre 1990 e 1994. “Nossas universidades estão mais diversas. Hoje há alunos de todas as cores graças à Lei de Cotas, que foi uma conquista para todos nós e fortaleceu nossa democracia. Só conseguiremos ampliar essa diversidade com Lula”, defende.

Maculan explica que a carta foi pensada e entregue ao ex-presidente Lula porque ele é o único candidato capaz de enfrentar Bolsonaro. “É quem pode trazer o país de volta para o caminho do desenvolvimento social e econômico, para a tradição democrática”, diz. “O governo atual é terrível em todos os níveis. É tarefa de todos nós, democratas, elegermos Lula”.

Para o professor Alexandre Pinto Cardoso, reitor da UFRJ entre 1989 e 1990, o país passa por um momento de “aguda inquietude” que ameaça os princípios de uma nação soberana. “É dever de todos que defendem o Estado Democrático de Direito tomar uma posição”, afirma. “Nesse sentido, e com profunda convicção democrática, subscrevi o manifesto”, comenta.

Reitor da universidade entre 2011 e 2015, o professor Carlos Levi da Conceição considera que subscrever a carta é uma obrigação dos ex-reitores de universidades federais por todo o legado deixado, sobretudo, pelos governos Lula. “Expansão, programas de reestruturação, todas as ações de fortalecimento das instituições”, elenca. “Por tudo isso, é mais do que nossa obrigação demonstrar, nesse momento que nossa pátria atravessa, o nosso agradecimento e o desejo de que esses tempos retornem para a nossa universidade e para o nosso país”.

Roberto Leher, reitor da UFRJ entre 2015 e 2019, acredita que o futuro das universidades depende da manutenção de um sistema democrático. “Na nossa avaliação, Lula é o candidato com condições objetivas de derrotar Bolsonaro, que faz manifestações muito explícitas na direção de uma ruptura democrática”, analisa. “Nosso lugar é de autonomia para indicar que Lula é o único capaz de interromper esse processo de fascistização do Brasil”, explica. O apoio explícito à candidatura do ex-presidente se justifica, para Leher, pela singularidade do momento político.

“É um momento de perigo para a democracia. Pós-eleições é preciso que os setores se mantenham organizados para a defesa da educação pública”, finaliza o ex-reitor, professor titular da Faculdade de Educação.

Leia a íntegra da carta AQUI.

WhatsApp Image 2022 08 22 at 12.27.07Associações docentes das universidades federais filiadas ao Andes deverão realizar assembleias até o final de agosto para discutir as eleições de 2022. Os professores vão avaliar, por exemplo, se o Sindicato Nacional deve ou não apoiar a candidatura de Lula à presidência. A decisão aconteceu na reunião do setor das federais, nos dias 6 e 7 de agosto, a contragosto do grupo que dirige o Andes. A AdUFRJ realizará sua assembleia no dia 31 e foi uma das principais articuladoras da reação contra a diretoria nacional. A capa do Jornal, de 22 de julho - que denunciou a dificuldade de o Andes enfrentar o debate eleitoral – ajudou a agregar os críticos contra a isenção do Andes. “Aquela capa rompeu a bolha sindicalista”, resume a professora Elisa Guaraná, presidente da Adur-RJ, a associação dos docentes da Rural do Rio.

A tese defendida pela oposição à direção nacional é que os docentes têm autonomia para indicar ao sindicato as ações necessárias à derrota de Bolsonaro já no primeiro turno. “Não se trata de uma postura político-partidária. É uma posição em defesa da democracia”, esclarece a professora Elisa Guaraná.

A professora Mayra Goulart, vice-presidente da AdUFRJ, também participou da reunião e foi uma das defensoras de que as assembleias debatessem as eleições. Para ela, a direção nacional não contribui para a derrota de Bolsonaro. O Andes defende a máxima “Fora, Bolsonaro”, mas mantém isenção sobre qual candidatura fortalecer. “O ‘Fora, Bolsonaro’ é etéreo, porque não existe essa opção na urna”, explica Mayra. “A ação ‘Fora, Bolsonaro’ deve ser apoiar o candidato com maior viabilidade política, que é Lula”, afirma. “É fulcral para quem defende a universidade e o Estado Democrático de Direito”.

O placar foi apertado: 11x10, mas se traduziu num marco importante. Foi a primeira vez que o setor conseguiu aprovar uma posição contrária à da direção nacional. “Não é fácil vencer uma eleição sobre a qual a diretoria tem uma posição contra, porque ela tem a mesa que conduz a discussão e a máquina burocrática nas mãos. Então, ela se utiliza de subterfúgios regimentais para obstruir, esvaziar o debate”, analisa o professor Paulo Vieira Neto, presidente da Associação da Universidade Federal do Paraná (Apufpr).

O tema só foi levado à votação no segundo dia de encontro, à tarde. “A reunião já estava esvaziada, muitas pessoas tinham ido embora”, conta o professor Vieira Neto. Para ele, uma forma de a diretoria ganhar tempo e equilibrar o número de votos para a decisão. “Se a diretoria tivesse segurança sobre o apoio dos colegas que lá estavam, teria feito o debate já no primeiro dia”, considera.

A discussão foi apresentada pelo grupo que organiza o Renova Andes, principal núcleo de oposição à diretoria, mas teve apoio de associações que não se organizam pelo Renova. “O momento marca uma mobilização importante de oposição à diretoria nacional”, sublinha a professora Elisa Guaraná. “É uma oposição a essa linha sistemática e persistente de fragmentação”, continua.

Para os críticos, falta comando na atuação do Andes. “Precisamos envidar esforços para derrotar Bolsonaro nas ruas e nas urnas. Mas nós perguntamos: como?”, questiona Elisa. “Acreditamos que este é o momento de o sindicato apresentar uma posição clara sobre o pleito. O único candidato com condições de derrotar Bolsonaro é Lula”, afirma. “Quando houve o ‘fora todos’ (durante o processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff, em 2016), a posição do Andes estava muito clara. Agora, o discurso é de isenção, mas esta é uma postura despolitizante”, critica.

BONDE DA HISTÓRIA
O professor Sidiney Ruocco Junior, presidente da Adufu, seção sindical da Federal de Uberlândia, também votou a favor da consulta. Ele é um dos que não se organizam pelo Renova Andes. “A diretoria e outras instâncias não podem ter luz própria. Elas devem ser reflexo do que dizem os professores nas assembleias pelo país”, acredita.

Para ele, as ações de 11 de agosto explicitaram uma mensagem importante para a sociedade, principalmente para o Andes: de que é necessária uma frente verdadeiramente ampla para rechaçar qualquer tentativa de golpe. “Na hora de operacionalizar essa frente ampla, muitas pessoas não abrem mão de certas posições político-partidárias. Precisamos ter coerência entre discurso e prática”, critica. “O Congresso do Andes já tinha aprovado ações para derrotar Bolsonaro e isso envolve estratégia eleitoral”, argumenta.

O bonde da história não esperará pelo Andes, segundo o professor Fernando Cunha, diretor da Adufpb, Associação da Federal da Paraíba. “Para além das deliberações de assembleia, várias seções sindicais e docentes estão assinando manifestos de apoio a Lula. Esse movimento está acontecendo, não há como barrar”, constata o dirigente. “O Andes tem uma grande responsabilidade. Não pode ficar aguardando o que vai acontecer. Deve ter protagonismo político”, defende.

OUTRO LADO: A VERSÃO DA DIRETORIA DO ANDES

A professora Regina Moreira, secretária-geral do Andes, afirma que, mesmo que as assembleias de professores das universidades federais decidam pelo apoio a Lula, não há perspectiva de a diretoria do Andes seguir a decisão. “Não há deliberação congressual para isso”. De acordo com ela, o setor das federais não pode aprovar ações que dependam do aval das universidades estaduais, municipais e particulares “que também compõem o Andes”, diz a secretária-geral.

“As federais vão ter o mês de agosto para pautar isso nas assembleias e a autonomia de cada local vai indicar a estratégia a ser adotada. Não há previsão formal para que um setor delibere sobre todo o conjunto de professores representados”, completa.

A professora Regina também afirma que não há prazo para convocar um Conselho extraordinário do Andes para debater amplamente o assunto. “Já temos um Conad extraordinário agendado, não temos tempo para convocar outro, antes desse, pra debater apoio a qualquer candidatura. Regimentalmente precisamos de tempo para organizar um cronograma, abrir período para inscrições de textos que serão base para o debate”, explica.

Sobre ter uma estratégia eleitoral para combater Bolsonaro nas urnas, a diretora diz que o comando do Andes não tem aprovação para atuar eleitoralmente, mesmo em pleitos ocorridos em momentos delicados como o atual, em que a democracia está sob risco.

“Estratégico é ocupar as ruas, fazendo trabalho de base. Precisamos ir para a rua dizer para a população que passa fome que o auxílio emergencial vai até dezembro, que o auxílio gás no valor do botijão é eleitoreiro, que essas ações são uma enganação”, defende. “Se as ruas não estiverem fortes, as urnas não estarão garantidas. O bolsonarismo não está vencido”.

DERROTA
A docente não reconhece o resultado da reunião do setor das federais, dos dias 6 e 7 de agosto, como uma derrota política da diretoria nacional do Andes. Ao contrário, acredita que é salutar que se ouça a base. “O que ficou decidido foi que o setor das IFES pautasse as eleições deste ano nas suas assembleias. Só isso foi aprovado, nada além”, afirma.

A dirigente argumenta que nenhuma seção sindical ou corrente política apresentou proposta de apoio a Lula ou a qualquer outro candidato à presidência nas instâncias de decisão do sindicato. “A posição da diretoria é aquela definida nas instâncias, de que não haverá apoio formal a nenhum candidato, porque não houve deliberação nessa direção nem no Congresso deste ano, nem no Conad (realizado em julho)”, diz.

WhatsApp Image 2022 08 22 at 12.35.32O debate eleitoral é central este ano e os professores estão preocupados com o tema. Apesar da gravidade política do momento, a diretoria do Andes não tem dado o devido espaço para a discussão. Essas impressões fizeram parte do programa Contramola, que convidou as professoras Mayra Goulart, cientista políica e vice-presidente da AdUFRJ, e Elisa Guaraná, antropóloga e presidente da Adur-RJ (Associação de Docentes da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro).

Convocado para discutir a crise nas universidades e o papel do Andes nas eleições 2022, o bate-papo aconteceu num canal do Partido dos Trabalhadores, no Youtube. A apresentação foi de Luiz Sérgio Canário.

A professora Elisa comentou o quanto o golpe de 2016, que tirou do poder a presidente Dilma Rousseff, impactou as instituições federais. Ataques que se acentuaram no governo de Jair Bolsonaro. “Já no governo Temer há mudanças significativas nas políticas públicas que vinham garantindo uma universidade para a juventude de periferia”, disse a professora. “O Reuni (Programa de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais) sem dúvidas foi um marco importante para a educação pública brasileira”, acredita a professora. “A gente teve uma mudança significativa no perfil do nosso alunado e na perspectiva de futuro para o país. Conquista que vem sendo desmontada”, analisou.

A asfixia financeira das universidades é uma das razões para que haja um engajamento forte nas eleições deste ano contra Bolsonaro. “Há universidades que não têm orçamento para daqui a dois meses. Por tudo isso, a Adur, a AdUFRJ e outras entidades entendem que essas eleições são uma espécie de tudo ou nada”, disse. “Precisamos apoiar a candidatura do presidente Lula. Não dá para ficarmos numa postura de neutralidade. Mas esse debate não é fácil para o Andes”, afirmou.

A docente defendeu que a defesa da candidatura de Lula é uma defesa da democracia. “Não queremos um sindicato partidarizado, mas entendemos que o sindicalismo brasileiro precisa tomar posição contra o fascismo”, pontuou. “É preciso se manifestar em defesa da sociedade brasileira e essa defesa, nesse momento, é a eleição do presidente Lula”.

Ela argumentou que o papel do sindicato não é se posicionar em eleições, a menos que o momento seja de crise. “É o que estamos enfrentando hoje. Por isso, nós que nos organizamos no Renova Andes (grupo de oposição à atual diretoria nacional) defendemos a importância de debater eleições. Esse tema não foi pautado pela diretoria nem no Congresso do Andes nem no Conad”, criticou.

Elisa também desaprovou a ausência do Andes na Conferência Nacional Popular de Educação (Conape), organizada pelo Fórum Nacional Popular de Educação, que aconteceu entre 15 e 17 de julho, em Natal (RN). “A diretoria do Andes marcou o seu Conselho, que aprova suas contas, para as exatas mesmas datas da Conape. Mais de três mil professores de todo o país se reuniram para discutir educação pública, mas a diretoria não entende a importância dessa instância”, lamentou.

Mayra Goulart, que estuda Bolsonaro e o bolsonarismo desde 2018, fez uma categorização sobre o atual presidente da República. “Bolsonaro é um inimigo inequívoco. Ele não se contradiz, é coerente no seu ataque às minorias, às classes populares e à pluralidade”, disse. “Ele se constrói como um sujeito que é homem, branco, hétero, cis e de classe média. Esse é o perfil identitário desse sujeito político. Ele representa todo aquele que se percebe como vencedor, que não precisa de ajuda, o ‘cidadão de bem’, da família tradicional”.

Esse sujeito político, segundo Mayra, é incompatível com a ideia de conhecimento. “A Ciência se alimenta da pluralidade. Quanto mais diverso for o horizonte dos cientistas, mais soluções diversas poderão ser aportadas. O bolsonarismo ataca esse lugar de conhecimento, que é a universidade pública, porque ele não tolera a pluralidade”, analisou.

A vice-presidente da AdUFRJ citou os recentes estudos realizados pelo Observatório do Conhecimento — rede que reúne dez associações docentes — sobre cortes no orçamento e os ataques à liberdade de cátedra. “A gente calculou, até 2021, uma redução de R$ 83,8 bilhões no Orçamento do Conhecimento (que engloba universidades federais e Ministério da Ciência e Tecnologia). Há uma estimativa de chegar a R$ 100 bilhões de cortes em 2022”, revelou.

Sobre os ataques à liberdade de cátedra, Mayra lamentou a tendência a um “conhecimento natimorto”. “Mais de 35% dos pesquisadores entrevistados revelaram que mudaram seu foco de pesquisa por medo de represália e 42% cercearam suas próprias aulas”, disse. “Ou seja, são conhecimentos cortados antes de nascer. Isso vai gerar um apagão do pensamento por conteúdos que não foram sequer trabalhados em sala de aula”. Para esta pesquisa foram ouvidos 1.116 cientistas.

Em relação ao Andes, Mayra declarou que esperava estar num sindicato que acolhesse suas preocupações. “Gostaria de ouvir que há uma discussão para reverter todos esses ataques sofridos pelas universidades e professores, que me protegesse, que me dissesse que há estratégias para informar a sociedade civil sobre esses cortes, que atuasse junto a parlamentares para defender a liberdade acadêmica”, elencou. “Mas eu chego no sindicato e escuto zero sobre isso. Eu escuto muito sobre Ucrânia, sobre refugiados, sobre o socialismo. Temas todos importantes se a gente não estivesse com o bode na sala. Nós temos um inimigo urgente. A gente não está num contexto normal”, desabafou. “Quando não vejo esse debate eleitoral pautado, fico me perguntando se a diretoria do Andes entende a singularidade dessa eleição”, questiona.

NOVA FORMA DE DESMOBILIZAR

Aparentemente, a diretoria nacional encontrou mais uma forma de desmobilizar professores na reta final da campanha eleitoral. A tarefa urgente, entendida por boa parte dos docentes das universidades país afora, é derrotar Bolsonaro elegendo Lula no primeiro turno, em 2 de outubro. Mas o Andes acredita que é inadiável realizar uma reunião plena do Grupo de Trabalho Política Agrária, Urbana e Ambiental (GTPAUA), no dia 28 de setembro. O evento acontece em Brasília e tem na programação discussão sobre catástrofes ambientais, injustiças sociais, planos nacionais de Mineração e Energia, além de teorizações sobre termos surgidos nos cadernos de textos dos últimos Conads e Congressos, como “bem viver, ecossocialismo, povos do campo, águas e florestas”.

“Essa convocação às vésperas das eleições é uma ilustração bem didática do que é a diretoria do Andes, que entende o sindicato como uma entidade de sindicalistas sempre ensimesmados pelas suas próprias questões”, critica a professora Mayra Goulart.

Para ela, tirar lideranças políticas de seus estados às vésperas das eleições demonstra como o grupo que comanda o Andes ignora a conjuntura nacional. “No pleito mais importante da nossa história, o Andes está mais preocupado em rever seus cadernos de texto”.

Eudes Baima, professor da Universidade Estadual do Ceará e liderança do Renova Andes,também critica a iniciativa. “O sindicato não pode paralisaras atividades por conta das eleições, mas há que ter bom senso”, ressalva. “A diretoria demonstra completo descolamento da conjuntura, até certa alienação em relação à realidade brasileira”, conclui.


DE COSTAS PARA A DEMOCRACIA

Apesar de ter assinado a Carta às Brasileiras e aos Brasileiros em Defesa do Estado Democrático de Direito, produzida pela USP e apoiada por mais de um milhão de pessoas, a diretoria do Andes não convocou os professores para participarem dos atos em que a carta foi lida país afora. A mobilização da direção nacional para o 11 de agosto focou nos atos de rua contra Bolsonaro que aconteceram nos estados. Para o professor João Torres, presidente da AdUFRJ, um gesto preocupante, considerando que a mobilização em torno da leitura da carta aconteceu, sobretudo, nas universidades.

“Acho um equívoco e uma insensibilidade ao nosso momento político. É muito importante que a Fiesp, os banqueiros e e elite paulistana se posicionem a favor da democracia ao lado da UNE, das universidades e de toda a sociedade civil”, argumenta. “Sabemos que essa carta foi uma manifestação gestada no ‘andar de cima’ da sociedade brasileira e isso faz com que setores mais sectários do nosso sindicato a encarem com desconfiança e mesmo com desdém”, avalia Torres. “Sabemos que houve manifesto contra a presidenta Dilma Rousseff pelos mesmos professores do Direito da USP, por exemplo, mas temos que lidar com essas contradições”, acredita o professor.

Para João Torres, a prioridade de todos os que têm compromisso com a democracia é o engajamento na campanha política para a Presidência da República. “A missão do momento é eleger Lula-Alckmin, não porque é a chapa dos nossos sonhos, mas porque é a unica saída para tirar o Bolsonaro. E a carta faz parte dessa estratégia”.

WhatsApp Image 2022 08 15 at 11.50.38Foto: Fernando SouzaEstela Magalhães

Sob a chuva na Candelária, Clara Davidovich, de 83 anos, e Júlia Brant, de 81, empunhavam o cartaz “Democracia é Liberdade” e uma bandeira do Brasil que dizia “Fora Bolsonaro”. “Nossa mensagem para os estudantes da UFRJ: estamos nas ruas e na chuva hoje para que vocês possam continuar na luta pela democracia”, ensinou Clara. Para elas, que lutaram pela redemocratização durante a ditadura, é muito importante ocupar as ruas neste 11 de agosto. “Eu já era adulta na ditadura, meu marido foi cassado e daí em diante foi só luta. O mal dessa época não pode se repetir, temos que ir para as ruas garantir a democracia!”, conclamou Júlia.

Quase três mil pessoas caminharam da Candelária até a Cinelândia em defesa de eleições democráticas e contra o governo Bolsonaro. A professora Nedir do Espirito Santo, diretora da AdUFRJ, conduziu a faixa da associação. “Jamais imaginei que, num espaço de tempo tão curto, já teríamos uma situação de risco à nossa democracia. Estamos regredindo ao invés de progredir”, ponderou. Ela destacou a preocupação da juventude em ser representada por pessoas eleitas democraticamente. “Caminhamos, jovens, adolescentes e idosos, carregando nossos estandartes sob a chuva. Esperamos que o número de pessoas indo às ruas aumente, porque é isso que retrata o desejo de um povo”, completou.

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